2016-10-10

António Guterres


Fui colega de turma do Guterres no 6º e 7º ano (agora o 10º e 11º) na sede do Liceu Camões, nos outros 5 anos frequentei o anexo do Areeiro desse mesmo liceu. Depois fui colega dele no IST, no curso de engenharia electrotécnica desde 1966 a 1971.

No liceu lembro-me de pensar que teria sido um excelente profissional quer nas letras quer nas ciências, tendo apenas limitações nas aulas de ginástica.

Eram evidentes nesse tempo as suas enormes qualidades e chocou-me a quantidade de declarações idiotas sobre as suas incapacidades produzidas por imensa gente, incluindo pessoas que a maior parte do tempo pareciam sensatas, quando num momento de maior tensão quando já primeiro-ministro não concluiu uma conta de cabeça.

Pensei em fazer aqui um elogio mas quando li o texto do Marcelo Rebelo de Sousa, publicado no jornal Expresso de 8 de Outubro de 2016, a propósito das sua escolha como Secretário Geral das Nações Unidas, achei que subscrevia praticamente tudo desta parte do texto:

« ...
António Guterres vinha com a fama de ser um aluno excepcional do Técnico, que já na altura era particularmente exigente. Era o melhor do curso dele. Era intelectualmente superior, muito inteligente em termos abstractos, com uma grande capacidade de conceptualização. Mas também era brilhante. Pode ser-se muito inteligente em termos abstractos e não se ser brilhante — ele era brilhante escrito e era brilhante falado. E era rápido. A certa altura houve documentos que fizemos para a SEDES em conjunto, e ele reescrevia esses documentos a um ritmo alucinante. Além da inteligência abstracta, tinha uma grande inteligência concreta, com uma sensibilidade à realidade social. O António Guterres fazia. Era um fazedor.

Por outro lado, é verdade que naquela altura na nossa geração havia um pano de fundo cultural apreciável, mas ele nalguns domínios tinha uma cultura invulgar. Na época havia uma clivagem muito grande entre os de letras e os de ciências, mas não era vulgar os de ciências terem essa formação e essa cultura [que Guterres tinha]. Lia muito, era adicto na leitura, lia sobre Direito, sobre História, sobre Geografia, com uma capacidade de leitura muito superior à minha, e muito rapidamente elaborava sobre aquilo que lia.

Tinha também uma grande sensibilidade económica e uma grande sensibilidade social. Era um conjunto de características que o tornavam diferente dos outros. Mas além disso, tinha um lado afectivo, que lhe saía naturalmente. Era uma pessoa muito simpática e que olhava para o lado positivo da vida. Dava-se com qualquer pessoa e tinha uma grande capacidade de entender os outros. Além disso, tinha uma energia brutal, autossustentada, uma genica e uma capacidade de resistência física e psíquica como a que ele mostrou outra vez, agora, nesta candidatura. A energia que ele tinha aos 20 anos era assim.

O que atraía no António Guterres era o somatório das suas características. Eu tinha amigos que eram pessoas excepcionais de inteligência abstracta, outros que eram pessoas excepcionais de inteligência concreta, outros que eram excepcionais na empatia. Ele fazia o somatório. Por isso há poucas semanas eu garanti que ele era o melhor de todos nós. Tinha um conjunto de características que faziam dele um líder. E era muito sedutor. A argumentar, a persuadir, a mobilizar, a motivar. Mesmo aquilo que mais tarde lhe foi apontado como uma característica negativa — ser melhor a pensar e a sentir do que a decidir — nessa altura não era minimamente perceptível. Como digo, era um líder nato.
...» ( )

Desejo-lhe muitos sucessos nas Nações Unidas.

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