2024-06-21

Efeito Colateral Indesejado

 

 Ao passar por umas fotos antigas de Viena, esta tirei em Fev/2013

 

voltei a ver este mosaico que tive dificuldade em fotografar de forma completa,  passando a mostrar a parte esquerda da foto mais ampliada

e a parte do lado direito

Depois, como me parecia que isto estava numa rua adjacente a um dos lados da Ópera de Viena fui ao Google Maps e percorri a Kärntner Straße em "street view" até reencontrar o mosaico


onde se constata que na esplanada estava uma pessoa que tem a sua cara desfocada por ua questão de privacidade.

Quando o Google começou a disponibilizar as imagens captadas nas ruas de algumas cidades foram detectadas presenças inesperadas de pessoas cujos familiares ou conhecidos esperavam que naquela altura estivessem noutro local. Para evitar processos em tribunal a Google passou a desfocar as caras de todos os transeuntes captados pelas câmaras.

Quando aumentei o zoom do Google Maps para ver melhor o mosaico, designadamente nas parte que não estavam na minha fotografia


constatei com alguma surpresa que o Google Maps também desfocara algumas mas não todas as representações em mosaicos das caras das figuras do mosaico!

Não se trata dum efeito indesejável pois o objectivo do Google Maps não é fazer uma reprodução de alta qualidade das paredes dos prédios das diversas ruas, mas apresentar uma imagem que seja identificável e esta cumpre esse objectivo mas é um efeito indesejado pois não seria necessário visto não haver privacidade a resguardar e não melhora a reprodução do conjunto edificado.

Fica a questão de algumas das caras que nós reconhecemos como tal não terem sido desfocadas enquanto não me lembro de ter recentemente visto alguma cara duma pessoa não desfocada no Google Maps.

Nas guerras, nos programas de computador e em muitas outras actividades é muito difícil prever todos os efeitos colaterais de qualqer actividade.

Constatando que com a "street view" não conseguia obter uma imagem completa do mosaico googlei (16 Kärntner Straße) chegei rapidamente a este sítio da Wikimedia Commons donde retirei esta imagem com 1280 x 495 pixels


Clicando sobre a imagem ela aparece maior e no sítio acima referido tem versões com mais pixels. 

Trata-se dum conjunto de figuras alegadamente típicas e/ou míticas do Ocidente do lado esquerdo e do Orirnte do lado direito.

Viena não só está mais próxima do Oriente do que a maioria das cidades da Europa Ocidental como esteve mesmo cercada de 17/Jul a 12/Setembro de 1683 por tropas do império otomano. O insucesso desse cerco marca o início do declínio da dominação otomana na Europa.



5 comentários:

João Brisson disse...

Foi muito divertido encontrar este efeito quando estávamos a recordar a Kantnerstrasse de Viena
A IA tem coisas destas, não sabe distinguir se eram pessoas à janela
Já agora, a propósito do cerco de Viena, poderias fazer um post sobre os avanços e recuos do império otomano depois da queda de Constantinopla?

jj.amarante disse...

Sei muito pouco sobre o assunto. Os otomanos vieram por ali acima com o seu exército de janízaros, formado por um em cada 5 filhos dos casais gregos do império, que era tirado aos pais em tenra idade e era treinado para servir no exército do sultão. Derrotaram os sérvios na batalha do Kosovo, evento de que os sérvios não se esquecem, chegaram a Budapeste onde talvez tenham deixado o hábito dos banhos turcos e cercaram duas vezes Viena. Vi na internet a data que achava que tinha sido no século XVII. As tropas de Viena foram comandadas por um militar nobre francês, Eugénio de Sabóia que teve de prémio um magnífico palácio em Viena chamado Belvedere que os herdeiros venderam à imperatriz Maria Teresa de Áustria, possivelmente não teriam dinheiro para manter um palácio tão grande. E isto completa os meus conhecimentos sobre a presença otomana nos Balcãs, não dá sequer para escrever um post.

Luís Lucena disse...

Li recentemente um livro, que recomendo, para conhecer o que foi a expansão do Império Otomano na Europa. Começou em 1453, com a conquista de Constantinopla, e a queda do Império Romano do Oriente, e terminou já no século XVII, com a derrota às portas de Viena. Trata-se de "O Império Otomano e a Conquista da Europa", de Gábor Agoston.
Graças à sua boa estratégia militar e principalmente à forma como o Império estava organizado, os turcos foram vencendo sucessivamente toda a oposição e ameaçaram os domínios dos Habsburgos. A retirada de Viena foi o princípio da derrocada final, no fim da Primeira Guerra, porque se tinham aliado aos alemães. Logo a seguir, um movimento chefiado pelo Ataturk depôs o sultão e inaugurou uma República laica e democrática, que agora começou a ser contrariada pelo Erdogan, que quer impor de novo o islamismo. Voltas que a História dá...

jj.amarante disse...

Passei 15 dias na Grécia em 2003 e fiz uma excursão à Turquia também de uma quinzena em 2003. A minha ideia das estatísticas no liceu era que a Grécia e a Turquia nos poupavam de ocupar o último lugar em numerosas estatísticas europeias.
Quando a Grécia entrou na União Europeia passou a estar várias vezes à frente embora os jornais só anunciassem quando os gregos nos ultrapassavam.
É uma tradição longínqua, relatar apenas um lado da questão, na História de Portugal ensinada nas escolas aparecia a data da conquista de, por exemplo Alcácer do Sal, e a data da reconquista, a data intermédia da perda era omissa no manual.
Mas destas duas viagens achei que a Turquia estava melhor organizada e as autoestradas tinham bermas que serviam de berma ao contrário das gregas em que as bermas eram a faixa lenta e a única faixa de cada lado era a faixa rápida.
Nestas alturas as pessoas dizem que a Turquia profunda é muito mais atrasada mas a Grécia também terá as suas profundidades.

Na sequência dessas viagens escrevi sobre a Turquia um post em que defendi a "Adesão da Turquia à União Europeia" (https://imagenscomtexto.blogspot.com/2008/04/adeso-da-turquia-unio-europeia.html) que teve logo uns comentários agressivos e racistas e outro sobre "A Adesão da Turquia ao alfabeto latino" (https://imagenscomtexto.blogspot.com/2008/04/adeso-da-turquia-ao-alfabeto-latino.html) que aqui recomendo.

Na sequência dessa viagem comprei um livro do Steven Runciman "The Fall of Constantinople 1453" onde, entre muitas outras coisas defende os sacerdotes bizantinos, que alegadamente colaboraram fisicamente na defesa da sua cidade enquanto foi possível e só quando a invasão e derrota pareceu inevitável se recolheram às igrejas para as últimas orações e talvez tentar descobrir mais uma vez qual seria o sexo dos anjos. Fiquei com a ideia que não foram massacrados pelos turcos quando estes chegaram às igrejas.

Li ainda outro livro sobre o império otomano "What went wrong?" de Bernard Lewis.

O afastamento da Turquia da União Europeia decorre dos sucessivos impasses nas negociações para a sua adesão, designadamente dos dois maiores países, da Alemanha e da França, pois os 80 milhões de Turcos teriam forte impacto na estrutura de poder dos países na UE.

Os alemães têm além disso talvez uns 3 milhões de turcos imigrados que não conseguiram integrar completamente, à parte algumas excepções como o casal turco fundador da empresa BioNTech juntamente com um sócio alemão, Uğur Şahin, Özlem Türeci, Christoph Huber, uma das empresas que nos salvou da COVID com a descoberta duma das vacinas. Na França vive um milhão de pessoas de ascendência arménia que contribuíram para a aprovação duma lei francesa que criminaliza a negação do alegado genocídio arménio de 1915 que continua a ser negado pela Turquia.

Luís Lucena disse...

Vou tentar acrescentar alguma coisa sobre o Ataturk, para ajudar a perceber porque as autoestradas turcas são melhores que as gregas. O Ataturk era um servidor do Império e chamava-se Kemal Pasha. Tornou-se conhecido quando, na Primeira Guerra, comandando o exército turco que defendia a zona dos Dardanelos, conseguiu vencer uma expedição anglo-francesa, numa tentativa de desenbarque para atacar a Alemanha pelo sul. A operação dos aliados foi um fracasso e obrigou a uma retirada humilhante. Depois da guerra, o ainda Kemal Pasha, à frente dum grupo de oficiais, os "Jovens Turcos", derrubou o Império e fundou um nova República laica, procurando aproximá-la da Europa. Mudou o nome para Ataturk e a capital para Ankara. Não conheço a evolução em pormenor, mas na verdade não foi por acaso que a Turq1uia tentou aderir à UE. A partir do momento em que o Erdogan chegou ao poder, a situação começou a mudar, com uma clara intenção de criar um Estado Islâmico e totalitário. Conseguirá? O futuro o dirá.