2014-12-31

Boa Passagem


No Japão gostam imenso de portões, assinalando que se está a passar duma área para outra. É portanto uma boa metáfora para a passagem de um ano para o seguinte.

Proponho assim este portão do palácio Imperial de Kyoto, para comemorar a passagem hoje à meia-noite para um novo ano, que faço votos para que seja melhor do que o que passou.



A grande quantidade de símbolos imperiais, a flor estilizada de 16 pétalas referida aqui, não deixa qualquer margem para dúvida que este portão tem a ver com o imperador do Japão.

Mostro a seguir o mesmo portão mas em maior detalhe



destacando a seguir um dos grous e uma borboleta azul



e finalizando com um dragão e um tigre.



Boa passagem de ano!




2014-12-29

Prisão preventiva


Gostei muito do texto do Miguel Sousa Tavares no jornal Expresso de 27/Dezembro com o título “A prisão e o poder”, a propósito das prisões preventivas decretadas pelo tão famoso juiz Carlos Alexandre no processo em que José Sócrates é um dos arguidos.

Passo a transcrever uma parte próxima do princípio, embora o artigo mereça uma leitura completa:

“… Não quer dizer que me oponha à prisão preventiva ou que não entenda a sua necessidade e fundamento em determinadas situações, apenas que não abdico da exigência de que ela seja absolutamente excepcional e fundamentada. Na minha maneira de ver, a prisão preventiva serve, nomeadamente, para que um marido que já agrediu a mulher e prometeu matá-la, não fique em liberdade para cumprir a promessa, como várias vezes vimos suceder. Mas não pode servir, por exemplo, para facilitar a investigação ou pressionar os presos preventivos a confessarem o que se pretende, desse modo dispensando a investigação de mais trabalhos e canseiras. ...”

Quando leio textos nos jornais sobre assuntos em que sou especialista assusto-me por vezes com os erros clamorosos que são publicados, compreendendo que as instituições da justiça receiem as distorções que os intermediários poderão fazer ao seu discurso.

Porém agora existe a internet e os tribunais podiam e deviam publicar comunicados para que o cidadão comum compreendesse, nos casos de interesse público mais geral, as razões de absurdos aparentes que ocorrem com excessiva frequência, como por exemplo quando a ex-ministra Leonor Beleza foi acusada de ter tentado com dolo prejudicar os doentes hemofílicos.

Este comportamento da Justiça (das suas instituições), em que implicitamente nos diz “confia em mim”, e os julgamentos que terminam tantas vezes em absolvições ou em prescrições, como tão recentemente no caso dos submarinos, leva-me actualmente a duvidar da capacidade da Justiça em provar, num número excessivo de processos, a existência de crimes, recorrendo assim à prisão preventiva, ou a acusações absurdas como no caso dos hemofílicos, como uma forma de punir pessoas de quem desconfia, mas que se sente incapaz de condenar de acordo com procedimentos rigorosos.

Gosto de acompanhar os textos deste blogue de imagens, ou as imagens com textos, neste caso foi um pouco mais difícil. Depois ocorreu-me o Palácio Imperial em Kyoto (será que com a introdução do k, y e w esta grafia passou a ser adequada?) que em certa medida é uma das “prisões” da família imperial japonesa, que tem contudo jardins lindíssimos. Na imagem mostro o pátio, fechado por muitas portas, onde por vezes o imperador preside a cerimónias,

no topo da escadaria que se vê ao fundo, naquele pavilhão com um telhado enorme.

Na imagem seguinte que fui buscar ao Google vê-se que a área rectangular do palácio imperial (dimensões cerca de 700 x 1300 metros) difere muito da área urbana que a rodeia.


O alinhamento rigoroso de um dos lados do rectângulo com a direcção Norte-Sul é um indício muito forte de que, quando a área do palácio foi delimitada, os japoneses determinavam com grande rigor as direcções dos pontos cardeais.

Parece-me um indício quase tão plausível como a prisão preventiva do motorista de José Sócrates ter sido usada como forma de pressão para obter declarações. O próprio professor Marcelo referiu essa possibilidade no seu comentário televisivo de 21/Dezembro, usando a figura de estilo que “isso não lhe passava pela cabeça”.

2014-12-22

Postal de Boas-Festas e Maternidade (chinesa)



A civilização ocidental tem uma relação muito forte com as artes plásticas em geral e com a pintura em especial. Quer a igreja, quase único cliente dos artistas durante séculos, quer depois as classes abastadas, quer finalmente a classe média através dos museus, tem assegurado uma procura sustentada, que será de menor dimensão em muitas outras culturas.

Nas religiões monoteístas a presença de representações de figuras humanas dentro de templos tem encontrado fortes resistências, por exemplo no Islão, que se dedicou a figuras  geométricas e/ou  do reino vegetal e também na cristandade, onde ocorreram os movimentos iconoclastas antes do ano mil e as críticas de diversas igrejas protestantes desde a Reforma.

Contra esta tendência tem a Igreja Católica mantido uma grande abertura à presença de estátuas e de quadros dentro de locais de oração, considerando que, desde que obedeçam a algumas regras, são uma forma de ajudar os crentes que contemplam as figuras a rezar.

Quando a igreja sai da Europa encontra convenções visuais diferentes das europeias e torna-se necessário um trabalho de adaptação, para que o crente não seja distraído na oração por elementos exóticos para a sua cultura.

Achei por isso muito interessante este “achinesamento” da Maria mãe de Jesus mais o seu filho enquanto menino, conforme se constata na figura a seguir, transmitindo a ideia que a realidade histórica de Maria e Jesus como membros do povo judaico não é essencial, eles podem ser representados como membros de qualquer povo pois todos os povos são bem vindos à religião cristã.


Já a tendência para a representação da mãe de Jesus como uma rainha, ou neste caso como uma imperatriz me parece mais questionável. Tenho a noção que o amarelo/dourado era uma cor reservada para uso do imperador da China na dinastia Qing (Manchu) bem como reservada era a figura do dragão decorando o tecido. Maria está sentada no que parece um trono imperial. Esta representação pode ser criticada partindo da frase de Jesus: “a César o que é de César, a Deus o que é de Deus”, separando assim a hierarquia religiosa da hierarquia do Estado. No entanto, agora que já não existe imperador na China, a representação pode ser interpretada simplesmente como a atribuição de importância a Maria e a Jesus.

Não me lembro de ver um menino Jesus com chapéu, nem tão pouco Maria, que costuma ter apenas um véu a cobrir a cabeça. Acho graça à transparência das auréolas.

Esta imagem apareceu-me num postal de Boas-Festas que me enviaram este ano, possivelmente um sinal da importância que os negócios com a China estão a assumir em Portugal. Com a ajuda do Google images localizei esta imagem de melhor qualidade do que a que me enviaram aqui.

O autor da pintura é Chu Kar Kui, um chinês de Hong-Kong.

A imagem apareceu-me também neste sítio, com uma descrição das dificuldades da introdução do cristianismo na China.

A Wikipédia tem uma entrada sobre a Controvérsia dos ritos na China.

Nestes posts deste blogue mostrei variações das representações de Cristo na cruz.

Aproveito a oportunidade para desejar Boas Festas e um Feliz Ano de 2015 aos leitores deste blogue.

2014-12-20

Localização insensata


É insensato colocar uma placa anunciando o que quer que seja mesmo em frente de uma passagem de peões. Os peões devem estar concentrados no trânsito antes e quando atravessam e não devem ser distraídos por cartazes publicitários!

Figura mostra o cartaz estrategicamente colocado na Rua Cidade de Bissau, nos Olivais Sul.



2014-12-15

Final do Outono


Este Outono tem sido mais chuvoso do que a média, os relvados dos Olivais Sul estão muito verdejantes. As árvores do bairro lá vão deixando cair as folhas com grande vagar e os choupos estão finalmente a ficar predominantemente amarelos, conforme se constata nesta imagem de 13 de Dezembro de 2014:



2014-12-08

Imaculada Conceição



É provável que muita gente já não se aperceba do que se comemora no dia 8 de Dezembro, dia da Imaculada Conceição.

Um dos motivos talvez seja a evolução ortográfica do Português que passou a usar “Conceição” em vez de Concepção, quando se referindo a Maria, mãe de Jesus, também a Maria da Concepção Imaculada ou, abreviadamente, Maria da Conceição. Existindo alguma abundância de “Marias da Conceição” em Portugal a palavra “Conceição” foi perdendo a associação a “Concepção”.

A ideia de que Maria foi concebida sem pecado não quer dizer que os pais pecaram ou deixaram de pecar quando a conceberam mas que ao ser concebida apareceu logo sem a mancha do pecado original tema que já abordei aqui, sobre o pecado propriamente dito e sobre o Fim do Trabalho.

Houve grandes discussões entre teólogos cristãos sobre este assunto, discussões que foram encerradas pelo papa Pio IX, definindo a Imaculada Concepção de Maria como dogma de fé em 8 de Dezembro de 1854.

Andei à procura na net de uma imagem da Imaculada Conceição do pintor espanhol Murillo, que tinha apreciado muito quando fui pela primeira vez a Madrid, numa excursão do liceu, teria então 17 anos.

Encontrei com facilidade a imagem que procurava, que mostro a seguir


chamada “La _Inmaculada_Concepcion_de el_Escorial”, executada  em 1660-1665 e que fui buscar aqui.

A rapariga que serviu de modelo para a pintura era muito jovem e o penteado, longos cabelos lisos caindo sobre os ombros, era muito adequado aos sixties que então decorriam, conforme se constata neste detalhe da pintura acima


Passei pela referência a outra Imaculada Conceição do mesmo pintor Murillo dita “de los venerables“, roubada pelo general Soult quando da invasão da Espanha pelas tropas napoleónicas, comprada depois pelo museu do Louvre e trocada, já no século XX, por outra obra do museu do Prado.

Entretanto lembrei-me de outra imagem, "La Vierge au Lys", que tinha há algum tempo para publicar, da Virgem com o menino Jesus, pintada pelo académico Bouguereau


com as peles acetinadas, os ombros que seriam ebúrneos se estivessem visíveis, as mãos tocando no menino Jesus que parece ser oferecido à adoração pela mãe, de modos e olhar recatado.

Para finalizar deixo uma imagem que ilustrou há uns anos uma crónica da Rititi no Diário de Notícias, em que ela se queixava de sobrecarga de trabalho quando chegava a casa e ainda tinha uma data de coisas para fazer,


onde se via a Nossa Senhora também ocupada nas lides caseiras, deixando a coroa, o manto e o terço no bengaleiro, com o coração brilhando através da t-shirt e constatando que não chegara a tempo de evitar que o cozinhado esturrasse.

2014-12-04

Sancionar e sanções


Num livro sobre o Judaísmo que li recentemente dizia a certa altura que a Bíblia sancionava qualquer coisa que, eu sabia ser uma aprovação. Pensei que seria uma tradução literal do inglês pois em português associava a palavra a reprovação.

Mas fiquei a remoer o tema e foi-se tornando cada vez mais evidente que em português "sancionar" tanto pode significar aprovação como aplicação de uma penalidade.

Revoltei-me então contra os juristas por usarem uma palavra como antónimo de si mesma.

Na internet descobri o termo "contronym" que se traduz facilmente para português como "contrónimo", referido aqui e também na wikipedia.

E tomei nota da citação do ciberdúvidas: «The word contronym (also antagonym) is used to refer to words that, by some freak of language evolution, are their own antonyms. Both contronym and antagonym are neologisms; however, there is no alternative term that is more established in the English language»

Acho graça à expressão "freak of language evolution", no entanto acho estranho que em inglês, em francês, em espanhol e em português esta ambiguidade exista.

Por exemplo em relação a "esquisito", conforme referi neste post com um lindo vestido vermelho a desanimadora evolução do significado de "esquisito" na língua portuguesa não foi acompanhada de evolução semelhante nas línguas de países próximos.

Entretanto fiz uma conjectura que me satisfez, o significado inicial de sancionar seria exclusivamente de aprovação.

O que se passou foi que a autoridade “usava mais o pau do que a cenoura”. Embora por vezes aprovasse uma lei ou uma regra que devia ser seguida pelos súbditos, a maior parte das vezes sancionava a aplicação de penalidades, castigos, etc. A coisa foi de tal ordem que embora a palavra tenha mantido o uso erudito de aprovação, o significado que agora predomina é o de aplicação de penalidades. E nesse aspecto estamos em pé de igualdade com vários países ocidentais. É interessante constatar essa evolução semântica em paralelo de vários países.

Mesmo sem internet os juristas de diferentes países lá foram comunicando. Mas é uma situação infeliz, os juristas deveriam ter lutado mais contra esta evolução semântica.


Ao pensar numa imagem para acompanhar este texto encontrei esta “La reproduction interdite”, pintada por Magritte em 1937.

Se considerarmos que um antónimo é uma espécie de reflexo num espelho da palavra original, quando o antónimo é o mesmo do original obtemos uma imagem como esta acima.

Curiosamente o livro reflecte bem, só o homem é que é problemático.

2014-11-29

Beira-Tejo em 19/Out/2014


Há cerca de um mês fui dar um passeio à beira-Tejo a partir do Terreiro do Paço em direcção ao Cais do Sodré, no espaço finalmente rearranjado da Ribeira das Naus. Estava um fim de tarde magnífico, com uma temperatura muito agradável para a época, uma imensidão de passeantes e turistas sentados a contemplar o rio que parecia um lago.

Já ao pé do Cais do Sodré estava este cais flutuante, em tempos construído pela Mague, empresa metalomecânica vítima do processo de desindustrialização do país, julgo que encerrou em 1996.



No pontão ligando o cais à margem estavam vários fotógrafos de atenção predominantemente focada no sol poente


que bem valia uma foto, como se constata a seguir



2014-11-22

Os Outonos da Europa


Aqui em Lisboa é preciso uma paciência de chinês para se observarem verdadeiras cenas de Outono, designadamente as folhas amarelas, alaranjadas, cor-de-cobre ou avermelhadas das nossas árvores.

Como o tempo arrefece muito devagarinho as folhas vão amarelecendo e caindo em pequena quantidade o que faz que as árvores não apresentam uma grande quantidade de folhas de tons quentes, com poucas excepções, designadamente os ginkgos bilobas.

Tive uma reunião no dia 7/Nov em Chantilly (o creme do mesmo nome foi inventado na Itália e não lá) , uma pequena povoação uns 60km a norte de Paris onde fotografei umas árvores já completamente desfolhadas em contra-luz num pôr-do-sol. Havia ainda muitas folhas noutras árvores, talvez estas fossem mais batidas pelo vento, talvez seja uma foto mais apropriada para ilustrar o Inverno mas aqui fica a imagem:




dois dias depois, no dia 9/Nov, já em Lisboa, gostei deste arvoredo na quinta do Contador-mor nos Olivais Sul de que dou uma vista abrangente



mostrando depois um zoom da mesma foto




e ainda mais zoom




Chegado aqui tenho que reconhecer que o Outono deste ano em Lisboa tem sido bastante chuvoso, até já tivemos umas inundações em sítios inesperados, talvez tenha sido essa abundãncia de água que tenha ajudado esta exuberãncia vegetal, mas neste dia o Sol tinha regressado e fiquei a pensar que estava perante um verde sobre azul.


Assim, para ver as cores de Outono a meio do Outono sem ter que esperar pelo fim da estação, uma pessoa vê-se forçada a recorrer à observação de outras paragens, designadamente as alemãs, onde a Helena nos presenteia mais uma vez com imagens lindíssimas.

Fui buscar a seguinte, de uma enorme delicadeza e complexidade, aqui




e esta outra, com a simplicidade do ouro sobre azul, aqui:




P.S. Bem, hoje ao circular por Lisboa constatei que afinal já se vêem bastantes folhas outonais. Mas as verdes ainda são a maioria.

2014-11-18

A Última Imperatriz


Depois de ler o livro “Cisnes Selvagens”, que referi aqui e aqui evitei ler a biografia de Mao-Tse-Tung, escrito pela mesma autora Jung Chang. Na altura já não tinha ilusões sobre a existência de lados muito negros da vida de Mao e achava que o que já lera e ouvira sobre os desastres da Revolução Cultural, designadamente nesse livro dos “Cisnes Selvagens” era suficiente.

Mesmo assim tomei nota em 2009, numa excursão à China passando por Beijing, quando o guia disse que actualmente se considerava que o Mao-Tse-Tung fizera 70% de coisas boas e 30% de coisas más.

Agora não resisti a ler o novo livro de Jung Chang, desta vez  sobre a imperatriz viúva Cixi, que viveu de 1835 a 1908. À partida a autora, que se doutorou em Linguística na Universidade de Oxford, nasceu na China em 1952, emigrou para a Inglaterra em 1978 e é casada com um historiador irlandês, teria óptimas condições para fazer pontes entre o Oriente e o Ocidente, com o conhecimento profundo das culturas chinesa e inglesa, podendo numa obra de divulgação ultrapassar alguma falta de formação da disciplina de História.

Achei o livro muito interessante nas descrições factuais, mas pouco sólido na análise das razões de alguns dos sucessos da imperatriz e excessivamente a favor da mesma.

Conforme referi num pequeno resumo de implantações de repúblicas na Europa, o fim dos regimes monárquicos ou imperiais acontece quando a extrema degradação das condições de vida dos habitantes dum país leva a maioria das pessoas a considerar que a monarquia não vai conseguir resolver os problemas existentes.

Num país tão grande e populoso como a China seria previsível que a mudança de regime assumisse a dimensão de um cataclismo, e assim aconteceu. O livro trata do que se passou antes da implantação da república e constatei que os chineses tinham bastantes razões para acreditar que com o regime imperial não iriam conseguir endireitar o país.

Depois de ler o livro vi umas tantas críticas que confirmavam as minhas impressões sobre a excessiva parcialidade na avaliação benigna da imperatriz.

2014-11-15

A importância de "XX", quando de um Congresso se trata


O embaixador Seixas da Costa não foi o único a reparar no destaque dado ao "XX" num cartaz do Partido Socialista.

Ao fim da tarde de hoje o cartaz do PS, ao pé da rotunda do Relógio, já tinha sido vandalizado, conforme se constata nesta foto que tirei quando parado no sinal vermelho



e que deformei para se "ver de frente":



Terá sido uma reacção pavloviana de um Estalinista?


2014-11-11

Imagens que chamam a atenção


Em meados de Outubro guardei esta imagem que me chamou a atenção



Usando o Google images foi fácil descobrir que se tratava de uma imagem promocional de uma série de TV americana chamada Homeland conforme referido na wikipédia aqui. Pelo que li trata-se de uma agente da CIA em missão no Afganistão, donde estar rodeada de burquas. Parece-me estranho que uma personagem que é agente da CIA se vista de forma tão pouco convencional em relação ao sítio onde está mas, bem vistas as coisas, trata-se de uma necessidade não narrativa mas de impacto da fotografia. Deve ser por isso que as burquas, que tenho visto sempre em vários tons de azul, aparecem aqui em cinzento escuro. É para aumentar o contraste e o destaque do véu em vermelho vivo (género Ferrari) e do cabelo loiro esvoaçante da heroína da série.

Por falar em vermelho vivo, uma revista Economist recente tem a parte central dedicada ao Irão e esta foto do Sunday Times,



onde se constata a existência de um exemplar com cor viva num dos casacos até aos joelhos que são uma das normas de vestuário feminino no Irão, quase sempre com "cor-de-burro-quando foge". Notar a quantidade grande de cabelo visível à frente do véu, quer na mulher de casaco vermelho quer na de casaco castanho à direita

Nesta outra foto que tirei em Isfahan em 2010, a professora desta turma de raparigas estava frequentemente a avisar as alunas para puxarem o véu um pouco  mais para a frente para não ficar tanto cabelo visível.



Achei graça a esta menina, que estava no mesmo local em Isfahan.



Talvez não tenha de usar véu quando for crescida...

2014-11-05

Associar imagens


Decorreram eleições no Brasil no passado domingo. Surpreende-me a violência da sociedade brasileira, quer no número de homicídios, quer no número de outros crimes violentos. Mesmo no quotidiano mais normal surpreendeu-me a violência verbal dos debates na TV, as intervenções apaixonadas dos jornalistas e mesmo a violência dos próprios filminhos de apanhados.

Vi assim com simpatia a vitória da Dilma, que me parece melhor posicionada para combater as enormes desigualdades e injustiças da sociedade brasileira.

Mas quem estiver interessado em análises da política e da sociedade brasileira ganhará em dirigir-se ao blogue do embaixador Francisco Seixas da Costa, onde neste post encontrei esta imagem


que entretanto desapareceu do post referido. É frequente encontrar imagens de grande qualidade no blogue "duas ou três coisas".

Impressionou-me a transformação tão bem executada da bandeira do Brasil num olho humano



mas não consegui identificar o autor. O trabalho dos designers nem sempre é devidamente reconhecido.



2014-10-28

Rotundas



Um destes dias recebi mais um power-point com fotografias de cenas antigas, em que reparei neste engarrafamento numa cidade francesa.



Os mais jovens não reconhecerão a maior parte dos modelos. Entre outros estão 2 Peugeot 203 em primeiro plano, vendo-se também Renault 8, Peugeots 403, Renault Dauphine, Renault 4L, Citroën 2CV, Citroën “arrastadeira”, Simca Aronde, uma “Joaninha” Renault, etc.

Além da confusão que a presença, quer de sinais luminosos, quer de uma simples rotunda teria minorado muito, nota-se que praticamente só se vêem carros franceses. A foto deve ter uns 50 ou 60 anos e a então jovem CEE (Comunidade Económica Europeia) devia estar a dar os primeiros passos na abolição de taxas alfandegárias sobre automóveis. Em portugal viam-se automóveis de todos os países, dada a nossa situação de ausência de indústria automóvel mas, em qualquer país onde se fabricassem carros, a esmagadora maioria era de origem nacional.

A grande desorganização das filas de trânsito, formando ângulos tão agudos que os carros tinham boas hipóteses de chocarem frontalmente lembrou-e esta cena que fotografei no Cairo em Abril de 2006, ao pé do Museu Egígcio e da praça Tahrir, muito antes do derrube do presidente Mubarak








Fiquei algo embasbacado a olhar para aquela confusão e para a promiscuidade entre peões e veículos motorizados.

As rotundas em Portugal têm sido objecto de muitas críticas, parece-me que poderá haver uma ou outra de utilidade duvidosa e a estética das esculturas será frequentemente discutível, mas são na maior parte das vezes bastante úteis, reduzem o número de acidentes, não necessitam da manutenção requerida pelos sinais luminosos e são muito mais baratas do que viadutos.

Neste artigo da BBC, os ingleses reivindicam sua invenção e sentem-se orgulhosos por os Norte-Americanos estarem a expandir significativamente a implantação de rotundas no seu território!

2014-10-22

Igreja copta


Afinal talvez tenha sido uma notícia da BBC em que referiram o restauro de uma igreja copta no Egipto, mostrada na figura abaixo,



que me levou a publicar o prato do post anterior. “Copta” queria antigamente dizer “egípcio” mas foi assumindo o significado da igreja cristã existente no Egipto até à actualidade.

A igreja copta resultou de uma cisão no cristianismo no século V, no Concílio de Calcedónia em 451 DC. Este DC é pleonástico pois seria muito estranho que se tivesse realizado um concílio cristão numa data antes de Cristo.

Os coptas são monofisitas, consideram que Cristo embora tenha tido natureza humana e divina não permaneceu com esta dualidade, tendo passado a ter uma natureza única (sendo a natureza humana como que absorvida pela natureza divina) donde o termo “monofisita”.

Na figura a seguir mostro um esquema muito genérico das várias ramificações do  Cristianismo, disponível na Wikipédia



É possivel que exista uma questão de afirmação de uma identidade egípcia face à restante cristandade, designadamente de Constantinopla. Os cristãos coptas têm-se mantido ao longo de séculos no Egipto, mesmo depois deste ter sido conquistado pelos muçulmanos, sendo actualmente cerca de 10% da população. Durante a “primavera” egípcia os cristãos foram vítimas de vários ataques mas ultimamente não têm aparecido notícias sobre este tema, pelo que suponho que se tratou duma manifestação da instabilidade que reinou durante algum tempo no país.

Apreciei a profusa decoração geométrica das paredes desta igreja, que me levou a procurar mais imagens dela, que obtive na Wikipédia aqui.

Nesta temos a  visão exterior



gostei desta imagem do interior




e muito do painel com os ícones no topo e “estrelas geométricas” por baixo:




Desta última tirei este detalhe (depois de deformar)



As decorações das igrejas são influenciadas e influenciam a arte da sociedade em que se situam.

Estas figuras lembram o Alhambra e muitas decorações do norte de África, presentes em palácios e mesquitas.

2014-10-15

Prato do Egipto


Tenho uma pasta onde ponho imagens que penso colocar neste blogue, a propósito de qualquer assunto ou por associação de ideias com algum post anterior. Desta vez foi só porque a imagem já estava há muito tempo na pasta e já estava cansado de a ver por lá.

É um prato de madeira com embutidos de madeiras de vários tons e de madrepérola, com um diâmetro de 17cm. Feito pelo artesão duma rua do Cairo que referi aqui.




Em Marrocos usam muito a estrela de 5 pontas, designadamente na bandeira, e em muita arte do Islão aparecem estrelas de 8 pontas, formadas por 2 quadriláteros rodados de 45º. Esta de 6 pontas aparece na bandeira de Israel, chamam-lhe a estrela de David, mas felizmente ainda não existe propriedade intelectual sobre formas geométricas.

2014-10-06

Energia Nuclear outra vez


Há tempos escrevi este comentário no blogue iraniano “Persian paradox”:
«
Nuclear power plants are the offspring of atomic bombs and I am very much convinced that the technology has been heavily subsidized to become profitable .
Checking "http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_nuclear_reactors" one sees nuclear power plants producing electricity (with generators bigger than 100MW) at the following countries:

Argentina, Belgium, Brazil(2), Canada, China, Cuba(1), Finland, France, Germany, India, Iran(2), (Iraq), Japan, Mexico(2), Netherlands(1), North Korea, Pakistan, South Korea, Spain, Sweden, Switzerland, Taiwan, United Kingdom, U.S.A, former U.S.S.R countries and East European countries under former strong influence by the USSR

With nuclear arsenal: China, France, India, North Korea, Pakistan, U.K, USA, Russia

Argentina and Brazil pretend to be regional powers, Belgium has probably got economic favorable conditions from the France program, Cuba got one as satellite of USSR, (Iraq) got an attack from Israel on Osirak and the other power plant is not functioning, Mexico got only two, Netherlands discovered gas in the North sea when they were starting their nuclear program

Exceptions: Canada, Germany, Finland, Japan, South Korea, Spain, Sweden, Switzerland, Taiwan. Germany, Japan, Sweden and Switzerland have decided to give up nuclear power, they find it unsafe. Spain stopped its program in the eighties after ETA shot dead two chief engineers, one after the other, of the power plant at Lemoniz in the Basque country and has now a very big renewables program with wind and solar.South Korea has probably been influenced by the North Korea nuclear program. The ones left are Canada, Finland and Taiwan. You know that nuclear power plants produce a lot of heat and that is considered a bonus in cold countries like Canada and Finland. I would guess Taiwan nuclear power could be a by-product of the cold war but I am not sure.

Iran has so much natural gas that it would make more sense to install wind and solar power and cover the intermittencies with much less capital intensive combined cycle power plants.

I find the choice of nuclear power to produce electricity by Iran very difficult to explain as making economic sense.
»

É o facto da energia nuclear fazer pouco sentido económico que faz o Ocidente desconfiar das verdadeiras intenções do programa nuclear iraniano.

Uma prova adicional da falta de competitividade da energia nuclear aparece nas negociações que o governo do Reino Unido tem desenvolvido para subsidiar uma nova central nuclear no sul de Inglaterra, em Hinkley Point. Para uma tecnologia que se estabeleceu nos anos 50 do século passado já seria mais do que tempo para poder singrar sem a bengala do Estado. No fundo, tudo isto faz sentido: não pode haver dinheiro para o Estado Social porque o dinheiro dos contribuintes é necessário para estas actividades sem qualquer viabilidade económica fora de pesados subsídios estatais.

Tanta irracionalidade económica poderá talvez ser justificada por o Reino Unido pretender manter-se no restrito clube das potências com bomba atómica. Mas nesse caso deveria existir transparência na alocação de verbas e atribuir estes subsídios a despesas do Ministério da Defesa.

Agora o que não faz nenhum sentido é que a União Europeia esteja a considerar atribuir verbas a este projecto, quer se trate de um disparate económico ou de uma questão de soberania do Reino Unido.

Deixo aqui uma imagem publicada no site da BBC com uma foto de protestos contra a energia nuclear no Japão, algum tempo depois do desastre na central de Fukushima.



Foi nessa altura que descobri que este padrão,


que publiquei num post sobre Agências de notação, era uma representação estilizada das escamas de uma carpa.

Publiquei neste blogue 3 posts referindo a energia de origem nuclear. Este sobre “Energia e Política” será o principal desse conjunto.


Adenda em 2014-10-12: La Comisión Europea ha autorizado este miércoles a Reino Unido a dar subvenciones de hasta 20.000 millones de euros para la construcción...

Os subsídios virão portanto dos consumidores e/ou dos contribuintes britânicos, não estando directamente envolvidos subsídios europeus. Ou melhor, aparentemente não estarão envolvidos subsídios da União Europeia.

A central terá uma vida útil prevista de 60 anos. Impressionante como um governo, neste ambiente de mudanças frenéticas de tecnologias subsidia uma solução técnica que se prevê ter uma vida útil de  60 anos! E que alegando ter uma confiança tão grande nos mercados se dispõe a favorecer uma tecnologia que o mercado rejeita de forma tão categórica!
 

2014-09-27

What an amazing idea



Um amigo enviou-me este vídeo com um bailado lindíssimo



que termina com uma variação da Golconde do René Magritte



O bailado fez-me lembrar a animação do Ryan Woodward "Thought of you" que publiquei aqui.

2014-09-25

Kerry James Marshall, exposição em Madrid



No Palácio de Velazquez, no Parque do Retiro em Madrid está uma exposição do pintor americano Kerry James Marshall, de Junho a 26/Out/2014, organizada pelo Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, conforme refere aqui.

Nessa exposição fotografei este quadro




com um anjo negro, homenageando de forma destacada John e Robert Kennedy e Martin Luther King, heróis das lutas pelos direitos civis nos E.U.A. que morreram assassinados.

A  acompanhar o quadro tinha esta legenda



Fiquei a pensar que quase não tenho visto quadros de autores negros e que é também raro ver figuras de raça negra nos quadros mais populares na Europa e nos E.U.A.

Neste sítio, onde encontrei esta "Vénus negra", do mesmo pintor



fala dessa ausência de figuras de pele escura na arte ocidental.

Não gosto do hábito entranhado da designação de Afro-americanos. Só suportaria a designação se fosse acompanhada do termo Euro-americanos para designar o que normalmente se chamam "Americanos". Os que chegaram à América há mais tempo são chanados "Native Americans".

2014-09-22

Maluda no Algarve - 2


Quando vejo línguas de terra lá ao longe, depois dum rio, duma ria ou dum pedaço de mar, com um céu muito azul sem nuvens, costumo lembrar-me das paisagens da Maluda, como uma de Olhão que já mostrei aqui.

Desta vez isso aconteceu-me quando fotografei ao longe a praia do Barril, no concelho de Tavira, aproximadamente nas coordenadas  37° 5'43.79"N;   7°40'16.84"W.




A praia propriamente dita (o areal e a água), que não se vê na foto, está na ilha de Tavira e é acessível através de uma ponte pedonal próxima de Pedras d'el Rei e eventualmente de uma viagem num combóio de praia, para quem não quiser fazer 1200m a pé.

 Relembro este post em que falei pela primeira vez de Maluda neste blogue e a imagem que mostro a seguir, "Olhão II, 1972" é também do livro "Maluda" de Carlos Humberto Ribeiro e Ianus Unipessoal Lda. que referi nesse post.