Quando noutro dia fui visitar a fábrica de papel Navigator na Mitrena era inevitável reparar no caminho e próximo dessa fábrica noutra instalação industrial de fácil identificação com as letras garrafais pintadas na grua gigante como se vê na imagem a seguir
Clicando na imagem pode-se constatar que o tanker RANDGRID foi cortado em duas partes e estará a ser aumentado ou encurtado.
Nâo tenho seguido com atenção o que se tem passado com esta actividade de construção e manutenção naval pelo que julgava que a Lisnave, empresa com estaleiros navais em Lisboa tinha falido há anos e uma empresa semelhante com estaleiros navais próximos de Setúbal “herdara” essa actividade estando a funcionar em Setúbal.
Pensei assim que a grua gigantesca teria vindo dos estaleiros de Lisboa e que não se tinham dado ao trabalho de pintar o nome “Setenave”. Entretanto informei-me na internet sobre o que se tinha passado:
Este sítio da Wikipédia descreve a história da Lisnave até 1973 possivelmente por membros reformados das administrações dessa época que estiveram ausentes da empresa a partir dessa data. Para a vida da empresa depois de 1973 esta entrada da Wikipédia refere
- o sítio oficial da Lisnave;
- o blogue “A Lisnave…” sobre a história e vida da empresa.
Na esquerda.net tem uma entrevista feita por Sofia Roque a Cipriano Pisco, trabalhador da antiga Setenave e agora na Lisnave. Foi membro da Comissão de Trabalhadores da Setenave, onde começou a trabalhar em 1977, e mais tarde da Gestnave.
Neste blogue de José Carlos Valente descrevem-se as greves na Lisnave de 1974-76.
Depois de consultas breve destes sítios fiz o resumo que segue.
A Lisnave é uma empresa fundada em 1961, herdeira de empresas mais antigas ligadas ao grupo CUF e à família Mello. A concessão ao grupo CUF do Estaleiro da Rocha Conde de Óbidos com os seus 2286 trabalhadores passou em 1963 para esta empresa que nesse ano iniciou a construção do Estaleiro da Margueira em Almada, inaugurado a 23/Junho/1967 quando a empresa já tinha cerca de 4000 trabalhadores, continuando actividades de formação numerosas que proporcionaram competência e bom nome a esta indústria naval.
A Guerra dos Seis Dias de 5 a 10/Junho/1967 entre Israel e os países árabes que bloqueou a Canal do Suez até 1975 foi uma coincidência altamente favorável a esta empresa até então já bem sucedida, pois ao forçar o trânsito naval que usava o canal do Suez a vir pela rota do Cabo aumentou o número de potenciais clientes da Lisnave. Por outro lado a empresa dispôs de espaço para construir docas com capacidade para tratar superpetroleiros, que chegaram às 500.000 toneladas, justificados pelo aumento considerável do trajecto marítimo contornando África, tornando-a mais competitiva para tratar estes superpetroleiros.
A procura pelos serviços da Lisnave justificou a criação de outra empresa, suponho que controlada pela Lisnave, a operar na Mitrena com o nome de Setenave.
A Guerra do Yom Kippur de 6 a 25/Out/1973 criou condições para a reabertura do Canal do Suez em 1975 e os superpetroleiros, justificados pela necessidade de usar a rota do cabo, foram preteridos por petroleiros de dimensões mais reduzidas visto que a tonelagem bruta actual permitida no Canal do Suez é 240.000 toneladas, isto depois de obras de ampliação concluídas em 2015.
No fim de 1973 a Lisnave tinha quase 8000 trabalhadores. Após o 25/Abril/1974 a Lisnave e a Setenave passaram por fases com greves, depois do 11/Março/1975 deverão ter sido nacionalizadas, alguns clientes ocidentais afastaram-se, as tentativas de angariar clientes nos países comunistas não tiveram sucesso, ocorreram os choques petrolíferos de 1973 e 1979 e mais variadas circunstâncias, estando actualmente os estaleiros da Margueira (em Almada) desactivados, embora o projecto imobiliário para a zona não se tenha realizado, a Setenave encerrou e a Lisnave opera agora nos estaleiros que foram da Setenave na Mitrena com um quadro de pessoal permanente de 318 trabalhadores, com recurso a numerosos trabalhadores para projectos específicos, segundo Relatório de Gestão e Contas de 2024 disponível no sítio oficial da Lisnave.
Mostro a seguir outra foto tirada no mesmo sítio da anterior mas com zoom mais potente
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