2025-03-12

Reparação de cabos submarinos

 
Noutro dia passei por um artigo da BBC sobre reparação de cabos submarinos de telecomunicações ligados a África e faço aqui um pequeno resumo.

Ingenuamente pensei que poderia fazer antes “uma pequena introdução” ao  desenvolvimento das telecomunicações mas cedo me apercebi que é tema para um livro bastante grosso.

Limito-me assim a dar notícia do TAT-8, o primeiro cabo transatlântico com fibra óptica entre os continentes da América e da Europa, em serviço de 1988 a 2002 para serviço telefónico, suportando um máximo de 40000 chamadas telefónicas simultâneas num canal transmitindo 280 Mbits/s e comemorado nesta placa que encontrei em https://ethw.org/File:TAT-8-Plaque.png 

Para ficar com uma ideia gráfica da quantidade de cabos submarinos com fibras ópticas  em serviço em 2022, 486 cabos ligando 1306 pontos de amarração, encontrei o mapa seguinte neste sítio da Telegeography patrocinado pela telecomegypt. 


Regressando ao artigo da BBC mostro agora os cabos submarinos de telecomunicações, todos de fibras ópticas, que ligam países africanos entre si e a África ao resto do mundo

Nota-se que alguns países têm apenas uma ligação deste tipo. Quando essa ligação falha boa parte dos cidadãos fica limitada à rede de internet nacional, as outras vias de acesso ao exterior, como por exemplo via satélite, não estarão disponíveis  para o cidadão comum.

Quando um cabo submarino deixa de funcionar e o defeito é localizado a profundidade superior a 50m, limiar da zona que não pode ser tratada por mergulhadores com escafandro autónomo, em África é normalmente solicitada a intervenção do navio Léon Thevenin, cujo nome é uma homenagem ao engenheiro francês Léon Charles Thévenin, baseado na cidade do Cabo e especializado na instalação e reparação de cabos submarinos de telecomunicações.

 Uma vez localizada a zona do defeito é colocado na água um robot submarino pesando 9 toneladas cujo volume deslocará aproximadamente 9 metros cúbicos para flutuar quando submerso...

A profundidade máxima da intervenção é 5000m e o robot é operado remotamente. Localizado o defeito no cabo o robot corta este, atando um cabo a cada uma das partes separadas pelo corte (ou ata primeiro e corta depois…) cabos esses que trazem as duas partes do cabo submarino até à superfície.

Cada uma das partes é então preparada para ser reunida à outra nestas instalações do navio

e a certa altura uma das extremidades do cabo terá este aspecto:

 

Ao longo da minha vida passei da quase impossibilidade de fazer chamadas intercontinentais a uma altura em que eram caríssimas para finalmente com uma assinatura de serviço de telemóvel poder fazer chamadas e mesmo vídeochamadas gratuitas para quase qualquer parte do mundo!

Mas para isso ser possível é preciso, entre muitas outras coisas, que existam navios e equipamentos como os que eu acabo de referir.

 

2025-03-02

Nexus

 

Acabei de ler há pouco tempo o livro "Nexus", do Yuval Noah Harari e da sua equipa, esta última que torna possível as notas exaustivas das páginas 487 a 553, 67 páginas de notas em letra miudinha sobre referências que surgem nas quase 486 páginas de texto.

Em post de janeiro de 2019 sobre o livro “21 lições para o Século XXI” referi também outro livro muito interessante do Y.N.Harari, o primeiro que li, o "Sapiens", que descrevia a História do Homo Sapiens em apenas 500 e tal páginas e que foi objecto de 4 pequenos posts neste blog (1, 2, 3, 4) em Dez/2017 e Jan/2018.

Neste livro Harari trata com maior pormenor da informação que circula nas sociedades e que ao cimentá-las as torna possíveis. Desde os mitos da pré-história, passando pelas religiões, pelos livros sagrados, pela imprensa, pelo conhecimento científico e pelas ideologias, uma espécie de religiões laicas, chegámos finalmente à comunicação fácil via internet ligando todo o planeta e logo às famosas redes sociais, aceleradas e alavancadas por algoritmos cujo objectivo principal seria maximizar a atenção (tempo gasto ligado) dos frequentadores de cada rede para aumentar as receitas de publicidade.

Aconteceu que, talvez por acaso, os vídeos e os textos que inicialmente foram mais eficazes a fixar os utilizadores continham discursos de ódio, tendo assim sido seleccionados por esses algoritmos para difundir em larga escala, reforçando a difusão de discursos desse tipo, que entretanto foram “enriquecidos com notícias falsas” de difusão ampliada com consequências funestas nas votações que foram tendo lugar em sucessivos países.

Não sabemos com exactidão o que caracteriza a consciência nem o que é a inteligência, em actividades que se pensava requererem elevada inteligência humana como o jogo de xadrez e o GO, alguns computadores já venceram os campeões humanos. Em tarefas mais simples, como a condução de um automóvel no trânsito citadino, os computadores têm tido mais dificuldades.

Depois de muitas tentativas infrutíferas de ensinar os computadores a pensar como um ser humano , a criação de programas de “Machine Learning” em que um computador é programado para analisar, por exemplo, milhares ou milhões de jogos de xadrez ou de GO, revelou-se mais eficaz na descoberta de combinações de jogadas ganhadoras que tinham passado despercebidas aos jogadores humanos.

O mesmo conceito de análise de milhões de traduções de textos também se revelou eficaz na tradução automática, primeiro cheia de erros ridículos mas rapidamente melhorando com a análise de mais e mais traduções.

Os Modelos de Linguagem de Grande Escala (Large Language Models) que segundo esta entrada da Wikipédia apareceram em 2018, de que é exemplo o ChatGPT lançado em 2022, tem a forma duum diálogo em que o utilizador faz perguntas ao ChatGPT obtendo respostas. De uma forma geral considero que este programa passa bem o teste de Turing parecendo em boa parte do diálogo que se está a falar com um ser humano. Existem aliás casos de seres humanos que se envolveram emocionalmente com este tipo de programas.


Já em 1976 Joseph Weizenbaum manifestava no seu livro Computer Power and Human Reason apreensão quanto ao uso de programas de computador incomprensíveis, no sentido em que nenhum ser humano tinha capacidade para uma análise crítica, por exemplo, das sugestões de programas complexos para conduzir a Guerra do Vietnam, nomeadamente nos inúteis e deploráveis bombardeamentos aéreos do Vietnam do Norte, como foi posteriormente reconhecido pelo então Secretário da Defesa dos EUA, Robert McNamara.

Se os algoritmos complexos já eram de difícil compreensão, os algoritmos que se constroem a si próprios analisando quantidades gigantescas de dados produzem resultados muito mais difíceis de avaliar, constituindo um perigo maior perante a tendência dos seres humanos em acreditar cegamente nas sugestões dadas por máquinas complexas e caras.

Este livro Nexus de Harari descreve de forma convincente quer os perigos das actuais Redes de Informação quer a natureza da inteligência alienígena da tecnologia actual da Inteligência Artificial.


2025-02-26

Marcelo Rebelo de Sousa, a difícil percepção e o "off-the-audio-record"

 

Marcelo_2025-02-25_Foto_Estela_Silva_Lusa

Ontem terça-feira dia 25/Fev/2025 o presidente Marcelo Rebelo de Sousa no palácio de Belém, em resposta a perguntas de jornalistas, manifestou a sua dificuldade em ter uma percepção nítida da posição dos Estados Unidos da América do Norte afirmando:

"Já se percebeu que está difícil de convencer os aliados, ou antigos aliados norte-americanos -- nunca se percebe bem, com esta nova administração -- a participarem nesse esforço de segurança..." 

A imagem acima acompanha uma gravação da Antena 1 disponível aqui. Desse sítio reproduzo a transcrição dos comentários do presidente

«

 O Presidente da República considerou esta terça-feira que "ainda é cedo para se colocar a questão" de um eventual envio de militares para a Ucrânia e referiu que o Governo tem nesta matéria "uma iniciativa fundamental".
Em resposta a perguntas dos jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa referiu também que "o envio de forças nacionais destacadas tem de ter parecer do Conselho Superior de Defesa Nacional (CSDN)" e acrescentou: "Vamos esperar para ver e depois falaremos".

Questionado sobre um eventual envio de militares portugueses para a Ucrânia, o chefe de Estado e comandante supremo das Forças Armadas começou por responder: "É uma questão sobre a qual não me posso pronunciar sem que o CSDN seja ouvido. Vamos ter uma reunião no dia 17 de março, mas ainda é cedo para se colocar a questão".

Sobre as negociações para a paz, o Presidente da República insistiu que tem de ser "uma paz justa, uma paz sustentável e uma paz compreensiva", não pode ser "para de repente avançar e falhar imediatamente", nem pode criar "uma sensação de insegurança na Ucrânia".

"Já se percebeu que está difícil de convencer os aliados, ou antigos aliados norte-americanos -- nunca se percebe bem, com esta nova administração -- a participarem nesse esforço de segurança. Seria só a Europa a participar. E ainda não se percebe sequer se os Estados Unidos (da América) aceitariam ter apoio, fora das fronteiras do território da Ucrânia, em países vizinhos pertencentes à NATO", observou.

Quanto a Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa realçou que o país tem tido uma "contribuição para a segurança na Ucrânia em países vizinhos, em particular na Roménia e Eslováquia", e já manifestou disponibilidade para, "se fosse necessário reforçar essa posição em países vizinhos, com certeza".

"Depois, temos de perceber se a NATO é para levar a sério ou não, porque se a América tem reservas, na prática, em relação ao seu envolvimento quanto à Ucrânia, até que ponto é que isso reforça a NATO ou enfraquece a NATO. E depois, internamente, como disse, aí está uma competência que é uma competência do Governo, com intervenção do CSDN e, naturalmente, com intervenção do Presidente da República", completou.

Quanto ao eventual envio de militares, o Presidente da República referiu que "o Governo é que, naturalmente, tem aí uma iniciativa fundamental, o senhor primeiro-ministro, o senhor ministro da Defesa Nacional".

c/Lusa

» 

Dado que a frase contendo "...os aliados, ou antigos aliados norte-americanos..." é omitida da reprodução áudio mas mantida na transcrição em texto concluo que a Lusa ou a Antena 1 considerou esta parte do comentário como "off-the-record" ou mais exactamente como "off-the-audio-record" uma vez que foi mantida no texto.

Notar que estes comentários estiveram disponíveis em vários canais de TV e o meu interesse pelo assunto foi ter ouvido num noticiário precisamente este comentário pelo que procurei na net para me certificar que tinha ouvido bem.

 

2025-02-24

Parede caída

 

Umas duas ou três vezes por ano passo ao pé duma pequena casa em ruínas no concelho de Lagoa no Algarve.

Desta vez, não sei se por causa do pequeno tremor de terra (4,8 na escala de Richter) que afectou Lisboa no dia 17/Fev/2025 na passada 2ª feira, reparei que nessa ruína estava uma parede caída e fotografei-a

Pelas ervas crescidas à volta dos escombros não me parece que a parede tenha caído há apenas una semana, talvez tenha caído no medonho tremor de terra (7,8 na escala de Richter em Lisboa e ainda mais forte no Algarve) de 28/Fev/1969 que causou pequenos danos na cidade de Lisboa mas que afectou muitas casas no Algarve, nomeadamente as casas antigas com paredes de alvenaria, neste caso terra e pedras com alguma argamassa mas sem elementos estruturais resistentes a esforços de tracção como madeira ou ferro.

Lembro-me que nesse sismo de 1969, por exemplo na aldeia de Bensafrim caíram várias casas, segundo o IPMA foram 20.

Vi agora que um tremor de terra forte em Marrocos (mesmo assim 7,0 na escala de Richter) em Setembro/2023, que afectou entre outras a cidade de Marraqueche, levou à evacuação apressada de turistas portugueses. Um colega dum familiar meu sofreu um traumatismo craniano e uma sua filha ainda jovem perdeu um ou dois dedos de um pé. Fiquei a pensar que nas ruas estreitas de construções antigas o desabamento duma parede, sem espaço para escapar, deve ser terrível.

Não é certo que o colapso da parede tenha sido provocado por um sismo poderá ter sido alguma infiltração insidiosa após muito tempo de abandono. Estimei que a parede teria uns 30 ou 40cm de espessura.

 

 


2025-02-18

J.D.Vance em Munique

 

Ouvi várias partes do discurso que J.D.Vance, o vice-presidente dos EUA, 

fez na conferência de Segurança de Munique no dia 14/Fev/2025, em que em vez de falar sobre as ideias dos EUA sobre como acabar com a guerra na Ucrânia, se referiu ao afastamento da Europa dos valores comuns que teve no passado com os EUA, referindo uma série de detalhes que achei tão estranhos que googlei (J.D.Vance discourse check) tendo obtido

 


optei pela DW - Deutsche Welle fact check

que classificou as afirmações de J.D.Vance sobre a possibilidade de rezar ser ilegal e sobre a possibilidade dos governos bloquearem as redes sociais em caso de tumultos.

No caso das orações a DW esclarece que não estão proibidas orações mas apenas o assédio a pessoas que se dirigem a clínicas que fazem abortos. No caso de eventuais bloqueamentos das redes sociais a DW cita com algum detalhe a legislação existente. nestes dois tópicos a DW considera as afirmações de J.D.Vance como Enganadoras (Misleading).

Do sítio do Guardian referido na imagem acima pelo Google retirei esta referência a Olaf Scholz

“The overwhelming majority of the people of my country stand up resolutely to those who glorify or justify the criminal National Socialism,” Scholz said. “The AfD is a party from the ranks of which National Socialism and its monstrous crimes, crimes against humanity, like the ones committed in Dachau, were trivialised as just a ‘speck of bird shit in German history’.”

e esta a Friedrich Merz

Friedrich Merz, the CDU leader, was more blunt. Germany defended free speech but not fake news, he said, and hate speech and offensive speech remained subject to legal constraints and independent courts. He added: “We would never kick out a press agency from the office of our chancellor.”

referindo-se à retirada de acesso à Casa Branca e ao avião presidencial de jornalistas da AP-Associated Press por esta continuar a chamar "Golfo do México" ao Golfo do México, contra a vontade de Donald Trump.

 

Após ouvir a intervenção de JD Vance gostei muito de ouvir a curta intervenção de Frank-Walter Steinmeier, actual presidente da Alemanha, cujo nome tive que explicitar na busca pois googlando (qual o comentário do presidente da Alemanha à intervenção de Vance) não tive sucesso.

Referindo  Frank-Walter Steinmeier cheguei a este YouTube no qual constava a tradução em inglês da sua intervenção:

«

 What is certain is that the new American administration has a different world view to ours. One that has no regard for established rules, established partnerships and trust. We cannot change that. We have to accept that and we have to deal with it. But I am convinced that it is not in the interests of the international community for this world view to become the sole dominant paradigm. A lack of rules must not become the model for reorganizing the world, ladies and gentlemen. 

 I tell you frankly, as a democrat, I am concerned, very concerned, when a small entrepreneurial elite has the power, the means and the will to redefine a significant part of the rules of liberal democracy. And I am even more concerned when some of these elite make no secret of their contempt for the institutions and norms of our democracy. That worries me.

»

De tudo isto concluí que J.D.Vance, tal como Donald Trump, não merece o benefício da dúvida, será necessário verificar cuidadosamente todas as suas afirmações em fontes fidedignas.

Finalizo comentando a afirmação de J.D.Vance de que a Europa não tem que se preocupar nem com a China nem com a Rússia mas com a sua deriva de valores, fez-me lembrar o Lucky Luke, um cowboy  personagem da BD (Banda Desenhada) que ao sacar o revólver era mais rápido do que a própria sombra. Isto porque ao levar a sério o conselho de não nos preocuparmos com a Rússia, uma pessoa se interroga qual será a necessidade de aumentarmos a capacidade militar da Europa.

 

 


2025-02-12

Periquito-de-colar

 

De vez em quando costumo ver bandos duma meia-dúzia de barulhentos periquitos de colar nos Olivais Sul. Desta vez vi um numa árvore ao pé do colégio Valssassina, no extremo esquerdo da árvore

 


olhando depois com mais cuidado observei talvez uns cinco exemplares na mesna árvore mas agora na fotografia não consigo ver mais do que três no zoom da mesma foto 

de que destaco duas zonas da árvore em que se vê uma ave na imagem da esquerda e duas na da direita

 

As aves estavam entretidas a comer os pequenos frutos da árvore, não tenho visto outras aves a comer estas pequenas bagas. Não sei se será porque não apreciam ou então porque têm dificuldade em colher o fruto sem o deixar cair ao chão...

Referi o periquito-de-colar aqui. Na wikipédia tem esta entrada e nas aves-de-Portugal esta.

 

 

 

 

2025-02-04

A Tirania do Mérito

 

Em Setembro/2020 referi num post deste blogue o filósofo americano Michael Sandel a propósito dum curso que ele dava na Universidade de Harvard sobre Justiça intitulado "Justice: What is the right thing to do?"


No mesmo post referi um livro publicado nesse ano intitulado "A Tirania do Mérito" apontando um vídeo de 9 minutos em que o próprio autor apresentava esse livro.

Recentemente comprei e li o livro, numa versão em inglês embora exista também edição em português, visitando com maior detalhe a argumentação do filósofo sobre o erro fundamental da valorização do mérito individual de cada cidadão perante o conjunto de factores sociais e de acaso que contribuem para o sucesso de cada um.

No Cristianismo existia a o conceito da Graça de Deus, no Islão a vontade de Alá ou o Destino, mais recentemente o acaso do ADN que proporciona características cuja valorização vai variando no tempo e no espaço, causas que temperavam o mérito individual de cada membro de uma sociedade.

Esta actual importância do mérito individual juntamente com a humilhação de quem alegadamente tem falta de mérito tem contribuído para a polarização das democracias ocidentais entre vencedores arrogantes e perdedores humilhados e furiosos.

Descobri desta vez um vídeo da TED no YouTube (o que referi no post de 2020 mudou de endereço como é tão frequente...) onde o autor apresenta a obra em 9 minutos, que apreciei e que me fez desistir de fazer eu próprio uma apresentação do livro.

 




2025-02-03

Entrevista de Bill Gates na New Yorker

 


Gostei de ler esta entrevista de Bill Gates feita por David Remnick da New Yorker.

Não sei se será fácil aceder ao texto da entrevista. 

Costumo no Menu do Firefox seleccionar

- View> Enter Reader View

 

 

 

Se entretanto o que aparecer não for o texto completo da entrevista executar comando "Reload Current Page", no Firefox é o ícone 

ou então CTRL+R

 

2025-01-29

Os Livros de Francisco Seixas da Costa

 

Vi hoje um post interessante do embaixador Seixas da Costa sobre as capacidades da nova coqueluche da "Inteligência Artificial" o DeepSeek, um produto chinês correndo sobre uma plataforma de hardware usando menos circuitos sofisticados da NVIDIA do que o estado da arte aconselharia, devido à restrição imposta pelo governo dos EUA de exportar alguns tipos de circuitos electrónicos para a China. 

Foi uma crise para os chineses mas também uma oportunidade de testarem novos  métodos de treino desse produto que resultou num aparente sucesso.

No post em questão Seixas da Costa relata ter perguntado ao DeepSeek que livros publicou e obteve como resposta uma lista de nove títulos, abordando temas de diplomacia sobre os quais terá escrito mas em que nenhum dos títulos citados corresponde a livros editados.

Reparei que a última publicação do embaixador "Antes que me Esqueça" estava ausente.

Fiz então um diálogo ocom o ChatGPT:

«

Que livros escreveu Francisco Seixas da Costa?
ChatGPT said:
ChatGPT

Francisco Seixas da Costa é um diplomata e escritor português, autor de diversos livros, principalmente na área da política e da história. Alguns dos seus livros mais conhecidos incluem:

    "A Diplomacia de Portugal no Século XX" - Uma análise sobre a política externa de Portugal no século XX, que reflete a experiência de Seixas da Costa enquanto diplomata.

    "Testemunhos e Memórias" - Uma obra em que ele partilha experiências e reflexões sobre a sua carreira diplomática e sobre a evolução da sociedade portuguesa.

    "As Grandes Decisões da Diplomacia Portuguesa" - Um livro que discute algumas das principais decisões políticas e diplomáticas tomadas por Portugal nas últimas décadas.

Além desses, Seixas da Costa tem escritos em revistas e outros artigos que tratam de temas relacionados com a política externa e a história de Portugal. Ele também tem uma escrita voltada para temas como a União Europeia e as relações internacionais.

 

»

onde também está ausente o "Antes que me Esqueça".

Nenhum dos títulos apresentados é conhecido pelo WOOK.

Fazendo busca no Wook sobre livros deste autor aparecem várias obras. Procurando directamente no  Google  também se obtêm vários livros.

Sobre títulos de livros ficamos assim elucidados sobre as "qualidades" da IA, fazendo perguntas sobre títulos de livros à IA obtêm-se respostas com má qualidade equivalente à que se obteria de Donald Trump sobre variadíssimos assuntos, talvez um pouco mais perigosas por envolver os factos alternativos num discurso mais elegante.



 

 

2025-01-26

Pintura indiana



Noutro dia, ao passar por um email do ex-colega e amigo João Miguel, que continua o seu labor no Blog Sugestões sobre eventos culturais na próxima semana, vi nesse email uma referência ao magazine Beaux Arts sobre uma exposição com algum material do Louvre versando os “Luxuriantes Jardins do Oriente” em Draguignan no Sul de França.

Nesse artigo da revista vinha esta reprodução duma miniatura indiana de enorme qualidade

 

 
com a legenda:
Le raja Singh de Chamba et sa rani dans les jardins de Rajnagar, 1790-1795

Gouache et aquarelle sur papier, rehaut d'or • Coll. Paris, musée du Louvre, département des Arts de l'Islam • © GrandPalaisRmn (MNAAG, Paris) / Thierry Ollivier

 

Por curiosidade verifiquei que Chamba é actualmente um dos 12 distritos do estado Himachal Pradesh da União Indiana, formado por agregação de vários principados e destaque do Punjab. O Himachal Pradesh situa-se nas faldas dos Himalaias ocidentais, com área de 55.673km2, população de 6,8 milhões, densidade populacional de 123/km2 enquanto na União Indiana existem 428 habitantes/km2. Apenas 10% da população vive em cidades,

Chamba além de ser um de 12 distritos tem a sua capital em Chamba, uma povoação com cerca de 20.000 habitantes. A capital do Estado é a cidade de Shimla com 250.000 habitantes, declarada em 1864 capital da Índia britânica durante o Verão quando o calor se tornava insuportável em Nova Deli.

Na série “A Jóia da Coroa”, uma realização magnífica da Granada TV para a ITV em 1984 que passou em Portugal, sobre a saída da Índia do império Britânico, havia uma cidade imaginária chamada “Pankot” onde os ingleses que podiam se refugiavam para fugir aos rigores do Verão indiano e as filmagens da série em “Pankot” foram realizadas em Shimla.

A cidade chamada Dharamshala é a capital do Himachal Pradesh durante o inverno, talvez as pessoas de Shimla se tenham habituado à ideia de a sua cidade só ser capital durante o tempo quente. Fiquei um pouco surpreendido ao tomar conhecimento que o Dalai Lama se estabeleceu com mais a sua comitiva em Dharamshala, julgava que estaria num estado indiano na parte oriental da cordilheira dos Himalaias, ficaria mais ao pé de Lhasa mas como deve ser difícil atravessar a fronteira terrestre entre o Tibete e a Índia por pessoas que lhe sejam próximas, os Himalaias ocidentais também devem ser adequados para o exílio.

Os Rajás da zona prestaram vassalagem aos Grão-mogóis mas como seriam zonas pouco povoadas e de difícil acesso conseguiram manter os templos existentes, quando o último Grão-mogol importante, Aurangzeb, lhes deu ordem para destruir os seus templos eles em vez de os destruírem puseram um pináculo dourado no topo dos mais importantes.

Mas regressando ao jardim oriental que mostrei acima, uma vez que a imagem, embora de grande qualidade, estava truncada, fui à procura do original que encontrei na Wikimedia Commons aqui:

 


Embora esta imagem esteja disponível com uma resolução de 4875 x 6317 pixels reduzi-a aqui para 1300x1685 pixels, podendo-se constatar que o maior número de pixels não corresponde a uma melhor qualidade da imagem.

Pensei que a foto não terá sido tirada nas melhores condições de iluminação pois o ISO speed rating de 6400 referido do sítio Wikimedia Commons é um indício preocupante.

Pensei também que talvez o Photoshop ou ferramenta equivalente possa fazer um “face lift” destas miniaturas indianas, à semelhança do que fazem com as fotografias das caras e corpos das estrelas de cinema, obtendo-se dessa maneira a primeira imagem deste post.

Estando esta imagem datada de 1790-95, final do século XVIII, é contemporânea de Nihal Chand /1710-1782) ( ) que referi num post deste blogue.

A Wikipédia dedica uma entrada à Pintura Indiana.

2025-01-17

Twin Peaks

 

A propósito do falecimento ontem de David Lynch, realizador da série Twin Peaks de que não fui grande fã, via-a sem a procurar, quando estava a passar na RTP, procurei agora na net a data de emissão do primeiro episódio que foi em Nov/1990.

Mas gostava muito desta banda sonora, feita por Angelo Bandalamenti, que achava hipnótica


e demorei algum tempo a perceber que a série não tinha propriamente um enredo, era um conjunto de situações para mostrar que nos seres humanos existe o Mal e o Bem, por vezes na mesma pessoa.

Achava graça ao agente Cooper, muito bem penteado e vestido, a dizer frases às vezes com sentido mas sem contexto. Conformei-me com a certeza prática que nunca iria saber o que aconteceu à Laura Palmer, mesmo depois de terem feito uns episódios alegadamente finais que não vi e, agora que penso nisso, estou quase a conformar-me com a inacessibilidade ao conhecimento do que aconteceu por exemplo ao ex-primeiro ministro José Sócrates ou ao ex-DDT (Dono Disto Tudo) Ricardo Salgado.

Afinal o Twin Peaks tinha um toque de realismo.



2025-01-16

Fungos

 

Continua a época dos cogumelos e outros fungos, confirmei agora na net que é no Outono que  aparecem mais cogumelos embora também surjam na Primavera. Às vezes digo que em Portugal, ou melhor em Lisboa e outras terras de temperaturas mais moderadas no Inverno do que no interior, o que existe é mais um Outono frio do que um Inverno propriamente dito.

 Desta vez fotografei um conjunto de cogumelos no bairro da Portela ao pé da igreja  em 28Out2024

e fazendo um zoom da mesma foto

depois tentei o Google Images para identificar a espécie com estes resultados:

Com quatro hipóteses com nomes muito diferentes mas parecidos aos da foto concluí que o Google Images é insuficiente para se tomar uma decisão sobre comer ou não comer um cogumelo.

No entanto, com alguma formação é possível a habitantes de cidades sem vida campestre ir apanhar cogumelos ao campo. Pelo menos conheço dois colegas espanhóis que tinham como hobby ir colher cogumelos (que em Espanha chamam "setas") ao campo, o que fazem há mais de 10 anos e ainda estão vivos.

Num livro do Jared Diamond ele afirma que numa estadia na Nova Guiné em que numa progressão na selva os companheiros de lá apanharam uns cogumelos selvagens, quando lhes perguntou se tinham a certeza que aqueles não eram venenosos teve como resposta um equivalente a "só tótós têm dúvidas se estes cogumelos são comestíveis", cada sociedade tem excelência em áreas de conhecimento específicas.

De qualquer forma penso sempre em cogumelos venenosos como contra-exemplo, quando alguém diz que qualquer coisa é muito boa por ser 100% natural.

Ao pé de casa vi ainda dois tocos de ulmeiros que foram deixados na terra e que estavam cobertos de fungos como se vê nas imagens seguintes


Depois fiz um enquadramento dos fungos no primeiro coto, que me fizeram lembrar uns folhos que antigamente se usavam no fim das saias ou de algumas cortinas

interrogando o Google Images com esta última imagem e obtendo esta resposta



concluí que há um mundo de folhos na Natureza e que não vou conhecer cada um pelo seu nome.



2025-01-07

Peter Yarrow

 

Faleceu Peter Yarrow, com 86 anos, do conjunto Peter, Paul and Mary, depois do falecimento de Mary Travers em Setembro de 2009 com 72 anos, restando agora desse trio o Paul Stookey.

Este trio iniciou a sua carreira nos anos 60 do século passado, sendo a foto à direita de 1970. O trio desfez-se nesse ano, teve uma reaparição para um concerto único em 1972 e voltaram a actuar em conjunto com alguma regularidade a partir de 1978.

Compôs a canção "Puff, The Magic Dragon", baseado num poema de Lenny Lipton contando a história dum dragão que "acompanhava" um jovem até que ele ficou mais crescido, canção que se tornou muito popular e que costumava ser cantada em coro com a audiência.

A foto mais recente que encontrei na net foi esta datada de 2016, no artigo da Wikipédia sobre Peter Yarrow, de onde retirei também a foto acima

 (By Marsha Miller - https://www.flickr.com/photos/lbjlibrarynow/26676236456/, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=49847537).

Teve grande activismo social, promovendo a participação do conjunto em manifestações contra a guerra do Vietnam e na marcha dos direitos cívicos com Martin Luther King até Washington.

Tomei agora conhecimento, ao ler o artigo da Wikipédia e o obituário do New York Times  que molestou uma menina de 14 anos em 1969, uma das razões para a separação do grupo, pelo que cumpriu 3 meses de uma sentença de prisão de um a três anos, tendo sido perdoado pelo presidente Jimmy Carter em 1981.

Posteriormente participou em numerosas acções sociais, designadamente no combate ao bullying nas escolas, mas esse crime afectou a sua intervenção em variadas acções para o resto da sua vida.

Deixo aqui um video do "Puff The Magic Dragon"