Na sequência do ultimo post deste blogue um amigo espanhol perguntou-me se além do palácio Topkapi eu também visitara o palácio Dolmabahçe em Istambul, referindo que este ultimo lhe recordara o Palácio Real de Madrid, também chamado Palácio do Oriente.
Gostaria de ter visitado esse palácio de Dolmabahçe mas não tive tempo. Contudo os power-points que às vezes me enviam sobre ele fazem-me lembrar palácios europeus dessa época.
É engraçado que o Dolmabahçe também me lembrou o palácio do Oriente em Madrid, que visitei e me impressionou em 1966, na excursão de finalistas do liceu Camões, agora dir-se-ia 11º ano de escolaridade, em que fomos uns 40 num autocarro, durante as ferias da Páscoa, visitando Vigo, Santiago de Compostela, A Corunha, Oviedo, (Covadonga e Grutas de Altamira), Santander, San Sebastian, Burgos, Madrid, Ávila e Salamanca.
Estive a ver a data de construção desse palácio de Istambul que foi de 1843 a 1856, quase um século depois da construção do palácio do Oriente, no mesmo local dum palácio anterior destruído por um incêndio em 1734, que foi ocupado pela 1ª vez pelo rei Carlos III em 1764.
Entretanto as decorações internas vão evoluindo e o Dolmabahçe foi influenciado pelos padrões europeus de palácios reais da época. A globalização não estava tão adiantada como agora mas as classes dominantes iam-se mantendo informadas dos luxos dos países mais ou menos vizinhos e o sultão estava farto dos aspectos medievais do Topkapi.
Muitos dos palácios acabavam por ter um grande incêndio que dava uma oportunidade de reconstrução.
Em Lisboa em 1755 o palácio real que estava no Terreiro do Paço, espaço que agora também se chama Praça do Comércio, além de ter ardido completamente no incêndio iniciado pelo grande terramoto foi ainda testemunha do maremoto que varreu o então Terreiro do Paço conforme ilustrado neste filminho do Youtube
.
O rei ficou traumatizado e foi viver no topo da Ajuda, protegido de futuros maremotos, na Real Barraca, um edifício de madeira e tela, pois recusava-se a estar dentro de um edifício de pedra.
Nesta planta do edifício à direita constata-se que era uma construção mais complexa do que uma simples tenda.
Foi neste mesmo sítio onde a filha D.Maria I mandou em 1795 construir o palácio actual na sequência, imaginem, de um incêndio que destruiu completamente a Real Barraca e seu recheio em 1794.
Neste sítio pode-se ver que falta metade do Palácio da Ajuda porque só construíram metade!
Ao fim de 200 e tal anos existe finalmente um projecto
para concluir o palácio, sem construir a segunda metade, mas julgo que a conclusão foi entretanto interrompida devido ao COVID-19.
É provável que a independência do Brasil com a consequente redução do fluxo de riqueza para a metrópole e as lutas entre liberais e absolutistas em Portugal com a redução do papel do rei cheguem para explicar porque é que o palácio ficou reduzido a metade. Já o arrastar durante 200 anos de uma solução para finalizar doutra forma a construção da obra parece mais difícil de explicar.
Em Madrid não existe o risco de maremotos mas em Istambul os terramotos são mais frequentes do que em Lisboa. Contudo, a geometria do estreito do Bósforo e da sua ligação ao Mar Negro deverá amortecer tsunamis gerados neste mar. Do lado do Mar de Mármara o estreito dos Dardanelos terá um efeito semelhante relativamente a tsunamis gerados no Mediterrâneo enquanto em Lisboa, o afunilamento da barra do Tejo proporciona uma amplificação de ondas de tsunamis geradas no Oceano Atlântico.
Mas o factor decisivo para mudança dos sítios dos palácios em sentido contrário, em Istambul do alto de uma colina para a margem dum estreito e em Lisboa da vizinhança de uma doca para o alto de uma colina, deverá ter sido a ausência de memória histórica de tsunamis devastadores naquela parte do Bósforo e da memória vivida dum tsunami que matou milhares de pessoas no Terreiro do Paço em Lisboa.
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