O debate político em Portugal tem frequentemente pouca qualidade.
Antes da medida de anulação do IVA de 6% para alimentos essenciais ser tomada a oposição censurava o governo por não fazer nada, nem sequer fazer o que em Espanha já tinham feito que era reduzir o IVA dos produtos alimentares essenciais de 6% para 0%.
Trata-se de uma questão de inumeracia, reduzir o IVA nalguns produtos de 6% para 0% nem chega a um desconto de 6% mas de 5,4%= 6/106. Via-se à partida que não seria grande desconto, mas algumas pessoas, que são pessoas e não folhas de Excel, estariam à espera de uma baixa do género "qualquer coisa que se visse" talvez uns 30 ou 40% digo eu, como nos saldos sobre produtos cujo preço foi inflacionado uns dias ou semanas antes.
Num programa de TV disseram que afinal eram apenas alguns cêntimos, numa compra de 7€ constatavam com alguma indignação que a redução era de apenas 40 cêntimos, o valor que seria de esperar. Eu acrescento que se tivessem feito uma compra de 1 euro o desconto teria sido ainda mais pequeno, apenas 5 cêntimos!
O Banco de Espanha fez agora um estudo e concluiu que a medida afinal não tinha sido aproveitada pela distribuição para aumentar o preço, a redução é que foi pequena e as pessoas não deram por ela.
Não sei quanto aumentou o preço desta couve Romanesca que fotografei no supermercado em Dez/2015, e que baptizei de Couve Mandelbrot, nem sei se será considerada essencial, mas tem um aspecto espectacular!
2 comentários:
Na base da pouca qualidade do debate político está a enorme iliteracia económica quando não ignorância da matemática mais básica até por parte de políticos responsáveis.
O exemplo mais claro foi a fanfarra com que a redução em percentagem da dívida pública em função do PIB foi anunciada quando na realidade a dívida tinha subido em valor absoluto!
O mesmo pode ser dito relativamente ao crescimento espectacular (?) do PIB em 2021 que nem conseguiu compensar a queda de 2020. Grande recuperação é fruto da acao governaria? Não, apenas muito menos paragem das actividades económicas.
Na maior parte das vezes um número é uma informação insuficiente embora conveniente. Provavelmente por isso os economistas usam tanto os rácios, números únicos que são uma função simples de dois números. Em relação à dívida pública é mais razoável usar o rácio Dívida/PIB em vez do valor absoluto não só para poder comparar rácios de países com diferentes tamanhos como para avaliar a situação do próprio país. Não faz por isso sentido criticar um governo por citar o valor da dívida em percentagem do PIB.
Já outra questão é saber como criticar ou louvar o governo. Em Portugal, quando a dívida em percentagem desce o governo argumenta que foi devido à política de contas certas e à governação cuidadosa que este indicador melhorou. Pode também referir o aumento das exportações se for o caso. Já a oposição costuma dizer que a dívida em valor absoluto continua a aumentar e que o aumento do PIB se deve à actividade privada que mesmo com a burocracia do Estado que este governo não consegue diminuir nem o peso esmagador dos impostos que este governo não consegue reduzir, mesmo neste ambiente hostil a iniciativa privada consegue aumentar o PIB.
Caso dívida em percentagem aumente o governo costuma argumentar que a crise (financeira, pandemia, etc.) assim obrigou e que se trata duma crise importada do exterior que o governo enfrentou da melhor maneira. Eventualmente poderá acontecer que o valor absoluto da dívida se tenha alterado pouco, argumentando então que o aumento da percentagem se deve sobretudo à dimibnuição do PIB. Neste caso a oposição costuma argumentar que as dívidas dos países que escaparam ao choque assimétrico da crise tiveram uma variação mais favorável do que a nossa e que a queda do PIB se deve à austeridade brutal imposta pelo governo que diminuiu o consumo e o bem-estar das famílias. Volta-se a falar do escesso de burocracia e de impostos.
Tenho constatado que o uso destes argumentos é sempre usado desta forma, pelas mesmas pessoas, conforme simpatizam mais com o governo ou com a oposição dependendo do resultado das últimas eleições e, como diria o Engº Ferreira Dias, "Não se pensa que lhes falta sinceridade: chega-se antes a ter a convicção de que não existe o livre-arbítrio".(https://imagenscomtexto.blogspot.com/2011/07/sera-que-existe-o-livre-arbitrio-ja-em.html)
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