Noutro dia, ao passar por um email do ex-colega e amigo João Miguel, que continua o seu labor no Blog Sugestões sobre eventos culturais na próxima semana, vi nesse email uma referência ao magazine Beaux Arts sobre uma exposição com algum material do Louvre versando os “Luxuriantes Jardins do Oriente” em Draguignan no Sul de França.
Nesse artigo da revista vinha esta reprodução duma miniatura indiana de enorme qualidade
com a legenda:
Le raja Singh de Chamba et sa rani dans les jardins de Rajnagar, 1790-1795
Gouache et aquarelle sur papier, rehaut d'or • Coll. Paris, musée du Louvre, département des Arts de l'Islam • © GrandPalaisRmn (MNAAG, Paris) / Thierry Ollivier
Por curiosidade verifiquei que Chamba é actualmente um dos 12 distritos do estado Himachal Pradesh da União Indiana, formado por agregação de vários principados e destaque do Punjab. O Himachal Pradesh situa-se nas faldas dos Himalaias ocidentais, com área de 55.673km2, população de 6,8 milhões, densidade populacional de 123/km2 enquanto na União Indiana existem 428 habitantes/km2. Apenas 10% da população vive em cidades,
Chamba além de ser um de 12 distritos tem a sua capital em Chamba, uma povoação com cerca de 20.000 habitantes. A capital do Estado é a cidade de Shimla com 250.000 habitantes, declarada em 1864 capital da Índia britânica durante o Verão quando o calor se tornava insuportável em Nova Deli.
Na série “A Jóia da Coroa”, uma realização magnífica da Granada TV para a ITV em 1984 que passou em Portugal, sobre a saída da Índia do império Britânico, havia uma cidade imaginária chamada “Pankot” onde os ingleses que podiam se refugiavam para fugir aos rigores do Verão indiano e as filmagens da série em “Pankot” foram realizadas em Shimla.
A cidade chamada Dharamshala é a capital do Himachal Pradesh durante o inverno, talvez as pessoas de Shimla se tenham habituado à ideia de a sua cidade só ser capital durante o tempo quente. Fiquei um pouco surpreendido ao tomar conhecimento que o Dalai Lama se estabeleceu com mais a sua comitiva em Dharamshala, julgava que estaria num estado indiano na parte oriental da cordilheira dos Himalaias, ficaria mais ao pé de Lhasa mas como deve ser difícil atravessar a fronteira terrestre entre o Tibete e a Índia por pessoas que lhe sejam próximas, os Himalaias ocidentais também devem ser adequados para o exílio.
Os Rajás da zona prestaram vassalagem aos Grão-mogóis mas como seriam zonas pouco povoadas e de difícil acesso conseguiram manter os templos existentes, quando o último Grão-mogol importante, Aurangzeb, lhes deu ordem para destruir os seus templos eles em vez de os destruírem puseram um pináculo dourado no topo dos mais importantes.
Mas regressando ao jardim oriental que mostrei acima, uma vez que a imagem, embora de grande qualidade, estava truncada, fui à procura do original que encontrei na Wikimedia Commons aqui:
Embora esta imagem esteja disponível com uma resolução de 4875 x 6317 pixels reduzi-a aqui para 1300x1685 pixels, podendo-se constatar que o maior número de pixels não corresponde a uma melhor qualidade da imagem.
Pensei que a foto não terá sido tirada nas melhores condições de iluminação pois o ISO speed rating de 6400 referido do sítio Wikimedia Commons é um indício preocupante.
Pensei também que talvez o Photoshop ou ferramenta equivalente possa fazer um “face lift” destas miniaturas indianas, à semelhança do que fazem com as fotografias das caras e corpos das estrelas de cinema, obtendo-se dessa maneira a primeira imagem deste post.
Estando esta imagem datada de 1790-95, final do século XVIII, é contemporânea de Nihal Chand /1710-1782) ( ) que referi num post deste blogue.
A Wikipédia dedica uma entrada à Pintura Indiana.
4 comentários:
Jose Julio e caro amigo : muito interessante a informação e a beleza da imagem,apenas com falta do ouro para se poder comparar com as iluminuras dos Livros de Horas do século XV .Grande abraço Francisco Abecasis
Caro Francisco, é um prazer ter-te como leitor do meu blogue.
Grande abraço
Zé Júlio
Este muito interessante texto ,para além da beleza das pinturas indianas, dá a conhecer que havia uma cidade no noroeste da Índia onde os ingleses se refugiavam no Verão, para fugirem ao calor de Nova Delhi. Achei curioso porque conheço outro local, onde já estive, em Srinagar, em Caxemira, que servia também de refúgio no verão. E como, por lei, os ingleses não podiam ter propriedades, inventaram uma habilidade: Num lago, perto da cidade, instalaram barcos, que serviam de pequnos hoteis, com os rspetivos gerentes designados por "capitão".
Também é curioso saber que Caxemira, um estado de maioria muçulmana, não ficou integrado no Paquistão, mas na União Indiana, porque o Rajá que o governava, resolveu dar uma prena aos ingleses...Resultado, uma guerra que nunca mais para.
Uma nota técnica: a Wikipedia usa a denominação “ISO speed rating” que nada tem de “speed” nem de “rating”, antes sendo a sensibilidade medida numa escala que vem dos tempos da fotografia em filme e era, na altura, designada por escala de sensibilidade ASA, e que viria a ser adoptada pela ISO numa das suas inúmeras normas mundiais em detrimento da escala DIN de sensibilidade do filme.
Não concordo com o “indício preocupante” relativo à foto ter sido obtida com ISO 6400.
É um mito que não faz sentido hoje em dia com os mais recentes sensores de imagem que operam a ISO 128000 e mais sem ruido apreciável.
6400 é muito? Nada “preocupante” dependendo da máquina, especialmente com sensores da Sony, como foi o caso.
Enviar um comentário