Depois da chegada da marinha chinesa a Madagascar no início do século XV numa armada de dimensão nunca vista, comandada pelo almirante Zheng He, no regresso à China, em face dos quase nulos proveitos da expedição e à sua enorme despesa, o imperador decidiu desmantelar a armada e concentrar-se exclusivamente no território chinês.
Aprendi isto, com mais algum pormenor, no interessantíssimo livro de Daniel J.Boorstin, publicado em inglês em 1983 com o título “The Discoverers” que a Gradiva traduziu ingenuamente como “Os Descobridores” na sua 1ª edição em português no ano de 1987, não imaginando as críticas que surgiriam em Portugal no ano 2018 às palavras “Descobertas” e “Descobrimentos”, a propósito da eventual criação dum museu em Portugal focado nesses temas.
Costuma existir alguma tensão entre concentrar esforços para melhorar directamente a sociedade em que nascemos ou ir buscar essas melhorias noutras paragens, ficando por lá nas emigrações definitivas ou regressando eventualmente com novas ideias e novas riquezas.
No caso da China, a opção por concentrar esforços no século XV na frente “interna” (uso aspas pois esta frente interna seria equivalente a toda a Europa) abandonando o comércio marítimo parece-me razoável, dada a grande dimensão da sociedade chinesa nessa época e correspondente auto suficiência.
Por volta de 1500 viveriam na China 100 milhões de pessoas enquanto a Europa (do Atlântico aos Urais) dessa época teria 90 milhões de habitantes.
A China fez o “outsourcing” dos contactos com o exterior por via marítima aos Portugueses entretanto estabelecidos em Macau mas perdeu as revoluções científica, industrial e militar que entretanto se desenrolaram na Europa culminando na vergonhosa guerra do ópio, em 1840, onde os narcotraficantes ingleses castigaram as autoridades chinesas pela destruição que tinham feito dos armazéns de ópio onde os ingleses guardavam esta mercadoria para venda aos viciados chineses.
Era o tempo da “política da canhoneira”em que o Reino Unido e outras potências ocidentais faziam prevalecer os seus interesses através do envio de navios armados com canhões para ameaçar e eventualmente bombardear o território do país ameaçado. Segundo Boorstin os portugueses, possuidores de barcos com armamento superior quando chegaram à Índia, trataram de afundar boa parte dos navios que aí se dedicavam ao comércio, dando assim origem no título de D.Manuel de “Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África”, ao acrescento “Senhor do Comércio, da Conquista e da Navegação da Arábia, Pérsia e Índia”.
Trata-se da “projecção do poderio militar por via marítima”, uma característica essencial das talassocracias como a inglesa e a americana. Tendo andado distraído sobre a evolução da marinha de guerra só recentemente me apercebi que aqueles navios com canhões enormes chamados Couraçados em português e Battleships em inglês passaram à História no decurso da 2ª Grande Guerra em que ainda foram usados mas em que os porta-aviões os foram substituindo como actores principais das operações. Mostro a seguir uma imagem do couraçado USS Iowa, demonstrando o seu poder de fogo na década de 1980, conforme diz no artigo da Wikipédia sobre Couraçado
Consultando a Wikipédia constata-se que são poucos os países que actualmente têm porta-aviões em serviço. São por ordem alfabética China, Espanha, Estados Unidos da América, França, Índia, Itália, Reino Unido e Rússia. Os E.U.A têm actualmente 11 porta-aviões tendo assim mais navios deste tipo do que todos os outros países juntos pois os restantes países da lista acima têm apenas 1 porta-aviões cada um, à excepção da Itália que tem 2. Além disso todos os porta-aviões dos E.U.A. usam um reactor nuclear como fonte de energia, o que lhes dá muito maior independência do que os dependentes de combustíveis fósseis. Dos 8 porta-aviões na posse de outros países que não os E.U.A. apenas o francês usa um reactor nuclear, todos os outros estão dependentes de petróleo.
Fazendo actualmente comércio por via marítima com todo o mundo parece assim natural que a China aspire a uma presença armada no mar. O Liaoning na foto em baixo é o primeiro porta-aviões chinês
O casco é dum porta-aviões russo comprado por um milionário chinês, alegadamente para fazer um casino, mas entretanto foi cedido ao estado chinês que o preparou para porta-aviões. Entretanto estão em construção mais 2 porta-aviões pela China, desta vez de raiz.
Neste artigo do New York Times de 29/Ago/2018 afirmam que a marinha chinesa está pronta para desafiar a marinha dos E.U.A. no Oceano Pacífico. Ou pelo menos na vizinhança da costa chinesa.
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