2011-04-23

Produtividade, horas de trabalho e feriados

Já manifestei neste blogue aqui e aqui a minha discordância sobre as tão apregoadas vantagens de trabalharmos muito mais tempo do que aquele que já trabalhamos em Portugal.

Repito que o aumento da produtividade através do aumento do número de horas de trabalho por ano é a progressão em direcção ao beco sem saída, ao fim dum certo número de aumentos essa via fica esgotada pois não se podem trabalhar mais do que 24 horas por dia e mesmo esse número é impossível de observar de forma sustentada porque precisamos de dormir.

Recentemente a OCDE publicou um estudo onde concluem que Portugal é o país europeu da OCDE onde mais horas se trabalha, demonstrando mais uma vez que não é insistindo nesta via de aumentar o número de horas em que trabalhamos que melhoraremos a nossa competitividade. Este estudo engloba horas no emprego e fora do emprego.

Se nos restringirmos ao número de horas trabalhadas no emprego constatamos facilmente nas estatísticas da OCDE



que as nossas 1719 horas no ano de 2009 são bastante mais do que as trabalhadas na Dinamarca (1563), na Áustria (1621) ou mesmo do que na Holanda (1378) ou do que na Alemanha (1380). Tudo países mais ricos do que nós e que me parecem exemplos a seguir. Mesmo na Finlândia, onde não passaram das 1652 horas, mesmo com aquele clima que convida a trabalhar só para aquecer. E nos países onde dizem que existem muito poucos feriados constata-se que trabalham menos horas do que cá. Já na Turquia, em 2004 trabalhavam 1918 horas. De uma forma geral os países mais pobres têm normalmente horários de trabalho com mais horas do que os países mais desenvolvidos. Mas em todos eles se observa uma tendência para o número de horas de trabalho diminuir ou manter.

Parece assim que nos querem pôr a caminhar na direcção oposta à do progresso, em que, em vez de imaginar formas de se produzir mais em menos horas de trabalho nos esgotamos a repetir sem imaginação durante mais horas aquilo que agora fazemos.

Há também um complexo de culpa completamente disparatado em relação aos acasos que colocam feriados ao pé de fins-de-semana. Em muitas empresas opta-se por caracterizar as férias por um dado número de dias úteis. É completamente irrelevante para o volume de trabalho que se presta à empresa que esse dias sejam gozados entre um feriado e um fim-de-semana ou noutra altura qualquer.

É para mim incompreensível que gente que considero razoavelmente esperta não consiga aperceber-se disto, achando sempre que os trabalhadores estão, no fundo no fundo, a usufruir um privilégio a que não deveriam ter direito. E previsivelmente apareceu agora a conversa estúpida a propósito da tolerância habitual na tarde de quinta-feira santa, só porque este ano o feriado do 25 de Abril é adjacente ao domingo de Páscoa e parece que nos estamos a escapar durante uma série excessivamente longa de dias, ao suor a que Deus nos condenou quando nos expulsou do Paraíso.


Em vez de aumentar o horário deveríamos pensar em formas de tornar o trabalho menos penoso e logo mais produtivo. Por exemplo os holandeses no século XVI (ou XVII) em Amsterdão colocavam no topo da fachada de todos os prédios de andares uma viga saliente onde se podia colocar uma roldana que facilitava muito a colocação das mobílias nos andares em relação ao processo muito mais penoso de transporte pelas escadas, conforme se pode ver na foto que tirei dum sítio de viagens.

Em Portugal muito deste transporte faz-se agora pelos elevadores mas, quando os objectos não cabem, ou mesmo em edifícios de 3  andares sem elevador, este aparelho que mostro a seguir


que se começou a ver há algum tempo mostra que já existe um pouco mais de consideração pelos trabalhadores das mudanças.

Uma vez em Bruxelas gostei de ver este camião com um tecto deslizante que possibilita que a descarga se faça de forma abrigada da chuva, minimizando as molhas quer dos trabalhadores quer do material nas operações de carga e descarga.


Claro que não é com estas engenhocas que vamos resolver os problemas do nosso país. Mas elas ilustram de forma simples que o caminho do progresso está na criação de condições que tornem os trabalhadores mais produtivos e não no regresso à escravidão.

2 comentários:

Gi disse...

Olá j.j., parabéns pelo post. Matracam-nos tanto os ouvidos que até esquecemos estas verdades.

jj.amarante disse...

Gi, obrigado. Às vezes parece-me que o meu cérebro está a ficar branco de tanta lavagem.