Nos anos 60 do século XX ocorreu uma importante revolta da juventude contra os valores tradicionais das sociedades do mundo ocidental, designadamente a moral familiar tradicional, o militarismo e as hierarquias, a sociedade de consumo, o sistema capitalista. Nos E.U.A. incluiu a contestação da guerra do Vietnam e o apoio pelos direitos civis e contra o racismo. Na Europa ocorreu o Maio de 68 nas universidades de França e muita agitação estudantil na Alemanha. No mundo ocidental ocorreu uma revolução na música popular, basicamente iniciada pelos Beatles e acompanhada por uma explosão de novos talentos que se exprimiram em muitos festivais como o de Woodstock em 1969 e outro na ilha de Wight de que se destacou o de 1970. Em Portugal tivemos o festival de Vilar de Mouros em 1965, uma crise académica em Lisboa em 1962, outra em Coimbra em 1969 e o 25 de Abril em 1974.
O movimento hippie de não violência procurou uma vida mais simples, mais próxima da natureza, indo buscar inspiração no budismo e no induísmo. As viagens de muitos jovens ocidentais ao Extremo Oriente, por exemplo os Beatles e o Steve Jobs futuro CEO da Apple, sobretudo à Índia e ao Nepal devem ter tido influência no desenho do mobiliário no Ocidente.
Mostrei num post recente uma casa japonesa tradicional
onde se constata que as pessoas se sentam ou ajoelham sobre o Tatami e as mesas (Chabudai) quando existem são extremamente baixas, costumavam ter 15 a 24 cm de altura atingindo actualmente 30cm.
Certamente foi esta influência do Extremo Oriente e uma vontade de romper com a mobília tradicional do Ocidente que levou o fabricante francês RocheBobois a lançar em 1971 a linha Mah Jong (homónimo de um jogo chinês, em voga em Portugal talvez nos anos 1950):
Esta linha de mobiliário que comemorou 40 anos em 2011 e fará 50 em 2021, continua a ser fabricada, no início tinha tecidos monocromáticos, actualmente é também decorada por vários designers, no site da RocheBobois referem Kenzo Takada, Missoni Home e Jean Paul Gaultier
Tomei contacto com a obra da Claire Bretécher, onde desenhava uma personagem chamada “Cellulite” na revista Pilote que referi em vários posts neste blogue. Posteriormente esta autora colaborou na revista “Nouvel Observateur” onde assinava a série “Les frustrés” gozando com os comportamentos da esquerda burguesa intelectual. Essa burguesia usava este tipo de mobiliário, como se pode constatar parcialmente nesta capa
e também neste neste sketch duma mulher chorando o seu ex-amor
É um humor algo ácido, a autora confirma alguma misantropia nesta entrevista de 2009:
- Vous êtes misanthrope ?
- Raisonnablement. Par périodes.
(Continua)
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