Desde a sua criação o extraordinário jardim que envolve os edifícios da Fundação Calouste Gulbenkian tem tido, além duma concepção notável pelos Engenheiros Agrónomos e Arquitectos Paisagistas Gonçalo Ribeiro Telles e António Facco Viana Barreto escolhidos em Abril de 1961, uma construção robusta e uma manutenção muito boa durante longos períodos de tempo.
Em 1979 o jardim foi encerrado ao público para recuperação da sua degradação, devida talvez às perturbações sociais do 25/Abr/1974, em simultâneo com a construção do Centro de Arte Moderna. O desacordo dos paisagistas acima referidos sobre o local onde o novo edifício foi implantado levou a que dessem por concluída a sua colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian.
Em Maio de 2000 Ribeiro Telles foi novamente convidado a intervir no jardim e são desse tempo os círculos de água, lagos com poucos centímetros de profundidade, que instalou em locais mais sombrios, espelhando a vegetação e o céu de Lisboa.
Há algum tempo que não visitava este jardim e fotografei um desses lagos
e confesso que fiquei confuso com esta imagem. Do lado esquerdo existem muitas pedrinhas que não estão completamente imersas na água pelo que não existe o efeito espelhado de uma superfície aquática, apenas os reflexos das próprias pedrinhas. Para perceber melhor o que se passava "ampliei" parte desta imagem que mostro a seguir
Os reflexos dos ramos/troncos mais finos parecem atravessados por riscos escuros (que não passam de espaços entre pedras adjacentes no fundo do lago) enquanto os troncos mais grossos são "substituídos" pelas imagens das pedras que estão no fundo do lago.
Porque é que isto acontece? A maior parte das superfícies dos objectos que vemos são irregulares em relação ao comprimento de onda da luz que recebem pelo que reflectem luz em todas as direcções, posibilitando-nos vê-los a partir de qualquer sítio em que estejamos, desde que não existam obstáculos opacos entre o nosso olho e o objecto e este esteja a ser iluminado.
Neste caso porém os raios reflectidos pela superfície da água em repouso têm uma grande intensidade quando estão a reflectir pedaços do céu (neste caso dum cinzento quase branco), motivo pelo qual vemos nessas áreas apenas o céu muito claro, não conseguindo ver as pedras no fundo do lago.
Nas áreas do lago que estão a receber a luz reflectida dos troncos de árvores, a intensidade dessa luz é muito menor do que a que vem directamente do céu. Na fotografia constata-se que neste caso a luz reflectida pelas pedras no fundo do lago é mais importante do que a que resulta da reflexão na superfície da água da luz reflectida por um tronco de árvore tapando a luz directa do céu, revelando assim a presença da pedras no fundo do lago.
Na altura fiquei apenas perplexo com o que via e tirei outra foto em que, além de se ver o lago com seus fundos e seus reflexos se via directamente uma as folhas de uma planta próxima, que mostro a seguir
e ainda outra foto
por assim dizer mais "normal" pois o fundo deste lago não recebe tanta luz como os anteriores, assumindo um papel muito mais discreto nesta imagem.
Claro que este episódio me lembrou a obra de Escher "Três Mundos" que mostrei aqui, e nesse post acho que vi agora um bocadinho do fundo do lago Bled na Eslovénia, fundo esse que não é tão animado como este conjunto de pedrinhas dos laguinhos do jardim Gulbenkian.
Depois gostei deste bocadinho dum canteiro ao lado dos lagos redondos
e desta cica feminina
Mostrei uma cica masculina (Cicas Revoluta) aqui.
1 comentário:
Parabéns JJ pelas fotos e comentários. Os jardins da Gulbenkian são dos mais bonitos cá de Lisboa e é sempre um gosto ir visitá-los. O olhar de um fotógrafo interessado permite sempre ver as coisas sob ângulos diferentes e muitas vezes inesperados. As tuas fotos cumprem esse objetivo e por isso merecem o nosso aplauso.
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