2025-12-04

Reflexos no Chão

 

Com a proximidade do Solstício de Inverno, os raios de Sol conseguem entrar profundamente na nossa casa sem o impedimento das palas das janelas, iluminando elementos recônditos então reflectidos pelo chão envernizado, que nesta época lembra a superfície dum lago.

 


2025-11-30

Sobre o 25 de Novembro

 

Na altura morava na rua Sampaio e Pina ao lado dos estúdios do Rádio Clube Português, rua que era frequentemente ocupada pela classe operária e estudantes progressistas que vinham corajosamente defender os estúdios contra algum ataque reaccionário.

Nessa noite a rua estava deserta, bloqueada nos topos por camiões da tropa onde se viam alguns soldados e interpretei a ausência de multidões e o bloqueio por tropas como indicando que a situação era desta vez mais séria.

Receei que a minha mulher, na fase final da gestação, pudessse ter que sair de casa em urgência para a clínica do parto e que então estivesse a decorrer algum tiroteio, sendo insensato nessa altura esperar que os contendores fizessem um curto cessar-fogo para que eu, a minha mulher e a minha sogra saíssemos da rua em segurança para o carro estacionado na rua Castilho.

Saímos portanto preventivamente antes que começassem os tiros, que afinal não foram trocados nesse sítio, para ir dormir à casa dos meus pais em Arroios, passando primeiro pela clínica na Alameda Afonso Henriques onde a minha mulher já teve que ficar, nascendo a criança por volta das 00:30 do dia 26/Nov, indo depois eu e a minha sogra, em violação do recolher obrigatório, de carro até Arroios.

Lembro-me de ter apreciado o que se foi sabendo sobre a actuação do presidente da República, general Costa Gomes e de ter visto na TV a declaração de Melo Antunes de que o PCP continuaria a ser um partido legal, contrariando assim as pretensões de quem pretendia ver esse partido ilegalizado. Deve ter sido uma declaração importante pois não me lembro de mais nenhuma das numerosas declarações feitas nessa altura.

Gostei de ouvir o programa "Olhe que não, olhe que não", uma conversa semanal entre Francisco Seixas da Costa e Jaime Nogueira Pinto, desta vez dedicado ao tema "50 anos do 25 de Novembro".

Gostei também da entrevista que Vasco Lourenço deu na passada sexta-feira no programa Semanário episódio 6 de 28/Nov/2025, a partir do instante 01:20 (um minuto e vinte segundos) até ao 23:50.

Julgo que foi pouco depois do 25/Nov/1975 que deixei de ouvir os boletins horários do Rádio Clube Português por ausência de notícias de conhecimento urgente com o regresso a uma maior normelidade.

 

Concordo com Vasco Lourenço que as comemorações do 25/Nov em 2025 foram exageradas mas concluo transcrevendo a última parte da coluna semanal de Ricardo Costa no Expresso de 21/Nov/2025

«

... 

O 25 de Abril não tem nada de difuso. Marca a rutura total com o Estado Novo: a rendição de Marcello Caetano a Spínola no Quartel do Carmo assinala o fim de um regime e o início de outro. Menorizar este primeiro dia é um absurdo histórico. O momento zero da democracia é aquele. Comemorar o 25 de Abril é uma obrigação do regime.

Comemorar o 25 de Novembro não é uma obrigação mas é um dever. A data não marca o início de um regime, mas a garantia de que a democracia — tinha havido eleições livres sete meses antes e a Constitui­ção estava a ser escrita — se ia instalar e de que não ia haver guerra civil. Sem esse arranjo de forças, não teríamos sido uma democracia plena.

Disputar as duas datas é um jogo infantil. Equipará-las, um ato forçado. Recordá-las, um exemplo de maturidade.

» 

 

 

2025-11-27

As Ilhas e as Vilas

 

Na semana passada fui fazer "prova de vida" para continuar a ter acesso a transportes públicos gratuitos  em Lisboa, na minha condição de residente na cidade, com mais de 65 anos. É necessária uma visita presencial eufemisticamente chamada "validação do desconto", neste caso de 100% para continuar a viajar gratuitamente.

Há dois anos que faço esta validação no quiosque da Carris no Arco do Cego, em Novembro pois quando tentei agendar em Out/2023 só consegui vaga em Novembro. Este mês é melhor para revalidar pois em Outubro chegam muitos estudantes, para tratar de obter estes descontos pela primeira vez, que saturam os balcões de atendimento. 

Agora o quiosque da Carris está encerrado para obras, não existindo previsão publicada de conclusão das mesmas, situação banal, assim como é banal que a previsão de conclusão seja ultrapassada mas, mesmo assim, não acho que quer esta ausência de data quer a sua ultrapassagem por tempos da ordem de grandeza da duração da obra seja compatível com um país que se diz "desenvolvido".

Fui então à loja do cidadão sobre o Mercado do Saldanha, onde fui atendido no balcão da Carris em menos de um quarto de hora sem necessidade de agendamento.

Depois fui a pé pela Almirante Barroso, Pascoal de Melo e Almirante Reis até ao Metro da Alameda, tomando nota do abundante pequeno comércio e da recuperação de muitos prédios que há umas décadas tinham passado por estados deploráveis e da quantidade de lojas que mudou de ramo de actividade.

No nº111 da Rua Pascoal de Melo vi este acesso ao interior de quarteirão limitado por um portão que se encontrava aberto como na imagem que obtive no GoogleMaps



Entrei pelo corredor movido pela curiosidade, com receio de encontrar a miséria das antigas "ilhas" da cidade do Porto.

Fui agradavelmente surpreendido pela limpeza e organizaçao do local, com fiadas de casas e automóveis em bom estado que presumo serem de residentes. Não tirei fotos na altura mas procurei depois na internet e encontrei referência a esta Vila Luz em S.Jorge de Arroios (Fig.19) numa Dissertação para o grau de mestre em Arquitectura onde referem numerosas Vilas Operárias em Lisboa.

Neste blogue tem mais fotos do local aparentemento a ser requalificado (Set/2013) e noutro sítio da net confirma que as casas desta Vila foram objecto de requalificação. Dado que não existe actividade industrial nas proximidades já não serão habitadas por operários.

 

 

 

No Google Maps enquadrei esta Vila  

constatando que a área de cada  telhado da fiada de 5 casas na parte de baixo da imagem tem uma área de 100m2. Não sei se seriam unidades unifamiliares.

Esta área é um valor muito diferente dos 16 m2 de cada lar de uma ilha da cidade do Porto, com um sanitário para cada cinco fogos como refere este artigo da Wikipédia intitulado"Ilha (bairro)". Nasci no Porto em 1949 e vivi lá até 1959 quando a família se mudou para Lisboa. Tinha portanto menos de 10 anos quando vi uma dessas ilhas do Porto, do lado esquerdo quem desce a Rua da Boavista, antes do cruzamento com a rua do Barão de Forrester, provavelmente na Rua das Águas Férreas onde existe agora o Bairro da Bouça. Das ilhas que eu raramente entrevi então no Porto ficou-me a impressão de zonas caóticas, acanhadas, infectas e imundas que me horrorizaram. Foi uma das pesadas heranças do Salazarismo em Portugal. 

Provavelmente alguns dos meus colegas de turma na Escola pública nº 72 que frequentei no fim da Rua de Álvares Cabral, ao pé da igreja de Cedofeita antiga, que andavam descalços (dizia-se então de pata descalça) viviam nessas ilhas.

Conforme refere na Wikipédia Ilha (bairro) ouve um esforço prolongado no tempo de realojamento dos habitantes das ilhas para bairros sociais. As ilhas costumavam existir no centro da cidade, os seus habitantes não teriam dinheiro para os transportes públicos, mas seria muito difícil construir as habitações sociais de realojamento próximo das ilhas existentes.

Neste artigo do Observador sobre as ilhas típicas do Porto apresento a imagem respectiva

  


uma espécie de versão Disneylândia da realidade. Achei engraçada e potencialmente uma boa ideia recolher a água da chuva no telhado em tanques de lavar a roupa. Mas com o aparecimento de lavandarias automáticas funcionando com moedas ou cartões, até no parque de estacionamento do LIDL em Portimão, custa-me a acreditar que estes tanques venham a ser usados para lavar roupa, serão provavelmente um elemento decorativo. Se as ilhas reais tivessem este aspecto até não seriam más de todo mas, a sua utilização para morada permanente dum casal com filhos, dificilmente seria tão adequada como para um quarto de casal num alojamento local de curta duração. É portanto conveniente para turistas e estudantes mas inadequado para famílias.

Em Lisboa a situação das famílias mais pobres resolvia-se com a sobrelotação das casas existentes e com o aparecimento dos bairros de barracas como a Curraleira, por trás da rua Barão de Sabrosa e tantas outras em Lisboa e na sua periferia, designadamente em leitos de cheia no concelho de Loures onde morreram centenas na escuridão de uma noite de muita chuva em 1967. Houve dois números que eu fixei, em 1965 apenas 14% dos lares em Lisboa dispunham de instalações sanitárias, segundo disseram numa aula de Religião e Moral no 6º ou 7º ano do liceu. Nos fins da década de 60 cerca de 25000 pessoas chegavam por ano vindas da província para habitar na capital, citando homilia duma missa na igreja de Arroios. Nessa década 1 milhão de portugueses emigrou para a Europa, o país perdeu cerca de 10% da sua população.

Em Lisboa fizeram-se bairros sociais imensos como, por exemplo, na zona de Chelas e Marvila, a província urbanizou-se tardiamente, em todas as cidades e vilas vêem-se bairros sociais de construção recente, onde foram aplicados fundos da CEE. Resumindo um inglês, ao ver tanta construção pelo país fora disse que quando Portugal estivesse concluído iria ficar muito bonito.

Outra actividade em que se usaram os fundos europeus foi no saneamento básico. A situação era tão má que a urbanização intensa por exemplo de Oeiras, com prédios de andares onde anteriormente quase só existiam vivendas, teve como consequência a interdição para banhos da praia de Oeiras à semelhança da quase totalidade das praias da linha do Estoril durante décadas, como consequência dos esgotos pluviais servirem também para escoamento dos esgotos domésticos.

A separação das redes de esgotos domésticos e pluviais e a instalação e operação bem sucedida das estações de tratamento de esgotos foi outra das actividades importantes e dispendiosas em que foram empregues os famosos fundos da CEE, que não foram só aplicados no melhoramento das estradas e na construção algo excessiva da rede de autoestradas.

Receei que a citação simples no texto acima de dois números memorizados (14% e 25000) criassem dúvidas sobre a sua validade. Pelo menos o primeiro é confirmado em "Portugal Social em Mudança - 50 anos do 25 de Abril" da Universidade de Lisboa de que cito este pequeno excerto:

« Esta situação adquire contornos mais calamitosos se medida em percentagem da população. Segundo um estudo sectorial sobre o saneamento básico em Portugal, desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (1975), o país terá chegado à década de 70 do século XX com apenas cerca de 40% da
população servida por abastecimento domiciliário de água, e não mais de 17% ligada à rede de esgotos (Schmidt 2009)
»

Foi por isso com satisfação que passei noutro dia pela rua do Sol ao Rato em que o 15A dá acesso à Vila Visconde Santo Ambrósio onde fotografei estas lindas casinhas cuja área no GoogleEarth dá cerca de 55m2, possivelmente também para turistas e/ou estudantes


 Na mesma rua do Sol ao Rato gostei desde prédio no nº 24

 

com a empena pintada toda em azul ultramarino, no mesmo tom da fachada, a confundir-se com o céu.

Não podia deixar de me lembrar da casa no jardim Majorelle em Marraquexe cujas plantas iluminadas mostrei aqui e da sua casa azul de que falei aqui de que mostro uma foto retirada da  Wikipédia "Jardin Majorelle"

 

Photo par ViaultTravail personnel


2025-11-20

Flores em jarra sob raio de sol em sala de espera

 


Para amadores é sempre difícil fotografar motivos sob um raio de sol intenso, há sempre partes que ficam sobre-expostas. O HDR (High Dymamic Resolution) da câmara do telemóvel ajuda, mas ainda ainda ficaram partes sobre-expostas.

Mostro a seguir um detalhe da mesma foto.

 

As flores eram naturais, de tão perfeitas receei que fossem de plástico.

 

 

2025-11-13

A cidade subterrânea (2)

 

Desta vez foi uma obra que tem requerido escavadoras com alguma dimensão na Av. Cidade de Luanda, entre a Rua Cidade de Bissau e a Av. de Pádua. Fotografei em 11/Nov/2025 mas as escavações começaram há mais dias.

Trabalhadores presentes disseram-me que se tratava dum problema numa conduta de água, que se constata na foto estar bastante profunda, talvez uns 6 ou 7 metros


O que achei aqui curioso foi a presença duma caleira de cimento de secção rectangular , por cima da conduta, que foi preciso segurar com uma viga de aço onde foram passadas cintas suspendendo a caleira que me disseram conter cabos de comunicações.

Por cima da caleira ainda existiam uns cabos eléctricos enterrados talvez sinalizados por cima com algum plástico.

Como mostra esta foto, A cidade subterrânea, que referi neste post, é difícil de gerir mas faz-nos imensa falta.

 

Adenda em 19/Nov/2025:

Constatando hoje que os trabalhos ainda não estavam concluídos tirei outra foto, do mesmo lado da rua mas um pouco à direita do local em que tirara a foto de 22/Nov mostrada acima:


Não sei se inseriram a válvula que não se via na primeira foto. Disseram-me que a obra se devia a uma fuga de água que ainda não estava completamente resolvida.

Por curiosidade submeti esta imagem ao Google Images e obtive a seguinte "AI Overview":

«

The image shows a large concrete or reinforced concrete pipe exposed during excavation work, likely for infrastructure maintenance or replacement. 

The pipe is part of a water or sewage management system, crucial for urban infrastructure. 

A blue valve assembly is visible on top of the pipe, suggesting the infrastructure is operational or being prepared for service. 

The excavation is supported by a temporary shoring system, possibly a coffer-dam or trench box, to ensure worker safety and prevent collapse. 

A worker in a high-visibility vest can be seen inside the trench near the pipe.

» 

Pareceu-me uma descrição muito razoável e sucinta duma imagem complexa. Depois submeti este texto ao Google Tradutor que forneceu a versão em Português de Portugal:

«
A imagem mostra um grande tubo de betão ou betão armado exposto durante uma escavação, provavelmente para manutenção ou substituição de infraestruturas.

O tubo faz parte de um sistema de gestão de água ou esgotos, crucial para as infraestruturas urbanas.

Uma válvula azul é visível na parte superior do tubo, sugerindo que a infraestrutura está operacional ou a ser preparada para entrar em funcionamento.

A escavação é suportada por um sistema de escoramento temporário, eventualmente uma ensecadeira ou caixa de vala, para garantir a segurança dos trabalhadores e evitar derrocadas.

Um trabalhador com colete refletor pode ser visto dentro da vala, junto ao tubo.

»

Para este tipo de textos  o tradutor parece completamente satisfatório.

 

2025-10-31

Rádios portáteis

 

De vez em quando pensava que devia ter um rádio portátil para ter acesso a informação radiofónica em situação anómala em que a internet não funcionasse.

Contudo o assunto não era urgente, dado que não faço percursos em sítios remotos, ou estou em casa, ou na cidade, ou com o carro com autorádio a uma distância pequena.

Na minha casa tenho um receptor de rádio que uso pouco por ter problemas com a antena, o sinal ser fraco e quando às vezes me lembro de o ligar já não me lembro dos problemas pendentes que o levam a não funcionar e se quero ver uma notícia vejo na TV o último noticiário em um ou dois canais e se quero ouvir música ainda tenho CDs.

O apagão de 28/Abril/2025 levou-me a revisitar o tema, o receptor que tenho em casa precisa dos 220V pelo que ficou ainda mais indisponível do que habitualmente e considerei que deveria ter um receptor de rádio portátil. Presumi que os poucos rádios portáteis existentes nas lojas de teriam esgotado rapidamente pelo que deixei a compra para o Outono.

Como nas lojas por onde passo os rádios portáteis não são artigos em destaque um destes dias procurei na net rádios portáteis e encontrei no sítio da Mauser, uma loja física inicialmente em Lisboa e na Portela além de noutros sítios de Portugal que vende componentes e equipamentos eléctricos e electrónicos tendo achado dois rádios que já tenho em casa que passo a apresentar

 

 

com as seguintes características 

Marca  Modelo               Espessura x Largura x Altura   peso (sem pilhas)
nedis    RDFM1200BK                30 x 130 x 70mm                165g
nedis    RDFM1110SI                  20 x 60 x 115mm                  71g 

Nestes rádios tive dificuldade em encontrar emissores em Onda Média de Amplitude Modulada (AM). Apenas consegui sintonizar uma emissão da Antena 1 alegadamente em 666kHz, a escala indicativa do receptor é pouco exacta. A qualidade era fraca, como seria de esperar, mas a emissão em AM é mantida porque alegadamente se consegue apanhar na maioria da área de Portugal.

Na Frequência Modulada (FM) a qualidade é bastante boa, a Antena 1 em Lisboa recebe-se em 95,7MHz. Sendo um receptor portátil qualquer pequeno movimento do botão de sintonia provoca a selecção da estação de rádio adjacente na gama de frequências mas com a prática consegue-se sintonizar os diversos emissores.

Considerei que seria útil armazenar o rádio sintonizado na Antena 1, onde presumo que serão emitidos os avisos à população em caso de catástrofe e usei o telemóvel para confirmar que se tratava desse emissor pois não estão constantemente a dizer qual o emissor do programa em emissão.

Com o telemóvel e o rádio portátil sintonizados na Antena 1 apercebi-me que estavam a falar do mesmo tema, qualquer coisa que envolvia o Sporting de Braga mas não se tratava duma espécie de eco simples. Marquei um alarme para 2 minutos da hora certa, altura em que coloquei os dois aparelhos a receber a Antena 1.

O sinal com 4 bipes seguido de um bip muito curto da hora certa apareceu primeiro, como eu esperava, no rádio portátil e 23,3 segundos depois no telemóvel. Se me perguntassem eu diria que o atraso seria inferior a 5 segundos, tinha experiência de ouvir gritos de satisfação não sincronizados com a minha televisão em jogos de futebol importantes da selecção nacional, mas este valor de 23,3 s surpreendeu-me.

Estes atrasos devem-se à passagem do sinal aúdio por vários computadores da internet e depois do operador de telecomunicações até chegar ao meu telemóvel, não é devido à propagação do sinal que em 23,3s teria tempo para percorrer mais do que um milhão de quilómetros.

 

2025-10-22

Justiça Americana


A Justiça nos EUA está a atravessar uma crise imensa, à semelhança dos outros dois poderes institucionais de Estados de Direito, o Executivo e o Legislativo.

O Poder e o Dinheiro sempre tiveram uma interacção forte mas a admiração prevalecente nos americanos pelos dois, conjugada com a importância dada ao voto (por exemplo na escolha de magistrados), que sempre foi influenciável pelo poder económico mas em que tecnologias recentes potenciaram essa influência ainda mais, conduziram à eleição dum americano condenado por um crime para o cargo de Presidente da República.

No tempos de Al Capone a justiça foi incapaz de provar que seria o mandante de numerosos assassínios de ocorridos dos EUA, conseguindo finalmente uma condenação apenas através da provas de evasão/fraude fiscal.

Nos tempos que correm, em que existe a crença popular de grandes e frequentes irregularidades do actual presidente na condução dos seus negócios, a inspeção fiscal já não foi capaz de detectar e/ou provar a existência de irregularidades fiscais. Provavelmente a classe dirigente de menos de 1% da população que controla 50% da riqueza produzida/apropriada nos/pelos EUA foi, através dos legisladores cujas campanhas eleitorais financia, capaz de introduzir um número suficiente de buracos legais que permitem uma evasão fiscal segura e indetectável.

E desde que o criminoso não seja apanhado, os sinais exteriores de riqueza dificilmente explicáveis são apreciados por boa parte dos eleitores, pelo engenho em ludibriar o fisco.

Além das fraquezas e problemas inevitáveis em sistemas de justiça, com alguns casos excepcionais de grande destaque explicáveis dada a grande dimensão populacional e económica dos EUA, a eleição em 2024 de Donald Trump revelou vários problemas profundos:

1) A falta de credibilidade do sistema judicial junto de quase metade dos eleitores americanos

Após a perda da eleição de 2020 por Trump este candidato perdeu também junto de cerca de 60 tribunais de diferentes estados a totalidade das acções em que tentara impugnar as eleições em diversos sítios. Mesmo após estas perdas os eleitores de Trump continuaram convencidos na sua maioria que a eleição lhe tinha sido roubada. Estas dúvidas sobre resultados de eleicões são comuns em Estados recentes mas completamente anómalas em democracias consolidadas, pondo em perigo a transição pacífica do poder, característica essencial duma democracia.

2) A Procuradoria foi incapaz de o responsabilizar pela insurreição de 6/Jan/2021 antes da eleição de 2024

Embora Trump tenha discursado em frente de câmaras de estações de TV incitando a multidão a manifestar-se contra a homologação da eleição no Capitólio e não só não tivesse tomado medidas para conter a invasão como não tomado qualquer acção para conter os inssurectos, tendo mesmo prometido posteriormente que amnistiaria os participantes na invasão do Capitólio, a Procuradoria foi incapaz de o acusar criminalmente em tempo útil. Numa nação tão pronta para a acção surpreende esta procrastinação. Cheguei mesmo a ler que era difícil acusá-lo por não ter participado fisicamente na invasão. Não me consta que Bolsonaro tenha participado fisicamente nos desacatos em Brasília de 8/Jan/2023 e foi condenado em tribunal em 11/Set/2025, menos de 3 anos depois, a vários anos de prisão.

3) Amnistias preventivas

Considerando as ameaças feitas por Trump na campanha eleitoral que não só amnistiaria os invasores do Capitólio condenados e presos mas que também moveria processos aos seus inimigos, o presidente Biden amnistiou preventivamente centenas ou mesmo milhares de pessoas, impedindo que fossem perseguidos pela Procuradoria por eventuais delitos que tivessem cometido durante alguns anos. A maioria dessas pessoas não estava indiciada por qualquer crime, sendo apenas uma forma de evitar perseguições futuras sem fundamento. Eu nunca ouvira falar em amnistias preventivas e esta anomalia, que o futuro mostraria como razoável, deveria ter sido um aviso para o poder judicial.

4) Incapacidade do poder judicial e do Supremo Tribunal de Justiça

Os membros do Supremo Tribunal de Justiça, perante a avalanche de ordens executivas, muito provavelmente violando a Constituição, acabaram por as autorizar temporariamente deixando para mais tarde (ASAP- As Soon As Possible), quando o tribunal tivesse tempo (o famoso tempo da Justiça) para analisar a questão. 

Lembrei-me a propósito de um tribumal em Portugal ter emitido uma autorização temporária de demolição do cineteatro Monumental na Praça do Saldanha em Lisboa ilustrando a consequência com esta foto dum post do blogue "Lisboa de Antigamente":
 

 

Um Supremo Tribunal de Justiça, perante este assalto do poder Executivo à Constituição Americana deveria ter suspendido a maior parte das ordens executivas que lhe foram enviadas por outros tribunais, deixando para análise posterior (ASAP) a conformidade com a Constituição. Parece-me assim que talvez os juízes possam ser acusados de não ter defendido a Constituição pois permitiram a destruição de instituições públicas por ordens executivas possivelmente inconstitucionais.

5) Desrespeito pelo poder judicial

Decisões de tribunais inferiores foram desrespeitadas como no caso de Kilmar Abrego-Garcia e agora na comutação da pena de George Santos, um deputado republicano no Congresso, quinto  congressista a ser expulso desde a existência bicentenária desta instituição.

Segundo a Wikipédia
«…
Em 25 de abril de 2025, Santos foi condenado a 87 meses de prisão federal por fraude e falsidade ideológica.

Em 25 de julho de 2025, Santos foi preso após se entregar à Justiça americana no último dia do prazo estipulado. Ele foi detido na Instituição Correcional Federal, em Fairton, no estado de Nova Jérsei.

Comutação da pena

Em 17 de outubro de 2025, a pena de prisão de George Santos foi comutada pelo presidente Donald Trump, resultando em sua libertação imediata da prisão federal.

Santos cumpria uma pena de 87 meses (mais de sete anos) na Instituição Correcional Federal em Fairton, Nova Jérsei, após se declarar culpado de acusações federais de fraude e roubo de identidade. Ele iniciou sua pena em julho de 2025. O presidente Trump anunciou a comutação nas redes sociais, afirmando que, embora Santos fosse um "pária", havia sido "horrivelmente maltratado" na prisão e que uma pena de sete anos era excessiva. A declaração de Trump também citou as convicções políticas de Santos como motivo para a comutação, escrevendo: "Pelo menos Santos teve a coragem, a convicção e a inteligência para SEMPRE VOTAR REPUBLICANO!". A comutação libertou Santos da prisão imediatamente.

…»

Trump tem dito que “ninguém está acima da lei” quando dá ordens à Procuradoria para perseguir cidadãos com quem antipatiza. Constata-se contudo que existem cidadãos acima da lei como este que “sempre votou republicano” ou os insurrectos que invadiram o Capitólio em 06Jan2021. 

6) Interferência no trabalho da Procuradoria

Em princípio a Procuradoria devia ter autonomia para detectar indícios de crime produzindo acusações fundamentadas para serem julgadas em tribunal.
Actualmente a Procuradoria dá prioridade a investigações por exemplo contra quem investigou as suas actividades como James Comey ou o criticou como John Bolton. 

Concluindo trata-se dum retrocesso à Idade Média da Europa em que o rei soberano tinha legitimidade para fazer leis, julgar e perseguir quem bem entendesse. Na Europa havia na altura fartura de reis e essa foi uma das razões porque tantos europeus emigraram para a América. 

Uma boa parte da população americana não quer um rei no seu país e por isso fizeram manifestações em Junho em muitos Estados da Federação com o lema “No Kings” tendo repetido essas manifestações no passado domingo, dia 19/Out/2025 sempre pacíficas, com enorme participação popular.


2025-10-16

Improvisando


Há uns dias, ao passar pela avenida Duque d’Ávila em Lisboa, fotografei este evento
 


da fase final do perigoso transporte duma cabine sanitária portátil num carrinho de mão.

Googlei (cabine sanitária) e um dos primeiros sítios revelou-me que tinham um modelo leve pesando 84kg com dimensões 228x112x122cm. A capacidade do reservatório é 265L e quando cheio a cabine pesará 350kg.

Googlei (carrinho de mão) e noutro dos primeiros sítios apareceu-me um “carrinho de mão de obra” com 70 litros de capacidade e transportando até 100kg.

Constatei assim que o transporte desta cabine (provavelmente vazia) não terá excedido o peso máximo nominal do carrinho embora requerendo 3 pessoas para colocar/retirar do carrinho e o transporte se tenha feito em condições muito precárias.

Antes desta foto tirara outra que me pareceu que teria ficado bem mas, quando cheguei a casa, constatei que um automóvel se interpusera entre o telemóvel e a cena fotografada:
 


Mesmo assim a foto sugere uma conjectura sobre o motivo do transporte com meios inadequados, pois tendo a cabine sido colocada na entrada de um restaurante, responsáveis deste estabelecimento terão protestado, causando o transporte de uns 30 metros no mesmo passeio para um local menos inconveniente.

Quando dizem que os portugueses têm mais jeito para improvisar do que outros povos, eu considero que os portugueses terão antes mais prática do improviso por ausência de planeamento de algumas obras, associada a uma falta de ferramentas adequadas para as operações necessárias, diminuindo assim a produtividade horária dos trabalhadores.

Os ingleses diriam que este post apresenta “anecdotal evidence” do improviso dos portugueses. Googlando (anecdotal evidence) obtive

"Anecdotal evidence is information based on personal stories, individual experiences, or observations, rather than on systematic scientific data. While it can be compelling and relatable, it is considered unreliable for making general claims because it is informal, often based on a very small sample size, and is susceptible to cognitive biases. It differs from scientific evidence, which is collected through rigorous and systematic methods.

Em inglês também existe “anedocte”, esta é uma pequena história inventada para ilustrar alguma informação, não necessariamente uma piada.

Eu julgava que em português não se usava a tradução literal “evidência anedóctica”  mas acabo de constatar que existe uma entrada na Wikipédia com o mesmo sentido que em inglês. Talvez seja mais usada no Brasil.

Googlando “etimologia de anedota” obtive
«
A palavra "anedota" deriva do grego anékdotos, que significa "não publicado" ou "inédito". Inicialmente, referia-se a um pormenor curioso, mas não divulgado, sobre personagens históricas. Com o tempo, o termo evoluiu, especialmente através do francês anecdote, para designar principalmente uma pequena e engraçada história ou piada. 
»

Para finalizar apresento outra evidência anedótica de falta de ferramentas para os trabalhadores, neste post antigo de 2008 sobre condições de trabalho em Nova Deli na Índia, em 2001.

 


2025-10-12

Canapés com Camarão

 

Por variados motivos  sobraram 8 camarões dum conjunto congelado de miolos de camarões cozidos e embalados num saco de plástico com vácuo.

Usei duas fatias de pão de forma sem côdea à venda nos supermercados, que duram muitos dias indicando que foram muito processados mas que uso de vez em quando por serem tão cómodos.

Pus um bocadinho de maionese em cada fatia para segurar uma pequena folha de alface. 

Em cima de cada fatia coloquei 4 fatias finas de pepino a que tirara a pele num dos topos.

Sobre cada pepino coloquei uma rodela de ovo cozido, cortado com aquelas máquinas de cortar ovos com fios de nylon paralelos. Numas rodelas havia gema e clara, noutras apenas clara. 

Sobre a rodela de ovo coloquei os miolos de camarões e no centro um bocadinho de molho cocktail.

Cortei cada fatia em 4 quadrados iguais e coloquei-os numa pequena travessa de louça com motivos de Conímbriga.

  



Depois de comer os canapés o tabuleiro ficou assim

Já me tinha interrogado sobre o motivo de decorar um tabuleiro quando esse motivo vai ser tapado pelos itens comestíveis que lá são colocados.

Conjecturei agora que o tabuleiro quando vazio pode ser um pequeno consolo visual e motivo de distracção de já ter acabado a comida.

 

 

2025-10-11

Taylor Swift e os Pré-Rafaelitas

 

Mais uma vez, ao passar por um email do ex-colega e amigo João Miguel, que continua o seu labor no Blog Sugestões sobre eventos culturais, vi nesse email uma referência ao magazine Beaux Arts sobre um videoclip da Taylor Swift inspirado no quadro de Ofélia (personagem de peça de Shakespeare) pelo pintor John Everett Millais, um dos fundadores do movimento dos Pré-Rafaelitas.

 

 
Imagem do Google Art Project, acessível em Ofélia.

 O video clip tem uma energia esfusiante e termina com a Taylor Swift na banheira, desta vez a olhar para o espectador em vez de para cima como no quadro.



 

2025-10-07

Mulheres no Poder


 

1) Arcebispa da Cantuária

Sarah Mullally next_Arcbishop of Canterbury  by Mina Kim/Reuters

Fui surpreendido pela notícia no New York Times da nomeação de uma mulher para Arcebispa de Cantuária, a reverenda Sarah Mullaly, actual bispa de Londres desde 2018 e nessa qualidade membro da Câmara dos Lordes. Começou actividade profissional como enfermeira de cancerosos foi, numa tradução atrevida, enfermeira-mor do reino, foi ordenada em 2001, bispa em várias dioceses.

Terá autoridade na igreja de Inglaterra e será “primeira entre iguais” nas diversas igrejas doutros países em comunhão com a igreja inglesa.

Foi escolhida  pela “Members of the Canterbury Crown Nominations Commission” uma comissão de 17 membros, dos quais 9 são reverendos e 8 são leigos sendo presidente um lorde, antigo presidente do MI5, nomeado pelo primeiro ministro.

A comissão que reuniu desde Maio/2025 votou com maioria de dois terços nesta candidata que teve a aprovação do rei Carlos III, chefe da igreja de Inglaterra.


 

2) Líder do partido do governo no Japão 

Sanae Kanachi Lider do LDP do Japao  Pool photo by Kim_Kyung-Hoon

Sanae Kanachi foi eleita líder do LDP (Partido Democrático Liberal) líder da coligação que governa actualmente o Japão, com boa probabilidade de ser a próxima primeira-ministra do Japão, um país em que as mulheres têm estado bastante afastadas do poder.

Se bem que eu saúde uma composição equilibrada em todas as instituições da sociedade  dos géneros masculino e feminino, não tenho ilusões sobre as maiores ou menores capacidades de cada género para lugares de governação, o facto de ser homem ou mulher, não afecta a qualidade do desempenho no cargo.

Logo por azar meu esta política japonesa é grande admiradora da Margaret Thatcher uma personagem pela qual sinto grande antipatia devido à forma como governou o Reino Unido enquanto ocupou o cargo de primeira-ministra.

À semelhança de Shinzo Abe, de quem era protegida, Sanae Kanachi também faz visitas frequentes ao santuário Yazukuni onde estão sepultados mortos da guerra incluindo militares condenados por crimes de guerra, actividade que a China considera hostil, devido aos massacres cometidos pelas tropas japonesas em território chinês.

 

3) Aliadas de Trump

Cheguei a pensar em enumerar um conjunto naturalmente desagradável de mulheres aliadas de Trump. Achei depois que não valia a pena, os homens e as mulheres nomeadas por Trump para postos governamentais têm sido igualmente censuráveis, confirmando assim a minha conjectura.

 

4) Zero Mulheres nos EUA em 1964 

Neste post do Paul  Krugman “State Terror, American Style” que recomendo, ao ver o vídeo “Musical Coda” no final do post vi esta foto em que o presidente dos EUA assina o ”Civil Rights Act” em 2/Jul/1964, acompanhado por muita gente em que se destaca o Dr.Martin Luther King. Na imagem vêem-se zero mulheres. As transformações lentas passam muitas vezes despercebidas.




 
 

2025-10-05

Retratos por Klimt (1862-1918 ) e mãos das retratadas

 

Vi recentementr no magazine Beaux Arts uma referência ao próximo leilão no dia 18/Nov/2025 em Nova Iorque deste quadro de Gustav Klimt intitulado “Retrato de Elisabeth Lederer” feito em 1914-1916 de que apresento a metade superior


 


É a filha do casal Lederer, principal mecenas de Klimt, família muito rica da Viena de então, de riqueza ultrapassada apenas pela família Rothschild.

Trata-se duma versão modernista dum retrato, em que o motivo principal e praticamente único é a cara do modelo e tudo o resto são motivos decorativos criando um ambiente irreal de que gostei e que enquadra a cara do modelo.

Neste caso optei por mostrar primeiro apenas a metade superior do quadro original dado que me disseram que as mãos da modelo estavam horríveis

 

como se pode constatar no quadro completo e no detalhe a seguir. 

 

Provavelmente o quadro ficaria melhor se as mãos não fossem representadas. Prevê-se que este quadro seja vendido por mais de 100 milhões de dólares mas frequentemente não tenho conseguido estabelecer correlação entre o valor de transacção e o meu apreço por inúmeros quadros.

Fui verificar outros retratos famosos feitos por Klimt como por exemplo este “Retrato de Adèle Bloch-Bauer (1907)” que copiei da Wikipédia 

 



 

e este “Retrato de Adèle Bloch-Bauer II (1912)” da mesma mulher cinco anos mais tarde, que copiei do mesmo sítio e com esta referência

By Gustav Klimt - The Yorck Project (2002) 10.000 Meisterwerke der Malerei (DVD-ROM), distributed by DIRECTMEDIA Publishing GmbH. ISBN: 3936122202., Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=153486









Fiz depois uma tabela resumo sobre as mãos nestes três retratos, por ordem cronológica da respectiva data de execução

Mãos no retrato de Adèle Bloch-Bauer (1907)
Mãos no retrato de Adèle Bloch-Bauer II (1912)
Mãos no retrato de Elisabeth Lederer (1914-1916)


Não pondo em causa a capacidade de Gustav Klimt pintar as mãos das pessoas retratadas, considero que esta sequência de retratos documenta antes uma falta progressiva de interesse na representação das mãos das retratadas nas suas pinturas.

No post “Masterpiece” de Maio/2013 a propósito de um quadro que apenas representava a face e as mãos de uma pessoa referi “…a pintura apenas do rosto e das mãos fez-me lembrar um pequeno livro para turistas sobre a deslumbrante biblioteca Piccolomini, na catedral de  Siena em Itália, em que aprendi, relativamente ao contrato das pinturas dessa sala, que “a totalidade dos rostos teria que ser executada por Pintoricchio, uma vez que era comum as partes de menor responsabilidade, serem executadas por aprendizes que trabalhavam para o pintor principal” conforme referi no post sobre a biblioteca atrás linkado.
 

Talvez nos contratos da Renascença na Europa, além da cabeça ter que ser pintada pelo mestre, também se esperasse que o mestre pintasse as mãos, pois não haveria muito mais partes do corpo que não estivessem cobertas por roupa. Talvez Klimt prolongasse por tradição a inclusão das mãos nos retratos mas com cada vez menos detalhe.

Lembrei-me de verificar esta conjectura googlando (why has klimt lost interest in drawing the hands?) obtendo esta 
AI Overview:
There's no evidence to suggest Gustav Klimt lost interest in drawing hands; in fact, his paintings, especially his earlier works and drawings, feature hands, though he often simplified or stylized them within his overall decorative style. While hands may be less prominent or detailed in some of his later, more abstract or decorative paintings, this reflects his stylistic choices rather than a loss of interest, as he sought to emphasize patterns, symbolism, and the emotional aspects of his subjects over strict realism in all his works.

Surpreendeu-me obter uma resposta tão elaborada sobre um tema que me parecia “tão irrelevante” e embora discorde julgo que será uma opinião frequente em sítios da internet que abordem este assunto.

Fiz a pergunta em inglês pois tenho a sensação que muitas vezes se obtêm respostas mais completas nesta língua.

Por curiosidade fiz a mesma pergunta em português, francês e espanhol e o google nesses casos não apresentou “AI overview”, remetendo em primeiro lugar para a Wikipedia sobre Klimt.

Depois lembrei-me de fazer a pergunta em chinês (ideogramas simplificados) convertendo esta pergunta em inglês (Klimt apparently lost interest in hand painting) para chinês usando o Google Tradutor e fazendo a retroversão para inglês para verificar estabilidade:

Pergunta e resposta em chinês:
克里姆特明显对手画失去兴趣

克里姆特明显对手画失去兴趣;相反,他在绘画女性身体和女性主题上倾注大量心血,并创作了许多绘画女性的作品,如他的维也纳独立派代表作。克里姆特的作品形成了独特的象征性装饰纹饰为特色,主题通常围绕着“性”、“爱”、“生”与“死”的轮回,并以女性为绘画作品的主角

que submeti ao Googlr tradutor obtendo:
Klimt never lost his interest in painting hands; on the contrary, he devoted considerable effort to depicting the female body and female subjects, creating numerous works depicting women, such as his representative works from the Vienna Secession. Klimt's works are characterized by their unique symbolic decorative motifs, with themes often centering on the cycle of sex, love, life, and death, with women as the main protagonists.

Presumo que o Google traduziu a pergunta em chinês para inglês, obteve a resposta em inglês e voltou a traduzir para chinês. De qualquer forma o Google mostra maior consideração pelo público chinês, que tem direito a uma “AI Overview” na língua em que a  pergunta foi feita.


 



 

2025-10-03

A produtividade dos trabalhadores portugueses

 

É muito frequente dizer-se que a produtividade dos trabalhadores em Portugal é baixa. 

Entre vários factores eu costumo destacar que essa alegada baixa produtividade se deve em boa parte à falta de investimento das empresas em ferramentas adequadas para que os trabalhadores possam executar as tarefas de forma eficaz.

 No dia 24/Set no meu passeio diário pelos Olivais passei por uma vivenda onde estavam a instalar painéis fotovoltaicos.

Reparei que tinham instalado um mini elevador eléctrico para transportar os painéis para o telhado numa solução que me pareceu muito adequada pelo que a fotografei.

Como eu estava naturalmente fora do gradeamento que delimita o terreno e queria fotografar a totalidade do elevador, as barras verticais ficaram na imagem e uma delas parece à primeira vista estar no meio da "escada".

 Optei por mostrar em detalhe o topo do elevador na imagem que segue

 

e depois retirei o topo das grades da imagem de forma tosca mas para ajudar o leitor a ver o elevador sem essa obstrução extemporânea


 De seguida mostro a base da elevador


 Nessa tarde passei ao pé da mesma casa e fotografei o elevador de perfil

É impressionante a quantidade de cabos de telecomunicações que ficam nas fotografias nos bairros com vivendas antigas se bem que ainda não "históricas".

No dia seguinte (25/Set) fotografei dois trabalhadores no telhado, devidamente protegidos por linhas de vida e com o trabalho adiantado

 na carrinha constata-se que o sítio do instalador na net é www.trilhosenergeticos.pt.

 No  dia 26 talvez não tenha dado a voltinha diária ou não reparei no telhado. No dia 27 o trabalho no telhado estava concluído.

 


Não sei qual a qualidade do desempenho do instalador que referi mas a primeira impressão foi positiva.

Em 2011 fiz um post sobre "Produtividade, horas de trabalho e feriados". 

 



 

2025-09-29

Conferência sobre Arte Asiática na Gulbenkian

 

Inscrevi-me em tempos no sítio da Fundação Calouste Gulbenkian para receber uma Newsletter mensal sobre actividades culturais da Fundação e desta vez recebi em 10/Set um email anunciando

IV Conferência da European Association for Asian Art and Archaeology, com participação de Partha Mitter, a realizar em 11Set2025, apresentando detalhe dum lindo tapete da colecção Gulbenkian que mostro a seguir

 

da parte central dum tapete indiano da época mogol, cerca de 1650-1700.


Não pude assistir ao vivo mas como referiam que também haveria acesso online segui o link indicado no email e fui dar a este sítio do Museu Calouste Gulbenkian  onde além da imagem acima do tapete aparece uma segunda imagem do mesmo tapete com uma linha de controlo do filme da conferência, indicando que a gravação tem 2:39:23, isto é 2 horas 39minutos e 23 segundos.

Constatei que nada se passa no princípio, comecei a arrastar o ponto de controle e no instante 22:30 (22 minutos e 30 segundos) apareceu  Guilherme Oliveira Martins fazendo uma pequena introdução.


Depois das  27:40 duas senhoras falaram sobre a vida e obra de Calouste Gulbenkian incluindo a sua actividade de coleccionador de arte 

Gostei deste slide mostrando 3 items da colecção do Museu Gulbenkian


 mostrando da esquerda para a direita

-  Caneca turca, desenho do século XVI;

- Impressão em papel de gravura em madeira por Katsukawa Shuncho, princípio séc. XIX
Cortesã Fujiwara caminhando com seu jovem assistente(kamuro);

-  Porcelana Chinesa.


Depois dum intervalo e doutra breve introdução começa a intervenção do Prof. Partha Mitter em 1:38:43 que referiu ter tido há muitos anos uma bolsa intitulada "Calouste Gulbenkian" em Cambridge.

Falou sobre arte a a relação assimétrica de poder entre o Ocidente e a Ásia  durante o período colonial e as interaçcões que tiveram lugar.

 

2025-09-24

Xanthogaleruca luteola

 

Há uns dias que me aparecem nos vidros das janelas uns bichos pequeninos que não conseguia identificar, Dava-lhes um piparote para saírem da janela. Hoje estavam já uns 6 ou 7 numa das minivarandas da casa e fotografei este:

depois no Google Images seleccionei esta entrada da Wikipédia Xanthogaleruca luteola que está escrita em Galego, língua muito próxima do Português. Têm 6 a 8mm, o que corresponde à dimensão dos que tenho visto. É um escaravelho da família dos crisomelídeos nativo da Europa, do género Xanthogaleruca e espécie Xanthogaleruca luteola.

Diz que parasita os ulmeiros, se calhar são descendentes dos insectos que deram cabo dos 2 ulmeiros que existiam na rua Cidade de Bolama nos Olivais Sul e agora alimentam-se de folhas de outras plantas.

Desaconselham uso de insecticidas a não ser que formem colónias realmente grandes.

 

2025-09-22

Molhe de Ferragudo e Ponta do Altar

 


 Tirei esta foto em 12/Set/2024 (já há mais de um ano!) às 17:19, no topo da arriba de onde sai a escada de acesso a este molhe, um dos dois que protegem a ria do Arade e o porto de Portimão. Os raios de Sol nesta altura da tarde existem num plano paralelo ou mesmo passando pela recta que passa pelo meio da superfície pedonal deste molhe do lado de Ferragudo, contendo um pouco a esteira de luz sobre o mar,  facilitando a toma desta foto.

O outro molhe que se vê na imagem é o que parte da Fortaleza de Stª Catarina na Praia da Rocha e, como referi aqui o farol de Ferragudo é verde e o da Praia da Rocha é vermelho.

O primeiro cabo que se vê ao fundo é a ponta da praia de João d'Arens e a silhueta que se destaca da arriba é o hotel que se chamou Delfim e que depois de algumas variantes se chama agora "Pestana Blue Alvor Beach". Na arriba muito mais ao fundo (clicar na imagem para ver melhor) está a Ponta da Piedade e um conjunto de dois prédios infelizes que referi aqui.

Virando uns 90º para a esquerda, no mesmo local, fotografei o Farol da Ponta do Altar mais a sua torre de telecomunicações que já referi aqui e cuja silhueta continua a desagradar-me


 Virando uns 180º para a direita fotografei a vista para o lado de Portimão

em que se a parte mais a leste da Praia da Rocha, a fortaleza de stª Catarina, a Marina, o porto da Marinha e o cais para os barcos de cruzeiro e o casario de Portimão na margem direita da ria do Arade, estando na margem esquerda o forte de S.João do Arade. A povoação de Ferragudo fica "por trás" deste forte. Ao fundo vê-se a silhueta da serra de Monchique.

Nesse passeio desloquei-me depois à Ponta do Altar onde está o farol e a partir daí tirei em sequência, da esquerda para a direita, mais três fotos