De vez em quando leio artigos sobre os problemas com a seca e embora reconheça que existem problemas de abastecimento da água em Portugal, sinto desconforto na forma como o tema é apresentado nos jornais.
O clima de Portugal, na parte continental, apresenta grandes diferenças entre o Norte e o Sul, em que existe muito mais precipitação no Norte do que no Sul, grandes variações na precipitação entre as estações do ano, com muito pouca precipitação durante o Verão e também variações apreciáveis na quantidade de precipitação anual.
Contudo o nosso país, com a sua frente atlântica donde vêm ventos húmidos e conjuntos montanhosos com altitude adequada e frequentemente correndo paralelamente à costa, propiciam precipitações apreciáveis para os valores típicos do continente europeu.
Por exemplo a pluviosidade de Lisboa é semelhante à de Londres e à de Bruxelas, com a diferença de que enquanto nos meses de Verão quase não chove em Lisboa, nas outras duas cidades a precipitação disrtribui-se de forma mais homogénea pelos 12 meses.
Como consequência nalgumas actividades, tais como na gestão da água das albufeiras, usa-se o conceito de “Ano hidrológico” que coincide grosso modo com o ano lectivo, começando em Outubro, quando aparecem tipicamente as primeiras chuvas e terminando em Setembro, quando será espectável que os níveis das albufeiras estejam no seu valor mais baixo do ano.
É normalmente neste fim de ano hidrológico que se fala do nível baixo das albufeiras e das desgraças que nos espreitam se não vier a chuva.
Esta característica do nosso país de, à medida que se vai para o Norte, se ver um país cada vez mais verde, leva-nos a pensar que países mais para o Norte da Europa terão maiores precipitações, mesmo sabendo que a precipitação não depende geralmente da latitude.
O facto do nosso país receber mais turistas no Verão poderá também levar esses visitantes a pensar que vivemos num país cheio de sol quando a realidade é que, além de termos muito sol, temos também muita chuva.
Para ilustrar estas afirmações fui verificar o valor da precipitação por país neste sítio a que o Google me conduziu buscando (yearly precipitation by country), tendo registado os valores de alguns países em tabela que apresento no fim deste post.
Antigamente referia-se que tinha chovido num dado dia 4mm. Isto queria dizer que se tivéssemos uma superfície plana exposta à chuva e donde não saísse a água da chuva, nem por infiltração no terreno, nem por escorrência para superfícies adjacentes mais baixas nem por evaporação e não recebesse água de zonas adjacentes, a altura da água no fim do dia seria 4mm. Numa superficie com a área de 1 m2 o volume de água sobre essa área dessa superfície seria 4 litros, donde a referência actualmente mais frequente a 4 l/ m2.
A água que cai numa área de 1 km2 é 1 milhão de vezes maior do que a que cai num m2 pelo que me pareceu melhor usar o m3 como medida da água que cai em cada km2 do país em questão.
Para avaliar a situação de cada país pareceu-me razoável dividir os m3 de água pelos km2 de superfície de cada país pelo número de habitantes por km2 desse país (valor da densidade populacional obtido na Wikipédia) obtendo assim o valor anual da precipitação de água por habitante expresso em m3.
Dos países seleccionados constata-se que o valor mais elevado com 7625 m3 por habitante é o de Portugal. Claro que existem todos os factores que referi acima que condicionam o número obtido mas é neste sentido que eu costumo dizer que os portugueses não têm motivo para se queixarem da falta de água do nosso país, se ela falta é porque não está a ser bem gerida pois cai do céu com fartura.
Abordei a falta de água no Algarve neste post.
Fui buscar à Wikipédia esta animação interessantíssima sobre a chuva nos vários meses do ano (https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d6/MeanMonthlyP.gif ) onde por exemplo se vê a secura do Verão na península ibérica
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