Quando passei por Bombaim ouvi a história que o melhor hotel da cidade, o Taj, tinha sido construído por um indiano rico que, por causa da cor da pele, não conseguia ser admitido nos bons hotéis da cidade. O Lonely Planet faz eco também dessa história. Na altura disseram-me que a pessoa em questão se tratava de um parsi, mas não adiantaram mais nada.
A foto que segue, mostrando o Taj Mahal Palace and Tower
foi tirada daqui . Além da parte antiga inaugurada em 1903, mostra também o arco em pedra designado “Gateway to India”, construído em 1928, para receber o rei Jorge V e por onde costumavam passar os vice-reis desde então. Os interiores da torre, feita na década de 1970, foram desenhados por um suíço residente em Hong-Kong.
Fiquei a pensar que se o dono do hotel era um parsi deveria ter alguma coisa a ver com a Pérsia mas nessa altura não havia Wikipedia nem Google e como já tenho dito, procurar informação era muito mais complicado.
Quando nos anos 80 vi a magnífica série de TV “A Jóia da Coroa” sobre os últimos anos do domínio inglês sobre a Índia, impressionou-me o drama vivido por uma professora missionária (interpretada por Peggy Ashcroft) que chega ao fim com grandes dúvidas sobre o sentido da vida que levou, entre outras coisas devido ao suicídio de uma missionária amiga, refugiando-se finalmente num silêncio total numa clínica de cuja janela contempla as Torres do Silêncio.
Acho que foi por isso que quando vi esta torre de pedra em Delhi (ao pé do Qutub Minar) pensei logo que se tratava de uma torre usada pelos seguidores de Zoroastro para depositar os cadáveres, a fim de serem consumidos pelos abutres.
Lembro-me de ter aprendido no liceu que na antiga Pérsia tinha havido um sacerdote chamado Zoroastro criador de uma religião em que se dizia que o Bem e o Mal eram defendidos por duas entidades sobre-humanas. Era certo que no final o Bem venceria (na altura ainda os Portugueses não tinham dado a sua contribuição pessimista para a visão do mundo) mas as acções das pessoas podiam acelerar ou retardar essa vitória.
Nas buscas que fiz agora na net constatei que a comunidade parsi, muito concentrada em Bombaim, é descendente de pessoas que emigraram da Pérsia há cerca de 1000 anos, muitos deles são seguidores do Zoroastrismo mas estão em vias de extinção, quer por terem poucos filhos quer por finalmente se casarem fora da comunidade.
Um das coisas que me irrita nas sociedades multiculturais é que elas só o permanecem se os casamentos entre culturas se mantiverem em número muito reduzido.
A família construtora do Taj tem o nome de Tata, nome de um conglomerado muito importante de empresas indianas e ao ir à procura do “chairman” constato aqui que é um seguidor do Zoroastrismo e de etnia parsi. Os curricula dos portugueses não costumam ter este tipo de detalhes.
Ainda nestas buscas constatei que um desastre ecológico, provocado pela administração do anti-inflamatório Diclofenac (o princípio activo do Voltaren) ao gado, está a levar os abutres da Índia à extinção. Os seguidores do Zoroastro têm cada vez mais dificuldades em manter o ritual das Torres do Silêncio.
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