2023-11-27

Custe o que Custar


"Custe o que custar" é uma expressão idiomática em português, com equivalentes noutras línguas, adequada para pequenos problemas e para alguns grandes, como por exemplo o famoso “We will do Whatever it takes to save the Euro” de Mario Draghi.

Contudo, na maior parte dos problemas com alguma dimensão, é uma receita para incorrer em custos excessivos de natureza diversa, designadamente económicos, sociais, ambientais, de saúde, etc.

 


Como engenheiro ouvi vezes sem conta que os engenheiros têm tendência para desprezar os custos e ocorre-me dizer, citando um amigo arquitecto, que em todas as profissões existem bons e maus profissionais, na maior parte dos casos a minimização do custo de uma acção de engenharia ou de qualquer outra profissão é uma actividade essencial e cuidadosamente levada em conta, embora a ausência explícita de restrições seja uma tentação para aparecerem exageros.

Como exemplo de edifício em que alegadamente não se definiram limites de preço mostro “Hongkong and Shanghai Banking Corporation Headquarters” numa foto que tirei em Hongkong em1990 que já mostrei no post “A Revolução Cultural na China (1966-1976)”.

Foi projectado pelo gabinete de Norman Foster, construído de 1983 a 1985, é um edifício notável que aprecio, tendo sido na altura o mais caro edifício de todo o mundo, consequência bastante influenciada pela ausência de restrições orçamentais.

Ouvi o arquitecto argumentar numa entrevista que os projectos do seu gabinete não eram sempre caros, aquele edifício de Hongkong tinha características específicas, dando como contra-exemplo o metropolitano de Bilbau, também projectado pelo seu gabinete e que tinha tido soluções muito económicas, reforçando assim a minha convicção que a ausência de restrições favorece excessos.

 

Como segundo exemplo de ausência de restrições escolho o recente caso do Processo Influencer que causou a demissão do primeiro-ministro António Costa em 7/Nov/2023, ao ser revelado no sítio do Ministério Público (Comunicados) em Nota para a comunicação social – Inquérito DCIAP (de 07-11-2023) no último parágrafo que
«
No decurso das investigações surgiu, além do mais, o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do Primeiro-Ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos no contexto suprarreferido. Tais referências serão autonomamente analisadas no âmbito de inquérito instaurado no Supremo Tribunal de Justiça, por ser esse o foro competente.
»

É frequente que na presença de críticas à actuação de agentes de qualquer instituição surjam os argumentos seguintes:
1) que não havia alternativa válida ao tipo de actuação do agente, e na ausência deste tipo de actuação o agente ficava impedido de realizar a sua missão;
2) que eventuais efeitos colaterais da sua actuação não eram da sua responsabilidade.

Na ausência de explicações públicas da Procuradora-Geral da República socorri-me das declarações de Manuel Soares, presidente da Associação Sindical dos Juízes, no programa Grande Entrevista da RTP conduzido por Vítor Gonçalves no Episódio 46 de 22/Nov/2023:

- quanto ao ponto 1) argumentou que os magistrados do Ministério Público (MP) não podiam manter o segredo  sobre a existência de uma investigação criminal ao PM (Primeiro-Ministro) por questões de obrigações processuais (o PM fora referido no processo) e de transparência, a fim de evitar serem acusados de favorecimento do PM.
As “obrigações processuais” consistiriam na necessidade de emitir uma certidão de que iriam investigar o PM no Processo Influencer, pois pretendiam incluir a investigação do PM neste processo em vez de desencadear um processo autónomo. A presença dessa certidão no processo levaria a que, ao este ser consultado pelos advogados dos arguidos estes tomassem conhecimento da existência da investigação ao PM, resultando perigo de que esta informação fosse divulgada e o Ministério Público fosse acusado de falta de transparência.

Resumindo, quando num processo de averiguações algum dos suspeitos refira o PM, o MP teria que investigar o PM e sempre que investigasse o PM teria que o comunicar ao público em geral.

- passando ao ponto 2) argumenta-se que o PM se demitiu por sua iniciativa e que era possível continuar em funções, não sendo assim o MP responsável pela demissão do PM.

Na opinião publicada, perante o comunicado da procuradoria, a esmagadora maioria dividia-se apenas entre os que diziam que o PM fez bem em apresentar a demissão e os que diziam que não lhe restava outra alternativa. Havia uma muito pequena minoria alegando que perante o comunicado poderia não se demitir (MP e próximos) e praticamente ninguém dizendo que devia permanecer no cargo.

Assim, não me ficaram dúvidas que o MP foi irresponsável ao alegadamente ignorar a quase fatalidade da demissão do PM perante o comunicado emitido. Espero que no futuro eventuais investigações ao PM sejam mantidas em segredo até parecer indispensável interrogá-lo, o que deverá corresponder provavelmente a indícios tão fortes que correspondam à sua constituição como arguido.

Lamento ter que fazer estas considerações baseado na entrevista do juiz Manuel Soares em vez de em declarações da Procuradora-Geral da República. Admito que a Procuradora não se dê bem com entrevistas mas, perante a perturbação nas instituições causada por esta actuação do MP, tinha a obrigação de publicar uma nota explicativa.

 

2023-11-16

Entrevista de Dominique de Villepin sobre a Guerra de Gaza

 

Passei por esta entrevista feita a Dominique de Villepin,  que entre outros cargos foi primeiro-ministro de França de Maio/2005 a Março/2007 e Ministro dos Negócios Estrangeiros de Maio/2002 a Mar/2004.

A entrevista em francês dura 20 minutos. Existe uma transcrição em inglês aqui.

Gostei do diálogo vivo entre ele e a entrevistadora, dizendo de forma eloquente o que tenho vindo a pensar sobre este tema:

- que o ataque do Hamas a Israel em 7/Out/2023 foi um acto terrorista horrendo sem justificação;

- que Israel tem direito a defender-se e a evitar novos actos terroristas;

- que a intervenção de Israel em Gaza até hoje, 16/Nov/2023, já há muito tempo que ultrapassou tudo o que seria razoável deixando de ser legítima;

- que a guerra pode ser inevitável mas a Segurança só se obtém com soluções Justas.

 

Em 14/Fev/2003 Villepin fez uma intervenção no Conselho de Segurança da ONU defendendo que, de acordo com as informações prestadas por Hans Blix e ElBaradei, as inspecções realizadas no Iraque e acções correctivas estavam a progredir de forma satisfatória, não estando ainda esgotadas as possibilidades de melhoria da situação nesse país, pelo que seria prematura uma acção militar. 

Na Wikipédia tem uma entrada sobre "United Nations Security Council and the Iraq War", iniciada em Março de 2003 pelos EUA e outros países sem aprovação da ONU.



2023-11-13

Proporções de Navios de Cruzeiros

 

Noutro dia vi um destes navios de cruzeiros a cerca de 1km da Praia da Rocha e interroguei-me sobre quanto seria o calado do navio.

Encaminharam-me para este exemplo de um barco de cruzeiros na Wikipédia com características exteriores parecidas aos grandes barcos deste tipo e constatei que o calado (draught em inglês) era 9,3m.

Depois procurei um diagrama na net de um barco deste tipo e encontrei este

tracei então umas rectas vermelhas no desenho e fazendo regras de 3 simples constatei que, sendo o calado parecido com os 9,3m do navio referido na Wikipédia de que falei anteriormente, a altura acima da linha de água deste barco, não contando com a chaminé, andará pelos 43m. A parte do convés até ao topo dos 8 andares visíveis andará pelos 25m, o que é consistente com os 3m de altura de um andar.

 

Nota-se que embora gigante o barco é muito oco.




2023-11-10

Falta de Água em Gaza


Começo por avisar que ao contrário do que tenho lido frequentemente que, “já ninguém se lembra” dos massacres de civis Israelitas perpetrados pelo Hamas da faixa de Gaza nos povoados vizinhos causando mais de 1400 mortes, torturando e feito entre duas e três centenas de reféns, eu lembro-me perfeitamente desses actos de terror sem qualquer justificação possível.

Não deixo contudo de me lembrar que após o 7/Out Israel cortou também todos os abastecimentos à faixa de Gaza, incluindo os que não passavam por Israel pois poderiam vir através da fronteira dessa faixa com o Egipto. Este cerco, envolvendo 2,2 ou 2,3 milhões de habitantes só por si tem agravado a falta de alimentos, de água potável, de cuidados médicos, de electricidade e de combustível na faixa de Gaza.

De vez em quando vejo uns vídeos em que se interrogam porque será que Israel teria a obrigação de fornecer alguma água a Gaza, justificando assim o fecho das condutas de água existentes entre Israel e a faixa de Gaza.

Notei também que segundo o presidente Biden, nesta notícia da Reuters de 21/Out/2023,  os EUA estão empenhados em assegurar que os civis de Gaza continuem a ter acesso a comida, água e cuidados médicos, evitando que estes recursos sejam usados pelo Hamas, empenhamento desnecessário caso Israel já se tivesse empenhado nesta tarefa.

Fui então verificar porque existe falta de água em Gaza, consultando a CNN e uma organização islâmica.

Em Gaza não existe um sistema unificado de tratamento e distribuição canalizada de água sendo o abastecimento feito através de furos que retiram água do lençol freático, através de 3 centrais dessalinizadoras que em funcionamento cobrem 10% do consumo e de importação da companhia de água israelita Mekorot quando existe falta.

Sem electricidade as bombas dos furos não devem funcionar, mesmo que se recorra a pequenos geradores eléctricos estes precisam de fuel assim como as dessalinizadoras que não o têm.

Portanto, o bloqueio de fuel a Gaza, alegadamente inevitável pois poderia ser usado para a produção de mais mísseis, tem como consequência a falta de água.

Antigamente não havia fuel nem electricidade e as pessoas viviam, mas na faixa de Gaza não habitavam de certeza mais de dois milhões de pessoas. No auge de Roma viviam na cidade um milhão mas existia o rio Tibre e uns tantos aquedutos.

No artigo da organização islâmica que referi acima sobre a água em Gaza dizem que em muitos prédios existe um furo(poço) na cave e um depósito de água no topo, para que a água não falte quando falta a electricidade pois nessa altura as bombas de água dos furos deixam de funcionar.

Antes desta guerra em Gaza apenas havia electricidade durante 4 horas por dia, por cortes rotativos de várias zonas da cidade. Em Portugal os ultimos cortes rotativos de electricidade de que me lembro ocorreram em 1975 quando após uma seca prolongada no país, na central do Carregado aumentou o número de avarias, devido a estar a funcionar durante muito mais horas do que era habitual.

Nos prédios em que vivi em Lisboa, desde 1959, não existia nenhum depósito de água no topo do prédio. Já na Praia da Rocha conheci a existência de depósitos desse tipo, que eram cheios regulados por um mecanismo semelhante ao dos autoclismos e que quando faltava a água da rede podiam continuar a fornecer água durante algum tempo, mantendo um funcionamento mais regular das casas quando a duração da falta de água da rede não era muito demorada. Estes dispositivos introduzem riscos na qualidade da água pelo que são abandonados quando a rede é eficaz.

Quando passei por Nova Iorque em Outubro/2003 reparei que no topo dos prédios mais antigos, até talvez uns 15 andares, existiam depósitos de água metálicos cilíndricos, encimados por um cone, um depósito por cada prédio. Talvez já não sejam usados mas testemunham que anos atrás eram bastante comuns, como se constata nas duas fotos seguintes tiradas em Manhattan com poucos minutos de intervalo.

 


 

Os prédios mais modernos de Nova Iorque já não têm estes depósitos.

Noutra altura em Chennai em 2012 fotografei a cidade a partir do terraço do hotel Raintree que referi aqui e aqui


e a seguir o detalhe dos depósitos de água
 


Nota-se que os depósitos de forma esférica foram abandonados, predominando agora os de forma cilíndrica. Além disso, em vez de existir apenas um depósito por prédio existirá provavelmente  um depósito por apartamento, dado que são tantos.

Com o dinheiro gasto pelo Hamas em rockets e em túneis seria certamente possível ter um sistema de abastecimento de água muito melhor do que o actual bem como um sistema eléctrico a funcionar normalmente.

A aposta do Hamas na via da guerra teve como consequência más condições de vida para os habitantes de Gaza mesmo antes do ataque terrorista a Israel em 7/Out/2023.

A resposta de Israel a esse ataque terrorista, se bem que de início plenamente justificada como legítima defesa, tem vindo a assumir com o passar do tempo proporções cada vez mais inaceitáveis perante a dimensão da catástrofe humanitária na faixa de Gaza causada pelos bombardeamentos constantes, responsáveis por um número imenso de civis feridos, estropiados e mortos, que ultrapassam em muito a antiga lei de Hamurabi, para nem falar das muito mais recentes convenções de Genebra.

 

2023-11-06

Unchained Melody by The Righteous Brothers and others

 

Enviaram-me por email um filminho com uma canção muito conhecida, muito bem interpretada por uma pessoa com 71 anos. Um elemento do júri referiu Elvis Presley como tendo interpretado essa canção mas eu não me lembrava do título da mesma.

Googlei as primeiras palavras da canção (Oh my love, my darling) e apareceram logo várias interpretações do Elvis desta canção chamada "Unchained Melody". 

Depois ainda ouvi outro Youtube que tem a maioritariamente considerada como melhor interpretação desta canção, pelos Righteous Brothers, em 1955:

 

Um bocado melada mas era um "slow" muito popular nas discotecas para variar um bocado das músicas yé-yé dos anos sessenta.

Na altura não havia "playlists" gravava-se a partir de discos emprestados ou de programas da rádio, fui à procura dos índices das minhas bobines de gravação, do Grundig TK340 que referi neste post, e lá descobri esta música, na posição 310 da pista 4 do contador de voltas de uma das bobines de fita magnética

 


na interpretação dos RIGHTEOUS BROTHERS.

Entretanto descobri que o filminho que me enviaram é a interpretação de "UNCHAINED MElODY" por René Bishop no programa "The Voice Of Holland SENIOR 2018" que poderão ver aqui:

 


2023-10-28

Resolução da Assembleia Geral da ONU sobre Trégua Humanitária em Gaza

 

Não resisiti a pintar um quadro da Europa e sua vizinhança em que cada país foi pintado com o código de côr do quadro, verde - a favor, amarelo - abstenção, vermelho - contra a resolução.

 



Acho que o quadro permite que uma pessoa se aperceba melhor das posições dos diversos países e confesso que desde criança sempre gostei de livros de colorir e de colorir mapas "políticos".

Nos países mais populosos fora da Europa, votaram a favor a China e o Brasil, a Índia absteve-se e os Estados Unidos da América votaram contra.

 

 

Obtive esta informação no sítio da Al Jazeera, devem ter obtido este quadro resumo da votação

 

  

neste sítio da ONU onde está um vídeo com a sessão da votação.


2023-10-25

Guterres, o Google , o ChatGPT, a Pitonisa de Delfos e um amigo

 

Na sequência do post anterior sobre a intervenção de Guterres no Conselho de Segurança da ONU e da resposta que o Google deu a uma pergunta que fiz:

«

How many UN rules has Israel violated?
Laws Violated: Israel has violated 28 resolutions of the United Nations Security Council (which are legally binding on member-nations U.N. Charter, Article 25 (1945); a few sample resolutions - 54, 111, 233, 234, 236, 248, 250, 252, 256, 262, 267, 270, 280, 285, 298, 313, 316, 468, 476, etc.

»

alguém se interrogou sobre o que diria o ChatGPT a uma pergunta destas. Fiquei curioso, fiz a mesma pergunta que obteve uma resposta menos "pão, pão, queijo, queijo":

«

 How many UN rules has Israel violated?

The question of how many United Nations (UN) rules or resolutions Israel has violated is a complex and contentious issue. Israel's relationship with the UN has been a subject of debate and criticism for many years, and there have been numerous resolutions, both in the UN General Assembly and the UN Security Council, that have addressed various aspects of the Israeli-Palestinian conflict and Israel's actions in the region.

It's important to note that opinions on this matter vary widely depending on one's perspective. Some argue that Israel has violated multiple UN resolutions and international law through its actions in the occupied Palestinian territories, including the construction of settlements and the treatment of Palestinians. Others argue that Israel has legitimate security concerns and that its actions are within the bounds of international law.

Additionally, the UN's approach to Israel has evolved over time, and its stance on different issues related to the Israeli-Palestinian conflict has changed with the passage of time and the priorities of different administrations.

Therefore, it is challenging to provide a specific number of UN rules or resolutions that Israel has violated without a specific context or timeframe. The Israeli-Palestinian conflict is a deeply complex and politically charged issue, and it is often the subject of ongoing debate, negotiation, and international diplomacy.

»

A ambiguidade e carácter defensivo da resposta fez-me pensar na Pitonisa de Delfos que também se protegia nas suas previsões. E se às vezes se ouve dizer "prognósticos só no fim do jogo" ou "previsões são sempre difíceis, principalmente no que respeita ao futuro", também existe por vezes grande incerteza quanto ao passado, como facilmente se constata na resposta do ChatGPT à minha pergunta.

O quadro, que fui buscar à Wikipédia, é do pintor John Collier (1891) tendo representado a pitonisa sobre a pneuma, um gás que saía da terra numa fenda existente em Delfos, de composição química desconhecida que talvez tivesse propriedades psicotrópicas, sendo inspirador para a pitonisa.

Agora previsão boa foi a de um meu amigo que ao ouvir o embaixador israelita pedir a demissão de Guterres me disse que isso não era uma reacção irreflectida mas a preparação para dentro em breve negar vistos de entrada a funcionários da ONU, como se constatou esta manhã em notícia da BBC.

O embaixador Seixas da Costa manifestou hoje no seu blogue satisfação pela intervenção de Guterres e a propósito republicou um texto seu de há dez anos sobre o tema "Israel e Palestina" que continua muito actual.

Intervenção de Guterres no Conselho de Segurança da ONU em 24Out2023

 

 



 Transcrevo na íntegra do sítio da ONU a intervenção de António Guterres no Conselho de Segurança da ONU em 24Out2023 sobre a situação no Médio Oriente, focada sobre Israel e a Palestina:

«

Mr. President, with your permission, I will make a small introduction and then ask my colleagues to brief the Security Council on the situation on the ground.

Excellencies,
The situation in the Middle East is growing more dire by the hour.
The war in Gaza is raging and risks spiralling throughout the region.
Divisions are splintering societies.  Tensions threaten to boil over.
At a crucial moment like this, it is vital to be clear on principles -- starting with the fundamental principle of respecting and protecting civilians.
I have condemned unequivocally the horrifying and unprecedented 7 October acts of terror by Hamas in Israel.
Nothing can justify the deliberate killing, injuring and kidnapping of civilians – or the launching of rockets against civilian targets.
All hostages must be treated humanely and released immediately and without conditions.  I respectfully note the presence among us of members of their families.

Excellencies,
It is important to also recognize the attacks by Hamas did not happen in a vacuum.
The Palestinian people have been subjected to 56 years of suffocating occupation.
They have seen their land steadily devoured by settlements and plagued by violence; their economy stifled; their people displaced and their homes demolished.  Their hopes for a political solution to their plight have been vanishing.
But the grievances of the Palestinian people cannot justify the appalling attacks by Hamas.  And those appalling attacks cannot justify the collective punishment of the Palestinian people.

Excellencies,
Even war has rules.
We must demand that all parties uphold and respect their obligations under international humanitarian law; take constant care in the conduct of military operations to spare civilians; and respect and protect hospitals and respect the inviolability of UN facilities which today are sheltering more than 600,000 Palestinians.
The relentless bombardment of Gaza by Israeli forces, the level of civilian casualties, and the wholesale destruction of neighborhoods continue to mount and are deeply alarming.
I mourn and honour the dozens of UN colleagues working for UNRWA – sadly, at least 35 and counting – killed in the bombardment of Gaza over the last two weeks.
I owe to their families my condemnation of these and many other similar killings.
The protection of civilians is paramount in any armed conflict.
Protecting civilians can never mean using them as human shields.
Protecting civilians does not mean ordering more than one million people to evacuate to the south, where there is no shelter, no food, no water, no medicine and no fuel, and then continuing to bomb the south itself.
I am deeply concerned about the clear violations of international humanitarian law that we are witnessing in Gaza.
Let me be clear:  No party to an armed conflict is above international humanitarian law.

Excellencies,
Thankfully, some humanitarian relief is finally getting into Gaza.
But it is a drop of aid in an ocean of need.
In addition, our UN fuel supplies in Gaza will run out in a matter of days.  That would be another disaster.
Without fuel, aid cannot be delivered, hospitals will not have power, and drinking water cannot be purified or even pumped.
The people of Gaza need continuous aid delivery at a level that corresponds to the enormous needs.  That aid must be delivered without restrictions.
I salute our UN colleagues and humanitarian partners in Gaza working under hazardous conditions and risking their lives to provide aid to those in need.  They are an inspiration.
To ease epic suffering, make the delivery of aid easier and safer, and facilitate the release of hostages, I reiterate my appeal for an immediate humanitarian ceasefire.

Excellencies,
Even in this moment of grave and immediate danger, we cannot lose sight of the only realistic foundation for a true peace and stability:  a two-State solution.
Israelis must see their legitimate needs for security materialized, and Palestinians must see their legitimate aspirations for an independent State realized, in line with United Nations resolutions, international law and previous agreements.
Finally, we must be clear on the principle of upholding human dignity.
Polarization and dehumanization are being fueled by a tsunami of disinformation.
We must stand up to the forces of antisemitism, anti-Muslim bigotry and all forms of hate.

Mr. President,
Excellencies,
Today is United Nations Day, marking 78 years since the UN Charter entered into force.
That Charter reflects our shared commitment to advance peace, sustainable development and human rights.  
On this UN Day, at this critical hour, I appeal to all to pull back from the brink before the violence claims even more lives and spreads even farther.  

Thank you very much.

»

Concordo inteiramente com esta intervenção do Secretário-Geral em que refere que depois de já ter condenado inequívocamente os actos terroristas horriveis e sem precedentes do Hamas em Israel em 7/Out, pois nada pode justificar o assassínio deliberado e rapto de civis e/ou o lançamento de mísseis contra alvos civis, diz ainda que todos os reféns devem ser tratados com humanidade e imediatamente libertos.

Passa então a referir que os palestinos têm os seus territórios ocupados por Israel há 56 anos mas que as suas queixas em nada podem justificar os ataques terríveis do Hamas. E esses ataques terríveis não podem justificar a punição colectiva do povo palestino.

Na sequência desta intervenção o embaixador de Israel considerou que Guterres tinha compreensão pelos ataques do Hamas e pediu a sua demissão.

Considero a posição do embaixador israelita muito errada. Guterres repudiou o"acto de terror" do Hamas que considerou sem qualquer justificação. Para grande contrariedade do embaixador israelita repudiou também os ataques israelitas a Gaza cuja dimensão considerou não poder ser justificada pelos actos terroristas do Hamas pois violam algumas leis da guerra, designadamente por constituírem uma punição colectiva do povo palestino.

O embaixador israelita vive num mundo que considera que Israel não está obrigado a cumprir as resoluções do Conselho de Segurança, em contravenção da Carta da ONU, e talvez por isso considere que Guterres se deveria demitir. Além de errado parece-me pouco diplomático.

Numa pergunta ao Google obtive a seguinte informação:

«

How many UN rules has Israel violated?
Laws Violated: Israel has violated 28 resolutions of the United Nations Security Council (which are legally binding on member-nations U.N. Charter, Article 25 (1945); a few sample resolutions - 54, 111, 233, 234, 236, 248, 250, 252, 256, 262, 267, 270, 280, 285, 298, 313, 316, 468, 476, etc.

»


2023-10-19

O misterioso caso dos 6 jovens portugueses contra 32 estados

 Vi algumas notícias neste mês de Outubro em que 6 jovens portugueses, alguns deles menores, apresentaram uma queixa em finais de 2020 contra 32 Estados europeus, incluindo Portugal, no TEDH  (Tribunal Europeu de Direitos Humanos, CEDH em inglês, também conhecido como Tribunal de Estrasburgo) por não agirem adequadamente para enfrentar a emergência climática. A queixa foi aceite, houve uma primeira  audiência no tribunal no dia 27/Setembro/2023.

O TEDH é uma instituição do Conselho da Europa (Council of Europe), uma das numerosas associações de países europeus formando uma constelação complexa já em 2011

 


e que está ainda mais complicada em 2023, como se constata 


que retirei da “Predefinição: Órgãos europeus supranacionais”.

Tenho ouvido vezes sem conta falar sobre a importância do Estado de Direito e a necessidade da separação dos poderes Legislativo, Executivo e Judicial. De forma muito resumida o poder legislativo faz as leis e aprova/reprova o poder Executivo, este cumpre e faz cumprir as leis enquanto o poder judicial verifica se as leis estão a ser cumpridas ou infrigidas.

Na minha qualidade de cidadão comum tenho constatado que cada poder costuma, no exercício da sua actividade, extravasar a sua área de actuação entrando por áreas que estão reservadas aos outros dois.

Como engenheiro tenho observado como os juízes invadem a área do poder legislativo ao declarar-se com competência, por exemplo, para julgar se uma linha de transporte de energia declarada pelo executivo como conforme à legislação em vigor será mesmo segura, pronunciando um conjunto de disparates sobre um assunto em que são manifestamente ignorantes.

Este processo de 6 jovens portugueses, pedindo a uma espécie de Rei Salomão que verifique se os administradores dos seus domínios têm feito todos os possíveis para garantir um planeta em perfeita saúde como herança a que têm direito, parece-me completamente idiota.

Eu, se fosse o Rei Salomão recusaria liminarmente o caso. O que leva este tribunal a dar prioridade a esta questão, se bem que a primeira audição tenha decorrido quase 3 anos depois do início do processo? Não têm  nada melhor em que gastar o seu tempo? Na realidade os processos têm-se acumulado neste tribunal, confirmando a minha suspeita que aceitam processos a mais.

A estranheza de esta audiência ter reunido, além das seis crianças queixosas e seus advogados, ainda mais 82 advogados representando os 32 Estados réus, 17 juízes do tribunal e mais certamente muitos funcionários administrativos, abalou outra vez a minha confiança nas instituições europeias.

Por isso ainda me informei um pouco mais sobre este assunto num artigo do jornal Expresso constatando que os seis jovens portugueses foram aliciados para fazerem esta queixa por uma advogada portuguesa a estudar então no King’s College em Londres, em contacto com o GLAN (Global Legal Action Network) que formulou a queixa numa equipa coordenada pela famosa advogada Alison Macdonald KC, em que KC-King’s Counsel significa que representou a Coroa do Reino Unido nalguns casos, uma espécie dos “By Appointment to His Majesty the King” que garantem a qualidade de alguns produtores pois já foram fornecedores da realeza.

Parece-me assim tratar-se duma operação de marketing de alguns advogados, causando uma relativamente pequena despesa inútil aos contribuintes dos países do Conselho da Europa.

Num artigo do Guardian sobre este processo refere-se que os 32 países concordaram numa resposta em conjunto e que o advogado do Reino Unido Sudhanshu Swaroop, que falou em primeiro lugar, argumentou que os Estados compreendem a gravidade da luta contra as alterações climáticas, que já existem acordos internacionais como o de Paris sobre este tema e que a queixa devia ter sido rejeitada pelo TEDH por estar fora da sua jurisdição.

Na busca que fiz na internet sobre o advogado Sudhanshu Swaroop descobri este TEDTalk de 2012 “Do trees have rights? Protecting the environment in the 21st century | Sudhanshu Swaroop | TEDxWWF” que achei interessante.

Para finalizar ainda pensei que o TEDH poderia aceitar uma queixa sobre a lentidão da justiça em Portugal, que sem dúvida afecta os direitos humanos dos portugueses a uma Justiça atempada mas, dado o acumular de processos neste tribunal, seria provavelmente ocioso apresentar-lhe esse tipo de queixa.




2023-10-14

Lisboa e Gaza


Andei no liceu de 1959 a 1966 e lembro-me de nas aulas de Religião e Moral o professor, que era um antigo seminarista que não fora ordenado padre, sempre que falava de Israel desenhava a faixa de Gaza, se bem que nessa altura sem a limitação a Sul da fronteira com o Egipto.

Tenho ouvido ultimamente que a Faixa de Gaza seria o sítio mais densamente povoado do planeta. Esta afirmação suscitou-me dúvidas pois nessa área habitam cerca de 2,2 milhões de palestinos, numa área de 367km2 dando uma densidade populacional de 6000 habitantes por km2 .
Por exemplo Hong-Kong ocupa, incluindo os novos territórios, cerca de 1000km2 , onde vivem 6 milhões de pessoas, dando uma densidade parecida com a de Gaza.

Foi verificar no Google Earth a extensão do território da faixa de Gaza e delimitei uma superfície incluindo Lisboa e alguns arredores com uma área idêntica àquela faixa de que mostro os mapas respectivos

 



 

 
Recorri depois à Wikipédia para ver uma lista de concelhos de Portugal com a respectiva população em 2021, a este para ver a área de cada município e à Associação Nacional de Municípios Portugueses para aceder ao mapa de Portugal com as fronteiras dos concelhos

Com a consulta dos dois primeiros sítios elaborei esta tabela com áreas, populações e densidades de Pop./km2

 


e no sítio da Associação de Municípios retirei uma secção do mapa contendo concelhos adjacentes a Lisboa com as cores: Amadora-turquesa, Lisboa-laranja, Odivelas-amarelo e Oeiras-verde

 


constatando-se que o conjunto dos concelhos Amadora+Lisboa+Odivelas+Oeiras têm uma densidade superior à de Gaza. A faixa de Gaza tem alguma área dedicada a actividades agrícolas, áreas muito diminutas nos concelhos que escolhi, caso tivesse incluído Cascais a densidade do conjunto Lisboa e alguns arredores já seria inferior à de Gaza.

O maior problema da faixa de Gaza é o seu completo isolamento quer do interior do pais de onde poderia vir alguma água (como a de Lisboa que vem da bacia do rio Zêzere), quer da ausência de um porto livre através do qual  poderiam comerciar e importar combustíveis para a produção de electricidade e para exportar alguns produtos. E por último a enorme dificuldade de atravessar as fronteiras, quer por Israel quer pelo Egipto que tão pouco autoriza a movimentação de palestinos.

Por isso a recomendação de Benjamin Netanyahu aos palestinos para que saiam rapidamente de Gaza é no mínimo completamente incompreensível.

Talvez eu tenha ouvido apenas “”The Israeli military has urged all people in Gaza City to leave their homes "for their own safety", in a strong suggestion it is set to begin a ground assault.”, significando que será mais seguro estar e dormir ao ar livre do que dentro de casas, presumo que estar dentro duma tenda também poderá ser perigoso.

A recente carnificina feita pelo Hamas em território israelita não tem qualquer justificação. Hà muitos anos que considero que os terroristas são pessoas más cujo principal objectivo é fazer mal a outros seres humanos e que por vezes recorrem a umas desculpas políticas/religiosas para cometerem os actos hediondos que os satisfazem.

No entanto, também aprendi que as ferramentas bélicas actualmente existentes, como por exemplo bombardeamentos aéreos, permitem executar com menor dificuldade, porque não se vêem as vítimas a morrer, actos também hediondos de matança de inocentes que tiveram o azar de viver próximo de terroristas e que têm reconhecidamente dificuldade de sair de onde vivem.

2023-10-12

Mundo Vegetal


Sou seguidor do magnífico blogue  “Dias com Árvores”que além de imagens belísssimas de plantas e das suas paisagens nos brinda ainda com a erudição de amadores apaixonados por plantas e com um discurso aparentemente antropomórfico mas que no fundo o que faz é integrar as plantas no grande reino evolutivo dos seres vivos, usando termos como estratégia, investimento, preferências, sucessos e insucessos, descrevendo a evolução de cada espécie botânica e da respectiva família com explicações convincentes, claras e interessantes.

Desta vez surpreenderam-me com esta imagem de inflorescências gigantes (cerca de 1,80m de altura) numa curva de estrada nas ilhas Canárias, julgo que na ilha de Palma num post intitulado “A viagem dos massarocos
 

seguida por estes detalhes


 
Trata-se da Echium perezii, uma planta do mesmo género do Massaroco, tão comum na ilha da Madeira e que eu já mostrara em post de Março/2009 nesta imagem:

 Tratava-se de uma pequena inflorescência com uns 15 cm de altura que estava num canteiro na entrada das instalações da REN (Rede Eléctrica Nacional) em Sacavém onde eu então trabalhava.

Soube o nome comum desta planta por um amigo madeirense que ao ver a fotografia disse logo: olha um Massaroco!

Na wikipédia refere que o Massaroco designa duas plantas do género Echium, a Echium candicans e a Echium nervosum.

As inflorescências da primeira medem de 15 a 35cm enquanto as da segunda vão de 5 a 16cm. Das imagens que vi na net inclino-me mais para a Echium candicans mas sem grandes certezas.

Por curiosidade fui ver a máquina que usei para a fotografia, de 27/Março/2009 14:05, constatando que se tratava dum telemóvel ainda da Nokia, o N95(8GB), um modelo ainda com teclas que deslizavam quando eram necessárias, conforme se vê na imagem de publicidade do aparelho


 


Lembro-me que as fotos saíam razoáveis quando havia muita luz, como foi o caso da foto do Massaroco.

Na procura de mais Echium na internet passei por este Echium wildpretii, foto de Yoko Arakawa

 

neste sítio de jardinagem Longwood Gardens, com a designação curiosa de “tower-of-jewels”, originais das Canárias, especificamente da ilha de Tenerife. Este sítio dos Longwood Gardens, na Pensilvânia, também merece uma visita, pelo menos uma virtual.

Fiquei a pensar que já vira algo que estas inflorescências me faziam também lembrar. Eram uns modelos de roupas da estilista Rei Kawakubo que referi neste post de Jul/2018

 

Julgava que os cones nas cabeças eram vermelhos como as “tower-of-jewels” mas afinal o que era vermelho eram as roupas, os cones pontiagudos nas cabeças eram amarelos ou loiros


 

2023-10-02

Frases muito infelizes irresistivelmente citadas

 

Sobre este texto retirado do Expresso Online de hoje:

«

“Não me parecia possível que uma pessoa roubasse a sua própria família. Mas depois, com o tempo que foi passando, deixei de ter qualquer espécie de dúvida sobre isso”

José Maria Ricciardi, antigo presidente do BES Investimento, sobre o seu primo Ricardo Salgado, em entrevista ao “Observador”

»

faço alguns comentários:

1) Um elemento duma família com o nome "Espírito Santo" deveria saber que somos todos irmãos e que a fraternidade não acaba nos limites da famiglia.

2) Uma pessoa crescida deveria conhecer a existência de guerras familiares, por vezes mesmo fratricidas, umas vezes causadas por emoções outras pela ganância.

É caso para dizer: que o Divino Espírito Santo o ilumine...

e para dar uma ajuda insiro uma imagem duma pomba, representando o Sagrado Espírito Santo

constatando ainda que nem os bloguistas escapam à observação do Guterres há uns bons anos: quando se fazem declarações públicas, a nossa frase mais infeliz será a mais citada.



2023-09-28

Quadro de N.C.Wyeth



Li no New York Times a história dum quadro a óleo comprado há 6 anos por 4 dólares numa loja de “velharias” e que foi vendido num leilão por 191 000 dólares!

Eu bem sei que o valor transaccional de um objecto não é intrínseco ao objecto mas exclusivamente determinado pelo encontro das vontades do vendedor e do comprador, vontades essas que dependem duma mistura de percepções e emoções subjectivas de parte a parte, mas este caso em que o mesmo objecto é transaccionado por 4 dolares e passados 6 anos por 191 000 dólares é um caso tão notável que mereceu referência na imprensa americana e internacional.

Fico a pensar como os valores de medições de grandezas físicas tais como comprimentos, velocidades, massas ou pesos, ou os valores de transações de compra e venda podem ter incertezas tão diferentes.

Em tempos referi que o entusiasmo de alguns economistas pelos mercados os levam a comparar o valor estimado por um especialista do peso duma vaca à venda num mercado com a média das estimativas de vários agentes desse mercado que nessa comparação são ungidos com a característica de “meros agentes de mercado não especialistas”. Dá-se o caso que uma balança devidamente aprovada por uma instituição credenciada fornece um valor para o peso da vaca melhor do que qualquer especialista ou conjunto de agentes do mercado, embora o  valor a que a vaca é transaccionada dependa exclusivamente do encontro de vontades de comprador e vendedor que, normalmente consideram entre muitos outros factores o valor do peso da vaca indicado pela  balança.

Este caso acaba por ser melhor explicado pela Bíblia, na parábola do filho pródigo. O quadro estava há anos em parte incerta como o filho pródigo que se ausentara da casa paterna. Quando finalmente o quadro foi encontrado o seu valor aumentou enormemente em relação a outros quadros do mesmo pintor que tinham estado em locais conhecidos.

Passando a mostrar um detalhe do quadro em questão

 



e a relatar o que encontrei no artigo da CBS News, fio da meada explicativa desta história.

Faço notar que se trata de uma de quatro ilustrações pintadas a óleo por Newell Convers Wyeth (1822-1945) para uma edição de 1939 dum romance famoso de Helen Hunt Jackson (1830-1885), intitulado Ramona, publicado pela primeira vez em 1884. Das quatro ilustrações da edição de 1939 apenas uma estava em sítio conhecido, depois desta descoberta falta ainda conhecer o paradeiro de outras duas.
A cena representa um momento de tensão entre Ramona, uma orfã de ascendência mista escocesa e nativa (“índia”), e a irmã da sua mãe adoptiva, a Señora Moreno, uma proprietária de terras mexicanas conquistadas ao México pelos EUA na sequência da guerra de invasão que os EUA levaram a cabo de 1846 a 1848.

Durante a migração sazonal dum grupo de trabalhadores nativos para a tosquia de ovelhas a Ramona apaixona-se por um elemento desse grupo e contra a oposição da senhora Moreno sai de casa para se casar com o nativo. Passa por muitas dificuldades, têm um filho, o nativo enlouquece e morre, ela regressa e passado algum tempo casa-se com o filho da senhora Moreno, entretanto falecida, têm mais dois filhos e ficam aparentemente felizes para sempre.

O romance teve tanto sucesso que alguns turistas que passaram a visitar sítios referidos no livro consideravam que as personagens livro tinham existido e habitado aqueles sítios.

Passo a mostrar a composição completa do quadro que me agrada

 


Entretanto o pintor N.C.Wyeth teve entre outros filhos o pintor Andrew Newell Wyeth (1917-2009) e avô de James Wyeth (1946- ).

O quadro mais famoso de Andrew Wyeth será talvez o “Christina’s World”  um quadro usando Têmpera, de 1948 no MOMA em Nova Iorque, representando a sua vizinha Cristina Olson, com doença degenerativa nas pernas,  numa rara saída da sua casa ao fundo no Maine.

 

Em tempos eu guardara uma obra da holandesa (neerlandesa) Ellen Kooi, uma fotógrafa e artista  que se inspirara no quadro de Andrew Wyeth para produzir esta imagem

 


 provavelmente com bastante bastante Photoshop no horizonte, para introduzir o que parecem fantasmas de linhas de transporte de energia em muito alta tensão, aerogeradores, torres de telecomunicações, etc, talvez mostrando que as alegadamente idílicas paisagens de casas isoladas no campo já não estão tão isoladas.

Agora achei curioso este reencontro inesperado.



2023-09-24

Imagem -1 x Função - 0

 

Fomos hoje dar uma volta no Parque das Nações, parei o carro no Rossio do Levante e fomos a pé à beira-rio até à foz do rio Trancão. Costumava fazer este caminho antes da Jornada Mundial da Juventude e constatei que o percurso tem agora muitos mais utilizadores e que adoptaram um caminho de terra batida em vez do anterior passadiço cuja manutenção devia ser bastante dispendiosa.

Fiquei impressionado com o número de bicicletas e com o excesso de velocidade com que circulavam muitas delas, considerando que estavam a partilhar uma via com os peões. Não são só os automóveis que andam por vezes com excesso de velocidade, o mesmo também acontece com as bicicletas e as trotinetas, fenómeno que não tem merecido ainda a atenção das autoridades do trânsito.

Em frente do "Skatepark Expo" (interrogo-me como se dirá isto em inglês, talvez "Expo Skatepark") com coordenadas 38.787415168249446, -9.092358641653366 encontra-se este caixote de cimento em que funcionaram sanitários, ricamente decorado com figuras que não apreciei

 


Mas o que verdadeiramente me chocou foi a indisponibilidade dos sanitários, que embora não fossem mantidos num grande nível tinham uma qualidade mínima que assegurava uma função necessária neste local durante muitos anos.

Há aqui um problema de prioridades, no meu caso daria prioridade à função do edifício em vez de à decoração.

 

2023-09-15

Palmeiras revisitadas

 

Há literalmente meia-dúzia de anos publiquei  num post esta imagem de palmeiras

 


do Hotel Alvor, em contra-luz, tirada em 2017-08-11 20:28 (ao fim da tarde) por um iPhone 4S.

No princípio de Agosto de manhã, em 2023-08-10 11:47, fotografei o mesmo conjunto de palmeiras usando um iPhone SE (2nd generation), em que mostro palmeiras e seu contexto

 

e depois um detalhe da mesma foto


Estas palmeiras são mantidas livres de palmas mortas, resultado duma jardinagem frequente que lhes dá um aspecto que aprecio.

 


2023-09-11

Transição de Agosto para Setembro


Quando vi as primeiras chuvas da transição habitual de Agosto para Setembro neste ano pensei que o clima afinal não estava tão diferente pois esta transição era um clássico, durante dois ou três dias caía uma chuvinha ou mesmo um aguaceiro de vez em quando, parecia que o Verão tinha acabado, mas logo a seguir aparecia o verdadeiro “Bom tempo”, uma atmosfera transparente pois a chuva arrastara para o chão as partículas em suspensão, fazia calor sem exageros na temperatura máxima do dia e as noites eram frescas.

Este ano, depois de 5 ondas de calor durante o Verão, a transição para Setembro com um tempo quase sempre nublado e períodos (curtos) de chuva já se arrasta há mais de uma semana em vez dos 2 ou 3 dias habituais.
 

Ontem em Portimão choveu na hora do almoço, como se constata na imagem seguinte

 



 e melhor ainda nos pingos água que caem da parte azul do toldo no detalhe da mesma foto

 


Entretanto achei curiosos os padrões repetitivos que a luz revelava ao atravessar o toldo
 

 


e da mesma foto com mais detalhe

 

As pessoas que tiveram que se ir embora do Algarve no passado fim-de-semana de 2 e 3/Setembro não perderam grande coisa, se bem que estes padrões geométricos no toldo sejam interessantes.

 

 

2023-09-07

Inumeracia - 4 (MCCL - DCXL = ?)


Noutro dia fui a um supermercado comprar comida já confeccionada, o que à falta de uma expressão consagrada em português se costuma chamar "Takeaway".

Disse então à empregada que queria um quilo e duzentos e cinquenta gramas de um determinado prato ao que ela respondeu:
- qual é a embalagem que quer levar?
ao que respondi:
- uma em que caiba a quantidade que pedi;
começando ela então a encher uma embalagem com a comida seleccionada tendo depois pesado a mesma e dizendo:
- tem 640g, quer mais ou esta chega?

ao que eu, constatando a inumeracia acentuada da empregada respondi:
- quero outra igual a essa.

A segunda embalagem pesava 772g, dando assim um total de 1412g, levei um pouco mais do que o "especificado".


Fiquei a pensar que se a funcionária tivesse vindo numa máquina do tempo do império romano teria tido dificuldade em avaliar a diferença entre MCCL gramas e DCXL gramas, a aritmética nesse tempo requeria um ábaco, agora, para muita gente, é preciso uma calculadora mas para esta funcionária nem com uma calculadora se safava.


Nota: Colocando a palavra "Inumeracia" na caixa de busca no canto superior esquerdo deste blogue aparecerão os posts (incluindo este) que contêm essa palavra, ou então usando o URL: https://imagenscomtexto.blogspot.com/search?q=inumeracia 


Melancolia

 

Num passeio solitário até ao fim do molhe da Praia da Rocha sentei-me encostado à torre do farol a ouvir e ver o mar-de-fora que chegava do Sul, sem vento forte a acompanhar.

Achei interessante esta composição com o mar tranquilo a nível macro, com uma esteira prateada do Sol sobre o mar no fim da tarde e com ondas contidas e frequentes que marulhavam nas pedras do fim do molhe, com um céu animado por nuvens e um barco à vela sobre o horizonte para humanizar o conjunto

Depois de fotografar surpreendeu-me que o telemóvel tivesse conseguido integrar tão bem a esteira de luz sem afectar o resto da fotografia e lembrei-me que recentemente pensara em usar o HDR (High Dynamic Range) no telemóvel sem conseguir descobrir como se acedia a essa técnica que referi neste post de 29/Maio/2020 sobre umas fotos tiradas uns dias antes.

Na sequência de busca sobre como voltar a usar o HDR constatei que no modelo iPhone SE que tenho desde Jan/2021 a opção "Smart HDR" é seleccionada por omissão, fazendo corresponder a fotografia melhor à nossa percepção, nomeadamente nas paisagens em que o céu contribui para grandes diferenças de luminosidade e mais ainda em esteiras de reflexos do Sol sobre o mar.

Diziam que usavam "Inteligência Artificial" para apurar se seria necessário usar a técnica de HDR e deixei a opção por omissão activa pois pareceu-me uma boa ideia facilitar o trabalho do fotógrafo amador como eu que não tem prática suficiente para usar de forma simples e eficaz as ferramentas disponíveis para ultrapassar as dificuldades colocadas por estes cenários com grandes diferenças de luminosidade.

Julgo aliás não ter fotografado algumas situações em que presumi, constato que erradamente,  que iriam ficar mal.

Mas voltando às imagens, o barco afinal não estava assim tão longe e passado poucos minutos já se podia ver com mais pormenor, tinha o nome de "Mar-me_quero", ainda não visível nesta foto

Entretanto deixei-me ficar mais algum tempo, contemplando o vai-e-vem da água do mar, moderadamente agitada por ondas contidas e frequentes



2023-09-02

Contrastes

 

Não vou aqui perorar sobre as idiosincrasias da moda mas apenas referir um contraste que me chamou a atenção numa piscina algarvia 

Trata-se do contraste entre o comprimento dos calções do banhista, que chegava a arregaçá-los antes de cada mergulho, e a exiguidade da peça de baixo do bikini da banhista.

Noutras ocasiões tenho observado situações inversas em que o homem está menos tapado do que a mulher, como quando os calções ficam acima do joelho e a mulher usa fato-de-banho, ou noutro exemplo fora de praia na imagem seguinte

 


que mostrei neste post de 2010 sobre uma visita a Xangai em que disse:

«Fiquei algo surpreendido com o "top" do homem mais jovem do grupo, com alças e um decote alargado, em forte contraste com o atabafamento da indumentária das mulheres, fazendo uma quase simetria com o que é mais habitual no Ocidente em que as mulheres usam frequentemente vestuário mais fresco do que os homens. »




2023-08-30

Ventoinhas


Num quarto da nossa casa na Prainha em que dormem vários netos, existe uma Mezzanine provavelmente instalada depois da montagem do sistema de Ar Condicionado Multi-Split, o aparelho desse quarto deveria estar mais alto.

Durante os picos das ondas de calor, que com as alterações climáticas em curso estão a ficar cada vez mais frequentes, a temperatura na Mezzanine fica excessivamente alta.
 

No ano passado tentámos usar uma ventoinha de chão na imagem ao lado, que tínhamos comprado numa estadia noutra casa mas o aparelho fazia muito barulho. Este ano, numa das ondas de calor usámos  mesmo assim esse aparelho barulhento durante duas ou três noites. Li na altura que existem pessoas, designadamente bébés, a quem a presença de ruído branco, típico por exemplo de ventoinhas e de canais de TV sem sinal, lhes facilita o sono tendo um efeito calmante.

Não era o caso de um dos netos que dormia bem se a ventoinha estivesse desligada quando adormecia mas que, caso acordasse por qualquer motivo, tinha depois dificuldade em adormecer com o ruído da ventoinha presente. Os dois beneficiados com a presença da ventoinha consideravam o ruído aceitável e a sensação térmica satisfatória.

Fui assim à procura de uma ventoinha menos barulhenta. Eu lera na revista Proteste da DECO que os valores de decibéis (o decibel (dB) é neste caso uma medida da intensidade sonora causada por uma equipamento ou presente num ambiente como composição de vários sons num local específico) publicados pelos fabricantes de ventoinhas costumavam ser inferiores ao valor real.

Pensei que se comprasse outra ventoinha de modelo diferente mas da mesma marca, seria provável que se os decibéis publicados pelo fabricante fossem diferentes, a ventoinha com menos decibéis faria menos ruído. As lojas de electrodomésticos não costumam ter ambientes em que se avalie em boas condições o volume sonoro provocado por uma ventoinha num quarto silencioso na ausência dela, daí a dependência nos valores de ruído publicados pelos fabricantes

 
Comprei a ventoinha na imagem ao lado que tinha um ruído publicado de 53,5dB enquanto a que referi acima produzia 57dB.  

Constatei que esta diferença de 3,5dB é muito significativa, sendo a diferença neste caso entre o aceitável e o inaceitável.  O quadrado contendo a primeira ventoinha tinha de lado 40cm mas o diâmetro das pás da ventoinha era apenas de 30cm. O diâmetro da 2ª ventoinha era 40cm. A potência da 1ª era 40W enquanto a 2ª era 45W. Os preços eram equivalentes, no intervalo 20 a 30€ em que a primeira era ligeiramente mais cara.

O empregado que me atendeu na loja, se bem que simpático e acedendo facilmente aos dBs dos vários modelos de ventoinha tinha excesso de imaginação ou uma formação deficiente. Disse-me que o 1º equipamento que aqui referi se tratava de um ventilador enquanto o segundo era uma ventoinha, quando no sítio da loja referiam qualquer um dos equipamentos como ventoinhas. Pior ainda “informou-me”, se bem que referisse não estar completamente seguro, que os ventiladores enviavam mesmo ar mais frio do que o ar existente na sala enquanto as ventoinhas se limitavam a mover o ar ambiente.

Nas buscas de “ruído de ventoinhas” a maior parte dos artigos era sobre ventoinhas de computadores. A Wikipédia tem entrada sobre ventoinhas mas, como é habitual, a versão em inglês é muito mais  completa do que a escrita em português. Cita um documento da “UK Health and Safety Executive”, o regulador britânico para a um local de trabalho saudável e seguro, sobre 10 medidas mais eficazes para redução do ruído. Numa delas refere que reduzir a velocidade duma ventoinha para metade poderá reduzir o ruido em 15dB dado que o ruído será proporcional à quinta potência da velocidade da ventoinha. Uma redução de 10% reduziria 2dB e de 20% seria menos 5 dB.

A Mecânica de Fluidos é um tema demasiado complexo para eu avaliar a razoabilidade destas últimas considerações. Talvez algum engenheiro mecânico se pronuncie sobre elas.


 

2023-08-25

Separação de Lixo na Prainha

 

No aldeamento da Prainha situado na freguesia de Alvor no concelho de Portimão existe uma ilha ecológica que apresenta este triste espectáculo, frequentemente em Julho e Setembro e permanentemente no mês de Agosto.

 


Nos outros meses do ano, em que é produzido pouco lixo separado, a ilha tem pouca valia pela inexistência do mesmo. Quando existe não é recolhido.

Mais uma vez se gastou dinheiro numa infraestrutura que a Câmara Municipal de Portimão se tem mostrado incapaz de manter em funcionamento.