2022-02-15

Ucrânia


Tenho constatado nesta crise que acredito cada vez menos no que dizem as autoridades anglo-saxónicas.

Por um lado, quer o presidente dos EUA George W. Bush quer o primeiro-ministro inglês Anthony Blair, seu aliado dessa época, usaram a mentira da existência de armas de destruição maciça no Iraque, como motivo para a invasão desse país, sem mandato das ONU, com oposição de vários países, entre eles da França e contra a opinião de Hans Blix, coordenador da equipa da ONU que fez inspecções no Iraque de busca desse tipo de armas. Depois da invasão ninguém encontrou armas de destruição maciça. A invasão do Iraque em 2003 causou dezenas de milhares de mortos, não enfraqueceu a Al Qaeda, facilitou o aparecimento do DAESH, outra organização terrorista que fez ainda mais vítimas e deixou o Iraque numa situação caótica até ao presente ano de 2022.

Depois de dois mandatos do presidente Obama, que não conseguiu acabar com a prisão de Guantanamo como prometera, nem estabilizar a situação quer no Iraque quer no Afeganistão, os EUA escolheram para presidente Donald Trump que, além ter pressionado o presidente da Ucrânia a caluniar o filho de Joe Biden, então candidato à presidência dos EUA, o que deu origem a um processo falhado de destituição do cargo, recusou-se a aceitar os resultados das eleições presidenciais do ano 2020, incitando a insurreição violenta de 06Jan2021 que invadiu o Capitólio tentando evitar a confirmação dos resultados da eleição que perdera. Resumindo, Trump só não é o ditador dos EUA porque ainda não conseguiu.

Fiquei a pensar que estes meus comentários sobre Trump poderiam ser exagerados mas constatei nesta parte dum artigo da Wikipédia que não estou sózinho:
«
By mid-2020, only 16% of international respondents to a 13-nation Pew Research poll expressed confidence in Trump, a lower score than those historically accorded to Russia's Vladimir Putin and China's Xi Jinping.
».
Eu também tenho maior confiança (ou menor desconfiança) em Vladimir Putin ou Xi Jinping do que em Donald Trump.


A propósito da Ucrânia vi uma resposta de Putin a uma jornalista da Sky News em 23Dez2021 que pode ser vista neste vídeo



Neste sítio do coronel David Martelo poderá ainda obter um artigo interessante de história militar, em pdf, sobre este tema da Ucrânia intitulado “Cortinados Geopolíticos” de onde copiei este mapa:

É provável que nos tempos mais próximos a Ucrânia tenha que ficar um país neutral, como por exemplo a Áustria e a Finlândia.


Acho ainda estranha a oposição política dos EUA ao gasoduto Nordstream 2, que retirará algum trânsito a gasodutos actuais que passam pela Polónia e pela Ucrânia. O custo dos gasodutos submarinos deve ter vindo a decrescer em comparação com os que passam por terra e parece-me natural que produtor e consumidor tentem, sempre que economicamente vantajoso, prescidirem de intermediários. Por exemplo o gasoduto que vinha da Argélia para a Espanha via Marrocos foi fechado porque a Argélia construiu um gasoduto directo para Espanha sobre o fundo do Mediterrâneo e não me lembro de oposição de terceiros nem dos EUA terem intercedido a favor de Marrocos por ter perdido esta renda, como fizeram relativamente à Ucrânia e à Polónia. Tanto mais que existe um “conflito de interesses”, os EUA são potenciais fornecedores de gás natural liquefeito. A “preocupação” dos EUA com a eventual dependência da Alemanha do gás russo não é simétrica em relação à potencial dependência da Alemanha em relação ao gás norte-americano, se bem que esta será potencialmente menor dado tratar-se de gás liquefeito transportado em navios.

Em relação ao presidente Biden não tenho razões para ter falta de confiança, excepto devido às pressóes que estará a ser sujeito pelo complexo militar-industrial norte-americano que precisa de guerras como de pão para a boca.

No fundo, o abandono precipitado do Afganistão deixando-o entregue aos Talibãs, criou uma ausência de actividade bélica dos EUA que precisa de ser rapidamente colmatada. Em que ponto do planeta se poderão agora escoar os produtos da indústria militar norte-americana?


 

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