2008-07-17

Ainda a China

Quando se vai a Macau, a Hong-Kong e depois a Cantão é difícil não pensar nas crises sucessivas pelas quais a China passou no século XX. Ao passar por estas planícies de campos de arroz verdejantes com um aspecto super fértil entre Macau e Cantão mostrados nesta imagem



recordei que enquanto a presença portuguesa em Macau foi na maior parte do tempo baseada numa autorização chinesa, a presença inglesa em Hong-Kong resultou da Guerra do Ópio (1839-1842). Os comerciantes ingleses tinham-se iniciado no narcotráfico, cultivando papoilas na colónia indiana e exportando depois o ópio para a China, onde criaram uma vasta clientela de toxicodependentes. Um mandarim de Cantão queimou uma grande quantidade de ópio existente num armazém inglês e os ingleses exigiram uma indemnização. Como esta lhes foi negada iniciaram a guerra que terminou com o primeiro do que os chineses chamam “Os Tratados Desiguais”, em que a soberania sobre a ilha de Hong-Kong foi cedida pela China à Inglaterra a título perpétuo.

Existe uma carta pungente da imperatriz chinesa para a rainha Vitória, citada no livro “A Arrogância do Poder” do senador norte-americano William Fulbright, onde a imperatriz diz que a China só exporta coisas boas e roga à soberana inglesa que faça o mesmo.

Costumo pensar nesta guerra do ópio quando me falam na solidez dos valores das gerações que nos precederam e na ausência de valores das novas gerações.

Depois da concessão territorial de Hong-Kong várias potências ocidentais, incluindo a América do Norte, obtiveram também para si concessões em vários portos da China.

O regime imperial colapsou em Outubro de 1911, tendo sido proclamada a República com Sun Yat-Sen (1866-1925) como primeiro presidente. Como nasceu em Cantão (Guangzhou) fizeram-lhe este “Memorial Hall”, entre 1929 e 1931.




A república chinesa teve um início atribulado, tendo o regime dificuldade em exercer autoridade na totalidade do território. O Japão ocupou boa parte do território chinês entre 1937 e 1945, e houve uma guerra civil entre o partido Kuomintang e o Partido Comunista de 1928 a 1949, data em que foi proclamada a República Popular da China e os partidários do Kuomintang se refugiaram em Taiwan.

Depois do estabelecimento do regime comunista em 1949 e após terem ficado algo dependentes da ajuda soviética, esta foi retirada de forma abrupta, na sequência de desentendimentos políticos, tendo ficado boa parte da indústria pesada chinesa quase paralisada por falta de peças e de know-how. Tiveram depois o “Grande Salto em Frente” instigado por Mao uma reforma que provocou alguns milhões de mortos e para rematar a Revolução Cultural de 1966-1976.

As consequências de todos estes tumultos na vida quotidiana das pessoas é contado de forma magistral por Jung Chang no livro famoso “Cisnes Selvagens”, onde descreve a vida da avó, da mãe e dela própria. Quando li o livro, de que gostei imenso, pensei que mostrava boa parte das consequências das grandes tiradas ideológicas na vida quotidiana do cidadão comum.

Entretanto, com o fim da Revolução Cultural, voltou a ser possível usar os templos budistas como mostro nesta foto de um templo de Cantão.




È curioso constatar que a religião católica tem dificuldade em ser tolerada na RPC, nomeadamente devido à nomeação dos bispos ser feita pelo papa, uma autoridade exterior à China. Julgo que o Cristianismo é considerado como uma ameaça de uma cultura diferente, como foi considerado no Japão no século XVII.

Para finalizar deixo esta imagem duma povoação, no regresso a Macau, em que me impressionou o número de chaminés no meio das casas, como já não se vê na Europa há uns tempos.


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