2018-12-29

Dinastias na China


O conceito de "país" tem muitas nuances, como se pode verificar consultando "País" na Wikipedia e depois a sua versão em inglês a que corresponde a palavra "Country". Será na maior parte das vezes uma região geográfica a que corresponde um estado soberano. Existem actualmente 193 Estados-membros das Nações Unidas, entidades a que também poderá ser associado o conceito de país, englobando a população e respectiva cultura.

Embora "país" seja um conceito útil tem grandes limitações. Falar por exemplo de Portugal e da China quando são habitados respectivamente por 10 e 1400 milhões de habitantes (dados de worldometers em 27/Dez/2018) é usar uma mesma categoria para realidades de uma natureza diferente. Neste caso, como com a União Indiana, existe uma diferença de  2 ordens de grandeza (mais de 100 vezes maior). Os EUA (Estados Unidos da América), com uma população 30 vezes maior, são mais de uma ordem de grandeza maiores do que Portugal no que diz respeito também à população.

Neste sentido, a China compara-se melhor com a União Europeia do que com cada um dos países da Europa tomados  por si. Por exemplo noutro dia assisti a um colóquio sobre a penetração de automóveis eléctricos nas várias regiões  do mundo e nessa estatística aparecia a China, os EUA, e os vários países europeus em separado. Nessa altura pensei que para as comparações fazerem mais sentido seria melhor ter agregado os valores dos países da União Europeia.

Há muitos anos tive a ilusão que a na disciplina de História do ensino secundário se deveria dar igual relevo à história de todos os continentes. Agora, com melhor noção da dimensão da minha ignorância, vejo que não é razoável tentar descrever no ensino secundário em Portugal (ou noutro país) uma História verdadeiramente Mundial (o uso de "Universal" é ridiculamente exagerado). O grau de detalhe da História em cada país deve ter um grau de detalhe que se vai desvanecendo à medida que a interacção com comunidades distantes se torna  mais fraca.


Mas dado que a nossa interacção com a China tem aumentado nos últimos anos, como resultado do desenvolvimento industrial a um ritmo sem precedentes que lá se tem verificado nas últimas décadas, pensei mostrar aqui alguns mapas políticos da muito longa história chinesa.

Desdobrei este ficheiro .gif da Wikipedia com uma animação das áreas geográficas ocupadas por várias dinastias chinesas


Territories of Dynasties in China.gif
By Pojanji, CC BY-SA 3.0, Link

numa sequência das imagens que o compõem, em que as transições são feitas pelo leitor em vez da cadência excessivamente rápida (para mim) do ficheiro .gif.

Trata-se de "instantâneos" de situações históricas, e é claro que as fronteiras que se apresentam são objecto de contestação, designadamente pelos países vizinhos, algumas delas constando da discussão na Wikipédia. Mas dá uma primeira ideia da duração e da complexidade do que por lá se passou nos últimos 3000 anos. As datas BCE e CE equivalem respectivamente a AC e DC (Antes e Depois de Cristo).

O Zh lê-se como o "j" em "jeans" em inglês, género Djins
O Q lê-se como Tch

Segue a sequência de imagens dos mapas históricos, cada um é precedido dum título e por vezes dum pequeno comentário, os mais recentes um pouco maiores

Dinastia Zhou em 1000 AC, por vezes considerado o primeiro império chinês


Os Estados Combatentes em 350 AC, dois mapas porque as legendas dos Estados não cabiam num único



Dinastia Qing em 210 AC,
 outras vezes o primeiro império é considerado este (em vez da dinastia Zhou), por o soberano que fundou esta dinastia, Qin Shi Huang (18 Fevereiro 259 AC – 10 Setembro 210 AC), se ter intitulado imperador ( (皇帝 About this soundhuángdì), o que fez em 221AC quando o reino Qin completou a conquista de todos os Estados Combatentes. Foi este imperador que ordenou a construção do recentemente descoberto Exército de Guerreiros de Terracota  e respectivo mausoléu nos arredores da cidade de Xian, então capital do império. Foi sucedido pelo filho que não conseguiu manter a unidade do império, foi assim uma dinastia muito breve.
Por esta altura Roma era uma República, o Mediterrâneo estava longe de ser o "Mare Nostrum" e a Pax Romana era considerada provavelmente uma utopia inatingível dado que as guerras se sucediam umas atrás das outras. Para refinar o eurocentrismo do parágrafo anterior passemos a uma visão Bombarralcentrica, talvez o Jardim da Paz na Quinta dos Loridos no concelho do Bombarral, criado pelo comendador Joe Berardo, existisse independentemente do reinado do imperador Qin Shin Huang, mas não seria a mesma coisa pois entre as numerosas esculturas de tradição asiática que o animam não estariam as reproduções polícromas dos guerreiros de terracota descobertos em Xian!


Dinastia Han em 100 AC, contactos ténues com o Império Romano,versão da Wikipédia em portuguêsem inglês


Três Reinos em 262 DC,
"o que esteve muito tempo unido deve-se separar, o que esteve muito tempo separado deve-se unir", é um ditado que ouvi, alegadamente chinês


376 DC

560 DC (por esta altura já caíra o Império Romano do Ocidente)


Dinastia Sui em 581 DC, regresso à união como aconselha o ditado



Dinastia Tang em 700 DC, (618-907) onde se fez impressão em série usando blocos de madeira, onde se usou pela primeira vez papel moeda na forma de cartas de crédito, onde se reavivou a estrada da seda, que foi travada na sua expansão para o ocidente na batalha de Talas em 751, vencida pelo Califado dos Abássidas


923 DC, outra separação

1141 DC, mesmo dividida em 3 reinos cada um deles tinha dimensão maior do que qualquer estado europeu, para não falar do recém criado Portugal, a dinastia Song durou de 960 a 1279, onde se imprimiram notas-papel moeda pela primeira vez


Dinastia Yuan em 1294, (1279-1368) resultante da invasão Mongol, foi proclamada por Kublai Khan, neto de Gengis Khan, em 1271 que concluiu a conquista dos territórios em 1279. Capital em Beijing.



Dinastia Ming em 1410, (1368-1644), fundada pelo imperador Hongwu (reinou 1368-1398) fez muitas reformas, governou pelo medo, capital em Nanjing, foi sucedido por neto que reinou 4 anos sendo deposto pelo tio Yongle (reinou 1402-1424) que também tinha mau feitio mudou capital para Beijing onde construiu o Palácio Imperial, a Cidade Proibida, usada pelos imperadores subsequentes das dinastias Ming e Qing. Foi neste reinado que o almirante Zheng He iniciou as sete expedições, numa das quais terá navegado até Madagascar. O 4º imperador parou as expedições por serem muito dispendiosas. Alguns imperadores que se seguiram destruiram informação colectada por Zheng He nessas expedições.
Foi durante esta dinastia, em 1513, que Jorge Álvares chegou à foz do rio das Pérolas na China, sendo o primeiro europeu a fazer esta viagem por mar. Em 1554 foi assinado um Acordo de Comércio Luso-Chinês entre Portugal e as autoridades de Guangzhou (Cantão), abrindo caminho para o estabelecimento de Macau 3 anos depois. Em 1550 tinham sido fechados todos os portos chineses ao comércio com o exterior.


Dinastia Qing em 1892, (1636-1912) fundada pelo manchu Aisin Gioro nela se destacaram também o imperador Kangxi que reinou durante 61 anos (1661-1722) e o seu neto imperador Qianglong que reinou de 1735 a 1796. Segundo a Wikipédia neste reino atingiu-se o pico desta dinastia seguindo-se a fase de declínio designadamente com a derrota na guerra do ópio em 1840, as concessões territoriais às potências ocidentais e a implantação da República em 1912. Referi no post "A imperatriz Viúva" um livro sobre o fim desta dinastia.

Present (2016)
Qualquer consulta a mais mapas históricos da China revelará muito maior complexidade do que estes singelos 16 mapas. E nas transições entre cada um deles derramou-se muito sangue e desenrolaram-se muitas tragédias. O conjunto de textos que acompanham estes mapas, se bem que curtos ficaram mais longos do que eu inicialmente planeara. Nesta última imagem constata-se que Taiwan ainda não se reuniu com a República Popular da China.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Amarante :

Vejo que continuas muito interessado no extremo-oriente, principalmente na China.
Para mim, há algo de misterioso em tudo o que respeita a esta parte do mundo, aos povos, nações que nela vivem.
Espanta-me a sua capacidade de trabalho e de sofrimento, a sua predisposição para
suportar sacrifícios em nome do seu país, mesmo quando o Poder estabelecido trata o Povo com extrema dureza, não lhe permitindo, no plano político, nenhum tipo de veleidade democrático-liberal. Sentem todos exacerbado orgulho na sua identidade cultural, o que é positivo, desde que não desenvolvam - em paralelo - nenhum tipo do ódio ou rejeição pelos outros povos.
Só o tempo nos dirá em que sentido irão evoluir.
Na China vigora um absurdo político-económico, que é querer ter, em simultâneo , liberdade económica, para investir e desenvolver o país e, ao mesmo tempo, conservar o poder político nas mãos do PCC. Mais tarde ou mais cedo isto explodirá. A malga de arroz para todos não contentará eternamente as populações. Virá o dia em que também exigirão liberdade. E então veremos se continuarão a lidar com o problema da mesma forma brutal como o fizeram em 1989, na Praça Tien-a-Men. Tenho dificuldade em entender a mentalidade oriental, e, a chinesa, em particular, mais que todas as dos demais países do Oriente.
Abraço,
António Blanco_18Jan2019