2021-12-04

Poluição nas cidades



Há muito tempo que o ar das cidades da Europa está poluído, caso contrário não existiria a referência aos “ares do campo” com a característica de serem saudáveis, como contraponto aos “ares da cidade”.

A origem dessa poluição deveu-se inicialmente à concentração de habitações, numa densidade e extensão muito maior do que nas povoações campestres. As lareiras nas habitações e os fogões de lenha ou de carvão seriam os principais responsáveis, com maior importância nos países mais frios.

Esta situação agravou-se na revolução industrial que começou na Inglaterra, associada a uma urbanização acelerada e à queima de carvão para o funcionamento das máquinas a vapor, essenciais nas grandes fábricas.

Já no século XX a situação continuou a piorar com a substituição da tracção animal pelos combóios com locomotivas a carvão e automóveis movidos por motores de combustão interna emisores de CO2, de CO, de partículas da combustão e ainda das partículas do desgaste dos pneus.

Tudo isto levou a situações cada vez mais graves com destaque para a cidade de Londres onde ocorriam nevoeiros frequentes (fog), potenciados pelo frio húmido mas também pelas partículas em suspensão no ar que aceleravam a condensação do vapor de água presente, dando origem ao que chamavam “SMOG” (de SMoke+fOG) em que nos casos de maior densidade  as pessoas não conseguiam ver os próprios pés, tornando praticamente impossíveis as deslocações.

Um smog mais catastrófico acabou por levar à aprovação parlamentar do “Clean Air Act” em 1956, como resposta ao Grande Smog de Londres de 1952, que iniciou a substituição obrigatória de combustíveis geradores de partículas por gás natural ou electricidade, instalação de filtros nas chaminés de instalações industriais, etc. Foi aprovada nova versão mais exigente desta legislação em 1968 e outra ainda em 1993.

A aprovação desta lei teve que ultrapassar grandes pressões contrárias pela indústria e mesmo por algumas pessoas mais conservadoras que, já habituadas aos nevoeiros frequentes em Londres, argumentavam que estes eram uma característica essencial da vida londrina.

Com a melhoria substancial da qualidade do ar em muitas cidades europeias, iniciaram-se nos anos 60 e 70 grandes limpezas de edifícios mais antigos com revestimento de pedra, nomeadamente igrejas e catedrais e outros grandes edifícios públicos. Lembro-me de nos anos 70 se começarem a publicar fotografias do antes e do depois da limpeza e foi um autêntico renascimento de edifícios negros que finalmente regressavam à sua cor inicial.

Andei à procura dessas comparações mas tive dificuldade em encontrá-las. Acabei por me lembrar de ter comprado alguns postais numa excursão de finalistas do Liceu Camões, do então 7º ano (alargada ao 6º ano) nas férias da Páscoa de 1966, em que fomos de Lisboa a Vigo, Santiago de Compostela, La Coruña, Oviedo, Covadonga, Grutas de Altamira (então ainda abertas ao público), Santander, Bilbao, San Sebastian, Burgos, Valle de los Caidos, Madrid, Ávila, Salamanca, Vilar Formoso e novamente Lisboa.

Desses postais mostro o da Catedral de Burgos, provavelmente melhorada com técnicas fotográficas (o Photoshop da época) que atenuassem a fuligem negra que certamente a cobria em 1966


que revisitei em 2012 (46 anos depois!)
 

Depois procurei imagens da Abadia de Westminster antes da limpeza e encontrei com alguma dificuldade esta:
 

continuando a procura em postais onde encontrei este que me pareceu realista
 

Fiquei um pouco surpreendido com o comércio de postais antigos na internet em que muitos  eram vendidos por preços à volta de 2 euros.

Gostei desta reprodução de um quadro do Canaletto na Wikipédia

 

datado de 1749 mostrando os cavaleiros da ordem de Bath numa procissão comemorativa da conclusão das duas novas torres, onde se constata que já nessa altura as partes mais antigas da catedral apresentavam alguma sujidade.

Na sequência do Clean Air Act esta abadia sofreu um processo de limpeza que durou de 1973 a 1993, referido neste artigo do Chicago Tribune.

O resultado depois de 20 anos de esforços e de USD 48 milhões pode ser visto neste artigo da Wikipédia:

 

Nas deambulações pela net encontrei este diário de viagem com esta imagem tão bonita do  tecto da “Lady Chapel” (capela dedicada a Nossa Senhora) mandada construir pelo rei Henrique VII nesta abadia.


 

2 comentários:

Unknown disse...

Excelente publicacao que vem lembrar que o problema actual é a poluição e não o aquecimento.

Administrators disse...

Muito interessante. Obrigado.