2021-10-27

Entrevista a Thomas Phillippon sobre Portugal no Expresso

 

Na edição de 23 de Outubro do jornal Expresso vem uma entrevista ao economista Thomas Phillipon, professor da Stern School of Business, da New York University, conduzida pela Sónia M.Lourenço que faz uma introdução seguida de várias perguntas e respostas de que destaco as que coloquei a cor-de-laranja:

A Europa “aprendeu” com a crise das dívidas soberanas “e não me parece que volte a acontecer”, diz Thomas Philippon. Nas vésperas de participar na conferência da Fundação Francisco Manuel dos Santos onde será apresentado o estudo “Do made in ao created in, um novo paradigma para a economia portuguesa”, o economista francês defende que as regras euro­peias para as finanças públicas devem ser revistas e que “o sucesso de Portugal na educação vai traduzir-se em crescimento mais elevado nos próximos 20 anos”.

Criar valor numa economia global é o tema da sua intervenção na conferência da Fundação Francisco Manuel dos Santos [FFMS]. Quais são as lições?

A conclusão é muito evidente: o único preditor robusto sobre se um país cresce rapidamente é a educação da população. Também é preciso olhar para o investimento das empresas, mas é menos importante. Isto tem uma forte conexão com Portugal. A primeira vez que olhei para os dados sobre a economia portuguesa, no início dos anos 2000, era óbvio que a grande diferença entre Portugal e o resto da Europa era a educação, onde Portugal estava muito mais atrás.

Portugal evoluiu muito nessa área?

É uma história de sucesso impressio­nante. É isso que está a transformar a economia portuguesa. As pessoas queixam-se de que as reformas não funcionam, mas este é um exemplo em que o problema foi identificado, foram tomadas decisões políticas e 20 anos depois é um grande sucesso.

Mas não devíamos esperar um crescimento mais forte, dado o enorme salto nas qualificações?

A estagnação nos anos 2000 foi antes do grande impulso na educação. Depois, a crise da dívida foi um desastre para o Sul da Europa. Mas nos anos recentes vimos mais convergência. A velocidade absoluta a que a economia se expande depende da China, dos Estados Unidos e do resto da Europa. Mas a velocidade relativa depende de Portugal, e aí vemos convergência. E acho que vai acontecer cada vez mais no futuro. O sucesso de Portugal na educação vai traduzir-se em crescimento mais elevado nos próximos 20 anos. Também tem tido muito sucesso na Europa na política de concorrência, onde tem feito muito melhor do que os Estados Unidos.

O estudo da FFMS diz que Portugal precisa de um modelo de crescimento baseado no conhecimento e na inovação. Como é que isto se faz?

No passado tivemos muita competição fiscal entre países. Se olharmos para o sucesso da Irlanda, foi um fator central. Isso vai ser relativamente menos importante. A tendência é contra esta ideia de que os países podem competir com os seus vizinhos fazendo dumping fiscal. Ainda vai ser importante ter impostos baixos, mas baixos não será zero. O mais importante para as empresas será ter trabalhadores qualificados, porque o ritmo da inovação tecnológica não vai abrandar. A tendência é na boa direção e a base será educação, ter mercados livres e concorrenciais e alguns investimentos estratégicos ao nível da UE, que estão a ser feitos na direção certa.

Porque é que os ‘novos’ países da UE têm crescido muito mais do que os ‘velhos’?

Eram pobres, educados e contaram com o efeito alemão, porque as redes de fornecimentos na Europa Central estão muito bem integradas. Convergir era relativamente simples.

O euro tem sido um constrangimento ao crescimento dos países da Europa Ocidental e do Sul?

Não creio. Se olharmos para países que tiveram problemas em crescer, como a Itália, ou Portugal no início dos anos 2000, a questão era a produtividade. E por trás disso estava a falta de investimento na educação, de bons gestores e de inovação. O euro teve mais a ver com o controlo da inflação e com finanças públicas estáveis, tendo como benefício políticas mais sustentáveis. Claro, há a crise da zona euro, que foi muito negativa. Mas não é uma questão crítica para o crescimento a longo prazo.

Ninguém vai regressar a uma dívida de 60% do PIB à velocidade prevista nas regras, porque seria estúpido

Quais são os pontos fortes e fracos da economia portuguesa?

O principal ponto forte passa pelos avanços na educação, que refletem o consenso político sobre esta questão. Outro sinal mais é que hoje as pessoas veem Portugal como um local muito estável, uma democracia que fun­ciona bem. Extremismos e populismo quase não se veem. O sinal menos tem a ver com a localização. As novas tecnologias tornam as distâncias menos importantes. O problema é que o crescimento efetivo das regiões ainda é muito desigual e concentrado em algumas localizações. Isto sugere que há retornos muito fortes por estar em zonas centrais. É uma contradição e não sabemos para que lado vai pender. Se este tipo de efeito de aglomeração sobre o crescimento for determinante, é preciso garantir boas conexões com o centro da Europa.

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O resto da entrevista poderá ser lido aqui.

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