Acabei de ler há pouco tempo o livro "Nexus", do Yuval Noah Harari e da sua equipa, esta última que torna possível as notas exaustivas das páginas 487 a 553, 67 páginas de notas em letra miudinha sobre referências que surgem nas quase 486 páginas de texto.
Em post de janeiro de 2019 sobre o livro “21 lições para o Século XXI” referi também outro livro muito interessante do Y.N.Harari, o primeiro que li, o "Sapiens", que descrevia a História do Homo Sapiens em apenas 500 e tal páginas e que foi objecto de 4 pequenos posts neste blog (1, 2, 3, 4) em Dez/2017 e Jan/2018.
Neste livro Harari trata com maior pormenor da informação que circula nas sociedades e que ao cimentá-las as torna possíveis. Desde os mitos da pré-história, passando pelas religiões, pelos livros sagrados, pela imprensa, pelo conhecimento científico e pelas ideologias, uma espécie de religiões laicas, chegámos finalmente à comunicação fácil via internet ligando todo o planeta e logo às famosas redes sociais, aceleradas e alavancadas por algoritmos cujo objectivo principal seria maximizar a atenção (tempo gasto ligado) dos frequentadores de cada rede para aumentar as receitas de publicidade.
Aconteceu que, talvez por acaso, os vídeos e os textos que inicialmente foram mais eficazes a fixar os utilizadores continham discursos de ódio, tendo assim sido seleccionados por esses algoritmos para difundir em larga escala, reforçando a difusão de discursos desse tipo, que entretanto foram “enriquecidos com notícias falsas” de difusão ampliada com consequências funestas nas votações que foram tendo lugar em sucessivos países.
Não sabemos com exactidão o que caracteriza a consciência nem o que é a inteligência, em actividades que se pensava requererem elevada inteligência humana como o jogo de xadrez e o GO, alguns computadores já venceram os campeões humanos. Em tarefas mais simples, como a condução de um automóvel no trânsito citadino, os computadores têm tido mais dificuldades.
Depois de muitas tentativas infrutíferas de ensinar os computadores a pensar como um ser humano , a criação de programas de “Machine Learning” em que um computador é programado para analisar, por exemplo, milhares ou milhões de jogos de xadrez ou de GO, revelou-se mais eficaz na descoberta de combinações de jogadas ganhadoras que tinham passado despercebidas aos jogadores humanos.
O mesmo conceito de análise de milhões de traduções de textos também se revelou eficaz na tradução automática, primeiro cheia de erros ridículos mas rapidamente melhorando com a análise de mais e mais traduções.
Os Modelos de Linguagem de Grande Escala (Large Language Models) que segundo esta entrada da Wikipédia apareceram em 2018, de que é exemplo o ChatGPT lançado em 2022, tem a forma duum diálogo em que o utilizador faz perguntas ao ChatGPT obtendo respostas. De uma forma geral considero que este programa passa bem o teste de Turing parecendo em boa parte do diálogo que se está a falar com um ser humano. Existem aliás casos de seres humanos que se envolveram emocionalmente com este tipo de programas.
Já em 1976 Joseph Weizenbaum manifestava no seu livro Computer Power and Human Reason apreensão quanto ao uso de programas de computador incomprensíveis, no sentido em que nenhum ser humano tinha capacidade para uma análise crítica, por exemplo, das sugestões de programas complexos para conduzir a Guerra do Vietnam, nomeadamente nos inúteis e deploráveis bombardeamentos aéreos do Vietnam do Norte, como foi posteriormente reconhecido pelo então Secretário da Defesa dos EUA, Robert McNamara.
Se os algoritmos complexos já eram de difícil compreensão, os algoritmos que se constroem a si próprios analisando quantidades gigantescas de dados produzem resultados muito mais difíceis de avaliar, constituindo um perigo maior perante a tendência dos seres humanos em acreditar cegamente nas sugestões dadas por máquinas complexas e caras.
Este livro Nexus de Harari descreve de forma convincente quer os perigos das actuais Redes de Informação quer a natureza da inteligência alienígena da tecnologia actual da Inteligência Artificial.
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