2023-01-31

No caminho para Silves

 

De vez em quando na viagem de Lisboa para Portimão, como desta vez em Julho/2022, saio da A2 em São Bartolomeu de Messines e vou pela estrada antiga (N124) para passar por Silves e gozar entretanto da vista panorâmica em direcção ao Sul duma encosta algarvia suave, de culturas variadas, quase até ao mar, de que mostro duas imagens

 



Estas duas fotos foram tiradas na estrada N124, no troço entre Messines e Silves: 37º14'20.13"N, 8º19'35.77"W ou  37.238925, -8.326603, e retoquei-as retirando uns cabos pretos, provavelmente de telecomunicações para melhorar o acesso à internet e à TV por Cabo, que estragavam o céu azul

 


Trata-se duma zona, como afinal tantas outras em Portugal, onde se notam investimentos recentes em explorações agrícolas, é animador constatar que o país não vai acabar já.

Quando comecei a fazer este post considerei que os serviços de localização do meu telemóvel estavam desligados como habitualmente mas, como gostaria de indicar ao leitor as coordenadas do local em que as fotos tinham sido tiradas, usei o GoogleMaps e o GoogleEarth para esse efeito.

Na segunda imagem deste post aparecem do lado direito um conjunto de árvores bem desenvolvidas parecendo oliveiras e do lado esquerdo da imagem aparecem várias fiadas de plantas jovens que lá ao fundo viram para a direita

Na imagem seguinte convenci-me que no sítio da N124 marcado com um pequeno quadrado azul (uma paragem de autocarro) poderia ser um bom candidato, com árvores do lado direito e um conjunto de filas de pequenas plantas quase perpendiculares à estrada e que lá ao fundo viram para a direita do fotógrafo

 


Vendo esta imagem no máximo da resolução constata-se no canto superior esquerdo que foi tirada em Maio/2021.

Procurando o “Street view” (Vista de rua) no Google Maps obtive esta imagem do mesmo ponto, que se constata ter sido obtida em Maio/2018. No Google Earth tem exactamente a mesma imagem, também com a data de Maio/2018.

 


Isto quer dizer que, como seria de esperar as datas das “Vistas de Rua” e das “Vistas de Satélite” serão habitualmente diferentes. Por outro lado constata-se que a lentidão da vida no campo e a imutabilidade das vistas campestres acabam por não ser tão imutáveis como os urbanitas têm tendência para pensar pois nesta altura as fiadas de árvores jovens ainda não tinham sido plantadas.

Deslocando o ponto de vista da rua um pouco mais em relação a Messines obtive outra vista de rua

 


onde aparecem umas pedras grandes que também surgem na primeira foto deste post. Nessa primeira foto é visível do lado esquerdo um monte e no horizonte dois montes um pouco mais à direita. Na foto do satélite nota-se que existe um amontoado de pedras (faixa mais clara do terreno) ao pé da estrada no local da paragem do autocarro

Mostro a seguir para comparação a imagem original, que reenquadrei e onde apaguei os cabos de telecomunicações que perturbavam a vista do céu, clonando o céu na sua proximidade, obtendo a primeira imagem deste post. A presença destes cabos irritantes acabou por servir para mais uma confirmação do local.

 


No fim lembrei-me que tirara as fotos iniciais deste post numa viagem de Lisboa para o Algarve, em que fizera um desvio para visitar a basílica real de Castro Verde (infelizmente fechada para obras), e que ligara os serviços de localização nessa altura. Dado que me costumo esquecer de desligar os serviços de localização durante algum tempo fui verificar se as fotos tinham a localização geográfica, constatando que sim.

As coordenadas da primeira foto deste post são 37º 14’ 19.42”N , 8º 19’ 36.88”W enquanto as da segunda são 37º 14’ 19.42”N , 8º 19’ 36.90”W, esta última mais longe de Messines, confirmando cabalmente o lugar encontrado com a ajuda do Google Maps e do Google Earth.

 

2023-01-23

Reflexões na Ria e sobre um barco semi-rígido

 
 
Fiquei a pensar porque terei registado esta cena, dum barco antigo em Portimão com o nome “BARCA ARADE” actualmente usado para passeios turísticos até Silves e também para as grutas de Benagil, entre o Carvoeiro e Armação de Pêra.

Julgo que fui atraído pelo reflexo quase perfeito do barco nas águas quase imóveis da ria do Arade e pela forma pouco comum no Algarve da proa do barco, provavelmente terá sido um moliceiro (* ver adenda a este post) que serviu para apanhar algas na ria de Aveiro antes de ter migrado para aqui.
 

Actualmente existem muitos operadores de circuitos turísticos locais mas quando comprei o meu barco semi-rígido em 1995 havia muito menos e não havia barcos a motor para aluguer.

 


Há muitos anos tirei um curso de mergulho no CPAS (Centro Português de Actividades Suabaquáticas) mas, à parte os mergulhos desse curso em Sesimbra e outro mergulho na Praia da Oura em que cometi o erro de mergulhar sem fato de neoprene, acreditando que a água do Algarve era acolhedoramente temperada, quando isso apenas acontece em bons dias e a temperatura mesmo assim é apenas suportável nos primeiros 2 metros a partir da superfície, pois a partir daí é muito fria, nessa Oura quase que entrei em hipotermia e parei os mergulhos por vários anos.

Depois pensei que seria possível entrar com o equipamento de mergulho na praia de S.Gabriel, ao pé de Albufeira, para ver o fundo rochoso a uns 2 ou 3 metros de profundidade sem o incómodo de ter que vir respirar à superfície, mas o equipamento é pesado para transportar do carro estacionado até à beira-mar e o espectáculo de entrada e saída da água atraía excessivas atenções de umas dezenas de banhistas. Desisti depois do segundo episódio.

Tirei então a carta de marinheiro pensando que talvez no ano seguinte comprasse um barco a motor para mergulhar a partir dele em vez de duma praia algarvia em Agosto, que era quando podia ter férias.

Porém, durante o exame prático para a carta de marinheiro gostei tanto de conduzir um semi-rígido na ria em frente a Portimão que acabei por comprar logo a seguir o semi-rígido de 4,2 metros que aparece na foto acima, provavelmente sobreequipado com um motor fora-de-borda de 40 cavalos uma vez que para venda nessa altura, no fim da época, não existiam motores de 25 cavalos em stock.

Existem problenas logísticos consideráveis na guarda de um barco para quem não dispõe de garagem como é o meu caso. Felizmente encontrei um amigo que disponibilizou metade da garagem que tinha próximo da albufeira de Castelo do Bode, onde passei a guardar o barco durante todo o ano, excepto no mês de Agosto em que ia para o Algarve.

Foi numa das idas a Castelo do Bode que tirei a primeira foto que tenho do barco. A seguir mostro um filho a fazer mono-ski nesse lago em Abril de 1996, numa superfície aquática que parecia seda, quando comparada com as ondinhas quase sempre presentes na ria do Arade na Praia da Rocha entre os dois molhes, onde eu me iniciara a fazer ski aquático há muitos anos, puxado por barcos de alguns amigos.




Guiar o barco com esta potência sentado ao lado do motor era incómodo pelo que passados dois anos encomendei instalação de um banco e de um volante para facilitar a manobra.

 

Uma das pessoas que viajava no barco queixava-se no mar, onde existe quase sempre alguma ondulação, quando o barco ia muito depressa que dava muitos saltos, quando se diminuía a velocidade que se sentia o cheiro a combustível queimado pois o barco não se afastava suficientemente depressa dos gases de escape. Quando, para obviar a esses inconvenientes se parava, queixava-se do balanço.

Passei então a privilegiar no Verão as viagens pela ria do Arade acima até Silves, mantendo algumas idas à albufeira de Castelo do Bode fora de Agosto. Estas idas acabaram quando foi interditado o uso de motores a dois tempos em Castelo do Bode, albufeira de onde se extrai muita água para consumo humano, designadamente para Lisboa.

Desde a aquisição do barco que me deparei com os melhoramentos contínuos da legislação sobre embarcações de recreio. Em cada ano em Agosto costumava gastar cerca de duas das quatro semanas de férias a tratar da obtenção de novas palamentas, de certificados, e a pagar novas licenças e taxas diligentemente criadas desde o ano que passara.

O barco não foi para a água num ano em que só passei duas semanas no Algarve e desde essa altura esteve parado numa garagem algarvia posta à disposição. Achei que já não iria andar mais naquele barco atingindo assim, de acordo com o cliché, o segundo momento de alegria na posse de um barco: o momento da venda, o primeiro tinha sido o momento da compra.

Vou tentar fazer um segundo post, sobre as viagens a Silves neste barco, pois este já vai muito longo.

(*) Adenda: recebi entretanto um comentário de um amigo ex-colega sobre o barco da 1ª foto que afinal em vez de ser um moliceiro é um mercantel:

«

Destes ainda percebo alguma coisa, pois são originais da terra dos meus avós.

O barco da foto não é um moliceiro, mas sim um mercantel. O moliceiro tem o bordo muito baixo para facilitar a faina da apanha das ditas algas a que chamamos moliço. Depois da carga atingir o topo do bordo eram colocadas umas anteparas de madeira com os respetivos vedantes o que permite continuar a carregar a embarcação navegando esta com a linha de agua acima do bordo sem no entanto se afundar. A manobra destes barcos era relativamente complicada para navegar à vela, porque não tinham quilha, a qual era substituída por uma prancha de madeira amovível colocada na lateral da embarcação, para evitar o deslocamento lateral quando o vento não era de ré. Requer uma tripulação de pelo menos dois elementos mas normalmente eram três.

Já o mercantel tinha por missão o transporte do sal das marinhas, do local de produção para os locais de armazenamento ou de embarque para exportação. Tinham o bordo significativamente mais alto, muito maior capacidade de transporte e eram mais estáveis e pesados, embora usassem também a prancha lateral para navegarem à vela.

Julgo que a razão desta embarcação estar no rio Arade se prende com o facto deste estar muito assoreado e ser mais facilmente navegável por uma embarcação de fundo chato, o que requer menos calado para navegar.

Estas embarcações estão em vias de extinção mas há ainda quem as conserve para passeios de família o que requer gastos significativos. Nas primeiras semanas de Setembro é costume haver uma competição de moliceiros na Torreira no decorrer das festas em honra de São Paio.
Já tenho nalgumas horas de navegação neste tipo de barco, e quando é propulsionado pelo vento é uma viagem muito agradável.

»


2023-01-18

 Drones Indianos na Agricultura


Ao passar pela BBC World News reparei numa breve notícia referindo o uso de drones na agricultura indiana. O filminho não está directamente acessível usando a imagem que mostro a seguir, dum drone voando sobre um campo agrícola mas pode ser visto usando este link.


No filme um agricultor refere que os trabalhadores dos campos estão a abandonar a agricultura para trabalhar na indústria e em escritórios e é actualmente mais dificil recrutar trabalhadores agrícolas, constatando-se a migração de trabalhadores do sector primário para os sectores secundário e terciário, como já acontecera noutros países.

Perante essa falta de mão-de-obra o agricultor começou a usar drones na sua propriedade, estando muito satisfeito com os resultados obtidos, referindo que o uso destes aparelhos, que podem ser alugados, constitui uma alternativa económica mesmo para propriedades de pequena dimensão que não tinham acesso a pulverização aérea.

No filme referem que os drones permitem reduzir o uso de pesticidas e de fertilizantes, reduzir a quantidade de água usada em irrigação, semear, aumentar a área de intervenção em relação a um trabalhador manual e/ou fazer a mesma tarefa em menos tempo.

Existem actualmente mais de 100 empresas indianas recentes fabricando drones, uma boa parte para dar apoio à agricultura, o que além de ser uma boa notícia, mostra que os drones podem também ter aplicações utilíssimas, não se restringindo às tomadas de vistas aéreas a baixo preço e aos ataques militares.

Como tenho pouco contacto com a agricultura não tinha até agora ouvido muitas referências ao uso de drones nas actividades agrícolas em Portugal.

Googlei (drones usados na agricultura) e fui dar a este sítio de uma empresa que presumo ser de origem espanhola, onde mostravam este campo de arroz no Japão com um drone a sobrevoá-lo quando o campo ainda está na fase “aquática”.

 

Apreciei a presença da perturbação na água, devida ao vento criado pelas hélices do drone, bem como a posição simétrica do drone e da sua imagem na superfície aquática. Na primeira imagem deste post também se nota a perturbação nas plantas do campo cultivado causado pelo vento do drone.

No texto deste sítio usam frequentemente o termo “Agricultura de precisão”.

2023-01-11

Debate sobre a Ucrânia

  


Um debate muito vivo sobre a Ucrânia ontem (10/Jan/2023) à noite no "Prime Time" da CNN Portugal, com major-general Agostinho Costa e embaixador Francisco Seixas da Costa, moderado por Ana Sofia Cardoso que pode  ser visto

aqui



2023-01-09

Percepção, Realidade e Brasília em 8 de Janeiro de 2023

 

 Ao olhar ontem para o terraço existente nas traseiras da minha casa fui surpreendido por este escoadouro de águas pluviais

 


em que nunca tinha reparado. Era estranho terem instalado um dispositivo destes no meio dum terraço bem como eu não ter reparado na sua existência desde há dezenas de anos.

Prestando maior atenção ao contexto do objecto que ilustro a seguir com uma imagem donde a de cima foi extraída

 


constatei que afinal se tratava da reflexão numa poça de água duma pérgula com um tecto formado por ripas de madeira, recortando-se contra um céu cinzento-claro que dá a ilusão de metal.

Constata-se que existiam mais ilusões desta natureza nas proximidades, esta era mais verosímil dada a sua forma aproximadamente rectangular.

Sempre que falava com estrangeiros notava a frequência com que uso expressões idiomáticas e/ou ditados populares. Neste caso diria "as aparências iludem" e esta desvaneceu-se mal a identifiquei como ilusão e quando voltei a olhar hoje para ela vi logo o reflexo do tecto da  pérgula em vez de um escoadouro.

Este processamento automático de imagens do nosso cérebro poupa-nos imenso tempo, ajudando-nos ainda a escapar a perigos súbitos que poderiam ser letais. Tem um preço moderado de por vezes nos fornecer ilusões.

Já na política uma das frases mais citadas atribuídas a Salazar é "na política o que parece é" mostrando que um ditador não se aguentaria tanto tempo no poder sem dizer coisas acertadas de vez em quando.

No Brasil, há muito tempo que parecia que se preparava uma insurreição, possivelmente parecida à musa inspiradora principal do Brasil que são os Estados Unidos da América (do Norte, como costuma completar uma amiga brasileira) onde ocorreu uma invasão parecida de edifícios das instituições democráticas por uma multidão em 06Jan/2021, mais explicitamente instigada por um anterior presidente.

Em 8/Jan/2023 a multidão formada por Bolsonaristas que estavam há semanas acampados em frente a quartéis e outros que se deslocaram a Brasília em autocarros fretados para o efeito invadiram os edifícios dos três poderes localizados na Praça dos Três Poderes:

- o do poder legislativo, o Senado com uma cúpula a emergir da esplanada e o Congresso Nacional, encimado com a cúpula invertida:

 


- o do poder executivo, o Palácio do Planalto, com também uma rampa de acesso, onde trabalha a Presidência da Republica:

 


- o do poder judicial, o Supremo Tribunal Federal, que se distingue arquitectonicamente do Palácio do Planalto por não ter rampa de acesso:

 


No "fim do jogo" é mais fácil "prever" o resultado, teria sido sempre politicamente dificil expulsar os acampados ainda pacíficos da frente dos quartéis e a oportunidade para fazer isso foi apenas uma semana, de 1 a 8/Jan, pois seria impossível enquanto Bolsonaro fosse o presidente do Brasil, o que durou até à tomada de posse de Lula em 1/Jan. Já barrar a entrada em Brasília dos autocarros anunciados nas redes sociais teria sido mais fácil.

"Em casa roubada, tranca na porta", é mais um ditado que costumo citar.





2023-01-05

Rabiscos de insecto em janela


Há uns 30 anos instalei uma janela dupla no único quarto virado a Norte na nossa casa em Lisboa. Foi uma solução subóptima mas era nessa altura a mais comum, designadamente nas casas mais antigas da Europa do Norte, tendo deixado essa solução inalterada quando há uns anos mudei as outras janelas para vidro duplo.

Enquanto a espessura da vidraça mais comum usada no século XX em Portugal tinha 3 mm de espessura, os vidros duplos actualmente mais comuns compõem-se de um vidro com espessura de 4 mm, outro com espessura de 6 mm e um espaço entre eles de 14mm, com ar desidratado entre os vidros, contido num espaço selado pelo espaçador.

Esta selagem é essencial para que não ocorra condensação no espaço entre os vidros que não poderiam ser limpos caso ocorresse condensação de vapor de água no espaço entre eles. Quando começa a ocorrer condensação é altura para substituir o vidro duplo, fenómeno que pode demorar bastantes anos a aparecer.

O ar é mau condutor de calor quando não se move. Quando o espaço entre os vidros é de 14mm como nos vidros duplos que acabo de referir, essa má condutibilidade verifica-se. Quando o espaço entre os vidros é da ordem dos 10cm, como na solução de duas janelas da minha casa, geram-se correntes de convecção que diminuem a capacidade isolante do ar. Essa é a razão para preencher o espaço entre paredes nas paredes duplas com espumas que impedem a convecção do ar entre as duas paredes, solução que não se pode usar para vidros entre janelas.

Toda esta conversa para apresentar um caso de duas janelas em que a exterior embaciou por dentro no último dia do ano que passou, dando a ilusão de que estava nevoeiro, como mostro a seguir

 


Fui também surpreendido pelo "grafiti" que não podia ter sido feito no lado interior do vidro da janela exterior pois a janela interior estava fechada. Deve ter sido algum insecto que apenas deixou este rasto.

Ampliando a mesma imagem é possível ver também as aglomerações das micro-gotas de condensação em mini-gotas em vários pontos da trajectória do insecto: