Há muitos anos, durante o então chamado PREC (Processo Revolucionário Em Curso), constatei que a estrema-esquerda, como por exemplo o MRPP (Movimento para a Reconstrução do Partido do Proletariado), dada a sua distância em relação à totalidade dos partidos à sua direita, tinha dificuldade em distinguir os partidos burgueses como o PS, o PSD e o CDS e, embora guardasse um ódio de estimação aos revisionistas do PCP, avançaria provavelmente a tese que objectivamente, em relação à grande revolução proletária, a sua política não seria diferente dos outros 3.
Infelizmente sinto-me agora numa posição semelhante em relação ao actual governo e às grandes indignações sobre os recentes ziguezagues de Paulo Portas. Este governo habituou-me a prometer uma coisa e depois fazer o seu contrário. Agora o Paulo Portas disse que tinha tomado a decisão irrevogável de sair do governo e depois afinal está disposto a ficar. Onde está o problema? Mudou de ideias com enorme rapidez, como é hábito neste governo. O que é que é tão diferente neste comportamento de comportamentos anteriores deste governo?
A não ser que haja aqui um código que foi quebrado. Depois do primeiro-ministro ter mentido vezes sem conta aos eleitores, teve relutância em prometer a descida dos impostos nesta legislatura conforme sugerido por Paulo Portas, conforme referi aqui. Talvez o primeiro-ministro tivesse pruridos nessa promessa de descida de impostos porque seria uma promessa não tanto aos eleitores mas ao seu parceiro de coligação. Neste contexto parece haver uma explicação para todo este bruá-á em relação a Paulo Portas: é que ele, por assim dizer, fez um bluff não aos eleitores em geral, que isso não teria importância, mas ao seu parceiro de coligação no poder, tornando ainda mais difícil a vida do governo.
Mesmo assim as acusações de birra e de criancice a Paulo Portas parecem-me passar ao lado dum aspecto essencial: os designados “cortes na despesa” não são fáceis de decidir e toda esta crise acaba por ser a manifestação dessa dificuldade. O primeiro-ministro mostra a sua incapacidade de liderar a escolha de cortes ao pedir sugestões à Troika, deixar o trabalho para Vítor Gaspar e depois para Paulo Portas. Parece-me que como parceiro maioritário da coligação deveria ser ele a liderar o processo, caso mostrasse capacidade para isso, bem entendido.
O distanciamento que sinto em relação a este governo é parecido ao que sinto em relação a esta proposta de fato de banho por que passei numa loja de Marraquexe.
Embora goste cada vez menos de expor a minha pele directamente à radiação solar (falar em radiação em vez de luz dá logo outra sensação de perigo), por outro lado acho esta proposta excessivamente protectora da delicada cútis da senhora.
Nestes tempos de austeridade vejo aqui grandes oportunidades de economizar nos cremes protectores solares, antes chamar-se-ia maillot Gaspar, agora um mais apropriado "Maria Luís", bastando pequenas quantidades de creme apenas para o rosto, as mãos e os pés e, depois de sair de água com o tecido encharcado, poderá gozar algum fresco sob o sol forte de Marrocos.
Mas dentro de água é certo que tolherá os movimentos.
Existirão provavelmente imãs dizendo que não existem alternativas viáveis a esta proposta para a praia mas estou convicto que eles não têm razão.
1 comentário:
Já li/ouvi toda a espécie de argumentos a propósito da proibição do burkini em França, mas, mesmo se deslocada no tempo, a designação "maillot Gaspar" baseada na presumível poupança de protectores solares... é realmente original!
Num outro registo, recomendo a leitura, no Público on-line, do artigo do José Vítor Malheiros: "A laicidade não permite leis especiais para certas religiões.
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