2019-11-21

Mahatma Gandhi (3)


Continuando a referência a alguns aspectos dos 5 livrinhos da autobiografia do Gandi, que iniciei com um post de 2019-06-20 e continuei com outro post de 2019-11-02  passo a referir o livro 3.

Parte III (Livro 3)

3.1) Financiamento das fundações

Gandi era bastante radical neste tema como se vê nesta citação:
«...Alguns dos assim chamados grupos religiosos deixaram de prestar quaisquer contas. Os seus administradores transformaram-se em proprietários e já não são responsáveis perante ninguém. Não tenho a menor dúvida de que o ideal é que tais instituições vivam, como a natureza, do dia a dia. A organização que não conseguir apoio da comunidade não tem direito a existir como tal. As doações que uma organização assim recebe anualmente são o termómetro da sua popularidade e da honestidade da sua administração e acho que todas elas devem passar por este teste.»

Embora considerasse que existiam entidades que pela sua própria natureza não podiam ser geridas sem instalações permanentes, considerava que mesmo para essas as despesas correntes deveriam ser cobertas por doações anuais.

3.2) Educação dos filhos

Gandi apercebeu-se que as instituições educativas inglesas eram um dos pilares do império britânico pelo que chegou a aconselhar os jovens indianos a abandonar esses estudos: “em 1920 convocou jovens a sair das das cidadelas da escravidão – as suas escolas e faculdades. Disse-lhes que era muito melhor permanecer sem instrução e quebrar pedras, em nome da liberdade, do que receber educação superior atados aos grilhões da escravidão”.

Porém, foi incapaz de simultaneamente fornecer alternativas quer através de novas instituições educativas quer através de formação dentro da própria família, para a qual dispunha de tempo insuficiente para essa tarefa, dadas as suas actividades em prol das comunidades indianas.

Este foi um ponto de discórdia com os filhos que se consideraram prejudicados pela falta de instrução escolar.

3.3) Castidade

Os seres humanos são sujeitos a atracções fortes para garantir a sua sobrevivência e a sobrevivência da espécie. Essas atracções são muitas vezes premiadas por sensações muito agradáveis como por exemplo na alimentação ou no sexo, podendo transformar-se em obsessões. As sociedades tentam evitar essas obsessões através de regras morais a que corresponde a virtude da temperança ou de interdições eventualmente religiosas.

Gandi, depois de ter gerado alguns filhos convenceu-se que as relações sexuais deviam ter a procriação como única finalidade, considerando que fazer um voto de castidade o ajudaria a uma abstinência total, um conceito que designa por Brahmacharya.

Às “tentações da carne” na cultura cristã corresponde a “tentação da ascese”, fazendo o controlo através da supressão do impulso. A supressão absoluta da pulsão para comer não é aplicável de forma permanente pelo que os jejuns, se bem que existam, não podem ser para sempre pois sem limite de tempo são incompatíveis com a vida. Já em relação à pulsão sexual, a sua supressão total tem sido adoptada na vida monástica de várias religiões. Poderá ser benéfica para casos específicos, seria certamente nociva se imposta à maioria da população.

3.4) A vida de um carneiro

Durante estadia em casa de Gokhale, um seu mentor, Gandi visitou um templo da deusa Kali onde estavam a sacrificar muitos carneiros. Não aprovo o sacrifício de animais a divindades se bem que presuma que seja uma forma de fornecer proteínas a alguns grupos sociais.

Fiquei contudo chocado com a frase de Gandi “Para mim a vida de um cordeiro não é menos preciosa do que a de um homem”. Compreendo que uma pessoa adira ao vegetarianismo se bem que na natureza existam animais carnívoros. Comer carne é portanto uma actividade natural, o mesmo se podendo dizer de ter uma dieta exclusivamente vegetariana dado que existem espécies herbívoras, que se abstêm de comer carne. Mas é para mim incompreensivel não se sentir maior afinidade com um seu semelhante do que com outra espécie animal.

3.5) Darbar

Na Índia ocorriam reuniões dos governantes com os seus súbditos chamadas “Darbar” ou “Durbar” em inglês, eram formas periódicas de prestar vassalagem. Naturalmente durante o domínio britânico os governantes ingleses organizavam durbars para os quais convocavam os marajás na condição de vassalos.

Escreve o Gandi neste livro que os marajás eram nessas ocasiões forçados a usar sedas e jóias como se fossem mulheres, tratando-se de uma forma de humilhação imposta pelos ingleses.

Por curiosidade googlei Durbar e fui dar a este artigo do jornal Economic Times com estas fotos tiradas de um Durbar realizado em Delhi na semana passada, portanto em Nov/2019.

Constato que a palavra Durbar, como tantas outras, tem mudado de significado e será agora usada para reuniões sociais apresentando novas propostas de indumentárias.

Gostei muito destes vestidos embora não aprecie as jóias penduradas no nariz desta mulher



e constatei que afinal o uso de sedas e de jóias pelos homens nestas reuniões sociais



talvez faça parte da cultura indiana não sendo uma imposição do colonizador britânico.

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