2022-05-29

Flamingos quase fora-de-pé à Beira-Tejo

 

No passeio à beira-rio no Parque das Nações em 05/Fev/2022 15:52 um conjunto de Flamingos com pernas rodeadas por água


e um "zoom digital" da mesma foto:


5 minutos depois o mesmo bando estava mais a jusante (comparando a posição em relação ao par de bóias):


e o zoom digital da 2ª foto



2022-05-25

Pesca do Atum


Há algum  tempo que a Maria Dulce Fernandes publica diariamente no blogue “Delito de  Opinião” os “temas do dia de hoje”.

Constatei que é raro o dia em que não exista mais do que um tema, 365 temas é um número insuficiente para celebrar um deles em cada dia do ano.

No dia 2 de Maio de 2022 foi o dia do Atum em que apresentou um filme feito em 1968 sobre a pesca do atum no Algarve

 

Além de gostar do filme de 8 minutos lembrei-me de ter lido um texto no liceu sobre esta actividade. 



Fui à procura no livro escolar único de 1960 “A Nossa Pátria” de que mostro imagem da capa.

Era o livro de leitura de Português do que seria actualmente o 6º ano do Ensino obrigatório, nessa altura o 2º Ano do 1º ciclo do Liceu.

Nele constava um texto intitulado “UMA COPEJADA DE ATUM” da autoria de Manuel Teixeira Gomes, distinto algarvio nascido em 27 de Maio de 1860 na Vila Nova de Portimão,

Frequentou o ensino primário no Colégio de S.Luís Gonzaga em Portimão, provavelmente dirigido discretamente por Jesuítas.

Foi  embaixador de Portugal em Inglaterra (ministro de Portugal em Londres a partir de 1911), cabendo-lhe a espinhosa tarefa de obter o reconhecimento pela Inglaterra imperial (onde se abrigara o rei exilado) da 3ª República a ser instaurada na Europa, antes de nós só a Suíça (que nem fora monarquia) e a França.

Em 6/Ago/1923 é eleito Presidente da República, tomando posse em 5/Out/1923. Perante a instabilidade insanável da vida política portuguesa resigna do seu mandato em 11/Dez/1925, embarcando em 17/Dez no paquete grego Zeus, não regressando mais a Portugal. Instalou-se em 1931 na Argélia, onde faleceu em 18/Out/1941. Estaria mesmo farto dos portugueses...

Tirei uma foto de duas páginas do livro escolar

 


mas achei melhor ir buscar o original que encontrei numa edição da Expo 98 na biblioteca do Agrupamento de Escolas de Aveiro que se pode obter para descarregar googlando o nome do ficheiro pdf “Agosto Azul; Uma Copejada de At - Manuel Teixeira Gomes.pdf”. Este ficheiro contém dois contos, o “Agosto Azul” e “Uma Copejada de Atum”.

Nesta edição da Expo98 constatei que o texto no livro escolar é uma adaptação ligeiramente abreviada do texto original que parece ser uma carta endereçada a destinatário desconhecido, escrita em Tunes, presumo que da Tunísia pois está datada de 24/Dez/1926.

Repeti a adaptação do texto do livro escolar, adicionando três pontos nas omissões. Quem quiser ler a obra completa poderá obtê-la como refiro acima.

O texto da edição escolar é o seguinte:

«
...

I – NO ARRAIAL DA ARMAÇÃO

A costa, a leste de Portimão, continua alcantilada e pitoresca em algumas léguas, mas de difícil acesso, com pequenas e raras praias, na boca de apertadas ravinas. Assim é a praia do Carvoeiro, que serve aos habitantes de Lagoa para banhos e passeio.

Aí tinham uns amigos meus o arraial de uma armação de atum, lançada mesmo em frente da praia, a três ou quatro quilómetros de distância, no mar alto, que me proporcionou, pela primeira vez, o espectáculo de uma copejada. 

Era no fim de Maio, com vento mareiro e águas claras, indispensáveis para trazer à costa os cardumes de atum, que se assusta e foge à menor sombra que lobriga. Esperava- se farta passagem de peixe e eu recebera aviso para comparecer.

Logo à minha chegada, ao cair da tarde, fizeram sinal da armação de que um «bom cardume» de peixe se aproximava. A notícia causou profunda sensação, pois as vigias, sempre cautelosas, o mais que anunciam, de ordinário, é o aparecimento de alguns peixes, «poucos», e eu fui recebido, pelos meus amigos, festivamente, como se a minha presença tivesse chamado o atum.

O director técnico da sociedade (Joaquim Negrão...) seguia, por um grande óculo de alcance, o que se passava na armação, e ia comunicando as informações colhidas. O atum era muito, acudira bem ao «atalho», e entrara no copo, onde esperaria a madrugada seguinte para ser pescado.
...
II – A ARMAÇÃO, COSTUMES DO ATUM

Depois do jantar o Negrão leccionou-me um pouco sobre o que era uma armação, e o que conhecia dos costumes do atum.

O covo ou copo da armação, que é um longo e perfeito rectângulo, está fixo no fundo do mar por pesadas fateixas, a que o prendem cabos de aço; e à superfície segura-se na amurada das grandes lanchas que o cercam, das quais a maior, chamada de «testa», ocupa uma das extremidades mais estreitas do rectângulo. Na extremidade oposta está a entrada - «as portas» - da armação, precedida de um jogo de redes, cujos movimentos permitem encaminhar o peixe para dentro do copo; esta operaçâo chama-se «atalhar». A começar das portas, e estendendo-se muito pelo mar fora, segue uma rede de metro e meio de altura, suspensa em bóias de cortiça, e esticada por pesos de chumbo, a que se chama «rabeira».

O atum, que anda em cardumes, procurando a proximidade da costa para desovar, se entra na faixa de água limitada pela rabeira e lhe vê a sombra, assustadiço, como é, em vez de tentar atravessá-Ia vai-a seguindo mansamente, à busca de saída, e mansamente cai nas portas da armação, que se fecham apenas o apanham dentro.

Antes de desovar, o atum chama-se «de direito», e as armações que o apanham têm a boca voltada para oeste, de onde ele vem na derrota do Estreito; essas mesmas armações, postas com a boca voltada para leste, servem para o atum «de revés», que regressa em poucas semanas, já desovado e magríssimo. Daí a grande diferença de valor entre os atuns de direito e de revés, sendo aqueles aproveitados especialmente em conservas e estes para a salga.
...

A copejada faz-se levantando uma rede móvel chamada «céu», que está no fundo do copo, e vai lentamente trazendo o peixe à superfície da água, onde ele é apanhado pela gente da companha debruçada sobre as barcas, e tendo preso no pulso direito, por uma corda, um pequeno arpão móvel. O peixe corre em círculo à roda das barcas, e, quando lhes passa ao alcance, o pescador mete-lhe o arpão e puxa-o para dentro da barca, onde ele entra e cai pelo seu próprio impulso, desprendendo-se do arpão automaticamente, apenas transpõe a borda da lancha.
...

III – A COPEJADA

Ainda a madrugada não dava sinais de romper, já nos encontrávamos no bote que nos devia levar à armação. Durante a noite o vento fizera-se mais de terra, mas ainda de má feição; a distância era grande e havia muito que bordejar para vencer a tempo de assistir ao começo da copejada. Fazia luar; a ondulação do mar, espaçada e surda, era como que abafada por aquela silenciosa luz branca.

O caminho fez-se mais depressa do que julgávamos, e quando entrámos na barca da testa, onde devíamos assistir à pesca, a lua não empalidecera ainda de todo e apenas a nascente dois fios de carmim, tenuíssimos, assinalavam, no céu polido e esverdinhado, o ponto por onde ia surgir o Sol.
...
Rompeu, por fim, o Sol. apressado e quente, sem que tivéssemos prestado atenção ao seu glorioso aparecimento, e começou a concertada faina de levantar o céu da armação.
...
Apenas a água principiou a ferver, com a revolução do peixe que se aproximava da superfície, rompeu a mais tremenda gritaria e algazarra, de que tenho memória, e que ainda redobrou ao aparecimento dos primeiros atuns. Começou então a toirada.

Sucedeu que o primeiro atum arpoado se escapou, e caído à água com tal velocidade parecia voar, jorrando sangue que o acompanhava de um rastro de púrpura. A assuada ao marujo infeliz foi medonha, e vi jeitos de o atirarem também à água. Mas é que os primeiros atuns que apareciam, tendo ainda campo avonde para nadar, fugiam das barcas, enquanto os marujos, abrindo os braços, e com grandes pancadas no costado das lanchas, os incitavam às sortes, como se fossem bois.

Isso, porém, durou pouco. Entre borbolhões de espuma assomou logo uma densa camada de peixe, e tão apertada pelo costado das barcas, que os marujos quase lhe davam às cegas, levantando uma cabeça a cada arpoada.
...
O sangue e a água, misturados, soltavam-se aos cachões, envolvendo os peixes em línguas de púrpura cristalina, e ao centro da rede faziam remoinho, abrindo um poço fundo e largo, por cujas paredes transparentes giravam, desvairados, os grandes bichos cintilantes.
...
O Negrão, aproximando-se do meu grupo, para falar com o mestre da companha, bradou-me: - «Agora vou-lhe mostrar um quadro da mitologia. - «Vamos lá ver», repliquei, se bem que pouco disposto ao entusiasmo, já embotado pela prodigiosa cena a que assistia. Depois de falar com o mandador, o Negrão gritou para a ré da barca: - «Bem, se não há mais nenhum, que venha cá o Serafim ... » - «O Serafim, o Serafim!» pôs-se a clamar quase em coro a marujama, e um rapaz atarracado, embezerrado, e arruivado, como que lhe veio nos braços, pela amurada fora, até onde o Negrão estava. E ouvi este que lhe dizia: - «Não quero desculpas; é para já ... »

Então o rapaz, depois de olhar entre envergonhado e receoso para o meu grupo, principiou a despir aquela quantidade de trapalhadas em que os pescadores se envolvem, mesmo de Verão, quando vão para o mar. E apareceu admiravelmente bem proporcionado e forte, com um tronco de coiraça grega, abaulado no peito e estio no ventre, os quadris estreitos, mas as coxas volumosas e de formidável musculatura. Tirante os pulsos, o pescoço, e os pés, que andavam tostados do sol, todo ele era de uma brancura marmórea. De pé, na borda da lancha, erguendo os braços e juntando as mãos, tomou um leve balanço e jogou-se à água, sumindo-se entre os peixes.

Mas em poucos segundos ele surgia, quase na extremidade oposta do copo, montando um enorme atum, que, para se desembaraçar da estranha carga, entrou a correr vertiginosamente, saltanto sobre o outro peixe que lhe impedia a passagem, ou mergulhando subitamente, para reaparecer alguns metros mais longe, sempre com o tritão às costas, agarrado com a mão esquerda a uma das alhetas, agitando a outra mão no ar, e dando gritos de triunfo. O rapaz estava transfigurado; resplandecia de audácia e mocidade, entre as grandes salsadas de água rubra que lhe lambiam o corpo, e luzia, ao sol, como um vivo mármore cor-de-rosa.

Animados pelo exemplo, outros rapazes se atiravam à água, para cavalgar os peixes, mas nenhum tinha a segurança heróica, nem a graça helénica do Serafim.

A pesca fechou acima de mil e trezentas cabeças. Mais de «treze centos», como dizia a gente da companha. Fora, na verdade, uma copejada maravilhosa.
...
»

Fez-me impressão as “condições de trabalho da época” notei que ninguém usava luvas, nem para puxar as redes nem para segurar os arpões que espetavam nos peixes. Notei a prudência dos pescadores sempre vestidos com calças e camisas que, além de os protegerem dos raios solares dada a pouca disponibilidade de cremes protectores nessa época, talvez os protegessem também das barbatanas dos Atuns que me parecem sempre perigosas.

Actualmente a única armação que existe no Algarve é explorada por japoneses ao largo da Fuzeta, apanham o atum de revés, magro depois de ter desovado no Mediterrâneo e alimentam-no na armação até ter peso ideal para ser enviado para o Japão.

Segundo li, além das armações no Sotavento, de que as âncoras enterradas na areia da praia do Barril são uma das memórias que restam, existiam outras armações também no Barlavento.

 

 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cemit%C3%A9rio_de_%C3%A2ncora.jpg


Volto a mostrar o Colégio dos Jesuítas em Portimão que já mostrara aqui 

 

 e três jarrinhas que pertenceram a Teixeira Gomes


actualmente no Museu do Oriente que mostrei aqui.
 

2022-05-16

Azulejos chineses

 Há uns dias gostei de uns azulejos  de porcelana azul e branca que vi num restaurante chinês no Parque das Nações. Depois de "endireitar" a foto, para que os rectângulos dos azulejos voltassem a ser rectângulos em vez de quadriláteros irregulares e remover do enquadramento objectos desnecessários, obtive esta imagem

Pensei que, além de estar num restaurante chinês, este padrão me parecia muito chinês. Fiz então uma busca no Google Images tendo obtido o resultado seguinte:

 


Quando o Google Images começou era frequente identificar rapidamente quadros famosos de pintores com obras expostas em museus, para outras imagens não era tão bom. Entretanto tem sido aperfeiçoado e além de identificar a imagem com "decorativa" e de apresentar variadas imagens em azul e branco encontrou um sítio chinês em que existe uma imagem que coincide (matching images) com parte da apresentada.

Indo ao sítio indicado encontrei este padrão com marcas de água

 


que reproduz a união dos dois rectângulos base do padrão que fotografei.

O Google Tradutor traduziu uma das sequências de ideogramas associadas a este padrão:


Tenho sido bastante crítico das loas sobre os avanços da alegada "Inteligência Artificial" que, como já ouvi dizer, se trata afinal de "Estupidez Artificial", sobretudo quando ando à procura de informação em sítios específicos, normalmente acaba por ser melhor perguntar ao Google.

Mas neste caso fiquei surpreendido com a capacidade de encontrar um padrão de azulejo tão específico!





2022-05-09

Gasodutos Argelinos

 

No final de Outubro de 2021, altura em que terminava um contrato de fornecimento de gás da Argélia para a península ibérica através do gasoduto Magrebe-Europa, a Argélia, que entretanto instalara o gasoduto Medgaz ligando-a directamente a Espanha, não renovou contratos que usavam o gasoduto anteriormente referido, privando Marrocos das receitas de trânsito do gás pelo território marroquino e do acesso a gás natural para alimentar duas centrais eléctricas de ciclo combinado, construídas após a entrada em serviço do gasoduto referido.

A figura ao lado, dum artigo da Wikipédia, mostra gasodutos Trans-mediterrânicos e um futuro Trans-saariano. Este e o Galsi existem apenas em projecto enquanto o Greenstream liga uma fonte de gás natural da Líbia à Itália. Os 3 restantes partem de Hassi R'Mel na Argélia, com as seguintes caratcterísticas:


- Trans-Mediterrâneo iniciou em 1983, vai até Minerbio na Itália, via Sicília, com 2475km e uma capacidade de transporte anual de 30,2 bcm (bilions (10 à nona) cubic meters);
- Magrebe-Europa iniciou em 01Nov1996, vai até Cordoba em Espanha via Marrocos e Estreito de Gibraltar, com 1620 km e capacidade de 12bcm;
- Medgaz iniciou em 01Mar2011, vai até Alicante em Espanha, com 757km e capacidade de 10,5 bcm.

As capacidades de transporte destes gasodutos podem variar ao longo da sua vida pois, além do diâmetro e de outras características físicas invariantes que estabelecem um valor máximo, a capacidade de transporte é influenciada pela pressão obtida por vários compressores instalados ao longo do gasoduto. Normalmente começa-se com uma capacidade de transporte menor, que se aumenta instalando compressores mais potentes quando aumentam de forma significativa os contratos de fornecimento.

A introdução do gás natural em Portugal esteve ligada à construção do gasoduto Magrebe-Europa que segundo a Wikipédia foi projectado no início dos anos 90 e em 1992 foram assinados acordos entre ministros da Espanha e da Argélia para a construção do gasoduto, enquanto as empresas Sonatrach e Enagás assinavam contratos para aquela fornecer gás natural a esta. Em 1994 Portugal entrou também no projecto. O gasoduto ficou pronto em 01Nov1996, existindo um contrato com a duração de 25 anos terminando em 31Out2021, que regulava o funcionamento técnico-económico da operação e das compras e vendas de gás natural.

A degradação das relações entre a Argélia e Marrocos culminando na quebra de relações diplomáticas em 24Ago2021 levou a que este contrato não fosse renovado, passando desde então o gás argelino a ser enviado para Espanha exclusivamente através da ligação directa do MedGaz, que iniciou funcionamento em 2011 com 8bcm de capacidade anual, aumentada com compressão adicional para 10,5 bcm no ano de 2021.

A Espanha é actualmente o maior gasificador de GNL (Gás Natural Liquefeito) na Europa dispondo de 6 terminais para esse efeito em Barcelona, Sagunto, Cartagena, Huelva, Mugardos e Bilbao.

É natural que a Argélia privilegie o uso do MedGaz em detrimento do Magrebe-Europa para enviar gás para a península ibérica pois além do trajecto ser mais curto evita pagar a passagem por Marrocos. Contudo a não renovação do contrato que terminava em 31Out2021 parece associada à quebra de relações diplomáticas pois mesmo utilizando exclusivamente o MedGaz para a península ibérica, o Magrebe-Europa poderia ser usado para continuar a  vender gás a Marrocos.

As duas únicas centrais elétricas de ciclo combinado de Marrocos que forneciam cerca de 10% do consumo anual e que ficaram assim indisponíveis deste 01Nov2021 foram:
- Tahaddart , perto de Tânger com 384MW (localização: 35.5892, -5.9866,);
- Ain Beni Mathar, no leste do país com 472MW (localização: 34°4′6″N, 2°6′17″W, ) ,  ligada por gasoduto de 12 km ao gasoduto Magrebe-Europa, a 40km da fronteira e cerca de 115km do mar Mediterrâneo;

Um artigo do jornal Expresso de 2022-04-22 refere que, na sequência apoio de Madrid ao plano marroquino de conceder um sistema de autonomia limitada ao Sara Ocidental, como alternativa ao referendo de autodeterminação defendido pela ONU, pela frente Polisário e por vários países, e da visita do PM espanhol Pedro Sanchez ao rei marroquino Mohammed VI, normalizaram-se as relações entre Espanha e Marrocos.

Dessa normalização resultou a possibilidade de Marrocos contratar fornecimento de GNL a ser gasificado em Espanha e posteriormente transportado pelo gasoduto Magrebe-Europa no sentido Espanha-Marrocos, invertendo o fluxo até agora observado neste gasoduto e reactivando assim as duas centrais marroquinas de ciclo combinado actualmente indisponíveis.

Marrocos irá lançar um concurso internacional para o fornecimento de GNL duarante 5 anos e irá construir duas instalações de gasificação de GNL em território marroquino, que provavelmente estarão prontas antes do fim  dos contratos de fornecimento de 5 anos acima referidos..

A Argélia viu este desenvolvimento com desagrado, declarando que nenhuma parte do gás argelino enviado para Espanha deveria ser vendida a Marrocos.

A propósito do Sara Ocidental consultei este artigo da Wikipédia onde referem a construção de um muro, aproveitando materiais do deserto e com minas, de mais de mil quilómetros, para evitar incursões da frente Polisário.

A Argélia fornece actualmente mais gás a Itália do que a Espanha. É provável que tal seja uma herança histórica do bom relacionamento que o engenheiro italiano Enrico Mattei (1906-1962) estabeleceu com alguns países fornecedores de petróleo, e das suas acções para quebrar o cartel das sete irmãs que existia em meados do século XX quando criou a ENI, tendo sido vítima mortal de uma bomba colocada no avião particular em que se deslocava.

O filme “O Caso Mattei”, filme de Francesco Rossi realizado em 1972, é um híbrido de documentário e ficção sobre a vida de Enrico Mattei, que tive a oportunidade de ver no mesmo ano em Paris.

 

Introdução do Gás Natural em Portugal


Fiz este post como complemento de um posterior em que o refiro, a propósito do gasoduto Magrebe-Europa.

A entrada em funcionamento da rede de gás natural em Portugal em Nov1996 baseou-se no fornecimento de gás da Argélia transportado pelos gasodutos representados na “Figura 4-4 Importação de gás natural a partir da Argélia” extraída do documento da ERSECaracterização do Sector do Gás Natural em Portugal.pdf - Edição de Jan/2007
 


Neste sítio da Galp referem 31 de Janeiro de 1997 como a data em que se concretiza a entrada de gás natural na fronteira Este portuguesa (Campo Maior).

A Espanha tinha em Huelva já em 1988 um terminal de gasificação de GNL(Gás Natural Liquefeito) . A capacidade deste terminal foi aumentando ao longo do tempo e esta instalação foi usada depois de 1997 para gasificar pequenas quantidades de GNL compradas no mercado spot por empresas portuguesas.

Com a entrada em serviço do terminal de gasificação de Sines no final de 2003 foi estabelecido um contrato de longo prazo de fornecimento de GNL da Nigéria e contratos com fornecedores de outros de países para estabelecer diversificação. O Sistema Nacional de Gás Natural ficou com o aspecto da Figura 7-1 extraída da “Caracterização do Sector do Gás Natural em Portugal.pdf - Edição de Jan/2007
 

Este sítio da REN tem um mapa actual.

Em Portugal passou-se da fase inicial em que o GN vinha exclusivamente pelo gasoduto Magrebe-Europa, entrando em Campo Maior, para uma percentagem dominante de GNL em 2020, como se constata no gráfico seguinte, com valores estatísticos da REN.
 

Depois de fazer este gráfico li noutra estatística que a percentagem de GNL em 2021 foi parecida à de 2020. As variações de consumo de GN ao longo do tempo correspondem a uma maior penetração desta fonte de energia mas também às grandes variações do regime hidrológico dos rios com centrais hidráulicas, em anos secos aumenta a energia eléctrica gerada por centrais de ciclo combinado, em anos húmidos diminui.

Desconheço as razões para a forte diminuição da importação via gasoduto a partir de 2017 pois dada a existência de uma rede de transporte de gás em Espanha e 6 terminais para esse efeito em Barcelona, Sagunto, Cartagena, Huelva, Mugardos e Bilbao, seria tecnicamente possível gasificar num desses 6 terminais transportando o gás depois para Portugal. Provavelmente sairá mais barato gasificar em Sines.

Constata-se assim que Portugal foi prudente em não ficar exclusivamente dependente durante muito tempo do gasoduto Magrebe-Europa, contribuindo contudo para a sua construção, como forma rápida e economicamente interessante de lançar o GN em Portugal.


2022-05-06

A cica, 9 anos depois

 

Esta cica já tinha uns anitos quando foi transplantada em 2013 de um vaso grande e pesado mas já quase integralmente preenchido pelas raízes para um pequeno canteiro-prado nos Olivais-Sul.

Hoje apreciei o claro-escuro dos reflexos do Sol já alto e das sombras da maior parte da planta

 


Num post de Jun/2020 mostro além da situação nessa altura mais duas  fotos da mesma cica, uma de 2015 e outra de 2013.



2022-05-03

Visita de Guterres à Rússia e Ucrânia

 

Como habitualmente, quando o secretário-geral da ONU faz qualquer coisa, têm aparecido numerosas críticas à demora e depois à realização desta visita de Guterres a Moscovo e a Kyiv, precedida de uma visita à Turquia.

Das diversas considerações que li e de que discordo alinhei uma pequena lista:

1) A ausência de cumprimentos e de sorrisos protocolares no início da reunião mostra a tensão entre Putin e Guterres, ainda bem que a relação entre os dois não suporta sequer cumprimentos protocolares.

2) Precisamente por terem tão pouco a dizer um ao outro a mesa da reunião acaba por mostrar a distância que, ainda bem, os separa.

3) Lembro-me de há anos, quando Guterres cumpriu dois mandatos como Alto Comissário nas Nacões Unidas para os Refugiados de 2005 a 2015, o ter visto vezes sem conta nos mais diversos sítios do planeta a informar-se, dialogar e intervir nas mais diversas situações. Dada a sua experiência nesse cargo é uma pessoa com muito maior capacidade para avaliar a utilidade de uma sua deslocação do que os comentadores de média portugueses. O mesmo se aplica à avaliação da ordem das visitas e interpretar a primeira visita como manifestação de amor a Moscovo parece-me completamente paroquial.

4) A intenção da visita foi explicada por Guterres, além do apelo à paz e ao cumprimento da Carta das Nações Unidas, limitava-se praticamente à evacuação de algumas pessoas de Mariupol e neste aspecto teve algum sucesso, algumas vidas foram salvas.

5) Além de referir que há militares russos na Ucrânia e não há militares ucranianos na Rússia, Guterres disse a Putin que o que ele chama "Operação Militar Especial" é realmente uma invasão. Guterres classificou de forma inequívoca as manobras militares da Rússia ao invadirem a Ucrânia no próprio dia (24Fev2022) como uma violação clara da Carta das Nações Unidas colocando-a assim no domínio da ilegalidade:
«We are seeing Russian military operations inside the sovereign territory of Ukraine on a scale that Europe has not seen in decades.
Day after day, I have been clear that such unilateral measures conflict directly with the United Nations Charter.
The Charter is clear: “All members shall refrain in their international relations from the threat or use of force against the territorial integrity or political independence of any state, or in any other manner inconsistent with the Purposes of the United Nations.”
».
Aliás esta intervenção condenatória do acto de agressão russo está na origem da afirmação tendenciosa de Serguey Lavrov que Guterres teria sucumbido às pressões do Ocidente.
Finalmente relembrou que o Conselho de Segurança das Nações Unidas tem falhado, não só ao não evitar esta guerra como a não ter conseguido ainda que parasse. Prevenir a guerra e estabelecer a paz é a função mais importante desse Conselho.


Faço notar aos mais distraídos que não existe um governo mundial nem um Chefe de Estado do planeta Terra, Guterres é o secretário-geral duma Organização de Nações Unidas e soberanas que foi, com os seus defeitos mas também com numerosas e muito úteis Agências Mundiais, o melhor que se conseguiu arranjar até agora.