2023-03-28

Redução do IVA de 6% para 0% em alimentos essenciais

 

O debate político em Portugal tem frequentemente pouca qualidade.

Antes da medida de anulação do IVA de 6% para alimentos essenciais ser tomada a oposição censurava o governo por não fazer nada, nem sequer fazer o que em Espanha já tinham feito que era reduzir o IVA dos produtos alimentares essenciais de 6% para 0%.

Trata-se de uma questão de inumeracia, reduzir o IVA nalguns produtos de 6% para 0% nem chega a um desconto de 6% mas de 5,4%= 6/106. Via-se à partida que não seria grande desconto, mas algumas pessoas, que são pessoas e não folhas de Excel, estariam à espera de uma baixa do género "qualquer coisa que se visse" talvez uns 30 ou 40% digo eu, como nos saldos sobre produtos cujo preço foi inflacionado uns dias ou semanas antes.

Num programa de TV disseram que afinal eram apenas alguns cêntimos, numa compra de 7€ constatavam com alguma indignação que a redução era de apenas 40 cêntimos, o valor que seria de esperar. Eu acrescento que se tivessem feito uma compra de 1 euro o desconto teria sido ainda mais pequeno, apenas 5 cêntimos! 

O Banco de Espanha fez agora um estudo e concluiu que a medida afinal não tinha sido aproveitada pela distribuição para aumentar o preço, a redução é que foi pequena e as pessoas não deram por ela.

Não sei quanto aumentou o preço desta couve Romanesca que fotografei no supermercado em Dez/2015, e que baptizei de Couve Mandelbrot, nem sei se será considerada essencial, mas tem um aspecto espectacular!

 




2023-03-27

Primazia dos EUA


Ainda a propósito do tema “Vinte Anos Depois da Guerra do Iraque” (lembro-me que estes “Vinte Anos Depois” soam bem talvez por recordar o romance homónimo do Alexandre Dumas) li um artigo muito interessante de Stephen Wertheim na revista norte-americana “Foreign Affairs” intitulado “Iraq and the Pathologies of Primacy” sobre a permanência da recusa dos EUA em abandonar a convicção de que têm o direito inalienável à primazia entre os Estados do planeta.

Essa primazia, inevitável no pós-guerra de 1939-45 e reforçada pelo colapso da URSS no final da guerra fria e do presumido “fim-da-História”, teve um enorme revés na reacção ao ataque suicida de 11/Set/2001 às Torres Gémeas de Nova Iorque, ao Pentágono e ao 3º alvo falhado.

O grau do absurdo a que se chegou na proposta de Rumsfeld, Wolfowitz e outros de atacar o Iraque é bem ilustrado no argumento usado por Richard Clarke, então coordenador do contraterrorismo do NSC, ao dizer “tendo sido atacados pela Al Qaeda, irmos agora bombardear o Iraque como resposta seria como invadirmos o México depois dos japoneses nos terem atacado em Pearl Harbour”:

«… For such purposes, not even a "global war on terror" would suffice. The United States must "go massive," Rumsfeld told an aide four hours after the Twin Towers fell. According to the aide's notes of the conversation, Rumsfeld said, "Sweep it all up. Things related and not."That meant hitting "S.H. @ same time—Not only UBL" (referring to Saddam and bin Laden). U.S. intelligence promptly identified al Qaeda as the perpetrator of the hijackings, yet Rumsfeld, along with Wolfowitz and other officials, began advocating an attack on Iraq. The idea struck the National Security Council's counterterrorism coordinator, Richard Clarke, as nonsensical. "Having been attacked by al Qaeda, for us now to go bombing Iraq in response would be like our invading Mexico after the Japanese attacked us at Pearl Harbor," Clarke later recalled saying on September 12. As the country embarked on an uncertain war in Afghanistan against a shadowy enemy that might well strike again, it was remarkable for senior officials to contemplate invading Iraq, too, let alone to devote 130,000 soldiers to the task within 18 months.
»

Lembro-me de mesmo o presidente Obama referir a certa altura da sua presidência (ou da campanha eleitoral) que tinha como objectivo ultrapassar o legado deficiente do anterior presidente devolvendo aos EUA o papel de líder, aparentemente perdido. O seu sucessor Trump exprimia o mesmo pensamento duma forma menos elegante, “America First” e Biden vai pelo mesmo caminho como diz, por exemplo, notícia da AP de 6/Nov/2022 referindo que “o presidente Biden procurará afirmar a liderança global da América na sua próxima visita ao Sudeste Asiático” a que cheguei googlando (Biden on US leadership)”.


Para completar esta revisita da guerra do Iraque cito uma parte do artigo do historiador Jaime Nogueira Pinto publicado no Observador em 25/Mar/2023 intitulado “Iraque: Vinte Anos Depois”:

«…
A afirmação de que Saddam estava por trás do 11 de Setembro não tinha qualquer substância, e na comunidade de inteligência houve inicialmente grande resistência a apoiar a tese da Casa Branca, ao ponto de o vice-presidente Dick Cheney ter de exercer sobre elas pressão directa e intimidatória. Essa pressão levou a que as agências de informação se abstivessem de contradizer o governo. Porém, alguns dos seus quadros não se inibiram de confessar off the record o seu cepticismo e preocupação perante a campanha de desinformação em curso.

Depois da invasão do Iraque e da vitória ao fim de quatro semanas de combates, as investigações das autoridades de ocupação americanas viriam a confirmar a não existência de armas de destruição maciça. O absurdo da implicação iraquiana no 11 de Setembro ficaria também claro.

Segundo apuraria depois o Center for Public Integrity, ao longo da campanha, nos dois anos que se seguiram ao 11 de Setembro, as principais figuras da Administração Bush tinham feito centenas de declarações falsas.

…»

e ainda:
«…
Efeitos perversos

Hoje ninguém pode duvidar dos efeitos perversos para os Estados Unidos, para o Ocidente e para os seus valores da invasão de há 20 anos. Uma invasão fruto da política de globalização democrática, que depois de um inicial caos, acabou por reforçar, no Médio Oriente, o poder das autocracias, abrindo portas à influência diplomática da China, um poder recém-chegado à região.

…»

Discordo muitas vezes de JNP mas, dadas as incertezas que sempre rodeiam a identificação das causas dos fenómenos sociais e as dificuldades em encontrar os caminhos mais consistentes com os nossos valores, tomo sempre em consideração as suas opiniões, a maior parte das vezes bastante razoáveis.

 

2023-03-17

A Guerra do Iraque 20 Anos Depois

 

Fui ver o episódio do programa diário da RTP2 "Sociedade Civil" referido no blogue do embaixador Seixas da Costa intitulado  "20 anos da Guerra do Iraque" apresentado pelo jornalista Luís Castro, que fez muitas reportagens no Iraque, com a participação do jornalista Carlos Fino, na época em Bagdad, do operador de câmara Mário Rui de Carvalho, que trabalhou inserido no exército norte-americano durante a invasão e ainda do embaixador acima referido.

O programa começa por mostrar a cimeira de má memória realizada nos Açores, em que o presidente G.W.Bush lançou um ultimato a Sadam Hussein exigindo o desarmamento do Iraque

 


e a propósito o embaixador comentou entre outras considerações

«...Esta foi a cimeira da mentira. Esta é uma fraude política internacional. Este é um momento que traduz colocar de lado as instituições internacionais e em particular as Nações Unidas, traduz a consagração daquele que era o mito à época das armas de destruição maciça que Sadam Hussein não tinha mas que aparentemente foram "mostradas" a vários líderes internacionais.
Significa também uma divisão dentro da Europa, nós não nos podemos esquecer da expressão do Sr. Rumsfeld falando de uma velha Europa e da nova Europa...»

Mostraram vários filmes de arquivo dos participantes do programa 

 


que iam comentando as memórias reavivadas pelas imagens, incluindo os avanços do exército americano, o início do bombardeamento de Bagdad, a detenção, julgamento e execução de Sadam Hussein e as numerosas explosões e mortes que se seguiram após o caos instalado, passando também pelas imagens de tortura e maus tratos dos prisioneiros de Abu Ghraib.

Na conclusão o embaixador relembrou os milhões de mortes que provocou, que esta intervenção favoreceu o aparecimento do Daesh e que, por muito horrível que seja uma guerra, qualquer uma se pode tornar ainda pior.


2023-03-15

Geografia do México


Uma boa parte das características de um povo é explicada pela geografia do território em que tem vivido, com o seu cortejo de dificuldades e de oportunidades.  

Numa passagem pelo YouTube vi anunciado um Video com o título “Why 82% of Mexico is Empty”. 

Tenho há muito tempo evitado visitar o México e acho que a minha antipatia começou nestes dois cromos do álbum das Maravilhas do Mundo, um falando dos Maias, outro dos Toltecas,
 



ambas as sociedades fazendo sacrifícios humanos desde tempos imemoriais e as que existiam, quando os espanhóis chegaram à América Central, ainda se entretinham a matar prisioneiros de guerra em sacrifícios alegadamente religiosos.

De cada vez que tomava conhecimento de mais algum pormenor da História dessa região, bem como das descrições das guerras já contemporâneas entre gangues da droga, retinha aqueles que reforçavam esta antipatia por uma sociedade de enorme violência.

Há alguns anos apercebi-me ainda da enorme distância entre Lisboa e a Cidade do México, quando num congresso em Paris uns mexicanos que disseram que além do voo Nova Iorque – Paris que demorara 8 horas ainda tinham tido o voo Cidade do  México – Nova Iorque que demorara 5 horas. Embora soubesse que o México estava no sudoeste dos Estados Unidos e que o Oeste do México estava por baixo da Califórnia, não tinha chegado a pensar no assunto.

Mas voltando ao video comecei a vê-lo e vi-o até ao fim (30 minutos), o que considerei notável, dada a minha falta de interesse pelo México. Tentando resumir, existe uma faixa super-fértil mais ou menos a meio do país num planalto com uma cadeia de vulcões activos que torna os vales imensamente férteis dada a abundância também de sol e de precipitação. Todo o país é muito montanhoso e os cursos de água existentes estão cheios de rápidos, sendo muito pouco navegáveis. As montanhas tornaram difíceis a construção quer de estradas quer de vias férreas, no Sul têm florestas tropicais que são também grandes obstáculos à instalação de vias de comunicação. As tecnologias modernas permitem ultrapassar mais facilmente estes obstáculos e a NAFTA (North American Free Trade Association) tem fixado bastante população no Norte, próximo do enorme mercado dos EUA.

O ritmo do narrador do vídeo criou-me uma sensação de “déjà vu” e recordei-me dum vídeo que mostrei neste post “Revisitando a Guerra na Ucrânia e suas origens“ com o título  “Russia's Catastrophic Oil & Gas Problem” e a frase-anúncio ”WHAT RUSSIA IS FIGHTING FOR”.

Ambos os vídeos tinham o mesmo logo, a silhueta de um moinho holandês, e trata-se da empresa “Real Life Lore”, tendencialmente unipessoal de Joseph Pisenti, um americano residente em Dallas com ascendência italiana, que não chegou a concluir o curso de Economia porque entrtanto teve imenso sucesso com os vídeos que publica no YouTube.

Não se trata portanto de uma instituição mas é uma perspectiva individual que considero muito interessante.

O Video sobre o México era este:




2023-03-10

Insegurança Jurídica


O caso da TAP fez-me regressar a um texto do Rui Tavares publicado no jornal Público em 27/Jan/2007  intitulado “Da vontade de não ser levado a sério”:, sobre a relação de "dialógica" que o cristianismo medieval tem com a lei, de que transcrevo a primeira parte

«

  No meu tempo de faculdade, a única maneira de ainda ter aulas com o professor José Mattoso era inscrevermo-nos numa cadeira opcional de História das Religiões na Idade Média. Eu fui um dos sortudos que assistiram a essas aulas - e uma em particular é o ponto de partida para esta crónica. Naquele dia o professor comentava um catecismo medieval irlandês e, de passagem, notou como muitas das suas interdições sobre alimentação e sexualidade eram praticamente impossíveis de cumprir, seja pelo seu grau de pormenor, seja pela profusão de dias sagrados (e respectivos interditos) que quase chegavam a ocupar um terço do ano. Tal não nos devia espantar, dizia o professor, pois o cristianismo medieval tem uma relação que se poderia chamar de "dialógica" com o ideal da lei. O ideal era para ser aclamado, consagrado, glorificado; não tanto para ser cumprido. Quanto mais próximo do ideal, melhor. Porém, todos nascemos em pecado e vivemos em pecado, tendo a doutrina margem suficiente para cobrir a lacuna entre esse ideal que está escrito e as práticas de nós todos pecadores aqui em baixo. Aliás, se pensássemos bem, essa relação "dialógica" com a lei sobrevivera muito mais no catolicismo e muito menos no protestantismo, sendo especialmente visível em países como a Irlanda (de que tínhamos ali um vestígio antigo naquele catecismo) e Portugal, onde a relação com a lei era fluida e cheia de folgas.
    Espero ter sido fiel ao pensamento do professor Mattoso, e devo desde já deixar muito claro que não faço ideia se ele concordaria com o resto do que vou escrever. Mas o facto é que me tenho lembrado muitas vezes dessa sua lição sobre a natureza "dialógica" da nossa relação com a lei, e nunca tantas vezes como desde que a campanha do referendo sobre o aborto entrou a todo o vapor.

»

escrito a propósito da lei do aborto mas que se aplica directamente
- por exemplo, à limitação de 120km/h das auto-estradas;
- às proibições de estacionar praticamente em todos os lugares estacionaveis deixando ao condutor o exercício de descobrir quais os lugares em que é tolerado que se estacione em transgressão daqueles em que é verdadeiramente proibido;
- ou mesmo à aplicação do Estatuto de Gestor público a companhias como a TAP.

Em Portugal é difícil distinguir o que é verdadeiramente proibido do que costuma ser tolerado.

Lembro-me também de outra explicação corrente no tempo do Salazar: era proibido praticamente tudo, deixando o perdão à arbitrariedade do príncipe.

Consequentemente em Portugal alguns transgressores são penalizados quando inopinadamente o princípe ou a sociedade (ajudada pelos media) decide que afinal uma determinada lei deve mesmo ser levada a sério.

Dado que existem relativamente poucas pessoas envolvidas, a área das indemmizações dos administradores das empresas é uma das áreas em que existem abusos que são amplamente tolerados, provavel motivo para Medina não ter valorizado, na nomeação para a Secretaria de Estado do Tesouro, a agora escandalosa indemnização recebida por Alexandra Reis de que devia ter conhecimento informal.

Neste caso a mudança inopinada da tolerância poderá ser devida quer às políticas de violenta austeridade na TAP em relação aos trabalhadores, quer à tradição de no segundo mandato dos Presidentes da República estes se dedicarem a promover a alternância democrática atacando o governo, no que são alegremente acolitados pela imprensa.

Tenho achado curiosa a diferença nas opiniões manifestadas sobre as últimas decisões do ministro Medina, na sequência das conclusões da IGF:
- os políticos da AR acham que fez muito bem em demitir a CEO e o chairman;
- os comentadores da RTP3 acham estranho que tenha feito estas demissões e receiam terem que vir a pagar indemnizações à CEO;
- na parte do "Choque de ideias" do programa na RTP3 “Tudo é Economia” de terça-feira, dia 7/Mar, o Ricardo Sá Mamede e o Ricardo Arroja tiveram um raro momento de convergência e atacaram muito os advogados que, perante uma situação tão claramente ilegal como diz a IGF, foram incapazes de avisar os demitidos que estavam a cometer uma ilegalidade.

Fico a pensar que não há Densificação que nos valha nas nossas leis e que é uma característica nacional a presença constante da Insegurança Jurídica quer na interpretação das leis pelos gabinetes de advogados quer posteriormente na latitude da interpretação de cada lei concreta por vários juízes, que chegam a valorizar a pluralidade de opiniões como um factor positivo.

Os juízes não são autómatos mas devem harmonizar entre eles eventuais interpretações divergentes de cada lei. Talvez um comportamento mais previsível dos juízes também contribuísse para tornar mais raros pareceres, que agora parecem abstrusos ao Presidente da República, de importantes gabinetes de advogados.


2023-03-05

A Minha Descoberta do Caminho Marítimo para Silves


Num post recente (23/Jan) “Reflexões na Ria e sobre um barco semi-rígido” referi que iria fazer outro post sobre as viagens a Silves num barco que tive em tempos.

Depois falei na estrada N124 que vai de São Bartolomeu de Messines até Silves, passando  por muitos laranjais, cultivados em planícies mas também em encostas, umas vezes em curvas de nível outras em linhas de maior declive., provavelmente alimentados pelo sistema de rega da barragem do Arade (construída em 1955) que foi até há pouco tempo em canais abertos, estando em fase de transição para distribuição sob pressão em condutas, uma técnica que reduz imenso as perdas de água na sua distribuição.

Nem todos os caminhos vão dar a Silves, isso dizia-se àcerca de Roma, mas quando me propus ir de Portimão a  Silves por via fluvial tive que me inteirar dos pormenores do percurso e revivi uma ligeira apreensão, que costumava aparecer na infância quando iniciava um caminho que tinha que percorrer sem a companhia de alguém que já o conhecia.

Na altura não havia Google Earth e o mapa das estradas do ACP pouco ajudava nos percursos fluviais. Existiam as cartas militares topográficas de escala 1:25.000, que me foram muito úteis na exploração da albufeira da barragem de Castelo do Bode, cujo percurso sobre o leito do rio Zêzere até à barragem da Bouçã se estende por 54km, mas não tinha na altura o mapa do Google Earth que passo a mostrar

 



Trata-se de um caminho actualmente “marítimo” pois o rio Arade não tem praticamente caudal a jusante da barragem do Arade durante o Verão, sendo a navegabilidade até Silves possibilitada pela água do mar que entra na ria do Arade até pouco depois de Silves, sendo o percurso navegável por barcos de pouco calado, como era o caso do meu barco semi-rígido, mais à vontade durante a maré cheia, com mais cuidado durante a maré vazia.

O percurso marcado no mapa com o “Ruler”tem 12,1km  (6,5 milhas náuticas) de comprimento, desde o Clube Naval de Portimão, onde colocava o barco na água, até às escadas de acesso ao passeio ribeirinho em frente ao Mercado Municipal de Silves.

Depois de passar por baixo da ponte rodoviária antiga e da ponte ferroviária também idosa na primeira bifurcação segue-se pelo canal da direita até ao Parchal, passando depois por baixo da ponte de tirantes (concluída em 1991) que serve a estrada N125.

No lado esquerdo, antes da curva para a direita e da passagem sob a ponte actualmente existente da A22 há na arriba do lado esquerdo uma gruta com uma imagem religiosa, pois os navegantes costumam ser pessoas devotas. Depois da curva pronunciada para a direita seguida de curva mais aberta para a esquerda aparece do lado direito uma ilha indicando que é altura de abandonar o que parece ser a continuação do rio Arade mas se trata da ribeira Odelouca, como se vê  na ampliação seguinte do mesmo mapa
 

Antes de 1955 o Rio Arade deveria ter maior caudal aqui do que a ribeira Odelouca, talvez estes anos mais recentes tenham sido suficientes para parecer que a ribeira predomina aqui sobre o rio.

Constatei entretanto que se tivesse feito este percurso agora teria sido muito ajudado pela aplicação de mapas no meu telemóvel de onde tirei este “snapshot” do visor
 

onde não só poderia levar o mapa como mesmo poderia ver a posição em que estava.

Depois desta bifurcação essencial, havia do lado esquerdo um barzinho ao lado duma pequena piscina mantidos na altura (na década de 90) por um simpático casal de açorianos que tinha passado uns anos no Canadá e que então desemigrara para o Sul do Continente. Vi agora que o Google chama ao sítio “Clube Náutico de Silves”
 

como se vê no topo direito da imagem acima e melhor na imagem seguinte
 


Costumava fazer uma paragem aqui para beber um refresco e amenizar a viagem que demoraria sem paragens 45 minutos a  uma hora.

A ria era então estreita, seguia-se pelo meio e nas curvas escolhia-se o lado de fora da curva do meandro pois essa seria a parte provavelmente mais profunda, conforme aprendera no liceu.

Quase a chegar a Silves tem-se a surpresa de ver uma pequena marina do lado direito, por vezes com a sua entrada protegida por uma grade, com iates de dimensão adequada para navegar na ria do Arade. Por vezes via-se também um helicóptero pousado ao pé da marina.
 


Nesta fotografia aérea do Google Earth datada de Maio/2013 a marina está à esquerda da piscina rectangular, com um pontão flutuante. Nas vistas históricas vêem-se por vezes barcos acostados e a piscina costuma estar azul turquesa quando a imagem é de Julho ou Agosto
Trata-se duma propriedade da família Pereira Coutinho com o nome curioso de Quinta de Mata-Mouros, constante em tabuletas como esta
 


existente na estrada que dá para a ponte velha de Silves. Li algures na internet que a origem do nome era misteriosa, talvez relacionada com a existência duma mata (floresta) e de mouros. Para mim é evidente que algum cristão na reconquista de Silves matou muitos mouros e recebeu umas terras que ficaram com este nome, indício também que a pressão do politicamente correcto não é tão forte em Portugal como às vezes se diz.

Pouco depois da marina na quinta de Mata-Mouros chega-se à escada de acesso ao passeio marítimo de Silves de onde tirei esta foto e as seguintes em Maio/2016 quando fui a Silves por estrada, com a ponte velha (construída no século XIV ou XV) ao fundo
 

Ao pé da ponte estavam umas cegonhas
 

e em cima duma chaminé estava outra a alimentar os filhotes no ninho
 

Mais recentemente, provavelmente no Verão de 2022, vi uma cena parecida a esta  com um barco movido com painéis fotovoltaicos
 

visto mais de perto aqui
 


Trata-se da empresa Viator que faz passeios de Portimão a Silves pelo rio Arade.

Quem estava no barco informou-me que esta embarcação também tinha baterias e que os painéis visíveis na foto não eram suficientes para fazer a viagem com uma velocidade aceitável. Contudo, começando o passeio com as baterias carregadas conseguiam fazer a ida e volta a Silves sem necessitar de carga adicional das baterias. E estes barcos, além de ecológicos são naturalmente silenciosos.

Adendas:

Depois de publicar este post recebi alguns comentários que levaram a correcções no texto, que passo a descrever:
1) Milhas: por lapso converti os quilómetros do Path (caminho) do Google Earth do caminho fluvial entre Portimão e Silves, que eram 12,1km em Milhas terrestres (1609m) em vez de Milhas Náuticas (1852m). Assim os 12,1km são 6,55 Milhas náuticas e 8 Milhas terrestres;

2) Em Portimão existem membros das famílias Sousa Coutinho e Pereira Coutinho. Os donos da quinta de Mata-Mouros são os Pereira Coutinho;

3) Mata-Mouros: recebi mais um comentário dum amigo espanhol que refere a a existência do patronímico Matamoros em Espanha, sendo a sua frequência mais elevada no México, onde não existiam mouros. Trata-se provavelmente duma emigração económica, por falta de mouros na península ibérica os profissionais emigraram para a América onde foram matar “índios”, mantendo o patronímico. Passo a transcrever o comentário referido:
«
Al hilo de tu reportaje fluvial he hecho algunas consultas sobre Matamoros y la idea de que “talvez relacionada com a existência duma mata (floresta) e de mouros.”. que comparto aquí contigo:

Según el Instituto nacional de estadística de España son 3.937 los españoles cuyo 1er apellido es  matamoros, 4.114 lo que lo tiene de 2º apellido y 50 lo que tienen ambos iguales, aquí puedes ver su distribución geográfica: https://www.ine.es/widgets/nombApell/index.shtml  [No sé si en Portugal tenéis un servicio de consultas como esta que a mi me parece, cuando menos, curioso de consultar según el día].

Si bien su nombre completo es Heroica Matamoros,  definitivamente el pueblo Matamoros más relevante (500.000 almas) se encuentra en Méjico (https://www.tamaulipas.gob.mx/estado/municipios/matamoros/)  donde según la historia que nos han contado no debió haber muchos moros a los que matar.

En Iberia contamos con varios Matamoros geográficos, por lo menos, el que tu mencionas y el Valle de  Matamoros en Badajoz (https://es.wikipedia.org/wiki/Valle_de_Matamoros_(Badajoz) ) .

También tenemos en España un pueblo llamado Matajudíos (es que somos racistas pero democráticos) https://es.wikipedia.org/wiki/Castrillo_Mota_de_Jud%C3%ADos . Lo que aquí explican sobre el origen del nombre de que podría resultar de la corrupción del original de mota “Elevación del terreno de poca altura, natural o artificial, que se levanta sola en un llano” (https://dle.rae.es/mota?m=form) en mata sería de aplicación a ambos casos [mota-montículo que no mata-floresta]

Y sin dudar,  nuestra máxima referencia al caso no deja de ser sino la de nuestro santo patrón nacional español, ni mas ni menos que Santiago Matamoros (y cierra España!).

»


2023-03-01

Sensibilidade no Passeio

 

No meu passeio diário nos Olivais Sul reparei hoje nesta caixa de telecomunicações colocada num passeio da Rua Cidade de Benguela em que o instalador, que possivelmente não teria guardado as pedras retiradas da calçada para a colocação da caixa de telecomunicações, em vez de se limitar a alisar a superfície do cimento colocado na área da calçada em falta, fez uns sulcos no cimento, no seguimento dos sulcos entre as pedras adjacentes na calçada como mostro a seguir


 Apreciei o cuidado.