Há muito tempo que ouço a direita clamar que a nossa carga fiscal é esmagadora, se bem que que seja público e notório que está abaixo da média da União Europeia em termos de percentagem do Produto Interno Bruto.
Quando se refere isso costumam contra-argumentar que sim, existem países com carga fiscal igual ou maior do que Portugal mas nesses casos os serviços públicos, como por exemplo educação e assistência na doença, são de primeira qualidade enquanto em Portugal são muito fracos.
Aí costumo dizer que se esses países, normalmente mais desenvolvidos do que Portugal, têm serviços públicos de melhor qualidade deve ser por terem maior produtividade, logo um PIB/per capita maior e com a mesma percentagem do PIB conseguem ter profissionais com melhor formação e comprar melhores equipamentos de suporte ao funcionamento dos serviços públicos.
Mais recentemente tem-se também falado na falta de crescimento da economia portuguesa, comparando-o com o dos os países de Leste que entraram depois de Portugal na União Europeia e têm crescido muito mais.
Aí costumo argumentar que tal se deve à enorme diferença da estrutura de preços entre os países dentro da UE e os novos entrantes. A economia de Portugal também cresceu muito quando entrámos na UE, em boa parte devido a uma maior homogeneização dos preços praticados em Portugal e no resto da UE.
Vi agora neste post "Os cinco erros da direita sobre o crescimento económico em Portugal" do Ricardo Pais Mamede uma argumentação nesta linha de raciocínio mais fundamentada e mais completa que recomendo.
Transcrevo o início:
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Os partidos de direita apresentam-se a estas eleições com um discurso simples sobre a economia portuguesa. Afirmam que Portugal tem tido um crescimento medíocre comparado com os países do Leste europeu, que eram pobres e hoje são mais ricos que nós. E que essa diferença se deve às políticas adoptadas: liberais naqueles países, “socialistas” aqui. Logo, segundo a direita, é preciso liberalizar, privatizar e desregulamentar para Portugal crescer.
Este discurso é simples e eficaz. É também errado, por cinco razões.
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As cinco razões:
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1. O desempenho das economias de Leste é menos diferente do português do que parece
2. Os países de Leste tinham condições para crescer que nada têm que ver com “medidas liberais”
3. A estagnação económica em Portugal nada tem a ver com a “falta de liberalismo”
4. Baixar os impostos e esperar que chova não nos vai salvar
5. Se a história nos ensina alguma coisa é que é preciso mais – e não menos – intervenção pública
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e o gráfico na argumentação do ponto 1:
4 comentários:
Caríssimo, muito obrigado pela lucidez da recolha e pela generosidade da partilha.
Os saudosistas do Vítor Gaspar e da avençada contam com o carneirismo da classe dos economistas. Felizmente que há alguns que pensam pela própria cabeça e têm opiniões próprias
Por acaso não concordo nem com o liberalismo da Direita nem com a Esquerda e a atual intervenção do estado na economia. A memória é curta e as coisas passam depressa.
A sociedade deve ser olhada como um todo. Ambos os sistemas têm as suas virtudes. Há vida para além da economia, mas não pudemos viver sem ela.
Há serviço públicos perfeitamente aceitáveis, não temos de ser os melhores do mundo! A Educação e a Saúde pode ser melhor mas, no atual contexto, não está tão mal como isso. Contudo o restante funcionalismo é escandaloso. Múltiplos exemplos com os quais lidei e vou lidando. Entram na função pública e dizem...isto é que é vida! A mesma vida que os agentes de saúde, professores, policia e mais alguns não têm. Apesar dos serviços serem essenciais, numa economia moderna, não são eles que alavancam a economia. A dita esquerda só pensa em dar, sem se preocupar com a produtividade nem com a economia. A China não é Comunista mas sim FASCISTA. Não queremos voltar ao fascismo! Deixemos esse exemplo, por vezes evocado.
Por sua vez, uma boa parte da Direita quer o Liberalismo, para que os menos aptos sejam engolidos pelos supostamente mais aptos ou mais "espertos".
Quanto a vigarice em proveito próprio é igual seja esquerda ou direita. Os exemplos vivos são mais que muitos.
Onde se produz a riqueza? nos serviços, na agricultura, industria, pecuária, etc. ou nos serviços? Que têm feito os governos mais recentes em prol da indústria, e outros setores produtivos?
A energia e gás natural aumentou cerca de 400%, os impostos e taxas são descomunais, em face da nossa economia, não há onde recrutar pessoal e os salários são insuficientes para fazer face às despesas da quotidiano. Fácil aumente-se os salários... Evidente! Ótimo se poder aumentar os preços de venda.
Se essa esquerda, do caviar, convencer os mercados a subir os preços o assunto está resolvido. Mas o nosso mercado está limitado pela concorrência internacional e nas exportações os preços também estão condicionados ao mercado. Não é como as águas e a EDP que sobe os preços e os outros que se virem.
A indústria e outras atividade têm os preços limitados pelo mercado com custos que lhe entram pela porta e não podem fazer outra coisa senão aceitar. Onde podem ter alguma liberdade para intervir, na produtividade e nos salários. Se há alguns setores que resistem porque vivem do mercado interno, como a construção civil, quem tem de competir está em muitos casos a caminho da insolvência...pode ser que depois o turismo e a restauração salvem este país.
Esqueçam esses anormais da Indústria, das pescas, da pecuária, etc. exploradores da classe operária. Esqueçam pois esses também podem emigrar. A tal Esquerda que despreza quem investe e corre riscos, que só se preocupa em dar que salve esta país com os Serviços.
Não falemos da justiça senão tenho escrever um livro.
Estamos na cauda da Europa só por um motivo, uma sucessão de governos incapazes, com gente incompetente, que nunca nada fez na vida a não ser trabalhar para o Estado e viver à custa dos partidos e das suas falcatruas quer sejam de Direita ou de Esquerda. Faltam políticos sérios, competentes e exigentes, é apenas essa a razão do nosso atraso.
Uma curiosidade. Durante o período 1973-2000, o único país da Europa Ocidental cujo crescimento médio do PIB per capita foi superior ao de Portugal foi a Noruega (graças ao petróleo?)... inclui os 10 anos antes da entrada na CEE (incluindo o PREC) e os 15 anos seguintes aqui referidos. Retirado de "The European Economy since 1945" de Barry Eichengreen (página 17).
O que se diz acerca do PIB nacional entre 1973-2000 é pura verdade mas há que saber se essa comparação foi descontada a inflação no mesmo período. Nos anos 80 e parte de 90 tínhamos uma inflação brutal. Cheguei a pagar juros à Banca de quase 40% com letras reformadas.
Por outro lado, a economia cresceu bastante à custa dos dinheiros comunitários. Chegou a entrar cerca de um milhão de contos (não é de euros) por dia que o governo de Cavaco Silva derreteu com os amigos e a investir na Banca na linha financeira de Tatcher (o sua ideóloga, que destrui grande parte da indústria inglesa). Pagou-se paga não agricultar e arrancar vinhas, como sucedeu com meu falecido pai. Recebeu para não produzir.
O dinheiro que entrou se tivesse sido bem gerido as autoestradas deviam ser todas gratuitas, mas estamos a pagá-las! O PEDIP I foi um descalabro de desvio de fundos para falsas formações, carros e casas particulares. Foi um escândalo!
O crescimento do PIB não pode ser analisado friamente, sem atender ao contexto desses anos.
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