2011-04-14

A paranóia das auditorias

 

Há uns tantos anos falei com um responsável pela rede de PCs de uma empresa que me confessava que não sabia quantos PCs existiam na empresa. Felizmente, tinha uma ideia bastante aproximada de quantos eram, e era sempre possível fazer um inventário, mas o problema dele era que estava a ter dificuldades em montar o processo que lhe assegurasse o seguimento sistemático das entradas e saídas de equipamentos.

Passa-se alegadamente uma situação semelhante com o governo de Portugal. Está a existir alguma dificuldade em conhecer com exactidão as contas do Estado, mais ainda agora em que elas não estão em grande forma e em que o governo e a oposição têm dificuldade em comunicar. A oposição requer uma auditoria. Já tivemos duas auditorias, uma solicitada pelo Durão Barroso e outra solicitada por José Sócrates, que deve ter achado muito boa esta figura de retórica “inventada” por Durão Barroso, para como ele ficar com as mãos mais livres para fazer o que lhe apetecia em vez de ter de seguir a maçada do programa eleitoral.

As contas nacionais são seguidas por muitas instituições, designadamente da União Europeia, essas instituições não apareceram ontem, conhecem as tentações de falsear a contabilidade, têm experiência de falsificação de contas por outros estados, o BCE anda-nos a emprestar dinheiro há um ror de tempo, serão todos tão estúpidos e incompetentes lá no centro da Europa que o nosso governo os consegue enganar a todos?

Esta situação traz-me maus pensamentos: de há uns tempos a esta parte que a oposição (qualquer que seja o partido) desconfia das contas apresentadas pelo governo. Infelizmente, quando chega ao governo, em vez de montar uns mecanismos que garantam um acompanhamento transparente das contas nacionais, refugia-se no quentinho do importante segredo de Estado para evitar que a oposição chateie. Seria tudo melhor se seguissem aquela regra de não fazer aos outros o que não gostariam que fizessem a eles. E os nossos legisladores, que tanto barafustam sobre a falta de transparência, tão pouco conseguem descortinar umas leis que facilitem o seguimento orçamental.

Eu aconselharia mais um grupinho de trabalho para estudarem as leis de 2 ou 3 estados europeus sobre este tema, preferencialmente dos bem colocados na ausência de corrupção. Se com essas leis eles conseguem bons resultados os Portugueses também hão de conseguir.

O seguimento orçamental tem que ser uma actividade contínua, não pode basear-se em auditorias que se executam quando se realizam eleições. Espero que o próximo governo, seja ele de que partido for, bem como a nova Assembleia da República, melhorem os mecanismos já existentes de forma a que acabem com esta paranóia dos pedidos de auditorias no período eleitoral ou pós-eleitoral.

Como imagem alusiva escolhi estes copos lindíssimos de cristal de Baccarat que fotografei com o telemóvel em Paris. Infelizmente o modelo em primeiro plano chama-se Massena, o general que comandou a 3ª invasão francesa a Portugal. São transparentes como deviam ser as nossas contas e evocam uma invasão estrangeira. Vá lá que antes mandavam soldados e canhões, agora enviam economistas.

1 comentário:

Luísa A. disse...

A ver vamos em que armas vão pegar os economistas, Jj. Espera-se que sejam menos mortíferas do que os canhões. ;-)