2024-08-27

Mortes por afogamento no jornal Expresso

 
 

Na primeira página do jornal Expresso de 23 de Agosto de 2024 vinha este pequenino apontamento aqui ao lado típico da silly season.

Seguindo a regra de ouro do jornalismo, para estatísticas de fenómenos negativos como mortes classificam-se os valores como altos e para fenómenos positivos como crescimento económico classificam-se como baixos, desta vez classifica-se como “valor mais alto”.

O texto estará aparentemente correcto pois não se trata de um máximo absoluto sendo apenas o terceiro valor mais alto. Além disto informa também que o período em análise diz respeito aos últimos cinco anos.

Aqui o leitor mais atento pensa que o terceiro valor mais alto num período de cinco anos é também o terceiro valor mais baixo, trata-se certamente do valor mediano para esta série estatística pois existem exactamente dois valores menores do que o citado e dois valores maiores. Com esta informação magra não sabemos qual a sua posição em relação à média mas temos a certeza que é igual à mediana.

Podemos ainda fazer mais três observações:
- dado que a série diz respeito aos valores até ao final de Julho nos anos 2020, 2021, 2022, 2023 e 2024, que em 2020 tivemos o primeiro caso de COVID em Portugal e em 2020 e 2021 houve confinamentos, uso de máscaras, etc., parece verosímil que tenham ocorrido nesse dois anos menos mortes do que a mediana e que em em 2022 e 2023 tenham corrido mais mortes do que a mediana. Isto leva-me à conjectura que nos anos 2022 e 2023 anteriores a 2024 ocorreram mais mortes do que em 2024, facto positivo mas aparentemente difícil de referir dessa forma na primeira página de um jornal;
- como regra geral um número sózinho costuma ser uma informação insuficiente, a não ser  que se trate dum domínio de valores conhecidos pela maioria da população. Neste caso “75” parece inadequado para título, seria melhor “mortes nas praias”, especificando no texto do que se tratava;
- este texto teve mesmo assim a qualidade de proporcionar este post de escárnio e mal-dizer adequado a esta estação de veraneio.

1 comentário:

Luís disse...

O Expresso e a matemática nunca combinaram muito bem. Há muitos anos saiu uma notícia (também desse formato) sobre uma greve da Carris em que circularam 12 autocarros em vez dos habituais 800, correspondendo a uma adesão de 99.99%. Viva o sensacionalismo!