2012-01-05

Quase-cristais e os mosaicos persas Girih

Nesta altura em que se adensam as nuvens sobre o Irão e vai aumentando a probabilidade de uma intervenção militar americana ou israelita, ao passar pelo site da BBC World deparei com esta notícia que dava conta de terem descoberto quase-cristais numa zona da Rússia, pensando-se que eram materiais vindos do espaço em meteoritos.

Gostei muito da imagem do artigo e fui tentar localizar um sítio onde tivesse uma versão maior da imagem do quase-cristal no Google Images. Acabei por achar esta


num sítio que me parece ser da Indonésia, com uma referência à Eric J. Heller Gallery, em cujo site não consegui entrar, talvez estivesse fora-de-serviço.

Desse sítio guardei ainda estas lindas difracções de quase-cristais decagonais


e outra imagem maravilhosa de mosaicos islâmicos do Irão,


que fora retirada daqui, com a legenda dizendo que se trata dum pórtico do santuário de Darb-i Iman (que já tinha referido neste post) com dois padrões sobrepostos de mosaicos Girih (Archway from the Darb-i Imam shrine with two overlapping girih patterns. (Courtesy: Science)). Este santuário está na cidade de Isfahan mas infelizmente não o visitei quando passei por lá.

Em Abril de 1982 Daniel Shechtman produziu quase-cristais num laboratório em Washington mas foi ridicularizado e incompreendido durante bastante tempo. Em 2011 ganhou o prémio Nobel da Química por essa descoberta. Os cientistas são seres humanos e nem sempre têm a mente tão aberta às novidades como pareceria desejável.

Os arranjos geométricos dos quase-cristais e a forma de preencher o plano com estruturas quase-periódicas tinham sido estudadas pelo matemático e físico inglês Roger Penrose nos anos 70 do século XX, para uma introdução pode ler este artigo da Wikipédia. Confesso que quando tomei conhecimento destas possibilidades de preencher o plano, através dum artigo na revista do Scientific American, pensei em decorar uma das paredes da minha casa com um padrão destes mas nunca cheguei a concretizar.

Quando começou a ser evidente que a matéria se podia organizar em quase-cristais deu-se uma daquelas situações em que um conjunto de técnicas matemáticas que pareciam quase apenas passatempos ociosos encontrou uma aplicação prática ao explicar a estrutura dos quase-cristais

Entretanto agora, ao ver a referência aos mosaicos Girih, constatei que os matemáticos do Irão preencheram o plano com estruturas quase-cristalinas cerca de 500 anos antes de Roger Penrose as ter “redescoberto” no Ocidente. Fui ver também o artigo da Wikipédia sobre mosaicos Girih onde encontrei referência ao tecto do túmulo do poeta Hafez em Shiraz que eu tinha referido num post recente e que volto a mostrar a seguir:

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