Talvez na sequência do post anterior, em que escrevi sobre o livro “Portugal e o Futuro” de António de Spínola, tenha feito alguma busca na net tendo então chegado a estes dois mapas de África (Scramble-for-Africa-1880-1913.png), que encontrei na Wikipédia, o da esquerda mostrando diversas organizações politicas existentes em África antes da colonização feita pelos países Europeus no século XIX.
Clicando sobre a figura os mapas aparecem maiores, sendo então possível ver os textos e as legendas das cores.
Cheguei depois a uma versão posterior (
Scramble-for-Africa-1880-1913-v2.png) ( ) do ficheiro que mostrei acima, constatando-se bastantes informações adicionadas entre as duas versões.
Os textos estão em inglês mas na entrada em inglês da Wikipédia intitulada “
Scramble for Africa” aparecem mapas com algumas diferenças em relação a estes.
Fui entretanto averiguar a história dos dois ficheiros que resumo a seguir:
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Ficheiro Scramble-for-Africa-1880-1913.pngPar de mapas de “davidjl123 / Somebody500”, iniciado em 2014, com várias actualizações até 2016, seguidas de uma em 2019 e duas de 4/Nov/2021. Depois de várias informações e da lista de actualizações vem uma lista de sítios que referem esta imagem, entre os quais se encontra a versão em Português intitulada “
Partilha de Àfrica” da versão em inglês “
Scramble for Africa”.
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Ficheiro Scramble-for-Africa-1880-1913-v2.pngPar de mapas de “Somebody500”, iniciado em Julho/2020m com várias actualizações até 4/Ago/2023. Tem também uma lista com sítios da net que usam esta mapa
Os mapas são sugestivos e certamente alguma da informação apresentada não é contestada mas alguma outra será provavelmente polémica.
Revisitei o meu livro de História do 5º ano do liceu (actual 9º ano), onde não existiam estes mapas coloridos, tendo referência ao nosso mapa cor-de-rosa que teria unido Angola a Moçambique, projecto que teria sido impeditivo do projecto inglês de ligar a cidade do Cabo ao Cairo, desculpa fraca quando o mapa mostra bem que a colónia alemã do Tanganika também era um bloqueador desse desígnio britânico.
O livro único do liceu reflectia o pensamento dominante do regime do Estado Novo. Geralmente os livros da escolaridade obrigatória são veículos do pensamento dominante do país na altura em que são impressos. Em regimes autoritários como o do Estado Novo traduzem sem nuances o pensamento das autoridades. Em regimes democráticos também reproduzem o pensamento dominante mas nesse caso incorporando algumas variantes pois o pensamento não é tão monolítico.
Aprendi então nesse livro que enquanto os Portugueses diziam que a nossa presença em paragens aficanas tinha séculos, o que era verdade, as outras potências europeias alegavam que essa presença se tinha limitado ao litoral, em postos comerciais, não havendo uma verdeira ocupação do interior. Além disto argumentavam ainda que Portugal não tinha habitantes suficientes para ocupar áreas tão vastas.
Por essa altura, talvez espicaçados pela urgência do reconhecimento do interior para contrabalançar o interesse das potências europeias Portugal empreendeu várias explorações de reconhecimento do interior.
Os mapas acima parecem reflectir a evolução do reconhecimento reivindicado por Portugal, primeiro umas finas línguas de terra na primeira versão, em Moçambique com o rio Zambeze como via de penetração do interior, com áreas maiores na segunda versão. Acabo por achar que a diplomacia Portuguesa foi bem sucedida na Conferência de Berlim, pois os territórios de Angola e Moçambique eram verdadeiramente gigantescos em relação às nossas possibilidades para os desenvolver/explorar como se constata neste “Mapbite” (soundbite na versão mapa) que vi pela primeira vez quando decorria a guerra colonial de 1961-74
A propósito da nossa memória como sociedade, da nossa relação com África, refiro a expressão comum em Português “meter uma lança em África”, para designar a vitória sobre uma grande dificuldade. Já com a China ficou-nos a memória de “um negócio da China” para qualificar um negócio com grandes ganhos.
Ao olhar o mapa de África mesmo na segunda versão reparei que a “terra incognita” em 1880 ainda era muito grande. Além dos desertos do Sara e da Namíbia, o interior no que agora é o Congo, com a sua densa floresta tropical e consequente ausência de vias de comunicação será a explicação mais verosímil. Fui também surpreendido pela falta de conhecimento da África Oriental, o canal de Suez foi inaugurado em 1869, antes da sua existência toda a costa oriental de África estava mais longe da Europa do que a ocidental e a prioridade dos barcos que por lá passavam era chegarem à Índia e ao Extremo Oriente.
Fui verificar agora a distância por barco, sem ser à vela, de Lisboa a vários destinos, resultados que se aplicam também aos países do Norte da Europa pois têm que passar próximo de Lisboa:
Lisboa – Luanda: 7500km
Lisboa –Maputo via rota do Cabo: 12000km (+4500km, +60%)
Lisboa –Maputo via Canal do Suez: 12250km
Como de Maputo ao ponto mais ao Norte da costa de Moçambique são cerca de 2000km para todos os países ao norte de Moçambique o trajecto marítimo a partir de Lisboa é bastante mais curto via canal do Suez. Em Moçambique, mesmo para Inhanbane, apenas uns 300km a norte do Maputo, já a rota do Suez é mais curta do que a rota do Cabo.
Para Lisboa - Mombaça por Suez: 9700km, via Cabo: 14700km
Por Via aérea:
Lisboa – Luanda 5800km, 7,2h @800km/h
Lisboa – Maputo 8300km, 10,4h @800km/h (+2500km, +3,2h, +43%)
Constatei a minha enorme ignorância sobre as distâncias entre Portugal e Angola e Moçambique, revelando mais uma vez a minha falta de interesse pelas colónias africanas de Portugal, causa da nossa participação na guerra de 1914-18 e na guerra colonial de 1961-74 na Guiné, Angola e Moçambique.