O conceito de "país" tem muitas nuances, como se pode verificar consultando "País" na Wikipedia e depois a sua versão em inglês a que corresponde a palavra "Country". Será na maior parte das vezes uma região geográfica a que corresponde um estado soberano. Existem actualmente
193 Estados-membros das Nações Unidas, entidades a que também poderá ser associado o conceito de país, englobando a população e respectiva cultura.
Embora "país" seja um conceito útil tem grandes limitações. Falar por exemplo de Portugal e da China quando são habitados respectivamente por 10 e 1400 milhões de habitantes (
dados de worldometers em 27/Dez/2018) é usar uma mesma categoria para realidades de uma natureza diferente. Neste caso, como com a União Indiana, existe uma diferença de 2 ordens de grandeza (mais de 100 vezes maior). Os EUA (Estados Unidos da América), com uma população 30 vezes maior, são mais de uma ordem de grandeza maiores do que Portugal no que diz respeito também à população.
Neste sentido, a China compara-se melhor com a União Europeia do que com cada um dos países da Europa tomados por si. Por exemplo noutro dia assisti a um colóquio sobre a penetração de automóveis
eléctricos nas várias regiões do mundo e nessa estatística aparecia a
China, os EUA, e os vários países europeus em separado. Nessa altura
pensei que para as comparações fazerem mais sentido seria melhor ter
agregado os valores dos países da União Europeia.
Há muitos anos tive a ilusão que a na disciplina de História do ensino secundário se deveria dar igual relevo à história de todos os continentes. Agora, com melhor noção da dimensão da minha ignorância, vejo que não é razoável tentar descrever no ensino secundário em Portugal (ou noutro país) uma História verdadeiramente Mundial (o uso de "Universal" é ridiculamente exagerado). O grau de detalhe da História em cada país deve ter um grau de detalhe que se vai desvanecendo à medida que a interacção com comunidades distantes se torna mais fraca.
Mas dado que a nossa interacção com a China tem aumentado nos últimos anos, como resultado do desenvolvimento industrial a um ritmo sem precedentes que lá se tem verificado nas últimas décadas, pensei mostrar aqui alguns mapas políticos da muito longa história chinesa.
Desdobrei este
ficheiro .gif da Wikipedia com uma animação das áreas geográficas ocupadas por várias
dinastias
chinesas
By
Pojanji,
CC BY-SA 3.0,
Link
numa sequência das imagens que o compõem, em que as transições são feitas pelo leitor em
vez da cadência excessivamente rápida (para mim) do ficheiro .gif.
Trata-se
de "instantâneos" de situações históricas, e é claro que as fronteiras
que se apresentam são objecto de contestação, designadamente pelos
países vizinhos, algumas delas constando da discussão na Wikipédia.
Mas dá uma primeira ideia da duração e da complexidade do que por lá se passou nos últimos 3000 anos. As datas BCE e CE equivalem respectivamente a AC e DC (Antes e Depois de Cristo).
O Zh lê-se como o "j" em "jeans" em inglês, género Djins
O Q lê-se como Tch
Segue a sequência de imagens dos mapas históricos, cada um é precedido dum título e por vezes dum pequeno comentário, os mais recentes um pouco maiores
Dinastia Zhou em 1000 AC, por vezes considerado o primeiro império chinês
Os Estados Combatentes em 350 AC, dois mapas porque as legendas dos Estados não cabiam num único
Dinastia Qing em 210 AC,
outras vezes o primeiro império é considerado este (em vez da dinastia Zhou), por o soberano que fundou esta dinastia,
Qin Shi Huang (18 Fevereiro 259 AC – 10 Setembro 210 AC), se ter intitulado imperador ( (
皇帝 huángdì), o que fez em 221AC quando o reino Qin completou a conquista de todos os Estados Combatentes. Foi este imperador que ordenou a construção do recentemente descoberto Exército de Guerreiros de Terracota e respectivo mausoléu nos arredores da cidade de Xian, então capital do império. Foi sucedido pelo filho que não conseguiu manter a unidade do império, foi assim uma dinastia muito breve.
Por esta altura Roma era uma República, o Mediterrâneo estava longe de ser o "Mare Nostrum" e a Pax Romana era considerada provavelmente uma utopia inatingível dado que as guerras se sucediam umas atrás das outras. Para refinar o eurocentrismo do parágrafo anterior passemos a uma visão Bombarralcentrica, talvez o Jardim da Paz na Quinta dos Loridos no concelho do Bombarral, criado pelo comendador Joe Berardo, existisse independentemente do reinado do imperador Qin Shin Huang, mas não seria a mesma coisa pois entre as numerosas esculturas de tradição asiática que o animam não estariam as reproduções polícromas dos guerreiros de terracota descobertos em Xian!
Dinastia Han em 100 AC, contactos ténues com o Império Romano,versão da Wikipédia
em português e
em inglês
Três Reinos em 262 DC,
"o que esteve muito tempo unido deve-se separar, o que esteve muito tempo separado deve-se unir", é um ditado que ouvi, alegadamente chinês
376 DC
560 DC (por esta altura já caíra o Império Romano do Ocidente)
Dinastia Sui em 581 DC, regresso à união como aconselha o ditado
Dinastia Tang em 700 DC, (618-907) onde se fez impressão em série usando blocos de madeira, onde se usou pela primeira vez papel moeda na forma de cartas de crédito, onde se reavivou a estrada da seda, que foi travada na sua expansão para o ocidente na
batalha de Talas em 751, vencida pelo Califado dos Abássidas
923 DC, outra separação
1141 DC, mesmo dividida em 3 reinos cada um deles tinha dimensão maior do que qualquer estado europeu, para não falar do recém criado Portugal, a
dinastia Song durou de 960 a 1279, onde se imprimiram notas-papel moeda pela primeira vez
Dinastia Yuan em 1294, (1279-1368) resultante da invasão Mongol, foi proclamada por Kublai Khan, neto de Gengis Khan, em 1271 que concluiu a conquista dos territórios em 1279. Capital em Beijing.
Dinastia Ming em 1410,
(1368-1644), fundada pelo imperador
Hongwu (reinou 1368-1398) fez muitas reformas, governou pelo medo, capital em Nanjing, foi sucedido por neto que reinou 4 anos sendo deposto pelo tio
Yongle (reinou 1402-1424) que também tinha mau feitio mudou capital para Beijing onde construiu o Palácio Imperial, a Cidade Proibida, usada pelos imperadores subsequentes das dinastias Ming e Qing. Foi neste reinado que o almirante Zheng He iniciou as sete expedições, numa das quais terá navegado até Madagascar. O 4º imperador parou as expedições por serem muito dispendiosas. Alguns imperadores que se seguiram destruiram informação colectada por Zheng He nessas expedições.
Foi durante esta dinastia, em 1513, que
Jorge Álvares chegou à foz do rio das Pérolas na China, sendo o primeiro europeu a fazer esta viagem por mar. Em 1554 foi assinado um
Acordo de Comércio Luso-Chinês entre Portugal e as autoridades de Guangzhou (Cantão), abrindo caminho para o estabelecimento de Macau 3 anos depois. Em 1550 tinham sido fechados todos os portos chineses ao comércio com o exterior.
Dinastia Qing em 1892, (1636-1912) fundada pelo manchu Aisin Gioro nela se destacaram também o
imperador Kangxi que reinou durante 61 anos (1661-1722) e o seu neto
imperador Qianglong que reinou de 1735 a 1796. Segundo a Wikipédia neste reino atingiu-se o pico desta dinastia seguindo-se a fase de declínio designadamente com a derrota na guerra do ópio em 1840, as concessões territoriais às potências ocidentais e a implantação da República em 1912. Referi no post "
A imperatriz Viúva" um livro sobre o fim desta dinastia.
Present (2016)
Qualquer consulta a mais mapas históricos da China revelará muito maior complexidade do que estes singelos 16 mapas. E nas transições entre cada um deles derramou-se muito sangue e desenrolaram-se muitas tragédias. O conjunto de textos que acompanham estes mapas, se bem que curtos ficaram mais longos do que eu inicialmente planeara. Nesta última imagem constata-se que Taiwan ainda não se reuniu com a República Popular da China.