No post anterior referi as línguas gestuais usadas pelos surdo-mudos para comunicação e o assunto suscitou a minha curiosidade, tendo começado por este sítio.
À primeira vista parece que se poderia ter definido uma linguagem gestual universal para os surdo-mudos comunicarem entre si, dado que um surdo-mudo não tem acesso à diversidade das línguas orais.
Na realidade existem actualmente no mundo várias linguagens gestuais de surdo-mudos porque, à semelhança das línguas faladas, houve um desenvolvimento paralelo destas línguas em vários locais que não interagiam ou tinham uma interacção fraca. Nenhuma destas línguas mima ou nasce da língua oral do país/região mas sim da história da comunidade surda que a utiliza.
Embora tenham existido linguagens gestuais desde há milénios, existindo uma referência de Sócrates no século V A.C., não existe documentação durante muito tempo sobre como eram essas línguas, existindo apenas alguns “alfabetos manuais” em que a cada letra é associada uma posição da mão, para possibilitar dentro da linguagem gestual fazer referências à língua escrita usada no país do surdo-mudo.
Esta escultura duma escola de surdo-mudos em Praga
comunica a mensagem: “A vida é bela, sejam felizes e amem-se uns aos outros!”
No mapa a seguir, tanbém do mesmo artigo da Wikipédia constata-se que existem vários pares de países que, usando a mesma língua oral, optaram por línguas gestuais mesmo de diferentes famílias como por exemplo (Portugal, Brasil), (Reino Unido, Estados Unidos) e (Espanha, México).
A LGP (Língua Gestual Portuguesa) faz parte da família da Língua Gestual Sueca. Aprendi aqui que “A Língua Gestual sueca é considerada a língua mãe da LGP uma vez que no século XIX o rei D. João VI, a pedido de sua filha, D. Isabel Maria, mandou chamar a Portugal o professor sueco Per Aron Borg que havia fundado em Estocolmo um instituto para a educação de surdos. Assim, em 1823, cria-se em Portugal a primeira escola para surdos onde leccionaram, a princípio, Per Aron Borg e seu irmão Joahan Borg. Por essa razão, considera-se a língua mãe da LGP a LG sueca, porém, evidentemente, que em Portugal já se utilizaria uma língua gestual que, certamente, também foi usada nessa escola para o ensino de surdos”.
Em 1880 realizou-se um congresso em Milão sobre o ensino dos surdo-mudos em que prevaleceu a tese de que deveria ser proibido o ensino e uso das línguas gestuais pois existiam métodos para integrar os surdo-mudos nas línguas orais, quer através de técnicas de ensino da fala, quer usando a leitura dos lábios, evitando-se assim a formação de guetos. Li em vários sítios que neste congresso predominavam largamente os “ouvintes”, estando os “surdos” fracamente representados.
É interessante esta simetria do “nós” e “eles”, tomei agora consciência de que além de ser “ouvinte” de programas de rádio possuo também esse adjectivo para a comunidade dos “surdos”. Simetricamente a comunidade dos “ouvintes” usa o adjectivo “surdos” para aqueles que não ouvem.
Em 1980 realizou-se um congresso em Hamburgo onde foram contestadas todas as conclusões do congresso de Milão de 1880.
Nos termos da alínea h) do n.º 2 do artigo 74.º da Constituição da República Portuguesa, «na realização da política de ensino incumbe ao Estado (...) proteger e valorizar a língua gestual portuguesa, enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade de oportunidades». Deste modo, desde 1997, a Língua Gestual Portuguesa passou a ser uma das línguas oficiais de Portugal, junto com a Língua Portuguesa e o Mirandês.
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