Fiquei fascinado na Universidade quando aprendi que existiam técnicas de medição de quantidade de informação, algo que eu considerara até então muito difícil de quantificar.
A técnica consiste em considerar que quando existiam vários eventos possiveis de acontecer e se conhecia a probabilidade de ocorrência de cada um deles, um receptor recebia mais informação quando notificado da ocorrência de um evento menos provável do que quando notificado da ocorrência de um evento mais provável, sendo proposta uma função matemática para transformar cada valor de probabilidade num valor de quantidade de informação.
Esta técnica foi desenvolvida por Claude Shannon (1916-2001), um americano com formação em Matemática, Engenharia Electrotécnica e Criptografia, que publicou em 1948 o artigo "A Mathematical Theory of Communication" um marco fundamental na revolução digital do século XX que ainda hoje vivemos.
Antes desse artigo existiam várias técnicas empíricas de optimização de canais de transmissão de informação, por exemplo no código Morse a letra “e” que é a letra que ocorre com mais frequência na língua inglesa era transmitida com apenas um ponto (sinal sonoro curto) enquanto o “s”, menos frequente, era transmitido com 3 traços (cada traço é um sinal sonoro longo) mas não havia forma de avaliar a distância que um dado código estava da codificação óptima nem a capacidade máxima de transmissão de informação de um dado canal, o que agora é referido de forma prosaica nos contratos dos operadores de telecomunicações como bits/segundo ou Megabits/segundo.
Claro que esta quantificação, se bem que importantíssima na indústria das telecomunicações e dos computadores, não tem uma aplicação imediata nem na vida quotidiana nem no jornalismo dado que quando nos comunicam uma notícia normalmente não fazemos ideia de qual a probabilidade de ocorrência desse evento.
Mesmo assim facilita a discussão da frase muito citada que "uma notícia não é um cão ter mordido um homem, a verdadeira notícia é um homem ter mordido um cão". A minha discordância com esta frase tem vindo a aumentar, trata-se de dar preferência à quantidade de informação em detrimento da sua qualidade, adequado para “Jornais do Incrível” ou para colecções inúteis de ocorrências insólitas. Existem constantemente ocorrências de muito baixa probabilidade que são muito irrelevantes para a maioria dos leitores, basta pensar nos bilhetes premiados das lotarias que saem com grande frequência e o senso comum tem evitado que esses eventos de baixíssima probabilidade constituam títulos de primeira página.
Com o tempo tenho-me vindo a aperceber que existem esquematicamente dois mundos, o mundo negro dos media e o mundo cor-de-rosa das comunicações sobre actividades:
- o mundo negro dos media resulta do excelente argumento de venda de revelar um perigo que nos ameaça e do que se pode fazer para o evitar ou minorar, o jornalista assume muitas vezes o papel de “iluminado”, criticando as decisões que vão sendo tomadas pelos responsáveis pela resolução de variados problemas;
- o mundo cor-de-rosa é o que aparece por exemplo nos relatórios de actividade das empresas ou em artigos de carácter técnico-científico, em que se relatam progressos obtidos pelos autores;
Uma consequência típica destas distorções é a omissão de eventos relevantes mas que não se encaixam bem na “linha editorial” do emissor de informação.
Por exemplo, antes da crise financeira grave que deflagrou em 2008, as posições relativas da Grécia e de Portugal em várias estatísticas iam-se alterando, umas vezes estava Portugal à frente, outras vezes a Grécia. Os jornais diziam-nos de vez em quando que Portugal tinha sido ultrapassado pela Grécia mas raramente ou nunca que Portugal tinha ultrapassado a Grécia, condição indispensável para poder ser depois ultrapassado.
Outro exemplo curioso no sentido contrário, de omissão de notícias desagradáveis, era o livro de História do ensino secundário, em que apareciam as datas de conquista e de reconquista de Alcácer do Sal mas em que se omitia a data de perda, indispensável para se poder reconquistar.
Vem toda esta conversa a propósito do surto de Sarampo que ocorre agora no nosso país, assunto grave que me deu finalmente a oportunidade de tomar conhecimento que, devido aos continuados e bem sucedidos esforços de aplicação da vacina contra esta doença, não ocorreram casos de sarampo em Portugal desde 2015 até este surto importado em curso.
No jornal Diário de Notícias de 2016-09-18 consta uma excepção ao que acabo de escrever umas linhas acima, com informação muito interessante sobre 7 doenças que deixaram de ser endémicas em Portugal e que são: malária, varíola (esta ao nivel mundial), poliomielite, difteria, raiva humana, rubéola e sarampo!
Em 2015 foram comunicados 4003 casos de sarampo na Europa, segundo a distribuição do mapa
onde se constata ausência de casos de sarampo nesse ano em Portugal. Os números elevados na Alemanha, Áustria, Croácia e Itália fazem pensar na passagem de migrantes originários de países em que a vacinação será fraca ou inexistente.
Na altura da erradicação da varíola a nível mundial, o progresso da actividade de erradicação foi amplamente noticiado, o último caso conhecido foi o de um homem na Somália em 1977, tendo a doença sido declarada como totalmente erradicada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) em 1980.
A vacina contra a varíola foi descoberta pelo médico inglês Edward Jenner em 1796. Segundo a Wikipédia era uma doença mortal entre 10% e 50% dos casos. Em 1803 a coroa espanhola organizou uma expedição para vacinação geral nas colónias da América e nas Filipinas. Nos E.U.A aprovaram lei em 1813 para que a vacina estivesse disponível para o público em geral. Em Inglaterra a vacinação passou a obrigatória em 1853 enquanto nos E.U.A. foi ficando obrigatória nos vários estados entre 1843 e 1855.
O livro “A Imperatriz Viúva” refere que o imperador da China Tongzhi, nasceu em 1856 e morreu em 1875 de varíola, o que dá uma ideia do atraso que a China tinha então em relação ao Ocidente, em que nem o imperador estava protegido contra uma doença cuja vacina já era obrigatória em Inglaterra e nos E.U.A.
Em Portugal, a vacinação variólica inicia-se em 1894 permanecendo obrigatória até 1977 e as vacinas do tétano e da difteria iniciaram-se com carácter obrigatório em 1962.
Escreverei mais sobre este tema num futuro post.
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