Começo por avisar que ao contrário do que tenho lido frequentemente que, “já ninguém se lembra” dos massacres de civis Israelitas perpetrados pelo Hamas da faixa de Gaza nos povoados vizinhos causando mais de 1400 mortes, torturando e feito entre duas e três centenas de reféns, eu lembro-me perfeitamente desses actos de terror sem qualquer justificação possível.
Não deixo contudo de me lembrar que após o 7/Out Israel cortou também todos os abastecimentos à faixa de Gaza, incluindo os que não passavam por Israel pois poderiam vir através da fronteira dessa faixa com o Egipto. Este cerco, envolvendo 2,2 ou 2,3 milhões de habitantes só por si tem agravado a falta de alimentos, de água potável, de cuidados médicos, de electricidade e de combustível na faixa de Gaza.
De vez em quando vejo uns vídeos em que se interrogam porque será que Israel teria a obrigação de fornecer alguma água a Gaza, justificando assim o fecho das condutas de água existentes entre Israel e a faixa de Gaza.
Notei também que segundo o presidente Biden, nesta notícia da Reuters de 21/Out/2023, os EUA estão empenhados em assegurar que os civis de Gaza continuem a ter acesso a comida, água e cuidados médicos, evitando que estes recursos sejam usados pelo Hamas, empenhamento desnecessário caso Israel já se tivesse empenhado nesta tarefa.
Fui então verificar porque existe falta de água em Gaza, consultando a CNN e uma organização islâmica.
Em Gaza não existe um sistema unificado de tratamento e distribuição canalizada de água sendo o abastecimento feito através de furos que retiram água do lençol freático, através de 3 centrais dessalinizadoras que em funcionamento cobrem 10% do consumo e de importação da companhia de água israelita Mekorot quando existe falta.
Sem electricidade as bombas dos furos não devem funcionar, mesmo que se recorra a pequenos geradores eléctricos estes precisam de fuel assim como as dessalinizadoras que não o têm.
Portanto, o bloqueio de fuel a Gaza, alegadamente inevitável pois poderia ser usado para a produção de mais mísseis, tem como consequência a falta de água.
Antigamente não havia fuel nem electricidade e as pessoas viviam, mas na faixa de Gaza não habitavam de certeza mais de dois milhões de pessoas. No auge de Roma viviam na cidade um milhão mas existia o rio Tibre e uns tantos aquedutos.
No artigo da organização islâmica que referi acima sobre a água em Gaza dizem que em muitos prédios existe um furo(poço) na cave e um depósito de água no topo, para que a água não falte quando falta a electricidade pois nessa altura as bombas de água dos furos deixam de funcionar.
Antes desta guerra em Gaza apenas havia electricidade durante 4 horas por dia, por cortes rotativos de várias zonas da cidade. Em Portugal os ultimos cortes rotativos de electricidade de que me lembro ocorreram em 1975 quando após uma seca prolongada no país, na central do Carregado aumentou o número de avarias, devido a estar a funcionar durante muito mais horas do que era habitual.
Nos prédios em que vivi em Lisboa, desde 1959, não existia nenhum depósito de água no topo do prédio. Já na Praia da Rocha conheci a existência de depósitos desse tipo, que eram cheios regulados por um mecanismo semelhante ao dos autoclismos e que quando faltava a água da rede podiam continuar a fornecer água durante algum tempo, mantendo um funcionamento mais regular das casas quando a duração da falta de água da rede não era muito demorada. Estes dispositivos introduzem riscos na qualidade da água pelo que são abandonados quando a rede é eficaz.
Quando passei por Nova Iorque em Outubro/2003 reparei que no topo dos prédios mais antigos, até talvez uns 15 andares, existiam depósitos de água metálicos cilíndricos, encimados por um cone, um depósito por cada prédio. Talvez já não sejam usados mas testemunham que anos atrás eram bastante comuns, como se constata nas duas fotos seguintes tiradas em Manhattan com poucos minutos de intervalo.
Os prédios mais modernos de Nova Iorque já não têm estes depósitos.
Noutra altura em Chennai em 2012 fotografei a cidade a partir do terraço do hotel Raintree que referi aqui e aqui
e a seguir o detalhe dos depósitos de água
Nota-se que os depósitos de forma esférica foram abandonados, predominando agora os de forma cilíndrica. Além disso, em vez de existir apenas um depósito por prédio existirá provavelmente um depósito por apartamento, dado que são tantos.
Com o dinheiro gasto pelo Hamas em rockets e em túneis seria certamente possível ter um sistema de abastecimento de água muito melhor do que o actual bem como um sistema eléctrico a funcionar normalmente.
A aposta do Hamas na via da guerra teve como consequência más condições de vida para os habitantes de Gaza mesmo antes do ataque terrorista a Israel em 7/Out/2023.
A resposta de Israel a esse ataque terrorista, se bem que de início plenamente justificada como legítima defesa, tem vindo a assumir com o passar do tempo proporções cada vez mais inaceitáveis perante a dimensão da catástrofe humanitária na faixa de Gaza causada pelos bombardeamentos constantes, responsáveis por um número imenso de civis feridos, estropiados e mortos, que ultrapassam em muito a antiga lei de Hamurabi, para nem falar das muito mais recentes convenções de Genebra.
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