Tomei conhecimento desta verificação da BBC sobre se a China estará a sobrecarregar a Àfrica com dívida.
Achei curiosa esta preocupação, referida por exemplo nesta frase:
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Earlier this year, ahead of a visit to Africa, the then US Secretary of State, Rex Tillerson, said China's lending policy to Africa "encouraged dependency, utilised corrupt deals and endangered its natural resources".
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pois tem sido uma constante da História, desde que se fazem empréstimos com juros, que quem tem falta de dinheiro peça emprestado a quem o tem, sendo frequente que o devedor tenha dificuldade em pagar o que deve.
Por exemplo Portugal endividiu-se excessivamente em libras esterlinas, depois em dólares americanos e ultimamente sobretudo em euros, estes últimos emprestados por bancos alemães e espanhóis para comprarmos os terrenos das nossas habitações e fazermos auto-estradas primeiro e depois para pagarmos os juros dos empréstimos anteriores e irmos amortizando a dívida.
Deve fazer parte da essência do funcionamento dos bancos emprestarem dinheiro até que o devedor fique excessivamente endividado. Nessa altura tentam executar as garantias dadas quando o empréstimo foi contraído. É uma operação com algum risco mas em que se podem ficar com as garantias do empréstimo por preços muito atractivos.
Por exemplo a Inglaterra reduziu o Egipto à condição de protectorado servindo-se das receitas do canal do Suez para se ressarcir de empréstimos que fizera ao governante local. Também ganhou direitos de exploração do petróleo do Irão na fase em que a dinastia Qajar vendia concessões de bens ou de monopólios iranianos dadas as extravagantes necessidades dos Xás.
Os Estados Unidos da América fizeram por exemplo empréstimos ruinosos para o Brasil durante a ditadura militar com a agravante de terem dado apoio ao regime ditatorial na repressão dos opositores.
Agora que na China se fabrica uma parte muito importante dos produtos consumidos em todo o mundo, a China não só tem muito capital como precisa de muitas matérias primas para produzir todos esses produtos.
É assim natural que empreste dinheiro a África, quer para investimentos que facilitem a exportação de matérias-primas de que necessita quer para investir o seu excesso de liquidez. E também sucumbirá certamente à tentação de executar algumas garantias para ser indemnizada de dívidas não pagas.
Noutro artigo da BBC o autor interroga-se se a África deve ter cuidado com os empréstimos chineses. Claro que sim mas apenas porque são os que actualmente representam o maior volume e não por serem especificamente chineses. O economista Joseph Stiglitz é referido como usando o termo “sour grapes” para classificar a crítica ocidental do trabalho da China em África. Este termo “sour grapes” deve derivar da fábula da raposa quando dizia que as uvas não prestavam pois estariam verdes como consolo de as não conseguir alcançar. Stiglitz reconhece naturalmente que a gestão da dívida exige cautela para que não se torne excessiva.
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