A civilização ocidental tem uma relação muito forte com as artes plásticas em geral e com a pintura em especial. Quer a igreja, quase único cliente dos artistas durante séculos, quer depois as classes abastadas, quer finalmente a classe média através dos museus, tem assegurado uma procura sustentada, que será de menor dimensão em muitas outras culturas.
Nas religiões monoteístas a presença de representações de figuras humanas dentro de templos tem encontrado fortes resistências, por exemplo no Islão, que se dedicou a figuras geométricas e/ou do reino vegetal e também na cristandade, onde ocorreram os movimentos iconoclastas antes do ano mil e as críticas de diversas igrejas protestantes desde a Reforma.
Contra esta tendência tem a Igreja Católica mantido uma grande abertura à presença de estátuas e de quadros dentro de locais de oração, considerando que, desde que obedeçam a algumas regras, são uma forma de ajudar os crentes que contemplam as figuras a rezar.
Quando a igreja sai da Europa encontra convenções visuais diferentes das europeias e torna-se necessário um trabalho de adaptação, para que o crente não seja distraído na oração por elementos exóticos para a sua cultura.
Achei por isso muito interessante este “achinesamento” da Maria mãe de Jesus mais o seu filho enquanto menino, conforme se constata na figura a seguir, transmitindo a ideia que a realidade histórica de Maria e Jesus como membros do povo judaico não é essencial, eles podem ser representados como membros de qualquer povo pois todos os povos são bem vindos à religião cristã.
Já a tendência para a representação da mãe de Jesus como uma rainha, ou neste caso como uma imperatriz me parece mais questionável. Tenho a noção que o amarelo/dourado era uma cor reservada para uso do imperador da China na dinastia Qing (Manchu) bem como reservada era a figura do dragão decorando o tecido. Maria está sentada no que parece um trono imperial. Esta representação pode ser criticada partindo da frase de Jesus: “a César o que é de César, a Deus o que é de Deus”, separando assim a hierarquia religiosa da hierarquia do Estado. No entanto, agora que já não existe imperador na China, a representação pode ser interpretada simplesmente como a atribuição de importância a Maria e a Jesus.
Não me lembro de ver um menino Jesus com chapéu, nem tão pouco Maria, que costuma ter apenas um véu a cobrir a cabeça. Acho graça à transparência das auréolas.
Esta imagem apareceu-me num postal de Boas-Festas que me enviaram este ano, possivelmente um sinal da importância que os negócios com a China estão a assumir em Portugal. Com a ajuda do Google images localizei esta imagem de melhor qualidade do que a que me enviaram aqui.
O autor da pintura é Chu Kar Kui, um chinês de Hong-Kong.
A imagem apareceu-me também neste sítio, com uma descrição das dificuldades da introdução do cristianismo na China.
A Wikipédia tem uma entrada sobre a Controvérsia dos ritos na China.
Nestes posts deste blogue mostrei variações das representações de Cristo na cruz.
Aproveito a oportunidade para desejar Boas Festas e um Feliz Ano de 2015 aos leitores deste blogue.
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