2022-05-03

Visita de Guterres à Rússia e Ucrânia

 

Como habitualmente, quando o secretário-geral da ONU faz qualquer coisa, têm aparecido numerosas críticas à demora e depois à realização desta visita de Guterres a Moscovo e a Kyiv, precedida de uma visita à Turquia.

Das diversas considerações que li e de que discordo alinhei uma pequena lista:

1) A ausência de cumprimentos e de sorrisos protocolares no início da reunião mostra a tensão entre Putin e Guterres, ainda bem que a relação entre os dois não suporta sequer cumprimentos protocolares.

2) Precisamente por terem tão pouco a dizer um ao outro a mesa da reunião acaba por mostrar a distância que, ainda bem, os separa.

3) Lembro-me de há anos, quando Guterres cumpriu dois mandatos como Alto Comissário nas Nacões Unidas para os Refugiados de 2005 a 2015, o ter visto vezes sem conta nos mais diversos sítios do planeta a informar-se, dialogar e intervir nas mais diversas situações. Dada a sua experiência nesse cargo é uma pessoa com muito maior capacidade para avaliar a utilidade de uma sua deslocação do que os comentadores de média portugueses. O mesmo se aplica à avaliação da ordem das visitas e interpretar a primeira visita como manifestação de amor a Moscovo parece-me completamente paroquial.

4) A intenção da visita foi explicada por Guterres, além do apelo à paz e ao cumprimento da Carta das Nações Unidas, limitava-se praticamente à evacuação de algumas pessoas de Mariupol e neste aspecto teve algum sucesso, algumas vidas foram salvas.

5) Além de referir que há militares russos na Ucrânia e não há militares ucranianos na Rússia, Guterres disse a Putin que o que ele chama "Operação Militar Especial" é realmente uma invasão. Guterres classificou de forma inequívoca as manobras militares da Rússia ao invadirem a Ucrânia no próprio dia (24Fev2022) como uma violação clara da Carta das Nações Unidas colocando-a assim no domínio da ilegalidade:
«We are seeing Russian military operations inside the sovereign territory of Ukraine on a scale that Europe has not seen in decades.
Day after day, I have been clear that such unilateral measures conflict directly with the United Nations Charter.
The Charter is clear: “All members shall refrain in their international relations from the threat or use of force against the territorial integrity or political independence of any state, or in any other manner inconsistent with the Purposes of the United Nations.”
».
Aliás esta intervenção condenatória do acto de agressão russo está na origem da afirmação tendenciosa de Serguey Lavrov que Guterres teria sucumbido às pressões do Ocidente.
Finalmente relembrou que o Conselho de Segurança das Nações Unidas tem falhado, não só ao não evitar esta guerra como a não ter conseguido ainda que parasse. Prevenir a guerra e estabelecer a paz é a função mais importante desse Conselho.


Faço notar aos mais distraídos que não existe um governo mundial nem um Chefe de Estado do planeta Terra, Guterres é o secretário-geral duma Organização de Nações Unidas e soberanas que foi, com os seus defeitos mas também com numerosas e muito úteis Agências Mundiais, o melhor que se conseguiu arranjar até agora.



4 comentários:

Ferreira de Almeida disse...

Olá Zé,
concordo co a tua argumentação.
Guterres teve a coragem de dizer na Rússia em direto duas coisas altamente melindrosas:
- A guerra só acaba quando PUTIN quiser, ou seja tudo depende dele a paz ou a guerra...
- Há militares RUSSOS na Ucrânia e não há militares Ucranianos em território RUSSo...

Não mais dúvidas de que se trata de uma invasão e quem a ordenou foi PUTIN.
Não há desculpa decente e honesta que possa justificar estas afirmações. A Raquel Varela descobriu que a NATO é uma organização ofensiva, mas não consegue dizer quais foram as ações ofensivas desencadeadas pela NATO.A NATO não é apenas USA, tem outros países que ela talvez desconheça

Maria Teresa Assis Pontes disse...

Olá Zé Júlio

Tens toda a razão ao defender Guterres, ainda recentemente uma ministra ucraniana, veio agradecer a António Guterres, o comboio humanitário da saída de civis da cidade de Mariupol, mesmo que fosse só para poupar uma vida, a influência de Guterres, foi determinante.
Beijinhos

Anónimo disse...

De acordo caro Amarante.
Acho que Guterres conseguiu ir à Rússia (o que não é fácil) e dizer coisas importantes, tal como referes.
Esperemos que a Rússia desista rapidamente desta aventura, o que só acontecerá com a sua derrota militar.

Dulce Amarante dos Santos disse...

Ola, primo. concordo com sua argumentação. Às vezes a mídia se coloca sempre contra os políticos, sem avaliar direito a atuação de Gutterez.
Abraço
dulce