Há muitos, muitos anos, não no tempo em que os animais falavam mas no tempo em que tinham deixado de falar há pouco tempo, as pessoas comunicavam por vezes entre si através de postais dos Correios, em vez de usarem o e-mail, o SMS ou o telemóvel.
Às vezes recebia-se um postal com uma lista de nomes, um convite para se entrar num jogo cujas regras se passavam a descrever e normalmente também um aviso sobre desgraças que tinham acontecido a quem tinha quebrado a cadeia da qual o jogo dependia.
Fiz uma figura para facilitar a explicação.
Neste caso o nosso herói chamado Zé recebe um postal com uma lista de nomes, em que o nome no topo da lista é o Manel, seguido do nome 1 e do nome 2. O Zé envia n euros ao Manel e faz 5 postais em que retira o nome do Manel da lista que passa a ser constituída pelo nome 1, nome 2 e pelo nome do Zé que é acrescentado no fim.
As 5 figurinhas para quem o Zé envia os postais farão operação semelhante, cada uma delas enviando n euros para o nome 1 e cada uma delas enviando 5 postais para as figurinhas da fila de baixo.
Num esquema destes o Zé, passado algum tempo e se tudo corresse bem, receberia 125 vezes os n euros que tinha enviado ao Manel.
Contudo, dado que se ia espalhando a notícia que a maioria dos jogadores raramente recebiam a almejada recompensa, a certa altura apareceu uma pequena empresa que se destinava a certificar que os jogadores não faziam batota e só enviava os postais do Zé com listas certificadas depois de receber os n euros que o Zé deveria ter enviado ao Manel (mais uma pequena importância para compensar o trabalho da certificação).
Lembro-me de colegas meus do IST defenderem a viabilidade deste jogo (que supõe implicitamente que é sempre possível encontrar novos jogadores para entrar no jogo) e de um amigo meu que gostava das provas pelo absurdo ter dito com o seu ar sério: é verdade, eu conheço um país onde descobriram que este jogo com esta certificação funciona mesmo e deixaram todos de trabalhar, limitando-se a enviar de vez em quando umas notas e uns postais para uns amigos e passado algum tempo recebem dinheiro bastante para viverem confortavelmente durante muito tempo. Infelizmente esse meu amigo não se lembrava do nome do país onde tinham descoberto as virtudes deste jogo.
Agora, passados tantos anos, depois de ler o artigo do Paul Krugman referido num post da Vida Breve, constatando entretanto alguma evolução nos procedimentos da(s) empresa(s) certificadora(s) do jogo da pirâmide, finalmente descobri esse ditoso país onde pelo menos uma parte da população tinha deixado de trabalhar: era nos Estados Unidos da América!
Às vezes recebia-se um postal com uma lista de nomes, um convite para se entrar num jogo cujas regras se passavam a descrever e normalmente também um aviso sobre desgraças que tinham acontecido a quem tinha quebrado a cadeia da qual o jogo dependia.
Fiz uma figura para facilitar a explicação.
Neste caso o nosso herói chamado Zé recebe um postal com uma lista de nomes, em que o nome no topo da lista é o Manel, seguido do nome 1 e do nome 2. O Zé envia n euros ao Manel e faz 5 postais em que retira o nome do Manel da lista que passa a ser constituída pelo nome 1, nome 2 e pelo nome do Zé que é acrescentado no fim.
As 5 figurinhas para quem o Zé envia os postais farão operação semelhante, cada uma delas enviando n euros para o nome 1 e cada uma delas enviando 5 postais para as figurinhas da fila de baixo.
Num esquema destes o Zé, passado algum tempo e se tudo corresse bem, receberia 125 vezes os n euros que tinha enviado ao Manel.
Contudo, dado que se ia espalhando a notícia que a maioria dos jogadores raramente recebiam a almejada recompensa, a certa altura apareceu uma pequena empresa que se destinava a certificar que os jogadores não faziam batota e só enviava os postais do Zé com listas certificadas depois de receber os n euros que o Zé deveria ter enviado ao Manel (mais uma pequena importância para compensar o trabalho da certificação).
Lembro-me de colegas meus do IST defenderem a viabilidade deste jogo (que supõe implicitamente que é sempre possível encontrar novos jogadores para entrar no jogo) e de um amigo meu que gostava das provas pelo absurdo ter dito com o seu ar sério: é verdade, eu conheço um país onde descobriram que este jogo com esta certificação funciona mesmo e deixaram todos de trabalhar, limitando-se a enviar de vez em quando umas notas e uns postais para uns amigos e passado algum tempo recebem dinheiro bastante para viverem confortavelmente durante muito tempo. Infelizmente esse meu amigo não se lembrava do nome do país onde tinham descoberto as virtudes deste jogo.
Agora, passados tantos anos, depois de ler o artigo do Paul Krugman referido num post da Vida Breve, constatando entretanto alguma evolução nos procedimentos da(s) empresa(s) certificadora(s) do jogo da pirâmide, finalmente descobri esse ditoso país onde pelo menos uma parte da população tinha deixado de trabalhar: era nos Estados Unidos da América!
1 comentário:
Uma vez convidaram-me para "trabalhar" numa "empresa" que vivia disso. Uma coisa tenebrosa. Ganhava-se dinheiro por novos contratos de telefone, mas também por cada angariador que arranjássemos, e pelos que eles arranjassem, e assim sucessivamente. Mas para se tornar angariador era preciso pagar 500 euros.
Levaram-me a uma sessão onde um dos que entrara no sistema logo no início se vangloriava do seu apartamento no Mónaco, e dizia "mas vocês daqui a bocado vão chegar a casa, e o vosso vizinho, esse invejoso, vai dizer que isto não tem pés nem cabeça. Então está bem: fiquem vocês no vosso pequeno apartamento alugado, ao lado do invejoso, e eu continuo no meu apartamento com vista para o mediterrâneo e o grand prix".
Olhei para a sala: estava cheia de gente desesperada, muitos deles desempregados. Pessoas dispostas a pegar nos últimos 500 euros, ou a pedi-los emprestados, e a acreditar nesta conversa.
***
Hoje passei uns momentos no Quartier 206, um centro comercial para super-ricos na Friedrichstrasse de Berlim. Estava cheio de gente muito bem vestida e carregada de sacos daquelas lojas onde nem põem os preços na montra, porque ao fim e ao cabo é indiferente se uma carteira ou um casaco custam 5.000 ou 10.000 ou 15.000 euros. De onde virá este dinheiro todo?
Talvez algum venha desses negócios prodigiosos, salvaguardados pelos nossos Estados - pelos nossos impostos.
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