2009-10-19

Mao-Tse-Tung, 70%-30%


Antes de entrarmos na Cidade Proibida e talvez como explicação para a presença da grande fotografia de Mao-Tse-Tung, sobre a porta que dá acesso da praça Tian-an-men ao antigo palácio dos imperadores das dinastias Ming e Qing, o guia chinês em Pequim da nossa excursão informou-nos que a posição (mais-ou-menos oficial) actual dos líderes chineses sobre essa figura histórica é que acertou em 70% do que fez e errou em 30%.

O próprio guia, com quem simpatizei quando disse que tinha trabalhado dois anos na agência Nova China mas que tinha mudado de emprego para guia turístico porque não gostava de ter de mentir, subscrevia esta avaliação 70-30.



Desde o abismo da guerra do ópio em 1840, a China passou por muitos mau bocados, conforme tentei resumir aqui e aqui, mas o que se passou até 1949, data da proclamação da República Popular da China, deve ter sido tão terrível, que boa parte da população chinesa ainda nutre admiração por Mao.

A foto sobre a porta acaba por ser o menos, quando comparada com o espaço ocupado pelo enorme mausoléu de Mao, também na praça Tian-an-men. Ao pé do mausoléu estava esta estátua do que se chamava “Realismo Socialista”, uma espécie de “doutrina” aplicada à arte, que surgiu como reacção (que se poderia dizer “reaccionária”) a movimentos artísticos modernos quando os bolcheviques tomaram o poder na Rússia.

A profusão de câmaras de video no poste do lado esquerdo faz inevitavelmente pensar no 1984 do George Orwell mas será por má vontade, pois existem cada vez mais câmaras de video instaladas em espaços públicos ocidentais.


Entretanto pareceu-me curioso adjectivarem com “Realismo” um movimento que faz representações tão idealizadas e românticas dos proletários, camponeses, soldados e a umas poucas camaradas do sexo feminino.


De facto constata-se que as duas ou três figuras femininas estão longe de preencher as quotas que seriam impostas nos tempos que correm, como representação mínima aceitável da contribuição que cerca de metade da população chinesa deu para a revolução. A forte compleição dos revolucionários também faz duvidar de tanta privação e exploração de que teriam supostamente sido vítimas.

Mesmo assim não resisto a apresentar ainda uma terceira vista da mesma estátua, sendo aqui mais visível o medalhão de Mao-Tse-Tung e um grande dinamismo e movimento nas figuras representadas que parecem mais activas do que as do Padrão dos Descobrimentos em Belém


e fazem-me lembrar também os cartazes do MRPP que enchiam as paredes de Lisboa nos tempos do PREC.

Não havia vento e o céu estava de chumbo já não se podendo dizer que “o horizonte é vermelho e o vento é de Leste”!

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