2023-01-09

Percepção, Realidade e Brasília em 8 de Janeiro de 2023

 

 Ao olhar ontem para o terraço existente nas traseiras da minha casa fui surpreendido por este escoadouro de águas pluviais

 


em que nunca tinha reparado. Era estranho terem instalado um dispositivo destes no meio dum terraço bem como eu não ter reparado na sua existência desde há dezenas de anos.

Prestando maior atenção ao contexto do objecto que ilustro a seguir com uma imagem donde a de cima foi extraída

 


constatei que afinal se tratava da reflexão numa poça de água duma pérgula com um tecto formado por ripas de madeira, recortando-se contra um céu cinzento-claro que dá a ilusão de metal.

Constata-se que existiam mais ilusões desta natureza nas proximidades, esta era mais verosímil dada a sua forma aproximadamente rectangular.

Sempre que falava com estrangeiros notava a frequência com que uso expressões idiomáticas e/ou ditados populares. Neste caso diria "as aparências iludem" e esta desvaneceu-se mal a identifiquei como ilusão e quando voltei a olhar hoje para ela vi logo o reflexo do tecto da  pérgula em vez de um escoadouro.

Este processamento automático de imagens do nosso cérebro poupa-nos imenso tempo, ajudando-nos ainda a escapar a perigos súbitos que poderiam ser letais. Tem um preço moderado de por vezes nos fornecer ilusões.

Já na política uma das frases mais citadas atribuídas a Salazar é "na política o que parece é" mostrando que um ditador não se aguentaria tanto tempo no poder sem dizer coisas acertadas de vez em quando.

No Brasil, há muito tempo que parecia que se preparava uma insurreição, possivelmente parecida à musa inspiradora principal do Brasil que são os Estados Unidos da América (do Norte, como costuma completar uma amiga brasileira) onde ocorreu uma invasão parecida de edifícios das instituições democráticas por uma multidão em 06Jan/2021, mais explicitamente instigada por um anterior presidente.

Em 8/Jan/2023 a multidão formada por Bolsonaristas que estavam há semanas acampados em frente a quartéis e outros que se deslocaram a Brasília em autocarros fretados para o efeito invadiram os edifícios dos três poderes localizados na Praça dos Três Poderes:

- o do poder legislativo, o Senado com uma cúpula a emergir da esplanada e o Congresso Nacional, encimado com a cúpula invertida:

 


- o do poder executivo, o Palácio do Planalto, com também uma rampa de acesso, onde trabalha a Presidência da Republica:

 


- o do poder judicial, o Supremo Tribunal Federal, que se distingue arquitectonicamente do Palácio do Planalto por não ter rampa de acesso:

 


No "fim do jogo" é mais fácil "prever" o resultado, teria sido sempre politicamente dificil expulsar os acampados ainda pacíficos da frente dos quartéis e a oportunidade para fazer isso foi apenas uma semana, de 1 a 8/Jan, pois seria impossível enquanto Bolsonaro fosse o presidente do Brasil, o que durou até à tomada de posse de Lula em 1/Jan. Já barrar a entrada em Brasília dos autocarros anunciados nas redes sociais teria sido mais fácil.

"Em casa roubada, tranca na porta", é mais um ditado que costumo citar.





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