2021-01-25

A Inauguração de Joe Biden / Kamala Harris e o poema de Amanda Gorman

 

Depois da invasão do Capitólio por uma multidão de desordeiros incitados por Donald Trump o mandato foi concluído sem desacatos adicionais, com a excepção das dezenas de indultos do então presidente a um conjunto de colaboradores próximos que ou estavam acusados ou já tinham sido condenados por actos realizados aparentemente para benefício do presidente, se bem que não tenha sido provada a existência de uma ordem presidencial directa.

Parece-me existir aqui um conflito de interesses na concessão destes indultos a colaboradores próximos, é uma espécie de auto-perdão mas, pelo menos, não foi usado um auto-perdão explícito, talvez por a última juíza nomeada para o Supremo Tribunal ter respondido à pergunta se um auto-perdão presidencial seria válido que ninguém nos EUA está acima da lei.

Gostei do discurso de Joe Biden nesta Inauguração (nós diríamos tomada de posse), apelando à unidade  do seu país que por ironia outros têm chamado os "Estados Desunidos da América".

Chamou a atenção para o esforço permanente que requer a manutenção da democracia pois na sociedade americana (como noutras, diria eu) existem zonas sombrias que têm que ser contidas. Falou da invasão recente do Capitólio e da importância da verdade. O original pode ser visto e lido aqui.

Destaquei estes 3 parágrafos:

«...
Through the Civil War, the Great Depression, World War, 9/11, through struggle, sacrifice, and setbacks, our "better angels" have always prevailed.

And here we stand, just days after a riotous mob thought they could use violence to silence the will of the people, to stop the work of our democracy, and to drive us from this sacred ground. That did not happen. It will never happen.

Recent weeks and months have taught us a painful lesson. There is truth and there are lies. Lies told for power and for profit. And each of us has a duty and responsibility, as citizens, as Americans, and especially as leaders -- leaders who have pledged to honor our Constitution and protect our nation — to defend the truth and to defeat the lies.

...»

Também se destacou na cerimónia a recitação deste poema da Amanda Gorman, uma americana de 22 anos de idade que podemos ver neste video

com este texto:

The Hill We Climb

When day comes we ask ourselves,
where can we find light in this never-ending shade?
The loss we carry,
a sea we must wade
We've braved the belly of the beast
We've learned that quiet isn't always peace
And the norms and notions
of what just is
Isn’t always just-ice
And yet the dawn is ours
before we knew it
Somehow we do it
Somehow we've weathered and witnessed
a nation that isn’t broken
but simply unfinished
We the successors of a country and a time
Where a skinny Black girl
descended from slaves and raised by a single mother
can dream of becoming president
only to find herself reciting for one
And yes we are far from polished
far from pristine
but that doesn’t mean we are
striving to form a union that is perfect
We are striving to forge a union with purpose
To compose a country committed to all cultures, colors, characters and
conditions of man
And so we lift our gazes not to what stands between us
but what stands before us
We close the divide because we know, to put our future first,
we must first put our differences aside
We lay down our arms
so we can reach out our arms
to one another
We seek harm to none and harmony for all
Let the globe, if nothing else, say this is true:
That even as we grieved, we grew
That even as we hurt, we hoped
That even as we tired, we tried
That we’ll forever be tied together, victorious
Not because we will never again know defeat
but because we will never again sow division
Scripture tells us to envision
that everyone shall sit under their own vine and fig tree
And no one shall make them afraid
If we’re to live up to our own time
Then victory won’t lie in the blade
But in all the bridges we’ve made
That is the promise to glade
The hill we climb
If only we dare
It's because being American is more than a pride we inherit,
it’s the past we step into
and how we repair it
We’ve seen a force that would shatter our nation
rather than share it
Would destroy our country if it meant delaying democracy
And this effort very nearly succeeded
But while democracy can be periodically delayed
it can never be permanently defeated
In this truth
in this faith we trust
For while we have our eyes on the future
history has its eyes on us
This is the era of just redemption
We feared at its inception
We did not feel prepared to be the heirs
of such a terrifying hour
but within it we found the power
to author a new chapter
To offer hope and laughter to ourselves
So while once we asked,
how could we possibly prevail over catastrophe?
Now we assert
How could catastrophe possibly prevail over us?
We will not march back to what was
but move to what shall be
A country that is bruised but whole,
benevolent but bold,
fierce and free
We will not be turned around
or interrupted by intimidation
because we know our inaction and inertia
will be the inheritance of the next generation
Our blunders become their burdens
But one thing is certain:
If we merge mercy with might,
and might with right,
then love becomes our legacy
and change our children’s birthright
So let us leave behind a country
better than the one we were left with
Every breath from my bronze-pounded chest,
we will raise this wounded world into a wondrous one
We will rise from the gold-limbed hills of the west,
we will rise from the windswept northeast
where our forefathers first realized revolution
We will rise from the lake-rimmed cities of the midwestern states,
we will rise from the sunbaked south
We will rebuild, reconcile and recover
and every known nook of our nation and
every corner called our country,
our people diverse and beautiful will emerge,
battered and beautiful
When day comes we step out of the shade,
aflame and unafraid
The new dawn blooms as we free it
For there is always light,
if only we’re brave enough to see it
If only we’re brave enough to be it


Gostei também desta entrevista de Anderson Cooper da CNN à poeta, 

 

em que ela revela o seu mantra de preparação de sessões de recitação de poemas:

«
I'm the daughter of black writers
We're descended from freedom fighters
Who broke through chains and changed the world.
They call me.

»



2021-01-15

Kulning, Som de Suecas



Refiro neste blogue com alguma frequência artigos da BBC. Desta vez fui agradavelmente surpreendido por uma técnica sueca de chamar os animais duma quinta para a recolha diária.

É uma técnica reservada a mulheres, por terem mais facilidade em produzir sons mais agudos do que os homens, conseguindo assim alcançar maiores distâncias.

Neste pequeno video com Jonna Jinton fica-se com uma ideia do poder dos sons do Kulning, se bem que seja visível que o realizador do filme tomou a liberdade de abreviar a cena para tornar mais compatível o tempo do campo com o tempo da cidade



O artigo da BBC refere ainda estoutro video



Não garanto a eficácia destes sons mas são agradáveis ao ouvido humano e provavelmente também ao das vacas e de outros animais.

Holandeses diziam-se frugais, afinal eram ilegais

 

Segundo o jornal Expresso de hoje (2021-01-15): Governo holandês cai por ter exigido devolução ilegal de subsídios a 26 mil famílias

 

Joao Cutileiro (1937-2021)




Faleceu  no dia 5/Jan o escultor João Cutileiro. Dele recordo de há muitos anos a estátua do D.Sebastião que foi inaugurada na cidade de Lagos em 1972 (ou 73), criando algum escândalo pela sua irreverência em relação aos cânones clássicos, para mais ainda no regime pré-25 de Abril.


Dizia-se na altura que tentava transmitir a ideia dum rei-menino que fez uma expedição imprudente e desastrosa a Marrocos tendo o exército português sido derrotado na batalha de Alcácer~Kibir em 1578 onde o rei desapareceu.


O escultor continuou a fazer esculturas juntando diversos tipos de pedra numa mesma obra, trabalhando directamente as pedras com ferramentas eléctricas, sem recurso a moldes de gessso.


Fui buscar a imagem do D.Sebastião a este sítio.



 

Fez muitas esculturas com formas femininas como exemplifica esta imagem do escultor com algumas das suas obras publicada no jornal Expresso   )


 


Vejo com alguma frequência o Lago das Tágides no Parque das Nações, situado entre o Pavilhão Atlântico e o rio Tejo de que mostro uma parte a seguir. 




Fez muitas obras como estas em que há uma espécie de redução das três dimensões para apenas duas, sendo as obras constituídas por peças limitadas por dois planos paralelos constituindo uma laje, cortadas com uma espécie de serra de recortes.  Fazem-me lembrar  figuras de Banda Desenhada

De uma forma geral gosto de ver as obras deste escultor, com a excepção do monumento alegadamente dedicado ao 25 de Abril, instalado no topo do parque Eduardo VII, e que não tem literalmente nem pés nem cabeça.

2021-01-14

O Caso dos Oligopólios

 

Na sequência da convocação que Trump fez dos seus apoiantes para irem até Washington no dia 6/Jan/2021, do discurso que depois fez na Casa Branca para a multidão presente em que os incitou a ir ao Capitólio e da subsequente invasão do mesmo, causando 5 mortes e interrupção do processo legislativo de verificação dos votos do Colégio Eleitoral dos EUA, uma maioria dos observadores considera que o actual Presidente dos EUA foi o causador principal desta invasão, convencendo muitos americanos que houvera fraude no processo eleitoral e incitando-os a perturbar de forma violenta o funcionamento do Congresso.

Neste processo as redes sociais foram um fenómeno essencial quer na propagação de boatos quer  na organização da invasão.

Parece-me assim natural e positivo que as contas de Trump no Twitter, Facebook, Instagram, Snapchat e mais recentemente Youtube tenham sido suspensas alegando as empresas que este utilizador desrespeitou os Termos de Utilização que tinha aceite quando abriu conta nas suas plataformas informáticas.

Existe agora um movimento de crítica a estas empresas por terem atentado contra a liberdade de expressão enquanto anteriormente eram criticadas por serem intermediárias acéfalas de mensagens de ódio.

Sabe-se que os sistemas de justiça são tradicionalmente lentos no tratamento dos casos que julgam, o que costuma favorecer uma das partes em confronto. As empresas referiram que na origem da suspensão esteve o desrespeito das normas contratuais de utilização das plataformas e Trump terá certamente a oportunidade de processar essas empresas por alegadamente não ter violado os Termos de Utilização. Felizmente neste caso a lentidão da justiça corre contra o infractor.

Constato que as empresas privadas podem nalguns casos ter normas de conduta que aplicam melhor a justiça, quando a velocidade é importante, do que o sistema judicial do Estado, que precisa naturalmente de mais garantias.


Adendas:

- Em   "Trump’s Twitter ban obscures the real problem: state-backed manipulation is rampant on social media" analisam-se manipulações apoiadas por estados nas redes sociais

- Neste artigo de Andrew Marantz  da revista New Yorker está um texto que analisa com mais profundidade esta questão. O autor  considera que as companhias tinham o direito de suspender as contas mas que as responsabilidades dos donos destas plataformas precisam de ser enquadradas em legislação adequada cuja falta se sente há bastante tempo.



2021-01-12

Arnold Schwarzenegger sobre a invasão do Capitólio

 

Gostei de ver este vídeo de Arnold Schwarzenegger em que ele compara a invasão do Capitólio em 6/Jan/2021 à "noite de cristal" dos tempos do nazismo na Alemanha, na Áustria e nos Sudetas (https://en.wikipedia.org/wiki/Kristallnacht ) que ocorreu em 9-10/Nov/1938.

Ele nasceu em 1947 e fala da sua infância em que teve que suportar um pai alcoólico, devastado pelos acontecimentos da guerra, que se embebedava semanalmente e batia depois na família, à semelhança do que faziam os vizinhos.

Sendo membro do partido Republicano, apela à união dos americanos sob a liderança do presidente eleito Joe Biden.




2021-01-08

Uma Possível Despedida de Donald Trump


Com a invasão do Capitólio por uma turba incitada pelo ainda Presidente dos Estados Unidos da América do Norte, que causou 4 mortes, depredação das instalações e sobretudo a interrupção do normal funcionamento do Poder Legislativo dos EUA, Donald Trump cometeu talvez o último grande atentado ao funcionamento do regime democrático dos EUA.

Fazendo uma busca neste blogue para a palavra “Trump” constatei existirem 12 posts contendo esta palavra, uns em que é o tema principal, outros numa referência secundária.

Seleccionei estes:

1) What Happened? (2016-11-09) em que manifesto a minha surpresa pela escolha dos eleitores americanos, dando um “benefício da dúvida” muito reticente;

2) A Grande Muralha da América (2017-01-27) constatando ao fim de 3 meses que os eleitores americanos tinham feito uma má escolha;

3) A Credibilidade dos E.U.A. (2018-05-11) de que destaco a conclusão

“…Não consigo deixar de pensar que quando uma potência obtém uma hegemonia quase indisputada ao nível global, como foi o caso dos EUA, começa a ter menor estímulo para escolher os seus líderes com cuidado, colocando à frente do governo indivíduos impreparados para a função, cuja actuação conduz a nação à perda da hegemonia indisputada. Aconteceu no império romano, aconteceu na China várias vezes ao longo da sua história milenar, ultimamente aos impérios britânico e da URSS. Deve ter chegado a vez dos EUA.”;

4) Magister Dixit (2020-11-22) em que refiro e aprovo o facto, de que não há memória, de algumas redes de TV americanas terem cortado a palavra ao Presidente quando este efabulava sobre alegadas irregularidades do processo eleitoral.

Esta invasão do Capitólio vem na sequência da recusa do actual Presidente em reconhecer a derrota na eleição presidencial que teve lugar em 3/Nov/2019, tendo requerido inúmeras recontagens que confirmaram as vitórias de Biden em Estados cuja margem era pequena, e tendo apresentado dezenas de acções em tribunal decididas sempre contra ele, por vezes rejeitadas liminarmente por absoluta falta de fundamento.

Em desespero o Presidente fomentou acções de rua de desordeiros que lhe são fiéis, incitando na manhã de 6/Jan uma multidão reunida em frente da Casa Branca a invadir o Capitólio, onde nessa tarde os congressistas iriam validar os votos depositados nas urnas de cada Estado pelos membros do Colégio Eleitoral em 14/Dez/2019 e posteriormente enviados para o Congresso dos E.U.A.

Guardas barricaram portas da sala do Capitólio onde em 6/Jan/20121 decorria a sessão do Congresso para validação dos votos do Colégio Eleitoral enviados pelos Estados para esse efeito.

As armas estão a ser apontadas pelos guardas do Capitólio aos invasores que tinham já partido um vidro de uma porta

 

O Presidente ainda se encontra em funções até ao dia 20/Jan/2021 e seria prudente retirar-lhe imediatamente os poderes presidenciais. O Impeachment (Destituição) “normal” não foi concebido para uma situação tão urgente, tendo prazos incompatíveis com os 12 dias que restam. Existe a possibilidade de alegar incapacidade para o cargo, através da 25ª emenda da Constituição mas isso requer que a maioria do gabinete e o Vice-presidente declarem essa incapacidade, o que parece difícil.

Há pessoas que alegam o risco do Presidente se autoperdoar num dos dias que faltam e que como essa situação nunca foi julgada há quem tenha dúvidas sobre a possibilidade de ser anulada. Para mim essa questão é simples: possibilitar o auto-perdão dum presidente é “colocá-lo acima da lei”. Qualquer sistema judicial que permita o autoperdão a quem quer que seja não faz parte de um regime democrático em que todos os cidadãos são, pelo menos sob esse ponto de vista, iguais perante a lei. O facto de americanos terem dúvidas sobre essa possibilidade, designadamente o actual Presidente e os interrogadores da mais recente juíza nomeada para o Supremo Tribunal Federal, é quanto a mim mais um sinal do desnorte no sistema de justiça americano.

Considero também que o presidente deverá ser acusado e seguidamente julgado por ter incitado os seus seguidores mais fanáticos a invadir o Capitólio.

Tenho simpatia pelo novo Presidente Joe Biden e sua Vice.Presidente Kamala Harris, mas grandes trabalhos os aguardam nos seus mandatos.

Fora dos EUA as pessoas não se esquecerão tão cedo que 70 milhões de eleitores americanos, aproximadamente metade dos votos expressos, votaram Donald Trump para Presidente, mesmo depois de ele ter exercido o seu mandato de 4 anos de forma tão censurável. E que um dos dois partidos mais importantes seleccionou em 2016 e apoiou incondicionalmente durante o mandato de 4 anos este Presidente.

É um país em que durante bastante tempo não se poderá confiar totalmente.

2021-01-02

"Usurpação" de “Fábrica de Chaves do Areeiro”

 
Ao googlar Fábrica de Chaves do Areeiro apareceu-me como primeiro sítio este link:
https://piquetes.pt/piquetes-no-areeiro?gclid=Cj0KCQiA0MD_BRCTARIsADXoopbIJ4mt2Pnok-sckEocbT1xoPd6NW2h3Uxujq8pVM4IyS_AIMe1A2YaAiPiEALw_wcB
que dizia em letras grandes “Piquetes Chaves 24h no Areeiro e Grande Lisboa” e tinha este telefone: 210 502 681. Não é a empresa “Fábrica de Chaves do Areeiro” que aparece destacada na lista apenas quando se usam as aspas.

Depois de usar as aspas nas buscas seguintes aparecem três anúncios identificados como tal (com Ad.), às vezes um deles é das Chaves do Areeiro e o primeiro link sem ser anúncio passa então a ser da empresa “Chaves do Areeiro” com o link https://chavesareeiro.pt/ com o telefone 707 203 010.

Achei estranho este comportamento do Google. Tão inteligente a encontrar o que pretendemos e não perceber que quando escrevemos Fábrica de Chaves do Areeiro pretendemos a empresa que teve esse nome. Mas depois de usarmos aspas, em futuras buscas, já compreende o que pretendemos embora continue a enviar o sítio dos piquetes.pt para a primeira procura do público em geral como tive a oportunidade de verificar fazendo a busca num telemóvel de outra pessoa.