2021-12-31

Raio de Sol sobre Jarra de Cristal

 

Com votos de Bom Ano Novo e Passagem de Ano Feliz, possível, já que é muito breve, como este Raio de Sol sobre a jarra


 

e detalhe da mesma foto








2021-12-23

Nossa Senhora do Silêncio e Menino Jesus


Nesta altura do ano em que tradicionalmente se fazem votos de Feliz Natal e Bom Ano Novo costumo hesitar na escolha de uma imagem alusiva à época.

Continuo fascinado pela arte bizantina, com a sua ortodoxia de regras que, não devendo ser observadas em todas as obras de arte, fornecem um universo muito característico, limitado mas com algum espaço para a criação.

Neste caso seleccionei um ícone representando a Nossa Senhora com o Menino Jesus que vi em 2019 no Mosteiro da Santíssima Trindade – São Sérgio, na povoação de Serguiev Posad, uns 70km a Nordeste de Moscovo, mosteiro importante da igreja ortodoxa russa, com as atribulações típicas (destruição de obras de arte, de recheios de edificios e dos próprios edifícios, instalação de instituições laicas e proibição de celebrações religiosas, expulsão, degredo e execução de monges) das instituições religiosas após a revolução comunista e o regresso às tradições seculares após o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ou talvez um pouco antes.

Existem três dificuldades típicas nestes ícones constituídos por mosaicos (Tesserae) causando a presença de reflexos que estragam as fotografias:
- os reflexos das luzes das janelas que ocorrem num subconjunto pequeno dos mosaicos devido a superfície do ícone não ser completamente plana e que aparecem e desaparecem conforme a posição do observador, pequenos movimentos da cabeça podem eliminar reflexos da parte em que se está a concentrar a atenção deste;
- os reflexos das velas que os ícones “atraem” para ficar à sua frente, como cumprimento de promessas feitas à figura dos ícones, numa forma tolerada de tráfico de favores com os intercessores junto da divindade; as luzes bruxeleantes das velas até poderão dar alguma animação ao ícone, aparecendo pontos brilhantes que surgem e se extinguem mas, nas fotografias, ficam pontos sobreexpostos para sempre;
- a presença de castiçais naturalmente opacos que tapam parcialmente o ícone.

Nas 3 imagens que seguem, tiradas com curtos intervalos de tempo entre elas,
     

  


aparece uma quarta dificuldade que são as pessoas que vão beijar o ícone ou que vão colocar velas, mas normalmente basta esperar um pouco para o ícone ficar desimpedido. Neste caso, como fotografei do lado esquerdo do ícone e depois do lado direito, sem ter uma vista frontal, julgo que foi para tirar as velas do enquadramento.

Seguidamente usei o programa Photoimpact 4.2 de 1997 para “rectificar” a imagem, anulando o efeito do plano do sensor não ser paralelo ao plano do ícone.

Então pensei que seria possível que nas correcções tivesse alterado a relação entre a altura e a largura da imagem e dada a dificuldade em encontrar uma imagem na internet deste ícone pensei que o halo da Virgem teria sido feito com cuidado para ser um círculo quase perfeito, pelo que coloquei a imagem num PowerPoint com um círculo transparente sobreposto, constatando que a altura estava inferior ao original:


Aumentei a altura da imagem até que o círculo do PowerPoint coincidisse com a auréola

 

constatando que tal correspondeu no PowerPoint a um aumento de 4%.

Depois, usando o PhotoImpact aumentei apenas a altura da imagem de 100% para 104% tendo obtido esta imagem final:

 

Mostro ainda dois detalhes dos mosaicos, estes sem correcções, que acabam por fazer perder um pouco da nitidez
 


Acabei por descobrir uma imagem na internet com este ícone
 

em que pude confirmar que a razão para eu fotografar de lado se deveu à presença do candelabro tapando parte do ícone. Confirmei também que a proporção encontrada usando o círculo coincidia com a existente nesta foto.

Existia ainda esta frase com caracteres cirílicos no sítio onde estava a foto:
“ЦАРИЦЕ ТИШИНЕ ПОСЕТИ НАС ЖУРНО И ТИШИНОМ СВОЈОМ СТИШАЈ СРЦЕ БУРНО”

de que o google tradutor, que identificou como idioma sérvio, deu em português:
“RAINHA DO SILÊNCIO, VISITE-NOS URGENTEMENTE E COM SEU SILÊNCIO SEU CORAÇÃO TEMPESTADE”

e em inglês:
“QUEEN OF SILENCE VISIT US URGENTLY AND WITH YOUR SILENCE SILENCE YOUR HEART STORMY”

Conjecturei que poderia ser:
“Rainha do Silêncio, faz que o teu silêncio acalme meu coração em tempestade” mas pelo menos parece-me pacífico que se trata da Rainha do Silêncio.

Adenda: ou melhor ainda, segundo sugestão de amigo: "Rainha do Silêncio, faz que o teu silêncio acalme meu coração tempestuoso"


Feliz Natal e Bom Ano Novo de 2022

 

O Natal que se aproxima será mais parecido com os de antes da pandemia mas ainda incompletamente normal.

Existem razões para acreditar que 2022 será melhor do que 2021.

Para os mais preguiçosos o número que representa o ano na era cristã é auspicioso pois apenas será preciso carregar em duas teclas, a do "2" e a do "0" para se compor o número, enquanto na maioria dos casos deste é preciso usar 4 teclas.

Atendendo ao excesso de ruído que nos rodeia, de que o parágrafo anterior será um modesto exemplo de irrelevância, escolhi como imagem alusiva à época um ícone da Nossa Senhora dita do Silêncio mais o Menino Jesus, que encontrei no Mosteiro da Trindade - São Sérgio em Sergiev Posad, a 70km a nordeste de Moscovo, onde hoje as temperaturas são Máxima: -9ºC,  Mínima: -22~ºC.

 


 



2021-12-19

As Irmãs Soong



Depois de ler o livro “Cisnes Selvagens” de Jung Chang, que referi e citei em 3 posts deste blogue tenho prestado atenção às obras que vão aparecendo da mesma autora. Saltei a biografia de Mao, pois as descrições das consequências  nefastas quer do “Grande Salto em Frente” quer da “Revolução Cultural” já me chegavam, mas li “A Imperatriz Viúva” sobre Cixi (1835-1908) que comentei num dos posts acima.

Só há pouco tempo soube da edição (em Nov/2019) em Portugal dum novo livro da Jung Chang e foi nessa altura que tomei conhecimento que Sun Yat-sen (1866-1925) o primeiro presidente provisório da República da China, fora casado de 1915 a 1925 com Soong Ching-ling (1893-1981), enquanto Chiang-Kai-shek (1887-1975) o Generalíssimo, chefe do Kuomintang, foi casado com Soong Mai-ling (1898-2003) desde 1927 até à morte, sendo assim cunhado da viúva de Sun Yat-sen.

Esta viúva, que viveu durante algum tempo na Rússia, foi-se aproximando da ideologia leninista e do Partido Comunista Chinês sendo frequentemente contactada por membros importantes do partido que contudo considerou que “Madame Sun Yat-sen” seria mais útil ao PCC não estando nele filiada. Foi admitida no PCC na iminência da sua morte e existe actualmente uma fundação com o seu nome.

Existia uma 3ª irmã, a primogénita, Soong Ei-ling (1889-1973), mulher de negócios casada com H.H.Kung que foi ministro das finanças de Chiang-Kai-shek durante 10 anos. O casal foi durante algum tempo dos mais ricos da China, devido em boa parte à corrupção que grassava no país e de que beneficiaram.

Além das 3 irmãs existiram mais 3 irmãos que são referidos como T.V.Soong, T.L.Soong e T.A.Soong, que são tratados como personagens secundárias.

O pai desta família Soong foi trabalhar para a América, converteu-se ao cristianismo numa igreja Metodista, estudou para missionário durante 7 anos, tendo depois regressado à China. Os missionários metodistas na China deram-lhe pouco trabalho, tendo montado uma editora e ganho muito dinheiro, o que lhe permitiu mandar estudar as 3 filhas para a América onde cada uma delas permaneceu vários anos.

O livro dá conta da competição entre os anos 20 e 50 do século XX, entre a América e a Rússia, para influenciar o futuro da China, competição que dividiu estas irmãs.

A autora não poupa críticas quer a Sun Yat-sen quer ao generalíssimo Chiang-Kai-shek, ambos mais interessados no poder do que em servir a população chinesa. Este último terá mesmo estado envolvido na assassínio de um adversário político em 1912, mas nesses tempos de grande desordem social, os políticos estavam quase permanentemente em risco de vida e a maioria dos altos dirigentes chineses eram responsáveis por alguns massacres.

Achei interessante a presença de numerosas notas no fim da obra, referindo bibliografia fundamentando muitas das afirmações feitas no livro, que é assim uma espécie intermédia entre um livro de História e um simples ensaio. Resumindo, gostei muito deste livro.

Nota: na internet descobri outra versão da mesma obra, de uma editora brasileira, em que gostei muito mais da capa, que mostro a seguir:
 



 

2021-12-08

Choupo no Outono e Yucca Aloifolia

 

Tenho um choupo em frente duma janela que no princípio de Dezembro fica com a maior parte das folhas em tons de amarelo, laranja e castanho sobre um fundo em vários tons de verde que apetece fotografar.

Este ano foi em 2/Dez/2021 às 15:43, quando boa parte da folhagem estava iluminada por raios de sol e simultaneamente agitada por vento forte, donde resultou alguma falta de nitidez nesta foto obtida na altura


Para dar o contexto socorro-me de uma foto que tirei o ano passado em 06/Dez/2020 às 16:03, numa ocasião em que os raios solares directos estavam ausentes que já mostrei noutro post

Em ambas as fotos aparece uma planta actualmente muito comum em Portugal mas que só hoje descobri o nome, com a ajuda do Google images e desta foto que tirei em 11/Setembro/2011

Trata-se duma Yucca aloifolia, também chamada "Planta punhal" pela forma das folhas, nativa da costa Sueste e Sul dos EUA, continuando pelas costas do mar das Caraíbas. Possivelmente o Yucca vem da península de Yucatan no México. 

Talvez eu tenha demorado tanto tempo a publicar esta foto de 2011 por ignorar o nome da planta. Em Portugal, Espanha e margens do Mediterrâneo é bastante comum. As flores em Portugal costumam aparecer em Setembro, marcando o fim do Verão. Por exemplo a última foto, que segue, foi tirada no Algarve em 2/Set/2021



2021-12-06

Novas Geopolíticas da Energia

A adopção de energias renováveis como a solar e a eólica que são distribuídas pelos diversos países de forma menos concentrada do que os combustíveis fósseis devem levar a uma situação de menor dependência num pequeno número de países como acontece actualmente.

Porém, quer a transição quer a situação de neutralidade carbónica trarão novos problemas, talvez menores do que os actuais, mas mesmo assim muito desafiantes.

Gostei deste artigo da revista Foreign Affairs intitulado "Green Upheaval: The New Geopolitics of Energy", prevendo que a transição será bastante complicada. Eu diria também que tempos felizes aguardam as empresas de Consultoria.

2021-12-04

Poluição nas cidades



Há muito tempo que o ar das cidades da Europa está poluído, caso contrário não existiria a referência aos “ares do campo” com a característica de serem saudáveis, como contraponto aos “ares da cidade”.

A origem dessa poluição deveu-se inicialmente à concentração de habitações, numa densidade e extensão muito maior do que nas povoações campestres. As lareiras nas habitações e os fogões de lenha ou de carvão seriam os principais responsáveis, com maior importância nos países mais frios.

Esta situação agravou-se na revolução industrial que começou na Inglaterra, associada a uma urbanização acelerada e à queima de carvão para o funcionamento das máquinas a vapor, essenciais nas grandes fábricas.

Já no século XX a situação continuou a piorar com a substituição da tracção animal pelos combóios com locomotivas a carvão e automóveis movidos por motores de combustão interna emisores de CO2, de CO, de partículas da combustão e ainda das partículas do desgaste dos pneus.

Tudo isto levou a situações cada vez mais graves com destaque para a cidade de Londres onde ocorriam nevoeiros frequentes (fog), potenciados pelo frio húmido mas também pelas partículas em suspensão no ar que aceleravam a condensação do vapor de água presente, dando origem ao que chamavam “SMOG” (de SMoke+fOG) em que nos casos de maior densidade  as pessoas não conseguiam ver os próprios pés, tornando praticamente impossíveis as deslocações.

Um smog mais catastrófico acabou por levar à aprovação parlamentar do “Clean Air Act” em 1956, como resposta ao Grande Smog de Londres de 1952, que iniciou a substituição obrigatória de combustíveis geradores de partículas por gás natural ou electricidade, instalação de filtros nas chaminés de instalações industriais, etc. Foi aprovada nova versão mais exigente desta legislação em 1968 e outra ainda em 1993.

A aprovação desta lei teve que ultrapassar grandes pressões contrárias pela indústria e mesmo por algumas pessoas mais conservadoras que, já habituadas aos nevoeiros frequentes em Londres, argumentavam que estes eram uma característica essencial da vida londrina.

Com a melhoria substancial da qualidade do ar em muitas cidades europeias, iniciaram-se nos anos 60 e 70 grandes limpezas de edifícios mais antigos com revestimento de pedra, nomeadamente igrejas e catedrais e outros grandes edifícios públicos. Lembro-me de nos anos 70 se começarem a publicar fotografias do antes e do depois da limpeza e foi um autêntico renascimento de edifícios negros que finalmente regressavam à sua cor inicial.

Andei à procura dessas comparações mas tive dificuldade em encontrá-las. Acabei por me lembrar de ter comprado alguns postais numa excursão de finalistas do Liceu Camões, do então 7º ano (alargada ao 6º ano) nas férias da Páscoa de 1966, em que fomos de Lisboa a Vigo, Santiago de Compostela, La Coruña, Oviedo, Covadonga, Grutas de Altamira (então ainda abertas ao público), Santander, Bilbao, San Sebastian, Burgos, Valle de los Caidos, Madrid, Ávila, Salamanca, Vilar Formoso e novamente Lisboa.

Desses postais mostro o da Catedral de Burgos, provavelmente melhorada com técnicas fotográficas (o Photoshop da época) que atenuassem a fuligem negra que certamente a cobria em 1966


que revisitei em 2012 (46 anos depois!)
 

Depois procurei imagens da Abadia de Westminster antes da limpeza e encontrei com alguma dificuldade esta:
 

continuando a procura em postais onde encontrei este que me pareceu realista
 

Fiquei um pouco surpreendido com o comércio de postais antigos na internet em que muitos  eram vendidos por preços à volta de 2 euros.

Gostei desta reprodução de um quadro do Canaletto na Wikipédia

 

datado de 1749 mostrando os cavaleiros da ordem de Bath numa procissão comemorativa da conclusão das duas novas torres, onde se constata que já nessa altura as partes mais antigas da catedral apresentavam alguma sujidade.

Na sequência do Clean Air Act esta abadia sofreu um processo de limpeza que durou de 1973 a 1993, referido neste artigo do Chicago Tribune.

O resultado depois de 20 anos de esforços e de USD 48 milhões pode ser visto neste artigo da Wikipédia:

 

Nas deambulações pela net encontrei este diário de viagem com esta imagem tão bonita do  tecto da “Lady Chapel” (capela dedicada a Nossa Senhora) mandada construir pelo rei Henrique VII nesta abadia.


 

2021-11-23

Pôr-do-sol na Praia da Rocha

 
Há muitos anos que reparei que o Sol se punha em sítios diferentes de acordo com a época do ano. Claro que uma pessoa aprende isto na escola mas quando não se está em férias o sítio atrás do qual o Sol se põe pode não estar visível no sítio onde se trabalha ou na parte da casa de onde isso é visível. Se o Sol desaparece cedo por trás de um prédio próximo pode-se considerar que o pôr-do-sol não é visível.

Na Praia da Rocha, quando a  Fortaleza no fim da Av. Tomás Cabreira ainda tinha uma esplanada com mesas e cadeiras costumava haver lá gente ao fim da tarde, que aproveitava a ocasião para ver o pôr-do-sol.

No passado dia 12/Nov o Sol pôs-se quando eu estava na avenida, entre a última casa do lado do mar e a Fortaleza e aproveitei para tirar esta foto (às 17:26)


 
de que mostro a seguir um detalhe


 
em que se constata que visto deste sítio, nesta altura do ano, o Sol se põe sobre o mar, à esquerda do fim da linha de costa, que neste caso corresponde à Ponta da Piedade, ao pé de Lagos.

Durante o Verão o Sol põe-se muito mais para a direita, em cima da linha de terra onde se situa a cidade de Lagos.

Pensei em fazer uma verificação breve do azimute do Sol na altura do pôr-do-sol em Portimão, e googlando (como calcular azimute do por-do-sol) fui dar a este sítio intitulado Sun Earth Tools.

Na caixa “Pesquisa” coloquei “Portimão”, estava Ano=2021, Meses=11, Dia alterei para 12, Time zone mudei de GMT-1 para GMT 0 (Greenwich Meridian Time), dado que estamos na hora de inverno em 12/Nov. Carregando no botão azul “executar” obtive que o sunset (pôr-do-sol) foi às 17:26:23 e que o azimute foi 248º.


 As coordenadas que este sítio da net considerou para Portimão estarão provavelmente no centro geométrico do concelho, como se vê na figura essas coordenadas estão fora da cidade


O “Untitled Placemark” foi o sítio onde tirei a foto do pôr-do-sol, com as coordenadas mostradas na figura seguinte:


 Medi a distância entre estes dois locais que deu 10km. O azimute do pôr-do-sol deve ser muito parecido em ambos.

Depois medi o azimute do local da foto para a Ponta da Piedade usando a ferramenta “Régua” (ruler), tendo obtido 250.80 graus


tendo a seguir marcado o azimute de 248º calculado no sítio Sun Earth Tools para o pôr-do-sol em Portimão


constatando que o cálculo do sítio “Sun Earth Tools” corresponde qualitativamente ao registado na foto, o Sol nesse dia, para um observador na Av. Tomás Cabreira, pôs-se no mar, um pouco à esquerda da Ponta da Piedade.





2021-11-21

Charlotte Perriand revisitada

 

Voltou a estar disponível no canal ARTE o vídeo biográfico "Charlotte Perriand, pionnière de l'art de vivre", desta vez de 14/Nov/2021 a 14/Jan/2022 que eu referira neste post em que mostrei a "B306 Chaise Longue":


Desta vez mostro uma variação japonesa, criada quando Charlotte Perriand esteve no Japão de 1940 a 1941, feita com bambu

uma imagem retirada do documentário que refiro acima.




2021-11-18

Redução da produção de CO2



A propósito da recente Conferêcia sobre Alterações Climáticas das Nações Unidas (COP26) em Glasgow, no contexto do antagonismo crescente no Ocidente em relação à China, circulam opiniões  que as manifestações ambientais devem ser contra a China e não contra o Ocidente.

De vez em quando digo que o conceito de "país” tem que ser tratado com cautela pois nessa mesma categoria cabem realidades tão distintas como a China e Portugal.

Claro que um país maior terá maiores responsabilidades na quantidade de produto poluidor que terá que reduzir mas, para calcular essas reduções, deve-se ter em conta entre vários factores a poluição per capita além do volume global.

Consultando este sítio (https://www.worldometers.info/co2-emissions/co2-emissions-per-capita/) e ordenando a produção de CO2 per capita (no ano de 2016) constata-se que a China (7.4 ton CO2/capita) poluía metade dos EUA (15,5 ton CO2/capita) e a Índia ainda muito menos (1.9 ton CO2/capita).

Quando fui a Macau em 1990 passei no caminho para Cantão por esta povoação em que me surpreendeu o número de chaminés visível na foto:





O Ocidente exportou boa quantidade de fábricas para a China, reservando para si muitas vezes a parte de projecto que produz pouco CO2, comprando depois as coisas fabricadas lá longe, onde se precisa de gastar mais energia para produzir os produtos consumidos pelo Ocidente.

Diz ainda nesse sítio do Worldometers que a produção per capita do planeta se cifrava em 4.79 ton /per capita reforçando a minha ideia que, sendo conveniente que todos reduzam, se compreende que a Índia, dado o seu muito baixo índice, tenha mais dificuldade em reduzir.

Portugal produzia em 2016 4.86 ton/capita, estamos próximos mas um pouco acima da média planetária que tem que ser reduzida.



2021-11-03

Malika Favre (3)

 


Gosto muito do trabalho da ilustradora Malika Favre que tenho referido nalguns posts deste blogue.

Desta vez foi mais esta capa da revista The New Yorker, em que aparece um artigo curto sobre a imagem que pode fazer lembrar "O Pensador" de Rodin.  

Lembrou-me este Vestido Versace e o reflexo dos tirantes da ponte Vasco da  Gama sobre o Tejo. Lembrou-me também o quadro oficial de Michelle Obama por Amy Sherald.

Fiz uma breve edição retirando as letras da capa, reconstituindo a imagem original que mostro a seguir 






2021-10-31

Kaiseki, uma refeição japonesa sofisticada


Foi no princípio deste mês de Outubro que, numa newsletter da revista New Yorker, tomei conhecimento da palavra japonesa "Kaiseki", numa referência a um artigo da jornalista Helen Rosner, publicado numa edição dessa revista de Março de 2019,  sobre o restaurante Kaiseki em Los Angeles da americana de ascendência japonesa Niki Nakayama.

Gostei muito da fotografia desse artigo

Kaiseki, feito por Niki Nakayama, fotografado por Damon Casarez para a revista New Yorker

Nesse artigo conjecturam que a visita ao Japão em 1965 do chef Paul Bocuse e seu contacto com o kaiseki poderá tê-lo influenciado na criação da "Nouvelle Cuisine".

Além do artigo, onde falam da cozinha Kaiseki vi a entrada da Wikipédia em português  de onde transcrevo o texto inicial:

«

Kaiseki (懐石?) era, originalmente, uma refeição simples servida aos monges zen-budistas com chá, que mais tarde veio a se desenvolver na cerimônia do chá, recebendo, também, o nome de cha-kaiseki (茶懐石?). Mais atualmente, o prato se transformou em um sofisticando banquete consistindo de vários pratos servidos em diversas porções servidos em restaurantes, sendo chamado de kaiseki (会席, com o kanji diferente?) e também de kaiseki casual.
» 

e onde encontrei este pequeno-almoço tributário do conceito de cha-kaiseki

Por MichaelMaggs - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2870323


Já na entrada em inglês da Wikipédia encontrei outro exemplo de um kaiseki:

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jisaku_Kaiseki_Ryori_01.jpg

Nas imagens da Wikipédia, acessíveis  pelos URLs que as acompanham, constam os conteúdos dos diversos componentes de cada um dos kaiseki.

 

 

 





2021-10-27

Entrevista a Thomas Phillippon sobre Portugal no Expresso

 

Na edição de 23 de Outubro do jornal Expresso vem uma entrevista ao economista Thomas Phillipon, professor da Stern School of Business, da New York University, conduzida pela Sónia M.Lourenço que faz uma introdução seguida de várias perguntas e respostas de que destaco as que coloquei a cor-de-laranja:

A Europa “aprendeu” com a crise das dívidas soberanas “e não me parece que volte a acontecer”, diz Thomas Philippon. Nas vésperas de participar na conferência da Fundação Francisco Manuel dos Santos onde será apresentado o estudo “Do made in ao created in, um novo paradigma para a economia portuguesa”, o economista francês defende que as regras euro­peias para as finanças públicas devem ser revistas e que “o sucesso de Portugal na educação vai traduzir-se em crescimento mais elevado nos próximos 20 anos”.

Criar valor numa economia global é o tema da sua intervenção na conferência da Fundação Francisco Manuel dos Santos [FFMS]. Quais são as lições?

A conclusão é muito evidente: o único preditor robusto sobre se um país cresce rapidamente é a educação da população. Também é preciso olhar para o investimento das empresas, mas é menos importante. Isto tem uma forte conexão com Portugal. A primeira vez que olhei para os dados sobre a economia portuguesa, no início dos anos 2000, era óbvio que a grande diferença entre Portugal e o resto da Europa era a educação, onde Portugal estava muito mais atrás.

Portugal evoluiu muito nessa área?

É uma história de sucesso impressio­nante. É isso que está a transformar a economia portuguesa. As pessoas queixam-se de que as reformas não funcionam, mas este é um exemplo em que o problema foi identificado, foram tomadas decisões políticas e 20 anos depois é um grande sucesso.

Mas não devíamos esperar um crescimento mais forte, dado o enorme salto nas qualificações?

A estagnação nos anos 2000 foi antes do grande impulso na educação. Depois, a crise da dívida foi um desastre para o Sul da Europa. Mas nos anos recentes vimos mais convergência. A velocidade absoluta a que a economia se expande depende da China, dos Estados Unidos e do resto da Europa. Mas a velocidade relativa depende de Portugal, e aí vemos convergência. E acho que vai acontecer cada vez mais no futuro. O sucesso de Portugal na educação vai traduzir-se em crescimento mais elevado nos próximos 20 anos. Também tem tido muito sucesso na Europa na política de concorrência, onde tem feito muito melhor do que os Estados Unidos.

O estudo da FFMS diz que Portugal precisa de um modelo de crescimento baseado no conhecimento e na inovação. Como é que isto se faz?

No passado tivemos muita competição fiscal entre países. Se olharmos para o sucesso da Irlanda, foi um fator central. Isso vai ser relativamente menos importante. A tendência é contra esta ideia de que os países podem competir com os seus vizinhos fazendo dumping fiscal. Ainda vai ser importante ter impostos baixos, mas baixos não será zero. O mais importante para as empresas será ter trabalhadores qualificados, porque o ritmo da inovação tecnológica não vai abrandar. A tendência é na boa direção e a base será educação, ter mercados livres e concorrenciais e alguns investimentos estratégicos ao nível da UE, que estão a ser feitos na direção certa.

Porque é que os ‘novos’ países da UE têm crescido muito mais do que os ‘velhos’?

Eram pobres, educados e contaram com o efeito alemão, porque as redes de fornecimentos na Europa Central estão muito bem integradas. Convergir era relativamente simples.

O euro tem sido um constrangimento ao crescimento dos países da Europa Ocidental e do Sul?

Não creio. Se olharmos para países que tiveram problemas em crescer, como a Itália, ou Portugal no início dos anos 2000, a questão era a produtividade. E por trás disso estava a falta de investimento na educação, de bons gestores e de inovação. O euro teve mais a ver com o controlo da inflação e com finanças públicas estáveis, tendo como benefício políticas mais sustentáveis. Claro, há a crise da zona euro, que foi muito negativa. Mas não é uma questão crítica para o crescimento a longo prazo.

Ninguém vai regressar a uma dívida de 60% do PIB à velocidade prevista nas regras, porque seria estúpido

Quais são os pontos fortes e fracos da economia portuguesa?

O principal ponto forte passa pelos avanços na educação, que refletem o consenso político sobre esta questão. Outro sinal mais é que hoje as pessoas veem Portugal como um local muito estável, uma democracia que fun­ciona bem. Extremismos e populismo quase não se veem. O sinal menos tem a ver com a localização. As novas tecnologias tornam as distâncias menos importantes. O problema é que o crescimento efetivo das regiões ainda é muito desigual e concentrado em algumas localizações. Isto sugere que há retornos muito fortes por estar em zonas centrais. É uma contradição e não sabemos para que lado vai pender. Se este tipo de efeito de aglomeração sobre o crescimento for determinante, é preciso garantir boas conexões com o centro da Europa.

...

O resto da entrevista poderá ser lido aqui.

2021-10-25

Problemas de Matemática

 
A propósito do post anterior, um amigo espanhol enviou-me este texto:
«
Tu comentarios sobre libros de texto en el Liceo me retrotrajo a el curioso trabajo que hace años resaltaba cómo los problemas (ejercicios) de matemáticas que se nos planteaba a los niños bajo el franquismo estaban obsesionados con la estafa y el alcoholismo.

(estafa: fraude, vigarice)

 Yo no sé en Portugal pero en España los exámenes que nos ponían  solían abundar en preguntas tales que:
 •            Un revendedor de leche compró 6 Dl a 2,75 pesetas el litro. Le echó 12 litros de agua y la vendió a 0,25 pesetas más barata. ¿Cuánto ganó?.
•            A 200 litros de vino de 2,4 pesetas le he echado 25 litros de agua. ¿A cómo sale el litro de mezcla? Y si lo vendo a 0,35 pesetas más caro, ¿cuánto gano en la operación?.
•            Un revendedor de leche compró 6 Dl a 2,75 pesetas el litro. Le echó 12 litros de agua y la vendió a 0,25 pesetas más barata. ¿Cuánto ganó?.
•            Debo 205 pesetas al panadero, 112 al carnicero, 150 al sastre y 320 al casero. ¿Cuánto debo en total?
•            Un hombre bebe cada día un aperitivo que le cuesta 3,75 pesetas. Los domingos toma dos. ¿Cuánto gastará así, inútilmente, al año? Y si economizara esta suma durante 30 años, el capital así reunido ¿cuánto le produciría prestado al 5 por 100?
»
 

Não me lembro deste tipo de perguntas em Portugal para proteger os incautos de possíveis falsificações. Não sei se a sua ausência seria para não dar sugestões a potenciais vigaristas, se pudor em admitir que houvesse entre Portugueses gente desonesta.


Quanto ao vinho ainda me lembro da frase “beber vinho é dar de comer (ou dar o pão) a um milhão de portugueses” como consta neste cartaz de Mário Costa que vi aqui, frase alegadamente do próprio Oliveira Salazar.

Portugal tem há muito tempo um problema de alcoolismo grave embora diferente do mais comum nos países do Norte da Europa: aí embebedam-se ruidosamente aos fins-de-semana, em Portugal é mais consumo em excesso todos os dias, se bem que as bebedeiras sejam mais discretas.

Quanto ao endividamento lembro-me de ver anúncios, por exemplo em mercearias e em tabernas, que não se vendia a fiado e os bancos só emprestavam dinheiro aos ricos, não havia nessa altura crédito ao consumo nem cartões de crédito.

Ainda na escola primária o top dos problenas era o das torneiras em que, dada uma torneira que enchia um tanque  em x horas e outra em y horas, perguntava-se quanto tempo seria necessário para encher o tanque se se abrissem as duas torneiras em simultâneo.

E no livro de Álgebra o problema mais engraçado, com um enunciado cheio de ritmo era o seguinte:
Pedro diz a Simão: eu tenho o dobro da idade que tu tinhas quando eu tinha a idade que tu tens. Quando tu tiveres a idade que eu tenho a soma das nossas idades será 63 anos. Que idades têm Pedro e Simão?



2021-10-23

Livros do Liceu

 

A propósito da referência no post anterior a um livro escolar da Seomara da Costa Primo, o António Blanco fez algumas considerações sobre os livros escolares que partilho parcialmente.

Partilho boa opinião sobre a maioria dos livros escolares em uso nos liceus nos anos 60 do século XX, achava na altura e agora que muitas das críticas se enquadravam nas "crónicas de escárnio e mal-dizer" tão frequentes em Portugal.

Mesmo assim, usá-los nos tempos que correm como manuais escolares não é viável, não só porque se descobriram imensas coisas na área das ciências naturais tais como Biologia, Geologia, Astronomia, etc. como, mesmo naquelas em que os conhecimentos de tão básicos pouco ou nada se alteraram como na Física e na Matemática, o recurso quer a novos métodos pedagógicos quer a novas ferramentas didácticas, quer ainda à existência de informação de boa qualidade na internet, mudam o que se espera dos livros didácticos de agora.

Como exemplo de novas aquisições da Ciência refiro um post deste blogue intitulado as "Galáxias e a Origem do Universo" onde constatei que no liceu me falaram de Nebulosas como astros no firmamento com aspecto de nuvens e ainda não de Galáxias como conjuntos de estrelas.

No que se chamavam antigamente as "Letras", Português, outras línguas e História, os significados das palavras foram-se alterando com o tempo, quando aprendi inglês nos anos 60 ensinaram-me que "Queer" classificava uma pessoa como excêntrica, afastada do centro no sentido de norma ou de maioria. Quando usei o adjectivo nos anos 80 em Inglaterra um inglês avisou-me que o significado da palavra se tinha alterado restringindo-se então a pessoas sexualmente excêntricas.

Quanto à História trata-se da perspectiva que cada sociedade, num dado tempo, tem do passado, mudando naturalmente quer com o conhecimento maior ou menor de cada época quer com os aspectos do passado que parecem mais relevantes no aqui e agora, pelo que periodicamente precisa de ser revisitada.

Na sequência deste texto tirei esta foto a uma prateleira onde guardo os livros do liceu, julgo que faltarão muito poucos

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À frente destes livros estão normalmente os de aventuras que li na juventude que foram temporariamente removidos para tirar esta foto.



2021-10-22

Reprodução e morte (manifestamente exagerada)

 Em Março deste ano fiz dois posts com imagens do Algarve, pois como são muito mais frequentes e prolongadas as minhas estadias no Verão e o clima varia imenso nas várias estações, o aspecto da região muda também muito ao longo do ano.

Por exemplo estas plantas que bordejavam o caminho para a Prainha em Alvor que mostrei  aqui


de que mostro agora vista mais detalhada


e o mesmo conjunto visto doutro ângulo que mostrei aqui


e que também detalho a seguir



tinham desaparecido completamente deste caminho de acesso à praia no Verão de 2021.

Ou quase desaparecido:, vendo-se parte da folhagem ainda verde e outra já amarelada


ou nesta com um espigão a sair do mesmo sítio onde estava outra destas plantas ainda toda verde


de que mostro o detalhe



Um pouco mais adiante neste caminho, numa arriba adjacente à praia estava este conjunto de vegetação


de que destaco uma faixa horizontal  com maior definição



de onde chamo a atenção para vários segmentos

No primeiro segmento que está na parte mais à esquerda vê-se um espigão com flores ou frutos incompletamente desenvolvidos

no seguinte, a meio da faixa com flores/frutos mais desenvolvidos do lado esquerdo e já caídos no espigão do lado direito
 

e finalmente as inflorescências/infrutescências também depois de maduras na extrema direita
 

 

Trata-se assim duma planta de ciclo anual que morre logo após produzir as sementes que darão lugar às gerações vindouras.

Fez-me lembrar a Agave, que tem sido revisitada em variados posts deste blogue em que após 10 ou 15 anos a parte central da  planta dá origem a uma estaca (dir-se-á caule, esporão, espigão?) com uns 3 metros de altura onde surgem flores e frutos e depois a planta morre.

Depois pensei que existem imensas plantas que morrem logo a seguir à reprodução, concluindo após algum tempo que o que me surpreendeu mais foi a erupção da estaca duma planta que aparentemente não se organizava à volta duma estaca potencial.

Em climas com muito pouca chuva no Verão se a planta tem dificuldade em sobreviver nessas condições, o que não acontece com a agave, favorece a sobrevivência da espécie gerar anualmente sementes para germinar mais tarde quando as condições são adequadas para essa planta.

No caso da agave é possivel que as condições boas para a germinação de sementes não ocorram todos os anos pelo que a eclosão da estaca tem períodos maiores do que um ano.


Tudo isto são conjecturas frágeis dum observador curioso com formação botânica restrita ao que davam no liceu.

No então 2º ciclo (equivalente aos 7º,8º e 9º anos) era fácil recordar que o nome da autora era “Seomara da Costa Primo”.

Vi agora na Wikipédia que foi a primeira mulher a doutorar-se em Ciências em Portugal, no ano de 1942.

E que as aguarelas e desenhos do livro, cuja capa mostro ao lado, são de sua autoria





Adenda: 

Parafraseando o Mark Twain, a notícia da morte desta planta revelou-se  manifestamente exagerada:

Segundo me informou o Paulo Araújo do blogue "Dias com Árvores":
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Essa planta é a Ferula communis, popularmente conhecida como canafrecha - veja mais fotos e informação sobre ela no Flora-On. Como se vê pelo mapa de distribuição, não é uma planta rara. E, tal como sucede com muitas outras plantas (por exemplo com o funcho, que pertence à mesma família), esta planta não morre depois de dar frutos e de a haste secar. A parte subterrânea (neste caso um rizoma) permanece viva, e também pode manter-se uma roseta de folhas à superfície. Quando regressa a época favorável, a planta lança nova haste e o ciclo repete-se.
 
A Agave americana é também uma planta com rizoma, mas um rizoma que, à medida que se vai espalhando, vai fazendo brotar novas rosetas que parecem plantas independentes. Quando uma roseta dá flor e depois frutifica (processo que pode levar muitos anos), é apenas essa parte da planta que morre, porque entretanto a sua continuidade no local (ou nas proximidades) já está mais do que assegurada. Nos lugares onde a Agave é invasora (Canárias, Madeira & Porto Santo, Algarve e algumas ilhas dos Açores, sobretudo Santa Maria), o problema é essa reprodução vegetativa e não tanto por semente.
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