2022-11-28

 Praia da Rocha em Abril de 2022



A avenida Tomás Cabreira na Praia da Rocha, a única que existia nos anos 60 do século passado, tem-se transformado ao longo deste longo tempo, as vivendas transformaram-se quase todas em prédios de apartamentos, os edifícios de vários andares sofreram metamorfoses quase tão grandes como as das borboletas ou foram mesmo arrasados e substituídos como as vivendas.

O mobiliário urbano da avenida foi sendo alterado com bastante frequência, por exemplo houve uma altura em que os candeeiros de iluminação pública que deveriam durar duas ou três décadas eram substituídos cada dois ou três anos, achei quase natural que, em Portugal, o município de Portimão tivesse em 2019 a maior dívida por habitante.
 


 


Ao frenesi da substituição do mobiliário urbano não resistiram as árvores, julgo que choupos,  que davam alguma sombra aos passeios da avenida Tomás Cabreira, que foram substituídas por uns rebentos “na mais tenra infância” de espinheitro-da-Virgínia (Gleditsia triacanthos), espécie tão bem sucedida noutras paragens de Portugal..

Como consequência, desde antes de 2012, mais de dez anos, que esta parte do passeio desta avenida deixou de ter sombras e as árvores que se vêem na imagem ao lado são já uma segunda tentativa de plantar árvores nesta secção porque as primeiras morreram todas.

É evidente que não foram estas árvores nem os constantes rearranjos do piso e do mobiliário urbano desta avenida que arrastaram a Câmara Municipal de Portimão para a posição destacada da dívida por habitante mais elevada de Portugal, mas será uma ponta do icebergue, da volatilidade excessiva das decisões camarárias e da falta de acompanhamento das consequências e de correcção das decisões tomadas.

Mas deixo este tema de dívidas excessivas de algumas autarquias para os governantes,  especialistas na matéria e Procuradoria Geral da República, concentrando-me no que se pode ainda aproveitar do que existe.

 

Começo por outra foto tirada no mesmo local com um enquadramento ligeiramente diferente


foto de que vou aproveitar várias partes, como por exemplo as ervas “possivelmente daninhas”, que se dão tão bem no canteiro da árvore mais próxima
 


mostrando que nalguns casos decoram os canteiros como se tivessem sido plantadas por um jardineiro. Constato que o canteiro da segunda árvore apenas tem ervas com poucas flores, apoiando a conjectura que as flores do primeiro canteiro são espontâneas.

Mostro depois em pormenor a árvore do primeiro canteiro, estas folhas amarelas são as primeiras do ano, com um verde tão claro que as deixa amarelas. Com o passar dos dias chegarão ao verde


 

Olhando para o outro lado da rua, a mais afastada por alguns metros do mar mas também um pouco protegida pela parede da casa que fará abrandar o vento, vêem-se outras árvores da mesma espécie, ligeiramente menos raquíticas do que as do lado de cá mas que, ao fim de mais de 10 anos, tão pouco conseguem dar uma sombra decente

 

Achei que neste enquadramento o amarelo das árvores dava um contraste agradável, vendo-se ao fundo a Vila Lido, construída em 1944 e sendo das pouquíssimas sobreviventes da transformação urbanística da Praia da Rocha desde o último quartel do século XX.

Para finalizar um enquadramento ligeiramente diferente deste que acabo de mostrar
 





2022-11-27

Valores de Mercado das Selecções Nacionais no Catar/2022

 

A obsessão com o futebol em Portugal e o valor da Selecção Portuguesa, 4ª posição mundial para um país com 10 milhões de habitantes, lembram o aforismo: "isto está tudo ligado".

Visto no STATISTA, aqui:

 



 


2022-11-15

As manifas para acabar com os fósseis


Conjecturo que os ministros que têm apoiado a luta, iniciada neste mês de Nov/2022 por estudantes da Escola António Arroio, o fazem porque muita gente, em que me incluo, considera que se tem que abandonar os combustíveis fósseis.


Pela minha parte considero também que

- os meios da luta, i.e. fechar escolas;

- o objectivo de curto prazo, de correr com o ministro Costa Silva, uma das pessoas mais competentes e sensatas na área da energia;

- e o de médio prazo (acabar com o uso dos combustíveis fósseis até 2030) 

são completamente disparatados, nocivos e censuráveis.

Como alternativa proponho que façam umas manifas para facilitar criação de equipas de activistas e que estudem na escola e fora dela para encontrarem acções eficazes para acabar com o uso dos combustíveis fósseis.


2022-11-14

Uma Geringonça Propriamente Dita

 
Nesta vida de reformado estou frequentemente em casa ao fim da tarde e depois da hora do chá costumo passar algum tempo a ver séries policiais. Há bastante tempo que perdi o interesse em desvendar os mistérios que vão sendo apresentados, vejo os episódios desenrolando-se e aguardo calmamente que me revelem o que “verdadeiramente” se passou. Os cenários são um dos grandes motivos do meu interesse, bem como as conversas e maneirismos das personagens, revelando alguns dos hábitos de cada sociedade onde a acção se desenrola.


Não sei se será uma reacção às dificuldades do cidadão comum em descortinar a verdade no meio das múltiplas perspectivas enviezadas que lhe dão nos meios de comunicação social, aqui não é necessário descobrir a verdade, basta seguir a narrativa.

Ultimamente tenho estado na fase Poirot, um detective que é a personagem mais famosa da escritora Agatha Christie (1890-1976) com uma bibliografia extensa (1921-1976), encarnado na série mais recente (da ITV, de 1989 a 2013, em 13 temporadas num total de 70 episódios) pelo actor inglês David Suchet .

Os episódios que tenho visto parecem ocorrer nos anos 30 do século XX em ambientes ingleses clássicos em casas senhoriais ou em ambientes mais contemporâneos dessa época com forte predomínio da Art Déco. São também admiráveis os automóveis clássicos dessa época e uns mais antigos que ainda sobreviviam na altura, bem como o guarda-roupa de toda aquela gente.

No episódio “Evil Under the Sun” (livro publicado em 1941) a acção passava-se num hotel duma ilha, muito próxima do que os ingleses chamam ali “mainland” (a Grã-Bretanha) que foi traduzida nas legendas por “o Continente”.

A minha curiosidade foi aguçada por uma Geringonça propriamente dita que aparece na  imagem que segue, um veículo de 4 rodas com uma plataforma sobre elevada, avançando pela água em direcção à ilha numa zona em que um banhista em pé tem água quase pela cintura

 



Obtive esta imagem a com a legenda “Burgh Island Hotel in 2005” googlando (pixie cove Agatha Christie) em que “pixie cove” era uma caverna referida no episódio e Agatha Christie a “argumentista” tendo aparecido logo a referência ao Burgh Island Hotel num artigo da Wikipédia onde constava esta imagem.

Seguindo o link “Burgh Island” nesse artigo obtive esta imagem

 

que ilustra o istmo de areia que liga a ilha a terra durante a maré baixa, e que agora aprendi que se chama “tômbolo”.

Lembrei-me logo da praia do Baleal, 3km ao norte de Peniche, mostrada nesta vista aérea
 

 
que encontrei no sítio Baleal Surfcamp.

Os ingleses chamam a esta geringomça “Sea tractor” e este que se estreou em 1969 é o terceiro com este formato a servir  a Burgh Island
 

A Burgh _Island fica na costa sul de Devon, entre Plymouth e Torquay,

 

esta última uma estância balnear onde nasceu Agatha Christie, que gostava muito desta ilha e do seu hotel.

Tinha a ideia que no Canal entre a Inglaterra e a França a amplitude das marés era enorme, chegando a atingir 18 metros em situações excepcionais pelo que me pareceu que a geringonça não conseguiria passar para a ilha quando a maré estivesse alta e por isso fui confirmar a amplitude das marés na Burgh Island
 

 constatando que para este dia (6/Nov/2022) a diferença entre a maré cheia (5,5m) e a maré vazia (1m) seria à volta de 4,5m. Achei pouco, receeei que fosse algum dia excepcional e vi a previsão para uma semana, também na Burgh Island

 
constatando que se mantém a amplitude entre marés de cerca de 4,5m. Considerando que o istmo está acima do nível da maré baixa, na maré alta a altura da água na zona do istmo será menor do que 4,5m.

Fui ver a previsão das marés no Baleal
 


constatando que a amplitude entre marés andará pelos 2,5m, no canal as marés são muito mais fortes do que na costa portuguesa mas não tão grandes como eu esperava.

Sabia contudo que no lado francês do canal, próximo da cidade de Saint-Malo, existe a central maremotriz de Rance, a maior central de marés do mundo quando entrou em serviço em 1966, com 24 turbinas bolbo reversíveis de 10MW cada, perfazendo 240Mw sendo a produção anual de 500GWh.

No folheto da central que facultavam informavam que quando estavam a turbinar para dentro da albufeira e a queda já era muito pequena passavam a bombar para dentro da albufeira pois a cota adicional na albufeira nesse período de 1 ou 2 metros dava origem depois quando a maré vazava, a uma queda da amplitude da maré mais esses 1 ou 2 metros de queda.

Fui ver as cotas em Saint-Malo
 


constatando que o valor da amplitude das marés andava nessa altura por volta dos 9m, o dobro da amplitude em Burgh Island, parecendo verosímil que em situações muito excepcionais atinga os 18m.

A distância em linha recta entre Burgh Island e St.Malo é 220km e julgo que a razão da diferença nas amplitudes das marés destes dois sítios se deve à costa francesa entre o Monte de Saint_Michel e La Hague, numa extensão de 110km que, constituindo uma barreira ao movimento da água do Oceano Atlântico quando entra no canal, provoca nessa zona uma sobreelevação da cota da maré alta.

Lembro-me bem da impressão que me fez a amplitude das marés no porto de Bristol, quando visitei esta cidade em1983, constatando agora que na semana de 6 a 12/Nov/2022 era de 9m. Neste caso a grande amplitude deve-se ao afunilamento do Canal de Bristol que liga o Oceano Atlântico ao estuário do rio Severn e, segundo li, a amplitude das marés dem Bristol é a segunda maior do mundo.

Nos meses de Julho, Agosto e Setembro de 2022 a amplitude média da maré na praia de Alvor no Algarve foi de 2 metros.


 

2022-11-10

Putinlândia

 

Gosto sempre de ouvir os comentários que o Bernardo Pires de Lima faz nos noticiários da RTP3, uma pessoa bem informada nos temas internacionais, sensata e ligeiramente pessimista, o que se compreende quando os noticiários se focam quase exclusivamente nas desgraças que vão ocorrendo.

Foi essa a razão principal para comprar este livro sobre Putin, que a editora Tinta da China caracteriza adequadamente como "O grande ensaio português sobre Vladimir Putin, nova edição, revista e actualizada de um livro que já em 2016 antecipava o actual rumo do regime de Putin, agora com novos capítulos sobre a invasão da Ucrânia. "

Como costumo ouvir os comentários do autor o livro foi para mim uma "revisão da matéria dada", sendo ainda mais interessante para quem não o ouve habitualmente.

Quanto ao objecto livresco achei os cantos redondos muito adequados para este formato de livro de bolso.

Gal Costa

 

Agora foi a vez de Gal Costa falecer, com 77 anos.

Gosto desta mistura de animação, música para a novela "A Luz de Tieta" com Caetano Veloso e Gal Costa

 

 

e sempre gostei muito desta música, intitulada "Índia"




2022-11-06

Gás de Sines para a Europa

 

Há uns tempos li um artigo de opinião de Aníbal Fernandes na edição de 2/Out/2022 do jornal Público sobre o eventual uso do Terminal de GNL de Sines para gasificar o gás liquefeito que lá chega e enviá-lo por gasoduto para a Europa, para o que seria necessário uma ligação da rede de gasodutos ibérica com a rede francesa.

No artigo defendia-se que no curto prazo essa ligação Espanha-França não resolveria a falta de GNL na Europa Central pois demoraria vários anos a ser construída e, quando terminada, seria provavelmente mais caro transportar o gás de Sines para o centro da Europa por gasoduto do que liquefeito.

No curto prazo poder-se-ia eventualmente redireccionar alguns barcos com GNL liquefeito destinados a Sines, após compensação devida, para ser gasificado e consumido no centro da Europa.

Toda a argumentação me pareceu sensata e tecnicamente competente.


2022-11-02

Pronunciamento de Lula da Silva na noite da vitória em 30/Out/2022

 
Neste post do 2 Dedos de Conversa  vi uma comparação entre o início do discurso de Bolsonaro há quatro anos e o discurso de Lula da Silva após a vitória na 2ª volta das eleições presidenciais brasileiras em 30/Out/2022 que apreciei e li do princípio ao fim, actividade que não tenho conseguido realizar relativamente aos programas dos partidos nas eleições legislativas de Portugal, limitando-me a ver referências aos mesmos em programas da TV e em jornais.

Constatei agora que neste blogue me referi à detenção de Lula da Silva em Março/2016 para prestar declarações, manifestando então a minha opinião que se tratava dum abuso do poder judicial numa perseguição com motivos políticos ao anterior presidente, para o impedir de concorrer à presidência na sequência da eventual destituição de Dilma Roussef.

Foi o que aconteceu numa sequência de acções do juiz Sérgio Moro que conseguiu que o ex-presidente fosse condenado em primeira instância cuja sentença foi confirmada em segunda instância após o que se deu execução ao cumprimento da pena de prisão efectiva, mesmo antes do resultado da contestação da segunda instância no Supremo Tribunal, conforme a lei brasileira então em vigor. O juiz Sérgio Moro viu os seus serviços recompensados pelo presidente Bolsonaro que lhe deveu provavelmente a eleição e que o nomeou para ministro da Justiça, sendo contudo criticado nalguns jornais portugueses, talvez por revelar de forma excessivamente exuberante a natureza da sua perseguição ao ex-presidente.

Mais de um ano após a prisão de Lula da Silva o Supremo Tribunal anulou todos os julgamentos que condenaram o ex-presidente, com fundamento em irregularidades inadmissíveis, que pôde assim recuperar a liberdade. Não existe assim qualquer condenação legal de Lula da Silva pois as que existiram foram consideradas nulas por serem ilegais.

Existiram contudo numerosas condenações de ministros de Lula da Silva, acompanhadas de compreensível indignação dos eleitores que julgaram que um governo do Partido dos Trabalhadores chefiado pelo ex-operário Lula da Silva seria no mínimo menos corrupto do que era habitual nos governos do Brasil.

É também problemática a dependência do Partido dos Trabalhadores de uma figura única, de idade avançada bem como as dificuldades que Lula encontrará no poder legislativo que lhe é maioritariamente hostil.

Mas voltando ao discurso, depois de recorrer ao Google e ter ido dar a muitos sítios de jornais, cada um com os seus comentários pelo meio do texto, fui ao “Site oficial do ex-presidente Lula (2002-2010)” onde encontrei este Pronunciamento, idêntico ao texto que referi no início deste post:

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Pronunciamento

Leia a íntegra do pronunciamento do presidente eleito, sem improvisações
30/10/2022 • 21:14:57

Meus amigos e minhas amigas.

Chegamos ao final de uma das mais importantes eleições da nossa história. Uma eleição que colocou frente a frente dois projetos opostos de país, e que hoje tem um único e grande vencedor: o povo brasileiro.

Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora.

Neste 30 de outubro histórico, a maioria do povo brasileiro deixou bem claro que deseja mais – e não menos democracia.

Deseja mais – e não menos inclusão social e oportunidades para todos. Deseja mais – e não menos respeito e entendimento entre os brasileiros. Em suma, deseja mais – e não menos liberdade, igualdade e fraternidade em nosso país.

O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo.

O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que o direito de apenas protestar que está com fome, que não há emprego, que o seu salário é insuficiente para viver com dignidade, que não tem acesso a saúde e educação, que lhe falta um teto para viver e criar seus filhos em segurança, que não há nenhuma perspectiva de futuro.

O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, morar bem. Quer um bom emprego, um salário reajustado sempre acima da inflação, quer ter saúde e educação públicas de qualidade.

Quer liberdade religiosa. Quer livros em vez de armas. Quer ir ao teatro, ver cinema, ter acesso a todos os bens culturais, porque a cultura alimenta nossa alma.

O povo brasileiro quer ter de volta a esperança.

É assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia-dia.

Foi essa democracia, no sentido mais amplo do termo, que o povo brasileiro escolheu hoje nas urnas. Foi com essa democracia – real, concreta – que nós assumimos o compromisso ao longo de toda a nossa campanha.

E é essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo. Com crescimento econômico repartido entre toda a população, porque é assim que a economia deve funcionar – como instrumento para melhorar a vida de todos, e não para perpetuar desigualdades.

A roda da economia vai voltar a girar, com geração de empregos, valorização dos salários e renegociação das dívidas das famílias que perderam seu poder de compra.

A roda da economia vai voltar a girar com os pobres fazendo parte do orçamento. Com apoio aos pequenos e médios produtores rurais, responsáveis por 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas.

Com todos os incentivos possíveis aos micros e pequenos empreendedores, para que eles possam colocar seu extraordinário potencial criativo a serviço do desenvolvimento do país.

É preciso ir além. Fortalecer as políticas de combate à violência contra as mulheres, e garantir que elas ganhem o mesmo salários que os homens no exercício de igual função.

Enfrentar sem tréguas o racismo, o preconceito e a discriminação, para que brancos, negros e indígenas tenham os mesmos direitos e oportunidades.

Só assim seremos capazes de construir um país de todos. Um Brasil igualitário, cuja prioridade sejam as pessoas que mais precisam.

Um Brasil com paz, democracia e oportunidades.

Minhas amigas e meus amigos.

A partir de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somo um único país, um único povo, uma grande nação.

Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio.

A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra.

Este país precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído.

É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam. E nós escolhemos a vida.

O desafio é imenso. É preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões. Na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais e, sobretudo, no cuidado com os mais necessitados.

É preciso reconstruir a própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo.

Trazer de volta a alegria de sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da bandeira do nosso país. Esse verde-amarelo e essa bandeira que não pertencem a ninguém, a não ser ao povo brasileiro.

Nosso compromisso mais urgente é acabar outra vez com a fome. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário.

Se somos o terceiro maior produtor mundial de alimentos e o primeiro de proteína animal, se temos tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias.

Este será, novamente, o compromisso número 1 do nosso governo.

Não podemos aceitar como normal que famílias inteiras sejam obrigadas a dormir nas ruas, expostas ao frio, à chuva e à violência.

Por isso, vamos retomar o Minha Casa Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa renda, e trazer de volta os programas de inclusão que tiraram 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza.

O Brasil não pode mais conviver com esse imenso fosso sem fundo, esse muro de concreto e desigualdade que separa o Brasil em partes desiguais que não se reconhecem. Este país precisa se reconhecer. Precisa se reencontrar consigo mesmo.

Para além de combater a extrema pobreza e a fome, vamos restabelecer o diálogo neste país.

É preciso retomar o diálogo com o Legislativo e Judiciário. Sem tentativas de exorbitar, intervir, controlar, cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e republicana entre os três poderes.

A normalidade democrática está consagrada na Constituição. É ela que estabelece os direitos e obrigações de cada poder, de cada instituição, das Forças Armadas e de cada um de nós.

A Constituição rege a nossa existência coletiva, e ninguém, absolutamente ninguém, está acima dela, ninguém tem o direito de ignorá-la ou de afrontá-la.

Também é mais do que urgente retomar o diálogo entre o povo e o governo.

Por isso vamos trazer de volta as conferências nacionais. Para que os interessados elejam suas prioridades, e apresentem ao governo sugestões de políticas públicas para cada área: educação, saúde, segurança, direitos da mulher, igualdade racial, juventude, habitação e tantas outras.

Vamos retomar o diálogo com os governadores e os prefeitos, para definirmos juntos as obras prioritárias para cada população.

Não interessa o partido ao qual pertençam o governador e o prefeito. Nosso compromisso será sempre com melhoria de vida da população de cada estado, de cada município deste país.

Vamos também reestabelecer o diálogo entre governo, empresários, trabalhadores e sociedade civil organizada, com a volta do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Ou seja, as grandes decisões políticas que impactem as vidas de 215 milhões de brasileiros não serão tomadas em sigilo, na calada da noite, mas após um amplo diálogo com a sociedade.

Acredito que os principais problemas do Brasil, do mundo, do ser humano, possam ser resolvidos com diálogo, e não com força bruta.

Que ninguém duvide da força da palavra, quando se trata de buscar o entendimento e o bem comum.

Meus amigos e minhas amigas.

Nas minhas viagens internacionais, e nos contatos que tenho mantido com líderes de diversos países, o que mais escuto é que o mundo sente saudade do Brasil.

Saudade daquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos. E que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres.

O Brasil que apoiou o desenvolvimento dos países africanos, por meio de cooperação, investimento e transferência de tecnologia.

Que trabalhou pela integração da América do Sul, da América Latina e do Caribe, que fortaleceu o Mercosul, e ajudou a criar o G-20, a UnaSul, a Celac e os BRICS.

Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo.

Vamos reconquistar a credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade do país, para que os investidores – nacionais e estrangeiros – retomem a confiança no Brasil. Para que deixem de enxergar nosso país como fonte de lucro imediato e predatório, e passem a ser nossos parceiros na retomada do crescimento econômico com inclusão social e sustentabilidade ambiental.

Queremos um comércio internacional mais justo. Retomar nossas parcerias com os Estados Unidos e a União Europeia em novas bases. Não nos interessam acordos comerciais que condenem nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e matéria prima.

Vamos re-industrializar o Brasil, investir na economia verde e digital, apoiar a criatividade dos nossos empresários e empreendedores. Queremos exportar também conhecimento.

Vamos lutar novamente por uma nova governança global, com a inclusão de mais países no Conselho de Segurança da ONU e com o fim do direito a veto, que prejudica o equilíbrio entre as nações.

Estamos prontos para nos engajar outra vez no combate à fome e à desigualdade no mundo, e nos esforços para a promoção da paz entre os povos.

O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica.

Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia, diminuindo de forma considerável a emissão de gases que provocam o aquecimento global.

Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia

O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às custas da deterioração da vida na Terra.

Um rio de águas límpidas vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a fauna e coloca em risco a vida humana.

Quando uma criança indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela.

Por isso, vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia, e combater toda e qualquer atividade ilegal – seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida.

Ao mesmo tempo, vamos promover o desenvolvimento sustentável das comunidades que vivem na região amazônica. Vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem destruir o meio ambiente.

Estamos abertos à cooperação internacional para preservar a Amazônia, seja em forma de investimento ou pesquisa científica. Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania.

Temos compromisso com os povos indígenas, com os demais povos da floresta e com a biodiversidade. Queremos a pacificação ambiental.

Não nos interessa uma guerra pelo meio ambiente, mas estamos prontos para defendê-lo de qualquer ameaça.

Meus amigos e minhas amigas.

O novo Brasil que iremos construir a partir de 1º de janeiro não interessa apenas ao povo brasileiro, mas a todas as pessoas que trabalham pela paz, a solidariedade e a fraternidade, em qualquer parte do mundo.

Na última quarta-feira, o Papa Francisco enviou uma importante mensagem ao Brasil, orando para que o povo brasileiro fique livre do ódio, da intolerância e da violência.

Quero dizer que desejamos o mesmo, e vamos trabalhar sem descanso por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira, e a esperança seja maior que o medo.

Todos os dias da minha vida eu me lembro do maior ensinamento de Jesus Cristo, que é o amor ao próximo. Por isso, acredito que a mais importante virtude de um bom governante será sempre o amor – pelo seu país e pelo seu povo.

No que depender de nós, não faltará amor neste país. Vamos cuidar com muito carinho do Brasil e do povo brasileiro. Viveremos um novo tempo. De paz, de amor e de esperança.

Um tempo em que o povo brasileiro tenha de novo o direito de sonhar. E as oportunidades para realizar aquilo que sonha.

Para isso, convido a cada brasileiro e cada brasileira, independentemente em que candidato votou nessa eleição. Mais do que nunca, vamos juntos pelo Brasil, olhando mais para aquilo que nos une, do que para nossas diferenças.

Sei a magnitude da missão que a história me reservou, e sei que não poderei cumpri-la sozinho. Vou precisar de todos – partidos políticos, trabalhadores, empresários, parlamentares, govenadores, prefeitos, gente de todas as religiões. Brasileiros e brasileiras que sonham com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais fraterno.

Volto a dizer aquilo que disse durante toda a campanha. Aquilo que nunca foi uma simples promessa de candidato, mas sim uma profissão de fé, um compromisso de vida:

O Brasil tem jeito. Todos juntos seremos capazes de consertar este país, e construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos – com oportunidades para transformá-los em realidade.

Maus uma vez, renovo minha eterna gratidão ao povo brasileiro. Um grande abraço, e que Deus abençoe nossa jornada.


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Não será um programa mas dá uma ideia do que Lula pretende fazer na sua Presidência.