Acabei de ler o livro “O Budismo Tem Razão” do psicólogo Robert Wright.
Foi o primeiro livro que li abordando o budismo de forma explícita, há muitos anos lera o Siddhartha do Herman Hesse, uma espécie de romance ou um romance que o autor classifica como uma espécie de poema. Verifiquei agora que em 2002 ou pouco depois reli este livro (edição vendida com o jornal Público), voltei a não gostar, a impressão que me ficou é que contém uns personagens que aceitam tudo o que os outros seres humanos fazem, achei que aceitavam em demasia.
Como habitualmente trata assuntos que me interessaram e outros que não mas globalmente gostei bastante do livro, que me ajudou a compreender um pouco melhor no que consiste o Nirvana.
Sob um ponto de vista prático constato que o autor é bastante mais ansioso que eu em relação a comportamentos mais ou menos irritantes das outras pessoas.
Em contrapartida parece ser capaz de aceder à meditação mais facilmente, não pensar em nada aborrece-me, o mais parecido que tenho com isso é fazer uma paciência do Freecell, um problema fácil de Sudoku ou um puzzle com umas 100 ou 200 peças, embora tenha em casa uns com desenhos do Mordillo com 1000 peças que costumávamos resolver em família, as pessoas iam passando e cada um colocava as peças cujo lugar encontrava.
O livro não trata de aspectos místicos do budismo, como por exemplo da reencarnação, em que é difícil encontrar provas, mas dedica bastante argumentação à presença do sofrimento na existência humana e às formas de o superar.
O autor é um estudioso da Psicologia Evolutiva, um ramo da Psicologia que tenta explicar os mecanismos psicológicos de funcionamento da mente humana como aqueles que são mais vantajosos para a perpetuação da espécie.
Por exemplo a transitoriedade da sensação de felicidade quando se atinge um objectivo desejado favorece a procura de objectivos mais ambiciosos, melhorando a performance da espécie humana à custa duma insatisfação mais frequente.
A nossa percepção da realidade é também mediada pelo cérebro. Para muitas situações a sobrevivência própria é favorecida pela consideração que a própria sobrevivência é mais importante do que a dos outros seres humanos. O que leva à situação absurda de todos os elementos de um dado conjunto considerarem que a sua sobrevivência é mais importante do que a dos outros, situação que é logicamente impossível.
Uma variante económica deste absurdo foi incorrida pelo Dr.Durão Barroso quando minimizou o problema da Alemanha estar a violar as regras da União Europeia ao ter um superavit comercial permanente superior ao limite estabelecido, alegando que todos os problemas fossem como esse, admitindo implicitamente que poderia existir um mundo em que todos os países tivessem um superavit comercial.
O que quer dizer que por vezes a nossa mente favorece crenças diferentes da verdade sacrificando esta à perpetuação da espécie. Contudo, comportamentos que mostraram a sua eficácia em tempos passados poderão ser prejudiciais nas condições actuais, mesmo tendo apenas em vista a perpetuação da espécie.
Surpreendeu-me a tese defendida pelo Buda que o “Eu” não existe, se bem que aceite com facilidade que a nossa identidade é um conceito muito mais fluido do que parece à primeira vista.
Relacionado com este conceito do “Eu” estão também os mecanismos de “Preservação da essência”, método usado pelo nosso cérebro para simplificar uma realidade que acaba por não existir, como a atribuição enviesada de características estáveis ao comportamento de pessoas, fundamentando assim a reprovação de penas perpétuas.
O autor manifesta a opinião que muitas das descobertas da Psicologia Evolutiva na sua forma actual já tinham sido descobertas pelos budistas, donde o título do livro “O Budismo Tem Razão”.
Deixo uma foto de 2014 do Grande Buda de Kamakura, no Japão, de que talvez venha a falar num próximo post,
e uma imagem das ofertas de frutos e flores em frente da estátua
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