Li recentemente um livro do cientista Carlo Rovelli intitulado “A realidade não é o que parece”, como uma introdução longa à Teoria Quântica, em que refere a dificuldade que houve, por exemplo, em adoptar o modelo héliocêntrico do sistema solar em comparação com o geocêntrico, que era na altura o predominante.
Na vida quotidiana, a evidência que a Terra estava imóvel e que o Sol se movia no céu deu certamente força à conjectura geocêntrica que a Terra estava no centro do Universo e que todo ele se movia à volta dela.
A conjectura heliocêntrica de Aristarco de Samos (310-230AC) foi preterida pela concepção geocêntrica anterior de Aristóteles (384-322AC) e de outros autores.
Além disto Ptolomeu (90-168 DC) um cientista grego que viveu em Alexandria com trabalhos em Matemática, Astronomia, Geografia e Cartografia, descobriu forma de descrever os movimentos dos planetas exteriores usando epiciclos, através dum conjunto complexo de processos matemáticos, cuja complexidade talvez tenha também contribuído para o bom nome e o prolongamento da aceitação da hipótese geocêntrica.
Só mais de mil anos mais tarde é que Copérnico (1473-1543) publicou o livro em que defendia a teoria heliocêntrica. Homem prudente só publicou o livro, que tornava públicas teorias que tinha conjecturado há décadas, no ano da sua morte. A obra descreve as trajectórias dos planetas como círculos com centro no Sol, não tendo maior exactidão do que a descrição ptolomaica. Há notícia de papas que apreciaram apresentações do trabalho de Copérnico anos antes da sua morte. Talvez alguma da resistência na igreja católica na adopção da teoria heliocêntrica se tenha devido a quem, tendo que fazer os cálculos astronómicos conhecendo bem o sistema ptolomaico, não encontrasse ânimo para refazer as tabelas astronómicas existentes e redefinir métodos de cálculo para o futuro, baseado num sistema que não era mais preciso do que o sistema ptolomaico.Houve melhoramentos posteriores mas uma forma mais completa de calcular as órbitas só pareceu com Newton (1643-1727) com a teoria da gravitação universal.
Na internet encontrei este filme neste sítio que mostra de forma simplificada como era descrito o movimento de Marte em relação à Terra
e outra animação
Noutro sítio com pequenos resumos de Física e Química, de onde retirei esta figura explicativa dos epiciclos
Como exercicio no fim deste tema não resisti a fazer um gráfico dos movimentos dos planetas Terra e Marte, primeiro numa perspectiva heliocêntrica,
para dispor das coordenadas dos dois planetas e depois numa perspectiva geocêntrica em que subtraindo as coordenadas da Terra das coordenadas de Marte se obtêm as coordenadas de Marte em relação à Terra que ficará assim na origem das coordenadas.
Mostro a seguir o gráfico que está no início deste post, desta vez na sua folha de Excel. Na escala que usei no gráfico uma unidade corresponde à distãncia da Terra ao Sol que considerei ser 144 milhões de kilómetros.
O ficheiro Excel respectivo está no GoogleDrive com o nome Orbitas_Terra+Marte_v2.xls, acessível através desta ligação.
A simplicidade e clareza da visão heliocêntrica em comparação com a geocêntrica é evidente, embora os epiciclos desta sejam mais decorativos.