2021-02-28

Combóios


Recebi há uns dias um filme mostrando um combóio chinês de mercadorias compridíssimo, puxado por 4 locomotivas e com mais de 100 vagões transportando contentores. Andei à procura do filme na internet mas sem sucesso. Por outro lado encontrei este 

  

de 25/Nov/1014 sobre o “caminho de ferro mais longo”, um combóio que liga Yixinou ou Yiwu (uma cidade localizada 300km a sul de Xangai na província de Zhejiang) a Madrid em Espanha, alegadamente com 82 vagões e puxado por apenas uma locomotiva, numa viagem de cerca de 13.000 km que faz em 21 dias, enquanto o trajecto Moscovo-Vladivostok tem apenas 9.200km.

Dado que o combóio das 4 locomotivas era mostrado num troço em espiral, é possível que precisasse de mais locomotivas para vencer o desnível desse troço específico.

Transportar mercadorias de barco, de avião ou de combóio depende do que os clientes estão dispostos a pagar e do prazo de entrega desejado. De uma forma geral o avião é o mais rápido e com o preço mais alto por kg, o barco é o mais lento e com o preço mais baixo por kg e o combóio está entre os dois limites, quer de prazo de entrega quer de preço por kg.

Constatei entretanto que os meus conhecimentos geográficos eram bastante vagos na área da antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) que eu confundia com o império russo, sendo incapaz de localizar com exactidão a maior parte dos países que ficaram independentes após o colapso da URSS. Fiz um post sobre este assunto.

Acompanhando o filme com as 4 locomotivas vinha um pequeno texto referindo que a viagem de Xangai a Londres passava por esta sequência de países: Cazaquistão, Rússia, Bielorrússia, Polónia, Alemanha, Bélgica e França. A minha ignorância ia ao ponto de pensar que seria necessário ir apanhar o transiberiano ao porto russo de Vladivostok. O mapa seguinte da entrada “Trans-Eurasia Logistics” da Wikipédia

mostra as 3 vias férreas mais comuns para o trânsito de mercadorias entre a China e a Europa. 

A mais directa passa pelo Cazaquistão, único país que é necessário atravessar até chegar a Petropavlovsk, ainda no Casaquistão mas “apenas” a uns 2.400 km (por estrada) para chegar a Moscovo. Petropavlovsk está a cerca de 60km da fronteira com a Rússia e a 630km da cidade de Yekaterinburg, cidade importante com cerca de 1,4 milhões de habitantes cujo nome é a forma russa de Catarina I, mulher do Czar Pedro o Grande. Obtive estas distâncias por estrada pedindo direcções na aplicação Google Maps que contém abundantes vistas de rua (Street View) na Rússia, sendo muito raras em Almaty e Astana (respectivamente antiga e actual capital do Cazaquistão) e inexistente em Petropavlovsk, uma povoação pequena.

Tive curiosidade em ver as estradas indicadas na Rússia para ir para Yekaterinburg e mostro a vista de rua no Google Maps da estrada P354 tomada em 56º32’17.82”N 61º24’00.06”E, quando passa por baixo de algumas linhas de MAT (Muito Alta Tensão) 


Depois tirei vistas de rua da mesma estrada nestas coordenadas 56º18’39.75”N 62º33’01.17”E, precisamente numa passagem elevada sobre uma linha de caminho de ferro

 mostrando a seguir a linha férrea

que presumo ser a usada pelos combóios chineses, que se constata ser uma via dupla electrificada neste troço.

Sobre combóios de passageiros na Ásia Central (e noutras zonas) encontrei este sítio onde vi este mapa 

Entretive-me a marcar com uma linha verde no Google Earth o caminho que um combóio chinês percorre entre Urumqi e Hamburgo, além do troço de círculo máximo entre Yiwu (referida no início deste post) e Madrid

Constata-se que o círculo máximo entre Yiwu e Madrid (10353km) passa pela Mongólia mas só por acaso seria economicamente interessante construir uma linha seguindo esse traçado. Constata-se que o trajecto nos territórios russo e bielorusso seguem de forma aproximada o círculo máximo. A via pelo Xinjiang maximiza a parte do trajecto percorrida em território chinês. 

A cidade de Urumqi com 3,5 milhões de habitantes é a capital da região autónoma Xinjiang (que em português era antigamente designada por Sinquião, conforme consta no meu globo terrestre de 1976) , região com 25 milhões de habitantes dos quais 45% pertenciam à etnia Uigur e 40% à etnia Han no censo de 2010. Além do mandarim a língua Uigur também é um idioma oficial.

Passei por um artigo de investigação sobre como optimizar a logística do transporte de vários locais da China para vários locais da Europa e visitei “Rail Transport” da Wikipedia de onde tirei este mapa 

que resume a densidade de linhas de caminho de ferro em todo mundo

constatando-se que o império britânico não conseguiu realizar a ligação por linha férrea do Cabo ao Cairo.

Depois fui verificar as bitolas existentes em todo o mundo e existem mesmo muitas, conforme se constata neste mapa 

onde se vê contudo que de Yiwu a Madrid será necessário mudar “apenas” em 3 fronteiras: 

- China-Cazaquistão

- Bielorússia-Polónia

- França-Espanha 

 

 

2021-02-26

Colapso da URSS, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

 

Tenho visto ultimamente alguns documentários sobre combóios e constatei entretanto que os meus conhecimentos geográficos eram bastante vagos na área da antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) que eu confundia com o império russo, sendo incapaz de localizar com exactidão a maior parte dos países que ficaram independentes após o colapso da URSS em 1991. Retirei dum artigo da Wikipédia sobre os Estados pós-soviéticos o mapa que mostro a seguir

Repúblicas da União Soviética, resultantes da cisão de 1991: 1 Arménia, 2 Azerbeijão, 3 Bielorússia, 4 Estónia, 5 Geórgia, 6 Cazaquistão, 7 Quirguistão, 8 Letónia, 9 Lituânia, 10 Moldávia, 11 Rússia, 12 Tajiquistão, 13 Turcomenistão, 14 Ucrânia, 15 Uzbequistão 


Conhecendo bem a localização dos 3 Estados bálticos Estónia. Letónia e Lituânia, dos 3 países mais a oeste, a Bielorrússia, a Ucrânia e a Moldávia e das 3 repúblicas do Cáucaso, a Geórgia, a Arménia e o Azerbeijão, não fazia ideia da posição relativa das repúblicas da União Soviética na região da Ásia Central, o Casaquistão, o Turcomenistão, o Uzbequistão, o Tajiquistão e o Quirguistão.

Tinha facilidade em designar o Casaquistão por ser o que tem muito maior área e sabia que o Uzbequistão tinha fronteira com o Afganistão, mas pouco mais. Ainda sobre a Ásia Central tirei este mapa da Wikipédia que mostra a região com mais detalhe e ainda as 3 repúblicas do Cáucaso.

A seda chinesa já chegava à Europa em pequenas quantidades no tempo do Império Romano pelo que é natural que ao longo dos séculos a Rota da Seda tenha passado por diferentes traçados e tenham sido usadas vias inteiramente terrestres ou misturas de troços terrestres e marítimos, como refere por exemplo a Khan Academy.

 As vias exclusivamente terrestres tendiam a passar pelo Sul do mar Cáspio designadamente por Samarcanda, nome de cidade que fixei como sítio exótico embora não me lembre porquê, no Uzbequistão.

Num globo das Selecções do Reader’s Digest que comprei provavelmente nos finais dos anos 70, que verifiquei agora ter “© 1976 Scan-Globe Danmark”, que constatei na internet ser um “Vintage”, tinha demarcadas as várias Repúblicas que constituíam a URSS mas, quando iluminadas por lâmpada interior do globo, tinham todas a mesma côr (à semelhança do Brasil e também da Alemanha, dividida entre a República Federal e a Alemanha de Leste) enquanto os Estados dos E.U.A. tinham direito a cores diferentes.

 De vez em quando ouço falar de várias regiões da Rússia que julgo ter actualmente a estrutura de uma Federação. Essas regiões são mostradas neste mapa a seguir, intitulado “Federal Subjects of Russia”

e alguns dos nomes são-me familiares. Desconheço o grau de burocracia que ocorre quando o combóio Transiberiano muda de uma região para outra. De S.Petersburgo para Moscovo vai-se directo num TGV, passando por vários Oblasts sem se dar por isso mas talvez na Sibéria seja mais complicado. 

 

2021-02-12

Aumentar a testagem?

 

Fui ver o sítio do Worldometers sobre o COVID-19 ontem por volta das 9 da noite.

O número total de óbitos por milhão de habitantes em Portugal, aumentou bastante nos meses de Novembro e Dezembro de 2020 mas sobretudo de forma catastrófica durante o mês de Janeiro/2021.

Sabe-se que o abrandamento do confinamento no Natal e as  muitas reuniões familiares da época, a disseminação da variante inglesa do vírus, o recomeço de todas as aulas de forma presencial e a onda de frio terão concorrido para esta terceira vaga de dimensão assustadora. O governo terá provavelmente falhado nalgum ou em vários aspectos do controlo da pandemia mas não está completamente determinado o que falhou para termos uma agravamento destas proporções.

Ouvi demasiadas vezes que o SNS (Serviço Nacional de Saúde) estava próximo do limite quando para mim era evidente que o limite de funcionamento já tinha sido ultrapassado e que o sistema esteve durante muito tempo a funcionar em sobrecarga.

Parece-me razoável que se definam parâmetros para confinar quando um conjunto de valores pré-determinados atinjam um determinado limiar, para evitar que o SNS volte a entrar em sobrecarga. O facto de um eventual critério não ter sido publicado não quer dizer que ainda não exista. Seria bom que existisse.

Ordenei a tabela de países e territórios por ordem decrescente do número de mortes por milhão de habitantes, retirei países e territórios com população inferior a 1 milhão e obtive a lista que mostro na tabela abaixo. Dos quase 200 países Portugal ocupa o 7º lugar em maior número de mortes por milhão de habitantes e ao ritmo actual de mais de 100 mortes diárias é provável que a nossa posição ainda piore.

# Country, Deaths/
Other 1M pop
1 Belgium 1,851
2 Slovenia 1,769
3 UK 1,696
4 Czechia 1,658
5 Italy 1,535
6 Bosnia and Herzegovina 1,489
7 Portugal 1,462
10 USA 1,458
11 North Macedonia 1,424
12 Hungary 1,394
13 Montenegro 1,384
14 Bulgaria 1,378
15 Spain 1,373

Ordenei a mesma tabela  por ordem decrescente do número de testes por milhão de habitantes, retirando também países e territórios com população inferior a 1 milhão  e obtive a lista que mostro na tabela abaixo. Dos quase 200 países Portugal está em décimo primeiro lugar. Não pondo em causa que será melhor testar mais do que menos, não compreendo como estando o país numa boa posição neste parâmetro porque é que aumentar o número de testes poderá ser de tão grande importância como agora é voz corrente.

#

Country,

Tests/

Other

1M pop

1

UAE

2,765,857

2

Denmark

2,549,117

3

Bahrain

1,638,625

4

Israel

1,226,674

5

UK

1,178,587

6

Singapore

1,156,723

7

Cyprus

1,142,658

8

USA

991,094

9

Hong Kong

940,992

10

Spain

765,140

11

Portugal

756,227

12

Belgium

751,168

13

Lithuania

740,305

14

France

726,206

15

Russia

723,422

16

Latvia

685,446

17

Ireland

657,561

18

Norway

654,017

19

Czechia

626,747

Talvez a nossa velocidade de comunicação do teste deixe a desejar e existe a sensação que o rastreio é muito insuficiente.

 Vou parar por aqui este exercício de achismo.


2021-02-06

Fé Bahá


Numa volta um pouco mais extensa do que o percurso diário habitual pelo bairro dos Olivais passei por esta vivenda na Rua Cidade de Nova Lisboa, tendo desta vez reparado melhor no anúncio do bicentenário do BÁB e sobretudo no lindo medalhão geométrico, de simetria central assimilável a uma estrela de 9 pontas. 

 




Desta vez li uns tantos avisos numa vitrine e entre eles estava uma citação de um texto de Eça de Queiroz em “A Correspondência de Fradique Mendes” em que se referia o desenvolvimento duma nova religião chamada Babismo.

Fui reler o livro do Eça de Queiroz que tem quatro páginas dedicada a esta nova religião tendo assim sido o meu primeiro contacto sobre a respectiva existência mas que entretanto esquecera. Apresento o texto no post anterior a este.

Já sabia que esta vivenda era um centro da Fé Bahá, uma religião de cuja existência eu julgara ter tomado conhecimento pela primeira vez quando vi esta imagem de um templo em forma de flor de Lótus, cujas formas me lembraram  a lindíssima Ópera de Sydney que vira também em fotografias, o que me levou a visitá-lo em 2/Maio/1993 em New Delhi na Índia e donde trouxe este postal ilustrado, na altura as máquinas fotográficas usavam rolos e tinha esgotado o meu stock.


Na altura tomei nota que se tratava de uma nova religião que surgira na Pérsia, na segunda metade do século XIX, sendo uma espécie de “sequela” das “religiões do livro”, primeiro o Judaísmo, depois o Cristianismo, a seguir o Islamismo e agora a Fé Bahá.

À entrada do recinto era necessário deixar os sapatos, como nas mesquitas e nos templos indus, dentro do recinto além da expectável multidão de indianos estavam também uns australianos vestidos de branco que iam encaminhando os visitantes. Dentro do templo amplo e luminoso não existiam estátuas, nem imagens, nem altar e existiam bancos (com espaldar) corridos de madeira para os visitantes se sentarem.

Vi agora que o arquitecto foi Fariborz Shahba, um iraniano que se licenciou em Teerão, viveu no Canadá e que agora reside na Califórnia. Desenhou também os terraços Bahá em Haifa, Israel,



onde se encontra o túmulo do Bab(1819-1850), um profeta precursor desta religião, com um papel análogo ao de S.João Baptista no Cristianismo anunciando em 1844 a vinda futura de um Prometido e que acabou os seus dias condenado à morte e fuzilado em Tabriz.

O Prometido foi Bahá'u'lláh (1817-1892) que nasceu em Teerão, em que esteve preso 4 meses tendo sido desterrado para o império Otomano (maioritariamente sunita) em 1853. Aí viveu em Bagdade(1853-1863), Constantinopla(parte de 1863), Adrianópolis(1863-1868) e Acre e Haifa(1868-1892) em que faleceu.

Tendo chegado a Haifa em 1868 constata-se que antecedeu a criação por Theodore Herzl da Organização Sionista Mundial em 1897.

Retirei boa parte destas informações do sítio do Povo de Bahá e outras da Wikipédia.

Quando revisitei Delhi em 2001, desta vez com a minha mulher, fomos visitar o templo onde tirei esta foto


 que dá uma ideia melhor das multidões visitantes.

Na procura na internet de imagens do poster que mostrei acima fui dar a este sítio onde vi que o autor foi Joe Paczkowski um artista gráfico que dedica bastante tempo a criar “estrelas com uma simetria com 9 pontas“, um número pouco habitual mas muito apreciado na arquitectura dos templos Bahá.

Vi ainda este projecto de um novo templo Bahá em Bihar Sharif de que mostro uma maquete virtual


Tomei conhecimento do fornecimento em 2011 pela firma portuguesa Porcel, das telhas douradas que substituíram as existentes na cúpula do santuário do BAB em Haifa mostrado em imagem acima. Foram projectadas para durar pelo menos 200 anos, incorporando 26kg de ouro puro,  sendo objecto duma reportagem da RTP disponível aqui.




O Babismo em "A Correspondência de Fradique Mendes"

 

Digitalizei 5 páginas da do livro "A Correspondência de Fradique Mendes", numa edição «Livros do Brasil» da coleçção "Obras de Eça de Queiroz" com fixação do texto e notas de Helena Cidade Moura. 

Desfoquei as partes inicial e final para que o texto se restringisse ao que se refere ao Babismo e às fantasias de Eça de Queiroz de ser apóstolo duma religião recém-nascida. Fradique Mendes é uma personagem inventada por Eça, uma espécie de pseudónimo com quem pode contracenar.

Este texto algo longo aparece aqui como apoio do post posterior sobre a fé Bahá, em que o refiro.