2022-12-31

Juízes, Peritos e Interpretação das Leis

 

Eu perito me confesso que gostei do texto de José Gameiro no Expresso de 30/Dez/2022 a propósito da ausência de peritagem oficial sobre a eventual presença da doença de Alzheimer em Ricardo Salgado. Eu referiria ainda a dificuldade que o Ministério Público e ainda mais os Juízes têm demasiadas vezes em aceitar limites ao seu poder, quer no recurso a peritos quer ainda na interpretação das leis.

Cada juiz decide como soberanamente entende, não podendo ficar dependente de "alegadamente meras" opiniões de especialistas excessivamente focados no seu ramo do saber, que consideram praticamente irrelevante devido precisamente à sua especialização.

Essa soberania, que se manifesta por exemplo nas interpretações radicalmente diferentes de juiz para juiz em relação à legislação em vigor, consideradas por um juiz na TV como "enriquecedoras", não passa duma atracção deplorável pelo poder absoluto.
 

No limite e como corolário, o cidadão deixa de ter possibilidade de distinguir o que é legal do que é ilegal, ficando dependente da arbitrariedade do Juiz, violando a desejável separação entre o poder legislativo e o judicial, característica essencial do Estado de Direito.

 

2022-12-21

 Feliz Natal e Bom Ano Novo de 2023


Desta vez acompanho os votos natalícios com um presépio que encontrei no Palácio Real de Nápoles, propriedade do Banco de Napoli, conforme refere na etiqueta por baixo da obra, este presépio é também referido na Wikipédia.
 


Tive dificuldade na altura em localizar a Sagrada Família que na imagem seguinte marquei com um círculo verde


Ampliando essa parte da imagem, mantendo o círculo fica


Constato que os anjos teriam sido bons guias pois estão em multidão sobre a Sagrada Família.

Coloquei umas setas indicando a Sagrada Família e os 3 reis magos:

 

Mostro agora detalhe da parte de baixo do presépio, com o povo napolitano
 

e ainda outro detalhe
 


Na casa dos meus pais montava-se um presépio mais completo do que as versões minimalistas que são agora mais comuns, lembro-me que os reis magos tinham direito a duas representações, antes do dia de Reis estes eram representados montados num cavalo e 2 camelos e no dia em que chegavam eram representados a pé ou de joelhos em adoração do menino Jesus.

Mas seriam umas 30 figuras no máximo, nada que se compare com este presépio em que devem estar representadas todas as profissões do povo cristão da Nápoles da época, além duns tantos sarracenos de turbante.


2022-12-05

 Revisitando o COVID


Continuando a revisitar fotos que tirei mas que ainda não publiquei passei por esta que tirei no Pingo Doce em 14/Mar/2020 12:28, onde se  vê uma fila inusitada para entrar no supermercado

 


Relembrei que o primeiro caso detectado em Portugal foi em 2/Mar/2020, a primeira morte no dia 16/Mar. A 18/Mar o presidente decretou o estado de emergência a iniciar às 00:00 do dia 22/Mar. A 18/Mar tinham sido detectados 640 casos, a 21/Mar já iam em 1280.

A 14/Mar ainda não fora decretado o estado de emergência, logo a fila era devida à prudência dos cidadãos em se abastecerem de víveres antes da chegada da escassez. Na altura ainda não havia máscaras à venda. Houve uma corrida ao papel higiénico mas tal também se verificou noutros países, houve também uma campanha dos supermercados para convencer as pessoas que o papel higiénico não iria faltar caso deixassem de comprar quantidades enormes em vez do seu consumo habitual. Nos países islâmicos e muitos asiáticos onde usam o Shattaf não deve ter havido corrida ao papel higiénico.

Do comunicado do Governo em 19/Mar /2020 extraí:
«...
a) Doentes com COVID-19 e infetados com SARS-Cov2 e cidadãos relativamente a quem a autoridade de saúde ou outros profissionais de saúde tenham determinado a vigilância ativa, que ficam sujeitos a confinamento obrigatório;

b) Grupos de risco, ou seja, maiores de 70 anos, imunodeprimidos e os portadores de doença crónica, relativamente aos quais existe um especial dever de proteção, devendo observar uma situação de isolamento profilático;

c) Os demais cidadãos relativamente aos quais são determinadas restrições designadamente quanto à circulação na via pública.

- Relativamente à circulação na via pública, determina-se que os cidadãos a quem não esteja imposto o confinamento obrigatório ou o dever especial de proteção só o podem fazer para a prossecução de tarefas e funções essenciais, como por exemplo:

  -  motivos de saúde
  -  aquisição de bens e serviços;
  -  desempenho de atividades profissionais que não possam ser realizadas em regime de teletrabalho;
  -  motivos de urgência e razões familiares (assistência de pessoas vulneráveis, pessoas portadoras de deficiência, filhos, progenitores, idosos ou dependentes);
  -  acompanhamento de menores para em deslocações de curta duração, para fruição de momentos ao ar livre e frequência de estabelecimentos escolares nos casos excecionalmente permitidos;
  - deslocações necessárias ao exercício da liberdade de imprensa;
  - deslocações de curta duração para efeitos de atividade física, sendo proibido o exercício de atividade física coletiva;
   - deslocações de curta duração para efeitos de passeio dos animais de companhia.
...
»

Numa interpretação razoável destas regras considerei que dar uma volta a pé nos passeios com muito poucos transeuntes dos Olivais seria benéfico mesmo para septuagenários como eu  a quem também fariam bem as “deslocações de curta duração para efeitos de actividade física”.

Nessas deslocações fotografei umas tantas plantas que não estavam a ser afectadas pelo COVID, a não ser por uma frequência de corte provavelmente mais baixa. Esta imagem é de  28/Abr2020 12:17
 

e a seguinte de 12:21
 

A ultima desta série é de 30/Abr às 13:10.


Perguntei a um médico quando é que a OMS (Organização Mundial de Saúde) daria a pandemia de COVID como extinta. Disse-me que em linhas gerais seria quando não afectasse muitos países em simultâneo passando a ocorrer em surtos espaçados no tempo e no espaço.

Revisitei o sítio Worldometer para COVID e extraí as estatíticas globais de mortes causadas pelo coronavírus no Mundo e em Portugal:
 
 


Existem países sem casos COVID mas ainda não são suficientes. É preciso continuar com cautela em Portugal.


2022-12-03

Prainha em Fevereiro de 2020 e uma Autocaravana

 

Tenho uma porção de fotografias que ainda não distribuí por diversas pastas do PC, continuando numa pasta alegadamente designada por “temporária”, que em parte tirei para possivelmente publicar neste blogue, estando como constatei com um par de anos de atraso.

A primeira trata mais uma vez de malmequeres, florinhas que me fascinam quando enchem um prado aos milhares como neste caso, em que me pareceu também que o sol já ia bastante baixo pois a foto foi feita às 17:26
 


Para confirmar Googlei (por do sol em 24/fev/2020) e logo obtive a informação que nesse dia, em Lisboa, o Sol de pôs às 18:23. Em Alvor o Sol põe-se com uma diferença de poucos minutos de Lisboa pelo que a foto foi feita a cerca de uma hora de distância do pôr do sol

Coloquei a palavra “malmequeres” na caixa de pesquisa no canto superior esquerdo deste blogue e apareceram-me 14 posts! Nem todos contemplam estes malmequeres pequeninos em grandes quantidades e hesitei em colocar mais uma foto parecida a outras já publicadas mas acabei por publicar com a desculpa que o post mais recente desses 14 era de 2016.

A seguir mostro mais duas imagens (também de Fev/2020) de Canafrecha:
 

e fazendo zoom
 

desta Canafrecha, planta que já mostrei aqui e aqui.
 

Ainda no mesmo dia, ao pé do parque de estacionamento dando acesso à área concessionada mais a poente da praia de Alvor, vi esta autocaravana
 


que suscitou a minha curiosidade porque nunca vira modelo semelhante. Vendo a foto com maior discriminação (tem 1600 pixels de largura) lê-se que se trata de um Airstream 290.

Procurando na net constatei que se trata dum produto do fabricante norte-americano “Airstream” que começou em 1930 a fazer caravanas, com a carrosseria feita de alumínio, usando a mesma tecnologia dos aviões da época. Cerca de 1970 começou a produzir autocaravanas e este modelo parece ter sido produzido de 1985 a 1990 pois existem modelos à venda dessas datas neste sítio. Não tomei nota do país de matrícula mas este veículo deverá ter volante do lado esquerdo pois o acesso ao interior se faz pelo lado direito, lado preferido em países com circulação pela direita.

Este fabricante aumentou muito a sua fama quando a NASA seleccionou uma sua caravana para a quarentena dos seus astronautas regressados da Lua.

Reparei também na presença de painéis solares, sugerindo que estes viajantes prezam alguma independência dos parques de campismo, onde teriam mais potência eléctrica disponível.

Durante algum tempo considerei a hipótese de comprar uma autocaravana para as férias, mas para pessoas empregadas com direito a apenas um mês de férias por ano a autocaravana seria muito subaproveitada. Mesmo comprando uma a meias subsistiria a dificuldade em compatibilizar os períodos de férias. Por outro lado não sinto grande necessidade do que se chama a “comunhão com a natureza”, prefiro ambientes citadinos, e na Europa e em grande parte do mundo existe abundância de alojamentos disponíveis para todas as bolsas com possibilidade de comprar um veículo deste tipo. Com a vantagem de se ficar alojado dentro da cidade em vez de num parque longe do centro.

Às vezes penso na quase única memória que me ficou do primeiro livro que li do Robert M.Pirsig, que foi o segundo que ele escreveu, e que vi agora que se intitulava Lila: An Inquiry into Morals: o narrador vivia num barco onde tinha que manter os diversos aparelhos a funcionar e referia-se a quem vivia em terra como gente que vivia num mundo mágico em que para acender ou apagar uma lâmpada bastava accionar um interruptor, sem precisar de ter a mais pequena ideia das infraestruturas envolvidas nessa acção. A minha curiosidade pelo autor deve-se ter devido às referências ao Zen pelo Douglas R. Hofstadter no “Gödel, Esher and Bach, An Eternal Golden Braid”. Vi agora no primeiro livro do R.M.Pirsig. “Zen and the Art of Motorcycle Maintenance”, que foi o que li em segundo lugar, que escrevi: “Não passei da  página 309”, num livro que tinha 416 páginas. E não sei onde está o outro livro.

Ter que manter variados sistemas a funcionar bem numa autocaravana é mais simples do que num barco mas ainda é mais simples frequentar hotéis.


2022-11-28

 Praia da Rocha em Abril de 2022



A avenida Tomás Cabreira na Praia da Rocha, a única que existia nos anos 60 do século passado, tem-se transformado ao longo deste longo tempo, as vivendas transformaram-se quase todas em prédios de apartamentos, os edifícios de vários andares sofreram metamorfoses quase tão grandes como as das borboletas ou foram mesmo arrasados e substituídos como as vivendas.

O mobiliário urbano da avenida foi sendo alterado com bastante frequência, por exemplo houve uma altura em que os candeeiros de iluminação pública que deveriam durar duas ou três décadas eram substituídos cada dois ou três anos, achei quase natural que, em Portugal, o município de Portimão tivesse em 2019 a maior dívida por habitante.
 


 


Ao frenesi da substituição do mobiliário urbano não resistiram as árvores, julgo que choupos,  que davam alguma sombra aos passeios da avenida Tomás Cabreira, que foram substituídas por uns rebentos “na mais tenra infância” de espinheitro-da-Virgínia (Gleditsia triacanthos), espécie tão bem sucedida noutras paragens de Portugal..

Como consequência, desde antes de 2012, mais de dez anos, que esta parte do passeio desta avenida deixou de ter sombras e as árvores que se vêem na imagem ao lado são já uma segunda tentativa de plantar árvores nesta secção porque as primeiras morreram todas.

É evidente que não foram estas árvores nem os constantes rearranjos do piso e do mobiliário urbano desta avenida que arrastaram a Câmara Municipal de Portimão para a posição destacada da dívida por habitante mais elevada de Portugal, mas será uma ponta do icebergue, da volatilidade excessiva das decisões camarárias e da falta de acompanhamento das consequências e de correcção das decisões tomadas.

Mas deixo este tema de dívidas excessivas de algumas autarquias para os governantes,  especialistas na matéria e Procuradoria Geral da República, concentrando-me no que se pode ainda aproveitar do que existe.

 

Começo por outra foto tirada no mesmo local com um enquadramento ligeiramente diferente


foto de que vou aproveitar várias partes, como por exemplo as ervas “possivelmente daninhas”, que se dão tão bem no canteiro da árvore mais próxima
 


mostrando que nalguns casos decoram os canteiros como se tivessem sido plantadas por um jardineiro. Constato que o canteiro da segunda árvore apenas tem ervas com poucas flores, apoiando a conjectura que as flores do primeiro canteiro são espontâneas.

Mostro depois em pormenor a árvore do primeiro canteiro, estas folhas amarelas são as primeiras do ano, com um verde tão claro que as deixa amarelas. Com o passar dos dias chegarão ao verde


 

Olhando para o outro lado da rua, a mais afastada por alguns metros do mar mas também um pouco protegida pela parede da casa que fará abrandar o vento, vêem-se outras árvores da mesma espécie, ligeiramente menos raquíticas do que as do lado de cá mas que, ao fim de mais de 10 anos, tão pouco conseguem dar uma sombra decente

 

Achei que neste enquadramento o amarelo das árvores dava um contraste agradável, vendo-se ao fundo a Vila Lido, construída em 1944 e sendo das pouquíssimas sobreviventes da transformação urbanística da Praia da Rocha desde o último quartel do século XX.

Para finalizar um enquadramento ligeiramente diferente deste que acabo de mostrar
 





2022-11-27

Valores de Mercado das Selecções Nacionais no Catar/2022

 

A obsessão com o futebol em Portugal e o valor da Selecção Portuguesa, 4ª posição mundial para um país com 10 milhões de habitantes, lembram o aforismo: "isto está tudo ligado".

Visto no STATISTA, aqui:

 



 


2022-11-15

As manifas para acabar com os fósseis


Conjecturo que os ministros que têm apoiado a luta, iniciada neste mês de Nov/2022 por estudantes da Escola António Arroio, o fazem porque muita gente, em que me incluo, considera que se tem que abandonar os combustíveis fósseis.


Pela minha parte considero também que

- os meios da luta, i.e. fechar escolas;

- o objectivo de curto prazo, de correr com o ministro Costa Silva, uma das pessoas mais competentes e sensatas na área da energia;

- e o de médio prazo (acabar com o uso dos combustíveis fósseis até 2030) 

são completamente disparatados, nocivos e censuráveis.

Como alternativa proponho que façam umas manifas para facilitar criação de equipas de activistas e que estudem na escola e fora dela para encontrarem acções eficazes para acabar com o uso dos combustíveis fósseis.


2022-11-14

Uma Geringonça Propriamente Dita

 
Nesta vida de reformado estou frequentemente em casa ao fim da tarde e depois da hora do chá costumo passar algum tempo a ver séries policiais. Há bastante tempo que perdi o interesse em desvendar os mistérios que vão sendo apresentados, vejo os episódios desenrolando-se e aguardo calmamente que me revelem o que “verdadeiramente” se passou. Os cenários são um dos grandes motivos do meu interesse, bem como as conversas e maneirismos das personagens, revelando alguns dos hábitos de cada sociedade onde a acção se desenrola.


Não sei se será uma reacção às dificuldades do cidadão comum em descortinar a verdade no meio das múltiplas perspectivas enviezadas que lhe dão nos meios de comunicação social, aqui não é necessário descobrir a verdade, basta seguir a narrativa.

Ultimamente tenho estado na fase Poirot, um detective que é a personagem mais famosa da escritora Agatha Christie (1890-1976) com uma bibliografia extensa (1921-1976), encarnado na série mais recente (da ITV, de 1989 a 2013, em 13 temporadas num total de 70 episódios) pelo actor inglês David Suchet .

Os episódios que tenho visto parecem ocorrer nos anos 30 do século XX em ambientes ingleses clássicos em casas senhoriais ou em ambientes mais contemporâneos dessa época com forte predomínio da Art Déco. São também admiráveis os automóveis clássicos dessa época e uns mais antigos que ainda sobreviviam na altura, bem como o guarda-roupa de toda aquela gente.

No episódio “Evil Under the Sun” (livro publicado em 1941) a acção passava-se num hotel duma ilha, muito próxima do que os ingleses chamam ali “mainland” (a Grã-Bretanha) que foi traduzida nas legendas por “o Continente”.

A minha curiosidade foi aguçada por uma Geringonça propriamente dita que aparece na  imagem que segue, um veículo de 4 rodas com uma plataforma sobre elevada, avançando pela água em direcção à ilha numa zona em que um banhista em pé tem água quase pela cintura

 



Obtive esta imagem a com a legenda “Burgh Island Hotel in 2005” googlando (pixie cove Agatha Christie) em que “pixie cove” era uma caverna referida no episódio e Agatha Christie a “argumentista” tendo aparecido logo a referência ao Burgh Island Hotel num artigo da Wikipédia onde constava esta imagem.

Seguindo o link “Burgh Island” nesse artigo obtive esta imagem

 

que ilustra o istmo de areia que liga a ilha a terra durante a maré baixa, e que agora aprendi que se chama “tômbolo”.

Lembrei-me logo da praia do Baleal, 3km ao norte de Peniche, mostrada nesta vista aérea
 

 
que encontrei no sítio Baleal Surfcamp.

Os ingleses chamam a esta geringomça “Sea tractor” e este que se estreou em 1969 é o terceiro com este formato a servir  a Burgh Island
 

A Burgh _Island fica na costa sul de Devon, entre Plymouth e Torquay,

 

esta última uma estância balnear onde nasceu Agatha Christie, que gostava muito desta ilha e do seu hotel.

Tinha a ideia que no Canal entre a Inglaterra e a França a amplitude das marés era enorme, chegando a atingir 18 metros em situações excepcionais pelo que me pareceu que a geringonça não conseguiria passar para a ilha quando a maré estivesse alta e por isso fui confirmar a amplitude das marés na Burgh Island
 

 constatando que para este dia (6/Nov/2022) a diferença entre a maré cheia (5,5m) e a maré vazia (1m) seria à volta de 4,5m. Achei pouco, receeei que fosse algum dia excepcional e vi a previsão para uma semana, também na Burgh Island

 
constatando que se mantém a amplitude entre marés de cerca de 4,5m. Considerando que o istmo está acima do nível da maré baixa, na maré alta a altura da água na zona do istmo será menor do que 4,5m.

Fui ver a previsão das marés no Baleal
 


constatando que a amplitude entre marés andará pelos 2,5m, no canal as marés são muito mais fortes do que na costa portuguesa mas não tão grandes como eu esperava.

Sabia contudo que no lado francês do canal, próximo da cidade de Saint-Malo, existe a central maremotriz de Rance, a maior central de marés do mundo quando entrou em serviço em 1966, com 24 turbinas bolbo reversíveis de 10MW cada, perfazendo 240Mw sendo a produção anual de 500GWh.

No folheto da central que facultavam informavam que quando estavam a turbinar para dentro da albufeira e a queda já era muito pequena passavam a bombar para dentro da albufeira pois a cota adicional na albufeira nesse período de 1 ou 2 metros dava origem depois quando a maré vazava, a uma queda da amplitude da maré mais esses 1 ou 2 metros de queda.

Fui ver as cotas em Saint-Malo
 


constatando que o valor da amplitude das marés andava nessa altura por volta dos 9m, o dobro da amplitude em Burgh Island, parecendo verosímil que em situações muito excepcionais atinga os 18m.

A distância em linha recta entre Burgh Island e St.Malo é 220km e julgo que a razão da diferença nas amplitudes das marés destes dois sítios se deve à costa francesa entre o Monte de Saint_Michel e La Hague, numa extensão de 110km que, constituindo uma barreira ao movimento da água do Oceano Atlântico quando entra no canal, provoca nessa zona uma sobreelevação da cota da maré alta.

Lembro-me bem da impressão que me fez a amplitude das marés no porto de Bristol, quando visitei esta cidade em1983, constatando agora que na semana de 6 a 12/Nov/2022 era de 9m. Neste caso a grande amplitude deve-se ao afunilamento do Canal de Bristol que liga o Oceano Atlântico ao estuário do rio Severn e, segundo li, a amplitude das marés dem Bristol é a segunda maior do mundo.

Nos meses de Julho, Agosto e Setembro de 2022 a amplitude média da maré na praia de Alvor no Algarve foi de 2 metros.


 

2022-11-10

Putinlândia

 

Gosto sempre de ouvir os comentários que o Bernardo Pires de Lima faz nos noticiários da RTP3, uma pessoa bem informada nos temas internacionais, sensata e ligeiramente pessimista, o que se compreende quando os noticiários se focam quase exclusivamente nas desgraças que vão ocorrendo.

Foi essa a razão principal para comprar este livro sobre Putin, que a editora Tinta da China caracteriza adequadamente como "O grande ensaio português sobre Vladimir Putin, nova edição, revista e actualizada de um livro que já em 2016 antecipava o actual rumo do regime de Putin, agora com novos capítulos sobre a invasão da Ucrânia. "

Como costumo ouvir os comentários do autor o livro foi para mim uma "revisão da matéria dada", sendo ainda mais interessante para quem não o ouve habitualmente.

Quanto ao objecto livresco achei os cantos redondos muito adequados para este formato de livro de bolso.

Gal Costa

 

Agora foi a vez de Gal Costa falecer, com 77 anos.

Gosto desta mistura de animação, música para a novela "A Luz de Tieta" com Caetano Veloso e Gal Costa

 

 

e sempre gostei muito desta música, intitulada "Índia"




2022-11-06

Gás de Sines para a Europa

 

Há uns tempos li um artigo de opinião de Aníbal Fernandes na edição de 2/Out/2022 do jornal Público sobre o eventual uso do Terminal de GNL de Sines para gasificar o gás liquefeito que lá chega e enviá-lo por gasoduto para a Europa, para o que seria necessário uma ligação da rede de gasodutos ibérica com a rede francesa.

No artigo defendia-se que no curto prazo essa ligação Espanha-França não resolveria a falta de GNL na Europa Central pois demoraria vários anos a ser construída e, quando terminada, seria provavelmente mais caro transportar o gás de Sines para o centro da Europa por gasoduto do que liquefeito.

No curto prazo poder-se-ia eventualmente redireccionar alguns barcos com GNL liquefeito destinados a Sines, após compensação devida, para ser gasificado e consumido no centro da Europa.

Toda a argumentação me pareceu sensata e tecnicamente competente.


2022-11-02

Pronunciamento de Lula da Silva na noite da vitória em 30/Out/2022

 
Neste post do 2 Dedos de Conversa  vi uma comparação entre o início do discurso de Bolsonaro há quatro anos e o discurso de Lula da Silva após a vitória na 2ª volta das eleições presidenciais brasileiras em 30/Out/2022 que apreciei e li do princípio ao fim, actividade que não tenho conseguido realizar relativamente aos programas dos partidos nas eleições legislativas de Portugal, limitando-me a ver referências aos mesmos em programas da TV e em jornais.

Constatei agora que neste blogue me referi à detenção de Lula da Silva em Março/2016 para prestar declarações, manifestando então a minha opinião que se tratava dum abuso do poder judicial numa perseguição com motivos políticos ao anterior presidente, para o impedir de concorrer à presidência na sequência da eventual destituição de Dilma Roussef.

Foi o que aconteceu numa sequência de acções do juiz Sérgio Moro que conseguiu que o ex-presidente fosse condenado em primeira instância cuja sentença foi confirmada em segunda instância após o que se deu execução ao cumprimento da pena de prisão efectiva, mesmo antes do resultado da contestação da segunda instância no Supremo Tribunal, conforme a lei brasileira então em vigor. O juiz Sérgio Moro viu os seus serviços recompensados pelo presidente Bolsonaro que lhe deveu provavelmente a eleição e que o nomeou para ministro da Justiça, sendo contudo criticado nalguns jornais portugueses, talvez por revelar de forma excessivamente exuberante a natureza da sua perseguição ao ex-presidente.

Mais de um ano após a prisão de Lula da Silva o Supremo Tribunal anulou todos os julgamentos que condenaram o ex-presidente, com fundamento em irregularidades inadmissíveis, que pôde assim recuperar a liberdade. Não existe assim qualquer condenação legal de Lula da Silva pois as que existiram foram consideradas nulas por serem ilegais.

Existiram contudo numerosas condenações de ministros de Lula da Silva, acompanhadas de compreensível indignação dos eleitores que julgaram que um governo do Partido dos Trabalhadores chefiado pelo ex-operário Lula da Silva seria no mínimo menos corrupto do que era habitual nos governos do Brasil.

É também problemática a dependência do Partido dos Trabalhadores de uma figura única, de idade avançada bem como as dificuldades que Lula encontrará no poder legislativo que lhe é maioritariamente hostil.

Mas voltando ao discurso, depois de recorrer ao Google e ter ido dar a muitos sítios de jornais, cada um com os seus comentários pelo meio do texto, fui ao “Site oficial do ex-presidente Lula (2002-2010)” onde encontrei este Pronunciamento, idêntico ao texto que referi no início deste post:

«
Pronunciamento

Leia a íntegra do pronunciamento do presidente eleito, sem improvisações
30/10/2022 • 21:14:57

Meus amigos e minhas amigas.

Chegamos ao final de uma das mais importantes eleições da nossa história. Uma eleição que colocou frente a frente dois projetos opostos de país, e que hoje tem um único e grande vencedor: o povo brasileiro.

Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora.

Neste 30 de outubro histórico, a maioria do povo brasileiro deixou bem claro que deseja mais – e não menos democracia.

Deseja mais – e não menos inclusão social e oportunidades para todos. Deseja mais – e não menos respeito e entendimento entre os brasileiros. Em suma, deseja mais – e não menos liberdade, igualdade e fraternidade em nosso país.

O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo.

O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que o direito de apenas protestar que está com fome, que não há emprego, que o seu salário é insuficiente para viver com dignidade, que não tem acesso a saúde e educação, que lhe falta um teto para viver e criar seus filhos em segurança, que não há nenhuma perspectiva de futuro.

O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, morar bem. Quer um bom emprego, um salário reajustado sempre acima da inflação, quer ter saúde e educação públicas de qualidade.

Quer liberdade religiosa. Quer livros em vez de armas. Quer ir ao teatro, ver cinema, ter acesso a todos os bens culturais, porque a cultura alimenta nossa alma.

O povo brasileiro quer ter de volta a esperança.

É assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia-dia.

Foi essa democracia, no sentido mais amplo do termo, que o povo brasileiro escolheu hoje nas urnas. Foi com essa democracia – real, concreta – que nós assumimos o compromisso ao longo de toda a nossa campanha.

E é essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo. Com crescimento econômico repartido entre toda a população, porque é assim que a economia deve funcionar – como instrumento para melhorar a vida de todos, e não para perpetuar desigualdades.

A roda da economia vai voltar a girar, com geração de empregos, valorização dos salários e renegociação das dívidas das famílias que perderam seu poder de compra.

A roda da economia vai voltar a girar com os pobres fazendo parte do orçamento. Com apoio aos pequenos e médios produtores rurais, responsáveis por 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas.

Com todos os incentivos possíveis aos micros e pequenos empreendedores, para que eles possam colocar seu extraordinário potencial criativo a serviço do desenvolvimento do país.

É preciso ir além. Fortalecer as políticas de combate à violência contra as mulheres, e garantir que elas ganhem o mesmo salários que os homens no exercício de igual função.

Enfrentar sem tréguas o racismo, o preconceito e a discriminação, para que brancos, negros e indígenas tenham os mesmos direitos e oportunidades.

Só assim seremos capazes de construir um país de todos. Um Brasil igualitário, cuja prioridade sejam as pessoas que mais precisam.

Um Brasil com paz, democracia e oportunidades.

Minhas amigas e meus amigos.

A partir de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somo um único país, um único povo, uma grande nação.

Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio.

A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra.

Este país precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído.

É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam. E nós escolhemos a vida.

O desafio é imenso. É preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões. Na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais e, sobretudo, no cuidado com os mais necessitados.

É preciso reconstruir a própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo.

Trazer de volta a alegria de sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da bandeira do nosso país. Esse verde-amarelo e essa bandeira que não pertencem a ninguém, a não ser ao povo brasileiro.

Nosso compromisso mais urgente é acabar outra vez com a fome. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário.

Se somos o terceiro maior produtor mundial de alimentos e o primeiro de proteína animal, se temos tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias.

Este será, novamente, o compromisso número 1 do nosso governo.

Não podemos aceitar como normal que famílias inteiras sejam obrigadas a dormir nas ruas, expostas ao frio, à chuva e à violência.

Por isso, vamos retomar o Minha Casa Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa renda, e trazer de volta os programas de inclusão que tiraram 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza.

O Brasil não pode mais conviver com esse imenso fosso sem fundo, esse muro de concreto e desigualdade que separa o Brasil em partes desiguais que não se reconhecem. Este país precisa se reconhecer. Precisa se reencontrar consigo mesmo.

Para além de combater a extrema pobreza e a fome, vamos restabelecer o diálogo neste país.

É preciso retomar o diálogo com o Legislativo e Judiciário. Sem tentativas de exorbitar, intervir, controlar, cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e republicana entre os três poderes.

A normalidade democrática está consagrada na Constituição. É ela que estabelece os direitos e obrigações de cada poder, de cada instituição, das Forças Armadas e de cada um de nós.

A Constituição rege a nossa existência coletiva, e ninguém, absolutamente ninguém, está acima dela, ninguém tem o direito de ignorá-la ou de afrontá-la.

Também é mais do que urgente retomar o diálogo entre o povo e o governo.

Por isso vamos trazer de volta as conferências nacionais. Para que os interessados elejam suas prioridades, e apresentem ao governo sugestões de políticas públicas para cada área: educação, saúde, segurança, direitos da mulher, igualdade racial, juventude, habitação e tantas outras.

Vamos retomar o diálogo com os governadores e os prefeitos, para definirmos juntos as obras prioritárias para cada população.

Não interessa o partido ao qual pertençam o governador e o prefeito. Nosso compromisso será sempre com melhoria de vida da população de cada estado, de cada município deste país.

Vamos também reestabelecer o diálogo entre governo, empresários, trabalhadores e sociedade civil organizada, com a volta do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Ou seja, as grandes decisões políticas que impactem as vidas de 215 milhões de brasileiros não serão tomadas em sigilo, na calada da noite, mas após um amplo diálogo com a sociedade.

Acredito que os principais problemas do Brasil, do mundo, do ser humano, possam ser resolvidos com diálogo, e não com força bruta.

Que ninguém duvide da força da palavra, quando se trata de buscar o entendimento e o bem comum.

Meus amigos e minhas amigas.

Nas minhas viagens internacionais, e nos contatos que tenho mantido com líderes de diversos países, o que mais escuto é que o mundo sente saudade do Brasil.

Saudade daquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos. E que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres.

O Brasil que apoiou o desenvolvimento dos países africanos, por meio de cooperação, investimento e transferência de tecnologia.

Que trabalhou pela integração da América do Sul, da América Latina e do Caribe, que fortaleceu o Mercosul, e ajudou a criar o G-20, a UnaSul, a Celac e os BRICS.

Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo.

Vamos reconquistar a credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade do país, para que os investidores – nacionais e estrangeiros – retomem a confiança no Brasil. Para que deixem de enxergar nosso país como fonte de lucro imediato e predatório, e passem a ser nossos parceiros na retomada do crescimento econômico com inclusão social e sustentabilidade ambiental.

Queremos um comércio internacional mais justo. Retomar nossas parcerias com os Estados Unidos e a União Europeia em novas bases. Não nos interessam acordos comerciais que condenem nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e matéria prima.

Vamos re-industrializar o Brasil, investir na economia verde e digital, apoiar a criatividade dos nossos empresários e empreendedores. Queremos exportar também conhecimento.

Vamos lutar novamente por uma nova governança global, com a inclusão de mais países no Conselho de Segurança da ONU e com o fim do direito a veto, que prejudica o equilíbrio entre as nações.

Estamos prontos para nos engajar outra vez no combate à fome e à desigualdade no mundo, e nos esforços para a promoção da paz entre os povos.

O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica.

Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia, diminuindo de forma considerável a emissão de gases que provocam o aquecimento global.

Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia

O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às custas da deterioração da vida na Terra.

Um rio de águas límpidas vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a fauna e coloca em risco a vida humana.

Quando uma criança indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela.

Por isso, vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia, e combater toda e qualquer atividade ilegal – seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida.

Ao mesmo tempo, vamos promover o desenvolvimento sustentável das comunidades que vivem na região amazônica. Vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem destruir o meio ambiente.

Estamos abertos à cooperação internacional para preservar a Amazônia, seja em forma de investimento ou pesquisa científica. Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania.

Temos compromisso com os povos indígenas, com os demais povos da floresta e com a biodiversidade. Queremos a pacificação ambiental.

Não nos interessa uma guerra pelo meio ambiente, mas estamos prontos para defendê-lo de qualquer ameaça.

Meus amigos e minhas amigas.

O novo Brasil que iremos construir a partir de 1º de janeiro não interessa apenas ao povo brasileiro, mas a todas as pessoas que trabalham pela paz, a solidariedade e a fraternidade, em qualquer parte do mundo.

Na última quarta-feira, o Papa Francisco enviou uma importante mensagem ao Brasil, orando para que o povo brasileiro fique livre do ódio, da intolerância e da violência.

Quero dizer que desejamos o mesmo, e vamos trabalhar sem descanso por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira, e a esperança seja maior que o medo.

Todos os dias da minha vida eu me lembro do maior ensinamento de Jesus Cristo, que é o amor ao próximo. Por isso, acredito que a mais importante virtude de um bom governante será sempre o amor – pelo seu país e pelo seu povo.

No que depender de nós, não faltará amor neste país. Vamos cuidar com muito carinho do Brasil e do povo brasileiro. Viveremos um novo tempo. De paz, de amor e de esperança.

Um tempo em que o povo brasileiro tenha de novo o direito de sonhar. E as oportunidades para realizar aquilo que sonha.

Para isso, convido a cada brasileiro e cada brasileira, independentemente em que candidato votou nessa eleição. Mais do que nunca, vamos juntos pelo Brasil, olhando mais para aquilo que nos une, do que para nossas diferenças.

Sei a magnitude da missão que a história me reservou, e sei que não poderei cumpri-la sozinho. Vou precisar de todos – partidos políticos, trabalhadores, empresários, parlamentares, govenadores, prefeitos, gente de todas as religiões. Brasileiros e brasileiras que sonham com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais fraterno.

Volto a dizer aquilo que disse durante toda a campanha. Aquilo que nunca foi uma simples promessa de candidato, mas sim uma profissão de fé, um compromisso de vida:

O Brasil tem jeito. Todos juntos seremos capazes de consertar este país, e construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos – com oportunidades para transformá-los em realidade.

Maus uma vez, renovo minha eterna gratidão ao povo brasileiro. Um grande abraço, e que Deus abençoe nossa jornada.


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Não será um programa mas dá uma ideia do que Lula pretende fazer na sua Presidência.

2022-10-30

Casal de Poupas nos Olivais

 

 Em tempos (2016) fiz um post sobre poupas nos Olivais com fotografias tiradas com o telemóvel mas também com uma máquina fotográfica com zoom. Desta vez só tinha o telemóvel  comigo e as poupas estavam em cima de postes de iluminação e de telecomunicações, pelo que apenas se distingue o perfil das pequenas silhuetas destas aves. Mostro aqui com o intuito de documentar a presença do casal.

Primeiro a foto com o enquadramento original, tirada na Rua Cidade de Benguela em 10/Out/2022

 


 

 

 

 À direita um detalhe da mesma imagem com os postes de iluminação e de telecomunicações onde as poupas pousaram por breves instantes.







E em baixo ampliação de duas partes ainda da mesma imagem


 

2022-10-18

Arte no Metro - Alvalade



Foi uma decisão inteligente da administração do Metropolitano de Lisboa, decorar desde o seu inicio as paredes e espaços das estações com obras de arte, aproveitando as vantagens da cerâmica vidrada na protecção contra a humidade mas também minorando as intervenções dos grafiteiros que têm mostrado algum respeito pelos mosaicos existentes.

A presença do vidrado em grandes superfícies torna contudo difícil tirar fotografias da totalidade do mural pois existem sempre reflexos indesejáveis em um ou mais sítios do painel.

No caso da estação de Alvalade acabei por tirar fotos muito “de esguelha” para minimizar as reflexões indesejadas de focos luminosos, como se vê por exemplo na imagem seguinte
 


depois apliquei deformações e cortes na imagem para que os quadrados dos mosaicos voltassem a ficar quadrados, usando o programa Photoimpact 4.2 de 1998 que continua a funcionar muito bem, dando o resultado seguinte:
 
 
Depois procurei no Google images usando esta última e obtive este resultado
 

depois lembrei-me de verificar se com a versão “de esguelha” conseguiria descobrir outros sítios com a mesma imagem e, para minha relativa surpresa, também descobriu

 

Posteriormente tentei reproduzir esta busca e o resultado não foi o mesmo se bem que tenha conseguido localizar reproduções do mural noutros sítios, a reprodução de que gostei mais  foi esta:

 

neste endereço: https://www.tumpik.com/lisbonmetro onde esclarecem que a autora dos mosaicos é Bela Silva. A imagem deve ter tido algum tipo de processamento e é provável que tenha usado filtros anti-reflexos.


Deformando outra foto que tirei mais abrangente obtive este resultado:
 


Quando se deforma a imagem original algumas zonas perdem a nitidez.

Por esta altura já “descobrira” que se tratava da extensão da estação de Alvalade, quando  comecei o post tinha dúvidas se não seria a de Roma. E no meio das buscas “descobri” que no sítio do Metropolitano de Lisboa tem uma área dedicada a “Arte nas estações”, com imagens e informações sobre os autores das intervenções artísticas e suas datas.

A escala das imagens é grande, como se pode constatar nas seguintes

 

 
 Os painéis são alegres e o motivo é a história infantil “O Macaco de Rabo Cortado” que vai abandonando coisas para logo se arrepender.

E fizeram-me lembrar o clube do Bolinha em que “menina não entra”, neste caso nos painéis “menino não entra”, a não ser, talvez, na forma de macaco.


Adenda: De vista  oblíqua para vista frontal

Uma vez que num quadro (numa obra a duas dimensões) considero como canónica uma vista frontal, vista a partir de um ponto existente numa recta perpendicular ao plano do quadro e intersectando esse plano no centro geométrico do mesmo, chamo "distorcidas" a vistas tomadas noutro ponto.

Uma vez dada uma vista "distorcida" neste sentido, não sei como chamar à operação de recuperar uma vista frontal, o antónimo melhor que me ocorre para opor a "distorcer" ou "deformar" é "repor".



2022-10-13

Pedro Serra sobre os "Problemas de água com Espanha"

 

No jornal Expresso, parece-me que na edição online de 5/Out/2022, saiu uma entrevista com o Engº Pedro Cunha Serra, pelo jornalista Rúben Tiago Pereira,  intitulada:

- "Temos problemas de água com Espanha? Só aqueles que gostamos de inventar na nossa cabeça

O entrevistado tem dedicado largos anos ao tema do abastecimento da água e é consolador ouvir um especialista falar sobre o que se tem resolvido e os desafios actuais, sem o tom tremendista com que os média costumam abordar qualquer tema.

Limito-me no post a destacar umas tantas perguntas e respostas, a versão integral está disponível no link acima:

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 ...

Os transvases que Espanha faz do Tejo para os rios Júcar e Segura, por exemplo, não são um problema para nós?
Não. O que ficou previsto nos documentos convencionais foi que eles poderiam transvasar até mil milhões de metros cúbicos e eles raramente transvasam mais de 300 milhões. O Tejo no seu estuário tem afluências na ordem dos 17 mil milhões de metros cúbicos, por isso, 300 milhões nas suas cabeceiras não tem um impacto tão significativo quanto isso para os nossos interesses nessa bacia. Tanto mais que, a alguns quilómetros da fronteira, eles têm três aproveitamentos hidroelétricos cuja capacidade de armazenamento anda na ordem dos 5 mil milhões de metros cúbicos. Estamos a falar de 300 milhões de transvase e de 5 mil milhões ali represados essencialmente para produzir energia, o que tem uma particularidade: os aproveitamentos hidroelétricos deixam correr água para Portugal. Por isso é que nós só em raras excepções tivemos problemas na bacia do Tejo.

...

Os nossos interesses estão assegurados nesse acordo?
Nós temos ainda represados, na bacia do Douro, no lado português, 700 milhões de metros cúbicos de água, nas barragens do Baixo Sabor e Foz Tua. As necessidades de abastecimento de água à Área Metropolitana do Porto andam na ordem dos 100, 120 milhões por ano. É importante dizer que, mesmo nos anos mais secos, chove sempre na Cordilheira Cantábrica, de corre muita água para o Douro. E chegamos a ter anos húmidos em que chovem mais de 4 mil litros por metro quadrado. Isto é um número perfeitamente brutal, é o polo pluviométrico mais importante da Europa e nós beneficiamos dele. Seria muito mau espírito de vizinhança se tentássemos insistir com os espanhóis para que eles cumprissem com o protocolo adicional no que diz respeito ao regime de caudais do Douro.

Beneficiamos da Cordilheira Cantábrica, mas Portugal e Espanha também estão sujeitos a uma grande irregularidade climática.
Sim, é verdade. A Península Ibérica tem uma irregularidade climática que não é única, mas é muito acentuada, interanual e não apenas sazonal. Temos anos muito húmidos e anos muito secos. Na bacia do Tejo, a variação dos afluentes máximos e afluentes mínimos de um ano para o outro é de 1 para 20.

Isso significa o quê? Tem exemplos?
Na bacia do Sado, entre 1944 e 1945 não correu uma gota de água no rio. Em 1995, tivemos 8 meses de seca em que não caiu praticamente uma gota de água em todo o território nacional. No dia 11 de novembro caiu uma chuva diluviana e tivemos inundações por toda a parte.

Se é assim tão relativo, então não temos um problema de água em Portugal, é isso?
Existe um problema de água, sim. Temos de fazer uma gestão muito mais criteriosa dos nossos recursos. Temos de ter uma gestão muito mais participativa, muito mais colaborativa e para isso temos de dar alguns passos importantes que, aliás, a lei da água de 2005 já prevê no seu artigo 4º.

Como por exemplo?
A implementação de títulos de utilização da água em regiões onde a água já é muito escassa e onde já está instalada uma escassez estrutural, como é o caso do Algarve, a reutilização das águas residuais tratadas, a criação de associações de utilizadores, onde quem utiliza a água se possa juntar para se coordenar, o recurso à dessalinização, como já acontece no Algarve, para reforço de águas superficiais e subterrâneas.

...

Para acabar, gostava de deixar claro: os portugueses têm de se preocupar com problemas de abastecimento de água em algum ponto do país?
Em algumas regiões, pontualmente. Por exemplo, na zona de Viseu, no nordeste transmontano ou em certas regiões do Algarve pode haver situações dessas, mas muito pontuais e estamos a falar de povoações pequenas. E convém relembrar que esses episódios acontecem em zonas onde existem por natureza poucos aquíferos.

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Aproveito para referir dois posts deste blog sobre abastecimento de água em Portugal:

- Factfulness (Factualidade) e o abastecimento de água no Algarve

- Precipitação de água em Portugal

 

2022-10-06

Mahsa Amini, outra vítima dos teocratas iranianos

 

Visitei o Irão numa excursão de 12 dias  de 24/Abr a 5/Mai/2010 há 12 anos e alguns meses.

Na altura, e como referi noutro post considerando que
«
quer o presidente dos EUA George W. Bush quer o primeiro-ministro inglês Anthony Blair, seu aliado dessa época, usaram a mentira da existência de armas de destruição maciça no Iraque, como motivo para a invasão desse país, sem mandato das ONU, com oposição de vários países, entre eles da França e contra a opinião de Hans Blix, coordenador da equipa da ONU que fez inspecções no Iraque de busca desse tipo de armas. Depois da invasão ninguém encontrou armas de destruição maciça. A invasão do Iraque em 2003 causou dezenas de milhares de mortos, não enfraqueceu a Al Qaeda, facilitou o aparecimento do DAESH, outra organização terrorista que fez ainda mais vítimas e deixou o Iraque numa situação caótica até ao presente ano de 2022”
»
 e dada a retirada de boa parte dos militares americanos do Iraque e a tradição dos EUA se envolverem numa nova guerra sempre que acaba a que estão envolvidos e considerando ainda os esforços do Irão para enriquecer Urânio, alegadamente para uma futura central nuclear mas mais provavelmente para fabricar bombas atómicas, considerando tudo isto receei que os EUA invadissem o Irão num futuro próximo e que seria prudente visitar o Irão antes que fosse invadido pelos americanos.

E tinha grande curiosidade de visitar o país onde existira o império persa, que falhara as campanhas de domínio da Grécia, dando assim origem às dezenas (ou serão centenas) de milhares de Maratonas, tão na moda nos dias que correm, que interagiu com o antigo Egipto, que foi derrotado por Alexandre o Grande, que teve uma religião em que os crentes podiam (e deviam) apressar a vitória do Bem sobre o Mal, que foi um grande império entre o Otomano e o dos Mogóis indianos e “last but not least” que tinha uns desenhos geométricos maravilhosos, usando por vezes conceitos matemáticos com um avanço de 500 anos sobre o Ocidente. O país tinha também pouco jeito para escolher os governantes mas não se pode ter tudo.

Fomos em voo da Lufthansa até Teerão, tendo a minha mulher iniciado aí o uso permanente de lenço cobrindo o cabelo. No dia seguinte fomos em voo interno até Shiraz, que visitámos e onde pernoitámos, seguindo depois de autocarro até às ruínas de Persépolis e pernoitando sucessivamente em Yazd, Isfahan e novamente Teerão, de onde regressámos noutro voo da Lufthansa em que praticamente todas as mulheres dentro do avião tiraram o lenço da cabeça mal o avião levantou voo.

Fiz muitos posts sobre o Irão e até um índice dos mesmos.

Recentemente Mahsa Amini, uma jovem curda de 22 anos foi detida pela polícia dos costumes em Teerão por mostrar quantidade excessiva de cabelo, que deveria estar mais tapado pelo hijab, um véu que designam por “islâmico” como referi aqui.

Na foto da Mahsa Amini que mostro a seguir, nota-se algum cabelo visível mas trata-se de uma situação que observei com frequência em 2010. A imagem está espalhada por muitos sítios da internet e em todos eles a mão esquerda foi tratada por razão que desconheço.

 


Enquanto estava sob custódia da polícia morreu, muito provavelmente na sequência de maus tratos a que foi sujeita.

A obrigatoriedade de ter os cabelos sempre cobertos é não só uma obrigação legal das mulheres como existe uma vigilância policial permanente para vigiar o cumprimento dessa lei, não vi uma única mulher, nesses 12 dias da nossa viagem de 2010, que andasse em lugares públicos sem o véu obrigatório. E lembro-me duma senhora da nossa excursão referir o espanto e agitação do empregado na recepção da sala do pequeno-almoço do hotel, quando acidentalmente se esquecera de pôr o véu, tornando-se óbvio que teria que o ir buscar o mais rapidamente possível ao quarto.

Em Isfahan tirei nessa viagem esta foto dum conjunto de alunas iranianas em visita de estudo a um edifício histórico de Isfahan, todas de casaco preto sendo a senhora com casaco vermelho uma portuguesa da nossa excursão. A quantidade de cabelo à vista é parecido à da imagem da falecida.
 

Noutro local tirei mais esta foto a outras jovens
 


Segundo li, o rigor da  polícia vai variando ao longo dos anos, o presidente actual assinou uma ordem em 15/Ago/2022 para reforço das leis sobre vestuário com uma nova lista de restrições.

Esta obrigatoriedade é uma violência enorme sobre as iranianas, neste caso de natureza legal. Na Turquia, onde o regime fundado por Ataturk tinha uma proibição legal de uso do véu em lugares públicos, o partido do actual presidente Erdogan revogou essa lei e, embora não seja legalmente obrigatório que as mulheres usem o véu, tenho testemunhos de casais turcos em que além de pressionarem a mulher a usar o véu como condição de admissão em empregos, pressionam o marido para pressionar a esposa a usar o véu.

Em França, onde existem várias zonas em que esta pressão social para usar o véu deve ser importante, aprovaram uma lei que proíbe o uso do véu em edifícios públicos.

Em Isfahan fotografei esta montra que me surpreendeu de venda de cabeleiras para mulheres
 


num país que proíbe a exibição de cabelo nos locais públicos. Uma amiga portuguesa sugeriu-me posteriormente que o uso permanente de lenços na cabeça poderá criar doenças no couro cabeludo que obriguem a rapar a totalidade do cabelo para recuperar do problema.

É verdade que em Portugal há uns anos era frequente ver as camponesas mais idosas usando sistematicamente um lenço na cabeça, como nesta imagem que vi na net duma mãe iraniana com a filha e a neta
 
 
mas também desconheço se essas portuguesas não teriam problemas no cabelo ou no couro cabeludo.

Em tempos, vi agora que foi em Fev/2018, pensei em fazer um post sobre um movimento de iranianas que chamavam “My Stealthy Freedom” fundado por Masih Alinejad de luta pelos direitos das mulheres iranianas, incluindo o direito de andar com os cabelos ao vento.

Desse movimento guardei estas duas imagens que me pareceram libertadoras

 



Depois da deposição violenta do Xá da Pérsia em 1979, um referendo instituiu um estado islâmico em que, além de uma estrutura governativa com os poderes legislativo, executivo e judicial, existe o Supremo Líder, um clérigo xiita que é escolhido entre os seus pares na Assembleia de Peritos (Experts), com intervenções cirúrgicas mas decisivas na vida política do país, sendo também chefe supremo do exército e dos Guardas da Revolução. Durante a excursão fui tomando consciência que os clérigos, os militares e os Guardas da Revolução acumulam portunas pessoais apreciáveis.

O primeiro supremo líder foi Ruhollah Khomeini (1900-1989) desde 1979 até à sua morte. O segundo foi Ali Khamenei (1939- ) desde 1989 até agora, portanto 33 anos. O regime tem portanto 43 anos, um pouco menos de existência do que o Estado Novo em Portugal.

De vez em quando têm ocorrido manifestações de contestação do regime que têm sido reprimidas com muita violência e muitas mortes nos confrontos.

O Irão tem pena de morte, num post de 2010 concluí que nas estatísticas de 2009 o Irão era o que executava mais condenados por milhão de habitantes seguido pelo Iraque e pela Arábia Saudita. Nas que vi agora na Wikipedia o  Irão continua na posição cimeira no número total de execuções em 2021 (Irão 353, Egipto 82, Arábia Saudita 64, Síria 37) e com 84 milhões de habitantes dando um rácio de 4,2 execuções por milhão, devem continuar no topo da tabela também neste indicador.

Informou-me também o guia que continuavam a fazer amputações em 2010, como cortar a mão a ladrões e não sei se lapidações, fiz um post sobre Sakineh Mohammadi Ashtiani, uma iraniana que esteve 9 anos presa na iminência de ser executada por lapidação (lançamento de pedras sobre a cabeça da condenada, enterrada parcialmente) que entretanto foi libertada em 2014.

De uma forma geral os comentadores não conseguem prever se mais esta morte porá fim ao regime, como nesta entrevista “How Iran’s Hijab Protest Movement Became So Powerful” na revista New Yorker a uma iraniana que vive nos EUA.


 

Para ficar com uma ideia da pressão social na Turquia para o uso do véu já tinha visto há tempos “The head scarf, modern Turkey, and me” por Elif Batuman, na edição de 8 e 15/Fev/2016, acompanhado por esta ilustração ao lado feita por Anna Parini.