2019-10-23

Charlotte Periand, pionnière de l’art de vivre


O João Miguel continua a produzir um conjunto de boas sugestões culturais que estão disponíveis, e são actualizadas, no A-Z Weblog e no facebook. Numa das sugestões recentes referiu um documentário de 53 minutos que iria passar no canal ARTE sobre a arquitecta francesa  Charlotte Perriand (1903-1999) e que estará disponível neste sítio da ARTE de 6/Out a 11/Dez/2019.

Nos tempos que correm acaba por ser mais prático ver os programas de TV nos sítios da internet na altura que nos é mais conveniente, quer na “box” para os canais de gravação automática quer nos sitios na internet de cada canal para os que não são gravados.


Sei agora que a Chaise Longue que referi nestes posts, “Um caminho para o Nirvana” e “O Nirvana como um caminho” tem o título “B306 Chaise Longue”.




É muito devido às tão agradáveis e numerosas sonecas que esta cadeira me tem proporcionado (a maior parte das vezes consigo iniciar repouso, adormecer profundamente e acordar retemperado ao som do alarme do telemóvel em 20 minutos, tudo incluído) que me tenho interessado pela história desta cadeira e de Charlotte Perriand.

Neste filme que passou no canal ARTE dizem que foi após um tempo passado num hospital que no regresso a casa sentiu que existiam móveis a mais na sua habitação e que aderiu emocionalmente às teses funcionalistas então em voga.

Depois da formação em arquitectura trabalhou no atelier de Le Corbusier de 1927 a 1937, tendo-se dedicado nesse período sobretudo a projectos de interiores.

Nota: já devia ser tempo de encontrar traduções adequadas em português para o termo inglês “Design”, mas usar “artes decorativas” para alguém que se quer afastar da “decoração” parece muito inadequado, por outro lado “projecto” parece demasiado vago se bem que “design” só adquira o significado específico de “arquitectura de interiores” quando contextualizado.

Nesse projecto de interiores participou activamente na concretização em conjunto com Le Corbusier e Pierre Jeanneret da já referida “B306 Chaise Longue”, além desta “Cadeira de braços LC1” cuja imagem encontrei na National Gallery of Victoria




e também esta Poltrona LC2
interessando-se pela aplicação dos processos industriais de produção em massa ao mobiliário das casas de habitação. Foi-se interessando pela melhoria das habitações das classes trabalhadoras, cujas condições em Paris eram nessa altura deploráveis, o que deve ter contribuído para a saída do atelier de Le Corbusier. Aproximou-se do PC francês, tendo-se afastado após acordo Stalin-Ribbentrop.

Nas vésperas da invasão de Paris em 1940 viajou de barco para o Japão, a convite do Ministério do Comércio e Indústria, via colega japonês com quem trabalhara no atelier de Le Corbusier, para melhorar padrões dos produtos japoneses tendo em vista a exportação para o Ocidente.

Ficou encantada com o minimalismo japonês que encontrou e talvez perplexa sobre que alterações sugerir às soluções japonesas. Ficou imediatamente fã do chão em Tatami, uma esteira feita,entre outros materiais com palha de arroz. Diziam no filme: “elle s’est immédiatement tatamisé”.

"O vazio tem imenso poder, é nele que nos movemos", parece-me ter ouvido durante o filme, comentando o espaço vazio comum nas casas tradicionais japonesas.

Com a entrada do Japão na guerra saiu do país e esteve no Vietnam, então colónia francesa, até ao fim da guerra, altura em que voltou para França.

Esteve envolvida na construção da estância de férias Les Arcs, em Bourg-Saint-Maurice, a uns 140km de Genève de que existem umas imagens interessantes aqui:


Aos 90 anos desenhou uma sala de chá para o edifício da UNESCO em Paris



E nesta Architectural Review tem uma pequena biografia.






1 comentário:

jj.amarante disse...

O António Blanco enviou-me este comentário por e-mail:
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Caro Amarante :

Grato pela indicação. Fui ver. Achei interessante. Tenha alguma curiosidade pela Arquitectura, talvez induzida pelo facto de ter 2 filhas Arquitectas, uma delas a trabalhar na Suíça, em Genebra, há 6 anos, em Ateliers de Arquitectura.

Quando visitei por duas vezes Viena de Áustria, onde esta última estudou durante um ano e depois sempre que fui à Suíça, tive oportunidade de apreciar certas realizações, soluções de Arquitectura urbanística que me têm surpreendido e cativado.

Dou muita importância também aos aspectos práticos, ergonómicos das peças desenhadas, concebidas por Arquitectos com essas preocupações.

Há indivíduos muito inteligentes e extremamente criativos neste domínio.

Também em tempos me interessei pelo Arquitecto icónico do nazismo, Albert Speer e da sua relação com Hitler, um homem frustrado por não ter conseguido entrar na prestigiada Escola de Arquitectura de Viena, nem no curso de arquitectura nem no de pintura.

Albert Speer, condenado em Nuremberga a 20 anos de prisão e tendo sobrevivido escreveu importantes livros de memórias e reflexões da sua controversa carreira, reconheceu a Hitler capacidade artística genuína. Refere que consigo discutia os grandes projectos, com muitas ideias oportunas, apropriadas, com inteiro sentido para a sua realização.

Se o homem não tivesse ficado reprovado na admissão aos cursos que pretendeu seguir, talvez nunca tivesse desenvolvido aquelas ideias terríveis, desastrosas com que depois avassalou o mundo. Quem sabe ? Ter-se-ia ganho um arquitecto ou um pintor mesmo se medíocre, mas ter-se-ia evitado a geração de um maníaco, frustrado, catapultado pelo ódio, para a vingança e para a destruição.

Enfim, lucubrações a posteriori.

Abraço. António Blanco
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