2020-10-30

Nem todos os algoritmos são artificialmente inteligentes

 

Recebi este mail do YouTube



que me surpreendeu dada a natureza do meu filminho Isis, sobre uma imagem da deusa egípcia, que podem ver neste meu post
 
Duvido que tenham tido tempo para verem o filme, devem tê-lo marcado como "para maiores de idade" e comunicaram-me dando-me oportunidade de submeter uma contestação.

Enviei-lhes este texto:
«
I do not understand why this figure of the Egyptian goddess Isis may disturb any child or adult. The figure is displayed in the Cairo museum for everybody to see, it is similar to many images existing in the internet and in old Egyptian buildings. Maybe it has been confused with the unfortunate acronym used by many to designate an infamous terrorist organization but this should not be enough reason to suppress it.
»
 
Passados 7 dias chegou-me este mail:
 

 
Não estou habituado a que um assunto entre mim e uma instituição se resolva em 7 dias e mesmo assim pedem desculpa de terem demorado tanto tempo! 

Constato contudo que o algoritmo que usam para detectar filmes problemáticos é bastante fraco.

A imagem final do filminho é esta:



 

2020-10-27

Arte abstracta

 

De uma forma geral prefiro a arte figurativa à abstracta, abrindo excepção para as realizações geométricas.

 Mas esta imagem, 


que num primeiro relance me pareceu  um vitral com uma composição abstracta, sugere que existem nalguns casos, como nestes reflexos dum crepúsculo nestes arrozais chineses em socalcos, fronteiras fluidas entre as duas classes de imagens artísticas.

 

Adenda: esta foto chegou-me sem identificação da autoria. Constatei agora que são arrozais no sul de Yunnan fotografados por Thierry Bornier, como referido aqui, contendo um conjunto de fotos que recomendo vivamente.

 

 

2020-10-21

Alexandre Roubtzoff (1884-1949)

 

Recebo há anos às quintas-feiras um conjunto de sugestões culturais do João Miguel, antigo colega, que estão também disponíveis:
- no blog http://azweblog.blogspot.com
- no facebook ( https://www.facebook.com/pages/Sugestôes/582224458542163  ).
onde desta vez vi esta referência:

- Domingo, 18/    às 18h31, na TV5, La Tunisie d'Alexandre Roubtzoff (60’)

que me conduziu a um documentário sobre a vida e obra deste pintor russo, que visitou a Tunísia em 1914 e que para lá emigrou, tendo adquirido a nacionalidade francesa em 1924, e vivendo e pintando motivos tunisinos até à sua morte em 1949.

Desde que visitei a Tunísia no ano 2000, numa acção de consultoria ao Despacho do Sistema Eléctrico do país, fiquei a simpatizar com a Tunísia, tendo-a referido nalguns posts deste blogue.

O pintor, que se manteve figurativo numa época de grande revolução nos objectivos e técnicas da pintura, além de fazer retratos da burguesia do colonizador francês para ganhar a vida, interessava-se sobretudo pela forma de estar e de se apresentar dos tunisinos e também pela luz e paisagens da margem sul do Mediterrâneo.

Nas mulheres registou algumas maquilhagens feitas com Henna, um produto natural usado há séculos para fazer pinturas na pele que duram duas ou 3 semanas e que é contra-indicado para uma minoria de pessoas alérgicas ao produto.

Neste post mostro como legenda o endereço do sítio onde fui buscar cada imagen.

Segue uma cena de maquilhagem de uma mulher por outra

https://www.bukowskis.com/en/auctions/F167/201-alexandre-roubtzoff-fatima-and-manoubia


e depois umas amendoeiras em flor
 

2020-10-18

Projectos inovadores


Cheguei por acaso ao filme que enquadra e resume de forma que me pareceu competente a vida do avião Concorde, desde o arranque do projecto até à decisão de retirar de serviço os Concordes que ainda voavam.

Quando concluí o curso no IST em 1971 tinha-me inscrito na IAESTE para fazer um estágio de um mês na Aerospatiale em Toulouse.

Foi uma experiência muito interessante se bem que tecnicamente limitada pois, dada a curta duração do estágio, deram-me apenas alguns relatórios técnicos sobre sistemas de controlo do Concorde para ler e fazer posteriormente um relatório resumo.

 No mesmo edifício existia um corredor com um número apreciável de salas para reuniões, onde confluíam técnicos de várias nacionalidades europeias para desenvolver o projecto do avião AIRBUS, que tanto sucesso tem tido.

 O local de trabalho era um "open space" grande, proporcionando uma primeira impressão do ambiente de trabalho de uma grande empresa. Mas o melhor é ver o filme.

Why You Couldn’t Afford To Fly Concorde (13:42)

 

Depois fui surpreendido por este hidroavião mastodôntico russo, protótipo de um aparelho que planava a poucos metros de altura da água, sobre uma almofada de ar, pretendendo substituir os hidrofoils e que não passou da fase de protótipo

What Happened To Giant Ekranoplans? (10:55)

 

O terceiro filme chamou-me a atenção por ter ouvido falar nos anos 80 do século passado das dificuldades que os ingleses tiveram em colocar em funcionamento nos anos o APT (Advanced Passenger Train), um combóio projectado para percorrer linhas férreas existentes, com curvas apertadas, a velocidades próximas dos 200km. O combóio inclinava-se nas curvas para evitar que os passageiros fossem "projectados" contra a parede do lado de fora da curva. A ideia era boa, o protótipo não foi fiável, acabaram por vender as patentes a uma companhia italiana que vendeu posteriormente para a Grã-Bretanha vários Pendolinos que funcionaram muito bem. Julgo que o Alfa pendular tem a mesma origem.

Em 2007 passei pela estação de Padington em Londres e então surpreendeu-me o cheiro a gasóleo existente na estação. Constatei que o cheiro se devia a combóios a diesel ainda usados em Inglaterra, enquanto no resto da Europa (pelo menos na Europa Central) estava tudo electrificado há muitos anos. Vi agora que a linha "Great Western Railway", que liga Londres a Bristol teve a sua electrificação finalmente concluída em Janeiro/2019, num projecto com 4 anos de atraso e um custo de £2.8bn!

This Train Made Passengers Sick: The APT Tilting Train Story (10:59)

 

No último filme desta série mostra-se como a China construiu uma rede de combóios de alta velocidade com uma extensão comparável à de todas as redes deste tipo existentes no resto do mundo

Why China Is so Good at Building Railways (12:12)

 

2020-10-16

Stayaway COVID ou FicasteLonge Stayaway

 

Tenho grandes dúvidas sobre a utilidade da aplicação de que tanto se fala neste momento. Não é tanto o receio com a eventual falta de privacidade dos dados que julgo ter sido bem acautelada mas mais o meu estilo de vida recatado em que saio quase nada para sítios com muita gente e comunico com outras pessoas via telefone ou via internet. As próprias medidas de contenção da pandemia conduziram-me a um estilo de vida em que a utilidade da aplicação será ainda menor.

Tenho tido vários telemóveis que têm sido substituidos ao ritmo das suas avarias. O que tenho actualmente é um iphone 4S de Setembro de 2012 que actualizou o sistema operativo iOS até à versão 9.3.6. A partir desta a Apple informou que não seria possível fazer mais actualizações. O aparelho ainda não se avariou, tendo apenas sido necessário mudar a bateria em Janeiro de 2018.

Apreciei a possibilidade  de fazer e receber chamadas telefónicas sem ter que estar ao pé dum telefone fixo e o envio de mensagens sms para a família por um preço módico quando estava no estrangeiro.

Apreciei a chegada dos smartphones que, além de me permitirem
- tirar fotografias de cada vez melhor qualidade sem ter que andar com uma máquina fotográfica,
- fazer vídeos sem ter que andar com uma câmara de vídeo,
- armazenar alguma música sem ter que trazer um walkman ou um discman,
- ter acesso ao GPS sem ter que andar com um aparelho específico,
- poder consultar mapas e pedir direcções quer em Portugal quer em países da Europa ou de outros continentes sem ter que voltar a dobrar e guardar os mapas que abrira,
- usar e-mail,
- pagar parques de estacionamento, e aceder às bicicletas GIRA,
- traduzir caracteres chineses copiados à mão e depois também fotografados,
- fazer chamadas na União Europeia ao mesmo preço que em Portugal,
- fazer chamadas telefónicas gratuitas via Wi-Fi de hóteis no estrangeiro, sítios que tradicionalmente eram muito mais caros do que as já dispendiosas cabines telefónicas,
- usar o telemóvel como hotspot para permitir ao meu PC aceder à internet num écran com uma dimensão decente,
- aceder a notícias na internet e a muitas outras páginas,
- como despertador e alarme para eventos específicos a meio do dia,
- e  ainda com uma calculadora e um bloco de notas!

Além das aplicações que vieram com o telemóvel instalei mais 14 aplicações, número que julgo ser moderado.

No meu Citroen emparelhei o aparelho do carro com o telemóvel o que me permitiu  durante algum tempo receber chamadas com afixação do nome do contacto chamante no écran do tablier dado que o aparelho do carro conseguia aceder à lista de contactos do iphone. Após uma das actualizações automáticas do iOS continuei a poder receber chamadas mas tomando conhecimento apenas do nº telefónico do interlocutor porque o aparelho do carro deixou de ter acesso à lista de contactos do iphone. E como de cada vez que visito a oficina da Citroen fico contente quando me facturam menos de 500 €, parece-me impossível actualizar a versão do software do carro. Assim, para fazer chamadas passou a ser necessário usar o iphone para escolher o contacto embora depois a chamada continue com mãos livres.

Mais recentemente a aplicação da Via Verde para parquímetros deixou de funcionar porque precisa do iOS10. Não me fez grande falta porque, como disse, saio pouco.

Mesmo assim, como sou influenciável, tentei hoje instalar a aplicação Stayaway COVID

Infelizmente a obsolescência prematura que nos é imposta pelos fabricantes dos mais variados equipamentos informáticos levou a que a minha versão de iOS seja incompatível com a versão actual da aplicação “FicaLonge COVID”:

 


Não estou disposto a substituir o meu satisfatório iPhone por um modelo mais recente e tão pouco me parece conveniente que o Estado me compre um.

Terei assim que ficar longe da aplicação.


2020-10-12

Três Palácios Europeus


Na sequência do ultimo post deste blogue um amigo espanhol perguntou-me se além do palácio Topkapi eu também visitara o palácio Dolmabahçe em Istambul, referindo que este ultimo lhe recordara o Palácio Real de Madrid, também chamado Palácio do Oriente.


Palácio de Dolmabahçe em Istambul em Jul/2003


Gostaria de ter visitado esse palácio de Dolmabahçe mas não tive tempo. Contudo os power-points que às vezes me enviam sobre ele fazem-me lembrar palácios europeus dessa época.

É engraçado que o Dolmabahçe também me lembrou o palácio do Oriente em Madrid, que visitei e me impressionou em 1966, na excursão de finalistas do liceu Camões, agora dir-se-ia 11º ano de escolaridade, em que fomos uns 40 num autocarro, durante as ferias da Páscoa, visitando Vigo, Santiago de Compostela, A Corunha, Oviedo, (Covadonga e Grutas de Altamira), Santander, San Sebastian, Burgos, Madrid, Ávila e Salamanca.


Palácio Real em Madrid em Out/2012

 

Estive a ver a data de construção desse palácio de Istambul que foi de 1843 a 1856, quase um século depois da construção do palácio do Oriente, no mesmo local dum palácio anterior destruído por um incêndio em 1734, que foi ocupado pela 1ª vez pelo rei Carlos III em 1764.

Entretanto as decorações internas vão evoluindo e o Dolmabahçe foi influenciado pelos padrões europeus de palácios reais da época. A globalização não estava tão adiantada como agora mas as classes dominantes iam-se mantendo informadas dos luxos dos países mais ou menos vizinhos e o sultão estava farto dos aspectos medievais do Topkapi.

Muitos dos palácios acabavam por ter um grande incêndio que dava uma oportunidade de reconstrução.

Em Lisboa em 1755 o palácio real que estava no Terreiro do Paço, espaço que agora também se chama Praça do Comércio, além de ter ardido completamente no incêndio iniciado pelo grande terramoto foi ainda testemunha do maremoto que varreu o então Terreiro do Paço conforme ilustrado neste filminho do Youtube

.

 

 

 

O rei ficou traumatizado e foi viver no topo da Ajuda, protegido de futuros maremotos, na Real Barraca, um edifício de madeira e tela, pois recusava-se a estar dentro de um edifício de pedra. 

 

 

Nesta planta do edifício à direita constata-se que era uma construção mais complexa do que uma simples tenda.



 

Foi neste mesmo sítio onde a filha D.Maria I mandou em 1795 construir o palácio actual na sequência, imaginem, de um incêndio que destruiu completamente a Real Barraca e seu recheio em 1794.

Neste sítio pode-se ver que falta metade do Palácio da Ajuda porque só construíram metade!

Ao fim de 200 e tal anos existe finalmente um projecto 



para concluir o palácio, sem construir a segunda metade, mas julgo que a conclusão foi entretanto interrompida devido ao COVID-19.

É provável que a independência do Brasil com a consequente redução do fluxo de riqueza para a metrópole e as lutas entre liberais e absolutistas em Portugal com a redução do papel do rei cheguem para explicar porque é que o palácio ficou reduzido a metade. Já o arrastar durante 200 anos de uma solução para finalizar doutra forma a construção da obra parece mais difícil de explicar.

Em Madrid não existe o risco de maremotos mas em Istambul os terramotos são mais frequentes do que em Lisboa. Contudo, a geometria do estreito do Bósforo e da sua ligação ao Mar Negro deverá amortecer tsunamis gerados neste mar. Do lado do Mar de Mármara o estreito dos Dardanelos terá um efeito semelhante relativamente a tsunamis gerados no Mediterrâneo enquanto em Lisboa, o afunilamento da barra do Tejo proporciona uma amplificação de ondas de tsunamis geradas no Oceano Atlântico.

Mas o factor decisivo para mudança dos sítios dos palácios em sentido contrário, em Istambul do alto de uma colina para a margem dum estreito e em Lisboa da vizinhança de uma doca para o alto de uma colina, deverá ter sido a ausência de memória histórica de tsunamis devastadores naquela parte do Bósforo e da memória vivida dum tsunami que matou milhares de pessoas no Terreiro do Paço em Lisboa.


 

2020-10-07

Palácio Topkapi


Tenho um conjunto de imagens guardadas para publicação neste blogue que demorei bastante tempo a concretizar. Por exemplo esta imagem foi guardada em Nov/2018 e só agora a mostro.


 
Achei curiosa a composição extremamente ordenada dos participantes, além da forma de vestir e de cobrir a cabeça que permitiria identificar facilmente o estatuto de cada um.

Trata-se de um quadro do pintor Konstantin Kapidagli cerca de 1789 documentando a entronização do sultão Selim III (1761-1808). Este sultão reinou de 1789 a 1807, ano em que foi deposto pelos Janízaros, corpo de elite do exército otomano, que se foi parecendo cada vez mais com a guarda pretoriana do império romano, transformando-se ao longo de décadas de defesa a ameaça ao governante supremo. Em Portugal, por essa altura, reinava D.Maria I que foi rainha de 1777 a 1816.

O palácio Topkapi, cuja construção se iniciou em 1459, 6 anos após a conquista de Constantinopla em 1453, desenvolve-se ao longo de 4 pátios principais, cada um deles dando acesso a uma parte mais reservada do complexo. A passagem do 2º para 3º pátio faz-se através do Portão da Felicidade que mostro numa foto que tirei em 2003 



 constatando-se poucas modificações nos últimos 200 anos.

A cerimónia de entronização teve lugar no 2º pátio do Topkapi, pátio onde se realizava a maior parte das cerimónias oficiais que tinham lugar neste palácio.

Associo quase sempre a palavra Topkapi também ao filme do mesmo nome, datado de 1964, com os actores Melina Mercouri e Peter Ustinov, em que roubavam um punhal com esmeraldas duma sala do museu em que se transformou este palácio.

 Por curiosidade fui ver se existia alguma imagem relativa à entronização da rainha portuguesa da época e encontrei esta varanda efémera,


uma fachada aplicada sobre a ala ocidental da Praça do Comércio em 1777 (o terramoto fora em 1755) com uma multidão na cerimónia de aclamação da nova rainha Maria I, com uma fila de soldados a garantir algum distanciamento e muita gente nas varandas.  

Aparentemente a aclamação da rainha em Portugal envolveu mais directamente a população do que a entronização do sultão no império Otomano.

Foi sobre esta ala que tem actualmente este aspecto

(Foto daqui )

que a fachada efémera foi aplicada.